Mudar de país pode ser um desafio e tanto. Deixar para trás sua casa, cidade, amigos, família e cultura é algo inimaginável para muitas pessoas. Porém, há quem consiga se adaptar a estas circunstâncias e use o empreendedorismo como forma de criar raízes. Mesmo a milhares de quilômetros de distância de sua terra natal, há gaúchos e gaúchas que não deixaram sua veia empreendedora de lado.
Essa é a história de Nadia Wolfart. Gaúcha natural de São José do Hortêncio, ela se mudou para a Austrália em 2018 e, por conta da pandemia de Covid-19, viu-se desempregada. Pensando em maneiras de se manter no período de distanciamento social, Nadia encontrou no empreendedorismo uma maneira de aliviar as contas. Assim, ela fundou a Baking Love, negócio voltado para a venda de produtos de padaria tipicamente brasileiros, como cucas, pão de queijo, bolo e salgados.
Sempre incentivada pelos pais a trabalhar, Nadia desde cedo colocava a mão na massa. A empreendedora conta que seu primeiro emprego foi em uma floricultura durante o Ensino Médio. Com o tempo, ela saiu de casa, mudou de cidade e conheceu pessoas novas. Foi nesse período que ela passou a ter vontade de conhecer o mundo e, assim, começou a estudar inglês.
Foi durante as aulas do idioma que Nadia conheceu seu namorado e, juntos, passaram a desenvolver a vontade de morar fora do País. Assim, em 2018, ela deixou o Brasil e foi morar em Gold Coast, na Austrália. Nadia morou um ano e meio sozinha, aguardando seu namorado, que não havia conseguido o visto. Ele chegou na Austrália apenas em 2020, quando o mundo parou.
Sem emprego e vivendo apenas com suas economias, Nadia colocou a mão na massa. Sua mãe é dona de uma padaria e, portanto, deu a ideia de vender produtos como cucas e pães.
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"Não sabia o que fazer. Foi uma situação delicada para todo mundo que é imigrante, tanto na questão financeira quanto emocional. Liguei para a minha mãe e ela me deu essa ideia. Estava na Austrália há dois anos e nunca tinha visto ninguém vender cuca ou pão caseiro", conta Nadia.
A empreendedora iniciou divulgando seus produtos em grupos da comunidade Brasileira em Gold Coast. Inicialmente, a Baking Love vendia itens como bolos, enroladinhos de salsicha, biscoitos e cestas comemorativas, e, segundo a empreendedora, foi um sucesso. "Virei a noite trabalhando. E isso tudo veio de uma necessidade. Sempre tive essa predisposição de fazer as coisas e não ter medo de botar a cara", afirma.
Atualmente, Nadia vende através de encomendas, feitas pelo Instagram (@bakinglove.goldcoast), e em feiras, que acontecem quinzenalmente. Ela conta que um dos seus principais desafios é se adaptar ao público australiano. Mesmo que grande parte da clientela seja brasileira, a empreendedora faz de tudo para deixar seus produtos mais interessantes ao paladar estrangeiro, sem perder a essência. Assim, a cuca é comparada com o crumble - doce da culinária britânica -, os biscoitos de goiabada viraram biscoitos de geleia, e por aí vai. Além disso, insumos como Nutella, que são reconhecidos mundialmente, passaram a fazer parte do cardápio. "Trago nomes parecidos, faço essa assimilação, para fazer com que eles provem. Porque existe, de fato, uma certa resistência. Vou buscando essas referências para que seja mais fácil para eles assimilarem. Por exemplo, eles não têm ideia do que seja uma goiabada, mas gostam de geleia. Então, o biscoito de goiabada vira biscoito com drops de geleia", explica
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Mesmo com essas adaptações, os quitutes da Baking Love ainda têm a cara do Brasil, e Nadia se orgulha disso. "A parte mais legal do meu negócio é poder mostrar a nossa cultura de padaria para outras pessoas do mundo. É você levar um café da manhã brasileiro para seu parceiro que é australiano. Levar uma cesta com pão de queijo e enroladinho de salsicha para a professora dos teus filhos. A comida é um dos nossos traços culturais mais importantes, não dá para esquecer de tudo aquilo que a gente cresceu, viveu e entendeu a vida inteira", acredita a empreendedora.