As mulheres rurais enfrentam desigualdades sociais, políticas e econômicas mais intensas do que outros grupos. Segundo Alan Bojanic, da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), apenas 30% das mulheres rurais possuem formalmente suas terras, 10% têm acesso a crédito e apenas 5% recebem assistência técnica. Para enfrentar essas desigualdades, a Agenda 2030 estabeleceu a igualdade de gênero como um de seus objetivos, exigindo que os governos implementem estratégias para o empoderamento das mulheres e meninas.
Graziele de Camargo e Dandara Maria Peres estão à frente do Agrodelas, um movimento de mulheres no agronegócio que visa dar voz, inspirar e incentivar a presença feminina no setor. Recentemente, ambas criaram o Selo Rosa, uma iniciativa que busca apoiar mulheres do campo e valorizar os produtos feitos por elas. "Estamos rompendo uma barreira. Hoje, a mulher está sendo protagonista de suas histórias. Dentro do agro, está acontecendo esse movimento em que elas estão mudando de posição", reflete Graziele. A produtora rural iniciou sua trajetória no agronegócio há 14 anos. Graziele atuava como gestora de uma padaria quando foi convidada para ser sócia em um projeto. "Meu pai é agricultor, mas eu não sabia nada, não tive contato com isso. Meu antigo sócio me chamou e disse 'você é uma ótima administradora. Quer participar de um projeto de arrendar terras e cuidar de uma fazenda?', e, no fim das contas, administrar uma fazenda eu saberia, porque é administrar um negócio", conta.
Atualmente, Graziele e seu irmão, que também é seu sócio, possuem 560 hectares de terra em São Sepé, na região central do Rio Grande do Sul. "Como produtora rural, faço toda a parte de gestão, planejamento e também coloco a mão na massa. Planto, colho e dirijo caminhão", relata a produtora, mencionando que muitas pessoas se surpreendem com o trabalho que as mulheres desenvolvem no campo. "Dirigir um trator de 3 mil kg é igual a dirigir um carro, tem direção hidráulica. Há muita tecnologia que veio para facilitar a inserção de mulheres nesse espaço, na parte operacional."
De acordo com Graziele, o Selo Rosa pretende ser uma certificação que comprova que a mulher teve uma participação no processo produtivo de uma determinada cultura. Com o selo, será possível atestar que uma mulher esteve presente no processo, seja na parte de suporte técnico, gestão, administração ou operacional. "A mulher não é mais apenas a esposa de um produtor rural, ela faz parte da gestão daquele produto. Ela contribui com sua mão de obra nesse processo", reafirma Graziele. Segundo a empreendedora, a iniciativa agregará um valor adicional ao produto, definido pela classificação do selo, que é dividido em três categorias: suporte, prata e ouro. "Se ela realiza apenas o manejo de suporte, significa que já está no processo produtivo e vai ganhar 0,75% a mais nesse produto. Se conseguir inserir algum tipo de tecnologia no seu processo produtivo utilizando duas técnicas, ganha o Selo Rosa Prata, recebendo 1% a mais pelo seu produto. Agora, se também conseguir incorporar a parte social, além do suporte, mais tecnologia e mais dois pontos de sustentabilidade, ganha o Selo Ouro, que adiciona 1,3% a mais", explica. A iniciativa está em fase de inscrições através do site agrodelas.com. "Precisamos de 1 mil mulheres para começar a computar os dados e dar início ao projeto", diz.