Nascida em um apartamento no Centro Histórico há 25 anos, a Cream, marca de sorvetes gaúcha, produz cerca de 400 mil litros de sorvete por ano. Há três anos, a indústria ocupa o número 115 da rua Dona Margarida, no 4º Distrito. Com a expansão, cresceu não somente a produção, mas o sentimento de Hermes Fortes, fundador da marca, de que os maiores desafios da empresa já foram superados.
Em maio deste ano, a Cream, assim como diversos empreendimentos, foi afetada pela enchente. Dentro da fábrica, o nível da água chegou a 1,60 m e causou um prejuízo estimado em R$ 1,5 milhão.
A força da água foi devastadora, tornando necessários 20 dias para limpar o espaço e retomar as operações. "Perdemos matéria-prima, produtos prontos, embalagens. Estávamos lotados de estoque, preparados para o inverno e planejando o verão, e, de repente, vimos tudo indo embora", lembra Hermes.
Apesar da destruição, a resiliência de ver o lado positivo foi essencial para o fundador se manter firme e seguir em frente. "Se isso tivesse acontecido no verão, quando o faturamento é maior, o prejuízo seria muito mais significativo", reflete. A temporada fria acabou sendo um pequeno alívio para Hermes em meio à tragédia. O empreendedor ressalta que, com tantas dificuldades enfrentadas nos primeiros anos da Cream, a enchente é um obstáculo pequeno.
Os motivos para continuar são muitos, mas o empreendedor conta que busca sua força na infância. "Para conseguir seguir com a Cream todos estes anos, eu me inspiro muito na minha mãe, que era uma mulher muito persistente e me ensinou a não desistir. E meu pai era muito resiliente, me ensinou a não me afrouxar, não me deixar abater", explica.
Mesmo com o impacto financeiro, o empreendedor optou por continuar com recursos próprios. "Acreditamos que, com esse financiamento, conseguiremos reverter a situação em um a dois anos", estima Hermes, que aguarda a liberação de um financiamento do BNDES para empresas que foram atingidas pela enchente.
O negócio também vislumbrou novas oportunidades, focando em expandir para o interior do Rio Grande do Sul e para estados como Santa Catarina, Paraná e São Paulo. "Um dos maiores desafios do sorvete é a logística. Agora que estudamos este passo e vencemos o desafio, queremos levar a Cream para o interior e para o Brasil todo", explica.
Estas oportunidades, de acordo com Hermes, foram decisivas em outro período complexo: a pandemia de Covid-19. O empreendedor lembra que o período foi inicialmente assustador tanto pela doença quanto pela incerteza a respeito do futuro da empresa. Pedro Fortes, filho de Hermes, no entanto, percebeu que era hora da Cream se lançar em diferentes frentes. "Vendíamos muito para restaurantes, especialmente aqueles que ficam em faculdades e escolas, e estes foram os primeiros a fechar", diz Pedro.
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Neste momento, Hermes viu a chance de implementar aquilo que sempre acreditou em um negócio. "Para mim, o maior trunfo de uma empresa é ter um comercial forte", explica. Assumindo o papel de chefe do setor comercial da empresa, Pedro direcionou a Cream para mirar em pequenos mercados e empórios. "As pessoas passavam muito tempo em casa, então queriam consumir algo bom sem ter que ir em mercados de grandes redes", explica Pedro.
A Cream planeja o lançamento de novos sabores, como pistache 100% natural e o de iogurte com frutas vermelhas sem açúcar. Hoje, o carro-chefe da operação é o pote de um litro do sabor baunilha com doce de leite e pedaços de chocolate. Hermes e Pedro, no entanto, tem como sabor favorito o Gianduia, sorvete de chocolate com avelã.
Com a proximidade do fim do ano e do verão, as expectativas do empreendedor são otimistas. Hermes espera recuperar o faturamento e continuar o crescimento da Cream, mantendo a qualidade que, de acordo com o empreendedor, sempre foi sua marca registrada. "No último verão, vendemos muito. Neste, vamos vender ainda mais do que ano passado", projeta Pedro.
Os empreendedores destacam também importância das redes sociais e dos eventos de degustação para a divulgação dos produtos. "O produto é bom. Se o sorvete é ruim, o melhor é nem fazer degustação. Mas nosso produto tem qualidade, o que leva as pessoas a comprar depois de experimentar", afirma Hermes, que explica que o maior diferencial da empresa são as bases de seus sorvetes: além de utilizarem somente frutas in natura e insumos artesanais, como o doce de leite, os sorvetes da Cream são feitos com creme de leite fresco, o que, de acordo com o empreendedor, faz com que a sobremesa fique mais cremosa.
Nesta semana, a empresa participou da 41º da Expoagas com objetivo de alcanças novos parceiros. "Se eu fosse dono de um mercado, seria na área das pequenas e médias empresas que eu buscaria produtos incríveis como os nossos", brinca Hermes.