O Sítio Rosa do Vale tem como foco o afroturismo, celebrando a cultura negra no Rio Grande do Sul

Com pisa de uva ao som de samba, empreendedora do Vale do Taquari é a primeira mulher negra a produzir vinhos no Brasil


O Sítio Rosa do Vale tem como foco o afroturismo, celebrando a cultura negra no Rio Grande do Sul

Em Poço das Antas, a 95 km de Porto Alegre, está localizado o Sítio Rosa do Vale (@sitiorosadovale). O casal de produtores rurais, Miriam e Irani Krindges, está à frente do empreendimento familiar, que se dedica ao plantio de uvas e figos, à fruticultura e à produção de vinhos, além de promover o enoturismo. Entre as muitas experiências oferecidas pelo espaço, destaca-se o Samba da Uva, uma pisa da uva acompanhada de uma roda de samba.A ideia de misturar uva e samba surgiu de Miriam, que se mudou de São Paulo para o Rio Grande do Sul em 2012. Com o nascimento de sua filha Dandara, em 2019, a produtora rural decidiu que era hora de repensar sua carreira e mudar de ritmo. Seu marido sempre trabalhou com agricultura, e o plano era entrar no segmento, agregando valor a um negócio que a família já tinha.“No início, não pensava em regularizar o vinho. Estava construindo uma agroindústria para fazer geleias. O vinho eu regularizaria em um segundo momento”, admite a empreendedora, que pretendia oferecer experiências para as pessoas conhecerem o processo de produção de geleias. Na época, o casal já produzia vinhos de forma artesanal, comercializando apenas para alguns restaurantes da cidade, assim como as geleias. Atualmente, o Sítio Rosa do Vale oferece nove tipos de espumantes e 10 vinhos, com preços a partir de R$ 80,00 para os vinhos finos e R$ 40,00 para os vinhos de mesa.
Em Poço das Antas, a 95 km de Porto Alegre, está localizado o Sítio Rosa do Vale (@sitiorosadovale). O casal de produtores rurais, Miriam e Irani Krindges, está à frente do empreendimento familiar, que se dedica ao plantio de uvas e figos, à fruticultura e à produção de vinhos, além de promover o enoturismo. Entre as muitas experiências oferecidas pelo espaço, destaca-se o Samba da Uva, uma pisa da uva acompanhada de uma roda de samba.

A ideia de misturar uva e samba surgiu de Miriam, que se mudou de São Paulo para o Rio Grande do Sul em 2012. Com o nascimento de sua filha Dandara, em 2019, a produtora rural decidiu que era hora de repensar sua carreira e mudar de ritmo. Seu marido sempre trabalhou com agricultura, e o plano era entrar no segmento, agregando valor a um negócio que a família já tinha.

“No início, não pensava em regularizar o vinho. Estava construindo uma agroindústria para fazer geleias. O vinho eu regularizaria em um segundo momento”, admite a empreendedora, que pretendia oferecer experiências para as pessoas conhecerem o processo de produção de geleias. Na época, o casal já produzia vinhos de forma artesanal, comercializando apenas para alguns restaurantes da cidade, assim como as geleias. Atualmente, o Sítio Rosa do Vale oferece nove tipos de espumantes e 10 vinhos, com preços a partir de R$ 80,00 para os vinhos finos e R$ 40,00 para os vinhos de mesa.
O Samba da Uva nasceu em 2023, com a ideia de misturar uma pisa da uva com roda de samba ao vivo. Inicialmente, a empreendedora foi desencorajada pelos próprios consultores, que acreditavam que a ação não teria aderência. “Ninguém tinha ouvido falar em afroturismo no Vale do Taquari, e todos me desmotivaram. Mas sempre acreditei nesse setor e sabia que a ideia tinha potencial”, afirma Miriam, contando que, até hoje, muitas pessoas não entendem o porquê de o local ter tanta procura.

Com o crescente interesse do público, o empreendimento começou a ganhar notoriedade nacional. Hoje, o Sítio Rosa do Vale recebe visitantes de todo o País e até do exterior. “Descobri que sou a única pessoa negra a ter uma vinícola no Brasil. Entendo a importância do meu trabalho, que também é uma forma de resistência. Estou em um lugar onde as pessoas vivem dizendo que eu não deveria estar”, desabafa.

Resistência e inovação

Miriam conta que, desde o início de sua carreira como produtora rural, enfrentou repressão por ser uma mulher negra no setor. Ela relata situações que vão desde não ser bem recebida em alguns espaços até dificuldades no acesso a linhas de crédito. Em cursos profissionalizantes que frequentava para se especializar em agroindústria e turismo, ela percebeu que não havia preocupação em atender um público específico.
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“Percebi que não existia a preocupação em criar produtos e serviços voltados para um público não branco, como pessoas negras e indígenas. Eram oferecidas experiências focadas na cultura italiana, açoriana, germânica, mas nunca se falava sobre indígenas, que moram e vivem aqui, e menos ainda sobre pessoas negras. Isso começou a me incomodar”, relata.

Mesmo com as negativas, Miriam acreditava no potencial do consumidor negro. Com a ideia de criar experiências, serviços e produtos para essa população, ela começou a pensar em afroturismo. “Depois que o gerente do banco me disse que não existia afroturismo, que não havia movimento de turismo na região, e nos negou acesso ao Pronaf, decidimos retirar o dinheiro investido no banco e começar a construção da agroindústria de vinho”, conta Miriam. A partir daí, a empreendedora começou a planejar experiências de turismo para receber as pessoas no local.

Na época, a agroindústria já possuía uma parreira, e Miriam sabia que a pisa da uva era uma experiência que muitas pessoas apreciavam e que proporcionava um retorno financeiro positivo para diversas vinícolas que a ofereciam. “Foi a partir de uma necessidade financeira que tudo começou, e eu disse 'vou fazer essa experiência aqui’. Mas eu não podia colocar música italiana, nossa história não tem nada a ver com isso. Meu marido tem ascendência alemã e eu sou negra, não temos nada a ver com a colonização italiana”, explica.

Além disso, por estar no Vale do Taquari, uma região que não é tradicionalmente produtora de vinhos e uvas, Miriam entendeu que precisaria inovar. “Decidi que ia colocar samba porque tem tudo a ver com a minha cultura e com a minha história. Resolvi usar uma tina grande, porque, como quero trazer a minha cultura africana, pensei em uma tina maior, onde várias pessoas pudessem participar juntas, de forma circular, porque a África é isso”, enfatiza.

Para além do empreendedorismo, Miriam entende que tem uma responsabilidade com sua comunidade. "Tenho acesso a cursos, espaços e oportunidades que pessoas como eu não tem. Isso é muito significativo, porque eu penso 'estou aqui, fazendo esse curso, aprendendo, mas vou levar esse conhecimento para o meu espaço, para minha comunidade, para que outras pessoas também tenham acesso a essa oportunidade'”, afirma.