Entre as milhares de empresas do setor alimentício afetadas pelas enchentes de maio, está a Grano Square, marca gaúcha de granolas

Após dois meses de paralisação, indústria gaúcha de granolas retoma a produção


Entre as milhares de empresas do setor alimentício afetadas pelas enchentes de maio, está a Grano Square, marca gaúcha de granolas

No recorte da pesquisa Análise de Comportamentos e Expectativas dos Consumidores Gaúchos, desenvolvida pela Pucrs em parceria com o Jornal do Comércio, apresentado nesta edição do GeraçãoE aponta que 83,7% dos entrevistados pretendem manter o mesmo consumo em relação ao período anterior às enchentes quando se trata de compras em supermercados. O ramo alimentício é considerado essencial, porém é comum que, diante de uma crise, os consumidores se mostrem mais retraídos na hora das compras. Apesar disso, a maioria dos entrevistados sinaliza o desejo de seguir o mesmo padrão de consumo anterior a maio.
No recorte da pesquisa Análise de Comportamentos e Expectativas dos Consumidores Gaúchos, desenvolvida pela Pucrs em parceria com o Jornal do Comércio, apresentado nesta edição do GeraçãoE aponta que 83,7% dos entrevistados pretendem manter o mesmo consumo em relação ao período anterior às enchentes quando se trata de compras em supermercados. O ramo alimentício é considerado essencial, porém é comum que, diante de uma crise, os consumidores se mostrem mais retraídos na hora das compras. Apesar disso, a maioria dos entrevistados sinaliza o desejo de seguir o mesmo padrão de consumo anterior a maio.
Entre as milhares de empresas do setor alimentício afetadas pelas enchentes de maio, está a Grano Square, marca gaúcha de granolas que foi inundada pouco antes de completar 10 anos. Localizada próxima ao Aeroporto Salgado Filho, a indústria ficou debaixo d'água por um mês e teve um prejuízo superior a R$ 3 milhões. Os sócios da Grano Square, Aline Saraiva e Ricardo Quadrado, foram pegos de surpresa quando a água invadiu o estabelecimento. Após mais de dois meses fechados, a fábrica retomou a produção em 8 de julho.
"No dia 1º de maio, saímos da nossa residência já sabendo que a água atingiria nossa casa, pois moramos na beira do Guaíba, na Ilha da Pintada. No dia 3 de maio à tarde, começaram a falar que era melhor a gente sair da empresa, porque depois não teríamos mais acesso à saída da região. Nos apressamos para que todos pudessem ir embora, nós e os colaboradores. Mas, ainda assim, nunca pensamos que a água chegaria onde chegou", lembra Aline.
A partir do momento em que deixaram o local, os sócios passaram a acompanhar a situação pelas câmeras ddo estabelecimento. Na tarde do dia 4 de maio, os dispositivos de segurança pararam de funcionar. "Nesse momento já sabíamos que a água tinha subido", comenta Aline.
De acordo com os sócios, a marca vivia um momento excelente. "Estávamos quebrando recordes de produção e uma das nossas grandes preocupações era aumentar o estoque. Ter mais estoque pronto e mais insumos de matéria-prima comprada para suprir essa produção", conta Ricardo. Devido à alta demanda, a fábrica estava com muitos insumos para intensificar a produção. Só em estoque, Ricardo avalia um prejuízo de R$ 1,7 milhão. Além disso, perderam produtos prontos para expedição e o maquinário. "Eram mais de 10 mil caixas de produtos", afirma o sócio.
A primeira vez que Ricardo conseguiu entrar na fábrica, a água ainda não havia baixado. "Entrei com água no peito, eu e mais dois funcionários antigos. Tive que amparar os meus funcionários. Os dois desabaram, porque tudo que a gente tinha construído e levantado, foi levado", relata.
Apesar do choque inicial, Aline e Ricardo não pensaram em nenhum momento em desistir do negócio. "Nós completamos 10 anos de empresa no dia 5 de junho. A sensação foi que nesses 10 anos chegamos ao ápice e, ao mesmo tempo, tudo foi destruído. Apesar disso, sempre tivemos muitas oportunidades e sempre vislumbramos um crescimento, um futuro", comenta Aline.
Foram seis semanas de limpeza, que começou com os 30 colaboradores da fábrica e mais tarde com uma empresa especializada em higienização. "Só de caçamba de entulho, foram quatro. Realmente, parecia que não ia acabar nunca", lembra o empreendedor.
Por se tratar de uma empresa do ramo alimentício, a limpeza foi um processo mais longo e meticuloso. "Limpamos o grosso, depois a limpeza fina, higienização, desinfecção. As engenheiras de alimentos e nutricionistas realizaram os testes. Chegou um momento em que tivemos de fazer muitas reuniões com a equipe, motivar e agradecer, dizer que estávamos próximos do fim, porque é um processo muito cansativo", afirma.
Enquanto a Grano Square estava com a produção parada, ocorreu, em São Paulo, a Naturaltech, maior feira de negócios em produtos naturais da América Latina. A equipe da marca de granolas já havia contratado um estande para o evento, mas não tinha produtos para levar. "Nós fizemos todo um trabalho de nova identidade visual e fizemos novas embalagens antes da enchente. Só que essas novas embalagens não tinham sido entregues na fábrica. Então, fomos com as embalagens novas vazias. Colocamos a bandeira do Rio Grande do Sul no nosso estande e contamos nossa história", conta Aline.
Durante o processo de recuperação da fábrica e retorno da produção, os sócios ficaram surpresos com o apoio recebido pelos clientes. Segundo eles, tanto os clientes finais quanto as redes de supermercados compreenderam os novos prazos e incentivaram o negócio.
Para arrecadar fundos, os sócios resolveram realizar a pré-venda dos produtos que serão entregues a partir de agosto. A ação foi bem aceita pela clientela da marca. "O nosso público é superfiel. Muitas pessoas ficavam dizendo 'estamos aguardando'", relata Ricardo.
A pesquisa desenvolvida pelo Jornal do Comércio em parceria com a Pucrs aponta em seus resultados que, após a enchente, o consumidor passou a valorizar mais as marcas gaúchas. No ramo alimentício, 52,4% dos entrevistados admitem que optam por marcas do Rio Grande do Sul quando há um adequado custo-benefício.
O retorno da produção trouxe alguns desafios, como a demanda reprimida de antigos pedidos que não foram entregues, além de alguns equipamentos que estragaram no processo. "Dar conta desses pedidos é uma coisa muito difícil. A organização do que vamos atender primeiro é desafiadora. Queremos atender a todos os clientes e evitar faltas", afirma Aline. Atualmente, a fábrica está operando com 80% de sua capacidade de produção, mas os sócios não desanimam.
"Estamos com um problema bom. Por isso, dizemos que nosso futuro é promissor, porque temos muitos pedidos pela frente", afirma Ricardo, que também revela que, em setembro, a Grano Square lançará uma nova linha de granolas com diferentes sabores.