Estabelecimentos incorporam em suas agendas produções de outros locais, a fim de apoiar o cenário do entretenimento de Porto Alegre e região

Negócios abrem suas portas para casas noturnas atingidas pela enchente


Estabelecimentos incorporam em suas agendas produções de outros locais, a fim de apoiar o cenário do entretenimento de Porto Alegre e região

Mais de um mês após o início das enchentes, negócios de Porto Alegre seguem tentado se reestruturar. São inúmeras as operações afetadas, seja pela água em si, pela baixa no movimento ou até mesmo pela falta de fornecedores. Estabelecimentos voltados ao entretenimento e ao lazer são alguns dos primeiros a sentirem o efeito da crise. Para mitigar esses impactos, negócios do segmento fazem uma força-tarefa, unindo operações para driblar as adversidades.
Mais de um mês após o início das enchentes, negócios de Porto Alegre seguem tentado se reestruturar. São inúmeras as operações afetadas, seja pela água em si, pela baixa no movimento ou até mesmo pela falta de fornecedores. Estabelecimentos voltados ao entretenimento e ao lazer são alguns dos primeiros a sentirem o efeito da crise. Para mitigar esses impactos, negócios do segmento fazem uma força-tarefa, unindo operações para driblar as adversidades.
O Ocidente, na avenida Osvaldo Aranha, nº 960, bairro Bom Fim, é uma das casas de festas mais antigas de Porto Alegre, operando desde 1980. O local não teve sua estrutura afetada, mas paralisou suas atividades por três semanas devido ao cenário de tragédia que assola o Estado. Nos últimos dias, quando retomaram com os eventos, decidiram acolher outras casas de festas que tiveram suas estruturas comprometidas pela inundação.
A casa voltou a funcionar no dia 24 de maio, mas, assim como outros estabelecimentos, precisou se adaptar e focar seus esforços para um bem maior. Além de seguir com as produções fixas, o estabelecimento abriu agenda para outras festas que aconteciam em casas noturnas localizadas no Centro Histórico e no 4º Distrito, regiões que foram fortemente impactadas pelas águas.
"Além de ser uma questão de empatia, de se colocar no lugar do outro, os nossos DJs tocam em todas essas casas que também foram atingidas. As pessoas que a gente ama também foram afetadas, pois não têm onde trabalhar. É uma questão de consciência de classe. Acreditamos que é importante estarmos juntos, nos apoiarmos", declara Julia Barth, produtora do Ocidente. Na última semana, a casa recebeu festas do Cabaret, que fica na rua Sete de Setembro, nº 708, no Centro Histórico, e da Cortex, que opera na rua Álvaro Chaves, nº 12, no bairro Floresta, no 4º Distrito.
Segundo Júlia, apesar de ajudar outros locais do mesmo ramo, isso é positivo para o seu estabelecimento também. "Abrimos mão da nossa bilheteria para auxiliar essas outras casas de festas, porque temos que fazer a roda girar. Os clientes seguem consumindo do nosso bar, e isso é melhor do que ficar parado. Temos toda essa estrutura para manter, uma equipe de mais de 32 funcionários e fornecedores. É melhor que funcione desta forma do que não funcione", reflete.
A produtora conta que o mês de maio foi atípico e muito difícil. "Não trabalhamos desde o dia 2 de maio, data em que aconteceria a Balonê, uma das principais festas da casa. Era muita chuva, a cidade ainda não tinha sido afetada, mas era muita água", comenta. De acordo com ela, as festas que acontecem nas sextas-feiras e sábados são de produtores independentes, que realizam eventos no Ocidente de forma fixa. "A Balonê tem 23 anos e é uma das produções mais antigas da casa e mais caras. É um público com alto poder aquisitivo, o ingresso é caro e para nós faz muita diferença", explica Júlia.
A festa, que teve que ser cancelada no início de maio, aconteceu no último sábado (1 de junho), e destinou parte da bilheteria para uma instituição que presta auxílio à população atingida pelas enchentes.
Além do quadro de funcionários fixos que temos, cada produção, como a Balonê, emprega de 10 a 20 pessoas. Têm os DJs, têm os fotógrafos, tem o iluminador, tem hostess. Temos obrigação com essas pessoas, que na maioria das vezes trabalham de forma autônoma", explica Julia.
Todos os eventos do Ocidente contam com ações solidárias. A primeira festa que aconteceu quando as atividades foram retomadas destinou 100% da bilheteria para trabalhadores da noite. "Nós fizemos uma festa de todas as festas da casa, com DJs de todas as produções", relata.
Em relação ao comportamento do público, Julia acredita que as pessoas estão aceitando bem os eventos e as festas estão durando mais.
"As pessoas estão eufóricas, a gente desliga o som e ninguém quer ir embora. É um lugar de lazer necessário para elas, mas também é um lugar de trabalho para muitas outras", pontua.
Para quem perdeu seu local de trabalho e é acolhido pela casa, a ação conforta e dá esperanças para um futuro melhor.
"Ficamos tão assustados e desnorteados, como todo gaúcho, que nem pensamos em fazer evento em outros lugares. Mas daí o pessoal do Ocidente estendeu a mão para a gente. É importante essa solidariedade. Quando pudermos retribuir, seja para o Ocidente ou para outra casa que precisar, faremos o mesmo", relata Yog Kaiser Mars, produtor do Cabaret.
Júlia acredita que, após esse momento, os estabelecimentos deste setor irão se aproximar, movimento que será positivo. "Precisamos conversar mais, até para que a gente se prepare para outros momentos. Tem uma frase de uma música que gosto muito que é 'para onde vai o mundo, vai todo mundo'. E acho que isso fala muito sobre o que estamos passando", conclui.
 
 
 
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Iniciativa busca promover união entre os bares de Porto Alegre

A iniciativa "Os Bares pelos Bares" foi criada pelo Céu Bar + Arte, que busca oferecer seu espaço outros negócios do segmento que estão precisando de ajuda

 
Com o objetivo de unir um ambiente de bar com música ao vivo, o Céu Bar Arte está localizado na Cidade Baixa há mais de 8 anos. Comandado pelo trio de irmãos Frederico Lincoln, Pedro Antônio e Tomás Moreira, o empreendimento oferece serviços de hamburgueria, drinks e até mesmo estúdio de tatuagem. Em maio de 2024, logo após a enchente que atingiu Porto Alegre e diversos outros municípios do Rio Grande do Sul, os irmãos resolveram criar a iniciativa Os Bares pelos Bares, que busca disponibilizar o espaço do Céu para outros negócios do segmento que estão precisando de ajuda neste momento de reconstrução.
Antes de ser um bar, o ponto que hoje abriga o Céu era uma garagem. Os irmãos eram frequentadores da região e clientes do local, estacionando seus carros lá sempre que necessário. Quando o negócio fechou, eles, que já queriam entrar no mundo do empreendedorismo, resolveram adquirir o ponto.
Inicialmente, o empreendimento unia garagem com um pequeno bar. Com o tempo, o bar foi crescendo e os empreendedores, aos poucos, foram deixando de lado o antigo modelo de negócio. "Tínhamos um pequeno bar com umas mesinhas na frente e a garagem no fundo. Quanto mais aumentava o movimento, mais íamos diminuindo, vaga por vaga, o espaço para os carros. Até que, em 2018, chegou o momento em que o bar estava muito grande para o estacionamento", lembra Frederico.
Atualmente, o negócio conta com três sedes - além de Porto Alegre, o Céu também está presente em Capão da Canoa e Florianópolis (SC) - e, segundo Frederico, cada uma tem suas peculiaridades. No ponto da capital gaúcha, o foco é no bar. Ali, são oferecidos drinks, cervejas e chopes, além de hambúrgueres e porções para compartilhar. O empreendedor também exalta o compromisso do local com a cena artística da cidade, que sempre busca proporcionar shows de artistas locais, além de disponibilizar um estúdio de tatuagem.
"Desde o início, botamos música ao vivo. Se a gente não colocar uma atração, não temos o mesmo engajamento. E quase 100% são artistas locais, de gêneros musicais variados", afirma Frederico.
Desde o início de maio, o Rio Grande do Sul está sofrendo as consequências de uma das maiores tragédias ambientais da história do País e, consequentemente, muitos empreendedores gaúchos tiveram seus negócios afetados. O Céu Bar Arte foi uma dessas operações, mesmo que a sede não tenha sido atingida diretamente pela água.
"Ficamos dias sem luz. Para não perder os insumos perecíveis, fizemos hambúrgueres para doação e para ajudar quem estava trabalhando com os resgates. Doamos água e tudo que poderia estragar, e ficamos três semanas parados. Querendo ou não, os boletos vão acumulando, mas graças a Deus a água não chegou até aqui", conta Frederico.
Após o período parado, os irmãos entenderam que era hora de retomar as atividades. Mas, mesmo assim, eles perceberam que muitos outros bares e casas noturnas em diversos pontos da cidade ainda não estavam conseguindo operar. Foi assim que Pedro teve a ideia de criar a iniciativa Os Bares pelos Bares.
"Como já fazemos eventos com bares parceiros, o Pedro nos disse: 'vamos abrir as portas do Céu para todo mundo que tiver sido afetado conseguir fazer eventos'. Como somos amigos de vários outros bares, fui oferecendo a ideia, para que as pessoas possam fazer uma festa e capitalizar um pouco, pagar algumas contas que estejam ativas ou algo do tipo", explica Frederico.
Assim, através do seu perfil oficial no Instagram (@ceubarearte), o espaço do Céu Bar Arte foi colocado à disposição para sediar outros eventos. Até agora, duas parcerias com outros empreendimentos já foram concretizadas: uma com o Layback Park, bar localizado na Orla do Guaíba, e outra com o Cortex, casa de festas localizada no 4ºDistrito. Além disso, um evento solidário em conjunto com os estudantes da Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação (Fabico) da Ufrgs também acontecerá no Céu. Outras parcerias ainda estão sendo firmadas, e as atualizações serão publicadas no Instagram oficial do empreendimento.
O Céu Bar Arte está localizado na rua General Lima e Silva, n°1487, e opera de terça a sábado, das 18h a 1h. O local também está funcionando como ponto de arrecadação e, além disso, o pagamento do couvert artístico pode ser feito com um quilo de alimento não perecível, que será destinado para a doação das vítimas da enchente.
 

Casa de festa pretende seguir com arrecadações de doações até o fim de 2024

Casa noturna recebeu operação da Região Metropolitana, atingido pela inundação

A Cucko, casa noturna localizada na rua General Lima e Silva, nº 1037, na Cidade Baixa, completou 10 anos de operação em dezembro de 2023. O que Thais Gomes, proprietária do negócio, não imaginava é que a operação passaria por mais um momento delicado alguns meses depois. Após a pandemia de Covid-19, a empreendedora teve de fechar as portas do seu estabelecimento mais uma vez, quando a enchente se alastrou pelos bairros de Porto Alegre. A casa não foi afetada diretamente, pois a água não chegou até o local, mas Thais optou por paralisar as atividades.
"As ruas ao redor estavam todas alagadas. Não havia como acessar e também não era confortável seguirmos com uma agenda de festas naquele caos. Minha avó mora em Canoas e estava embaixo d'água. Como eu poderia dizer para as pessoas naquele momento 'venham beber?'", pondera.
A empresária estava de férias e fora do Brasil quando começou a receber as notícias do que estava acontecendo no Rio Grande do Sul. Poucos dias antes de retornar para o País, o Aeroporto Salgado Filho fechou e ela tomou a decisão de também fechar o seu negócio à distância. "Foi um momento difícil, porque quem não estava aqui não tinha ideia do que de fato estava acontecendo", lembra.
A casa ficou sem operar cerca de um mês e, ao retomar suas atividades, abriu espaço na agenda para receber produções de estabelecimentos que foram atingidos pela enchente. Na última semana, o Cucko recebeu a Galeria 304, localizada na rua Independência, nº 304, no Centro de São Leopoldo. Assim como o Ocidente e o Céu, a casa noturna também realizará um evento em parceria com o Cortex.
Para apoiar esses outros locais da cena do entretenimento em Porto Alegre e Região Metropolitana, o negócio teve que cancelar algumas festas próprias para dar espaço para produções externas. "Abrimos mão de algumas datas da casa, que já eram internas, justamente para compartilhar com outras casas que foram diretamente prejudicadas. As demais datas foram transformadas em eventos beneficentes", explica Pedro Tribino, produtor-geral da Cucko. De acordo com ele, todos os eventos do estabelecimento contam com arrecadação de donativos ou com reversão da bilheteria para doação.
"Fizemos ações para o Quilombo Machado e, no dia 25 de maio, quando aconteceu o Bailão da Cucko, destinamos as doações arrecadadas para um Centro de Tradições Gaúchas (CTG) que está abrigando algumas famílias", relata Thais. Segundo ela, a ideia é organizar as doações de acordo com as necessidades das comunidades atingidas e dos abrigos. Além disso, os clientes que ajudarem com doações ganham alguns benefícios. "Estamos promovendo ações de troca. Realizamos uma festa em que os 100 primeiros que entraram ganharam um drink da casa ao doar um agasalho. A ideia é usar nossa estrutura para contribuir de todas as formas possíveis", destaca Pedro.
O Cucko continua com a agenda disponível para outros bares e casas noturnas que tiveram suas estruturas danificadas; os interessados devem entrar em contato com o estabelecimento. "Queremos ajudar esses outros negócios, mas respeitamos quem prefere se recolher neste momento. Entendemos que, mesmo oferecendo nosso espaço, não é a mesma coisa. Ter um negócio é como ter uma casa, você sabe como funciona, conhece cada corredor, e operar em um local desconhecido não é fácil", reflete Thais.