Hoje, o Instituto MV8 conta com mais de 560 mulheres espalhadas pelo Brasil

Filha de mecânico cria instituto para fomentar atuação de mulheres no setor automotivo


Hoje, o Instituto MV8 conta com mais de 560 mulheres espalhadas pelo Brasil

O tempo passa e mulheres seguem precisando provar que podem, sim, estar em diferentes ambientes e ocupar os mesmos cargos que homens. Mas é inegável que, em alguns segmentos, há ainda mais adversidades para as mulheres, principalmente se tratando de cargos de liderança. De acordo com pesquisa realizada pelo Sebrae-RS em 2024, cerca de 10% das mulheres empreendedoras do Rio Grande do Sul iniciam no empreendedorismo para dar seguimento aos negócios da família. Isso porque, geralmente, a sucessão ocorre entre pai e filho homem. Parte dessa pequena porcentagem, Eva Paiva, 29 anos, é a primeira mulher a fazer parte da sociedade do negócio da família, a Oficina Paiva.
O tempo passa e mulheres seguem precisando provar que podem, sim, estar em diferentes ambientes e ocupar os mesmos cargos que homens. Mas é inegável que, em alguns segmentos, há ainda mais adversidades para as mulheres, principalmente se tratando de cargos de liderança. De acordo com pesquisa realizada pelo Sebrae-RS em 2024, cerca de 10% das mulheres empreendedoras do Rio Grande do Sul iniciam no empreendedorismo para dar seguimento aos negócios da família. Isso porque, geralmente, a sucessão ocorre entre pai e filho homem. Parte dessa pequena porcentagem, Eva Paiva, 29 anos, é a primeira mulher a fazer parte da sociedade do negócio da família, a Oficina Paiva.
Apesar de ter sido criada dentro da oficina - fundada por seu avô Jorge, que passou a empresa para seu pai, Paulo Paiva -, Eva nunca planejou seguir os passos de seus antecessores. Com dois irmãos mais velhos, parecia evidente que a mecânica seguiria na família com um deles. Sendo assim, quando se formou na escola, Eva foi estudar Ciências Contábeis. Em 2019, enquanto trabalhava na área de contabilidade de uma multinacional, a empreendedora engravidou de Fernanda, sua primeira filha, e foi demitida da empresa. "Não tinha mais trabalho, não tinha mais como pagar a faculdade e tinha uma filha para criar. Tive de trancar os estudos e entrei em uma depressão profunda que durou uns dois anos. Foi quando voltei a trabalhar na oficina com o meu pai", lembra Eva.
Quando retornou para a mecânica, que havia crescido de um terreno na frente de casa para um pavilhão de 600 m² e precisava de uma gestão, Eva notou que poderia aplicar no negócio do pai o que havia aprendido na área contábil. "Comecei a identificar diversos pontos onde poderia aplicar meu aprendizado e entendi que a oficina mecânica era o meu legado, uma oportunidade. Foi quando comecei a estudar sobre a indústria mecânica num todo e descobri que ela era bilionária. Logo, pensei 'se movimenta tudo isso, não é uma área tão pequena'", rememora.
TÂNIA MEINERZ/JC
Durante a pandemia de Covid-19, o faturamento da Oficina Paiva triplicou. Eva observa que foi capaz de incrementar diferentes processos no negócio. Contudo, sentia que poderia ir ainda mais longe se compreendesse mais sobre a prática da mecânica. "Sentia essa dificuldade mais prática, precisava entender mais sobre os carros para poder aplicar métodos em processos, orçamentos, compras, melhorar a produtividade. Pensei que, se eu tinha essa dor, outras mulheres no meio mecânico também deviam viver isso", conta. Pensando em criar um grupo de apoio e troca de informações entre mulheres do setor automotivo, Eva criou, em 2021, o Gaúchas Car, agora chamado de Instituto MV8, que faz referência ao motor V8.
O grupo iniciou com 14 mulheres gaúchas e, hoje, conta com mais de 560 mulheres de seis estados do Brasil. "A proposta do instituto é trazer mais inclusão, desenvolvimento e capacitação para mulheres. Para isso, promovemos eventos, workshops, treinos, palestras, visitas a fábricas. Tudo isso para quem já está no setor automotivo ou tem interesse em entrar", explica. Em breve, a empreendedora planeja realizar também ações com jovens e mulheres em situação de vulnerabilidade social.
Para Eva, trabalhar em um setor majoritariamente masculino é, de diferentes maneiras, desafiador. "Meu maior receio em voltar para a oficina era aquela sensação de pertencimento, como se todos os meus sonhos estivessem indo por água abaixo. Ainda falta trazer essa identidade de que uma oficina mecânica também é lugar de mulher. Se entrava um cliente e me olhava meio torto, aquilo já me deixava para baixo. Mas, hoje, compreendo que é meu legado, que é graças à oficina que consigo e estou conseguindo realizar todos os meus sonhos. É um mundo de oportunidades", orgulha-se.
TÂNIA MEINERZ/JC
O conselho que a empreendedora compartilha com as mulheres que participam do instituto, e que julga ser cabível para diferentes segmentos, é posicionar-se. "Tu precisas ter senso da tua própria identidade, dominar teu posicionamento e entender que aquilo, inicialmente, até pode ter sido o sonho de outra pessoa, mas a partir do momento em que tu assumes, passas a ser teu sonho também", ressalta Eva.