O empreendedorismo não fica restrito apenas ao período dos desfiles. Entusiastas das escolas de samba de Porto Alegre encontram na festa inspiração para seus negócios

Carnaval movimenta economia e inspira negócios em Porto Alegre


O empreendedorismo não fica restrito apenas ao período dos desfiles. Entusiastas das escolas de samba de Porto Alegre encontram na festa inspiração para seus negócios

Uma das festas mais populares do Brasil, o Carnaval movimenta a economia de diferentes formas, seja nos blocos de rua ou nos desfiles em diferentes pontos do País. Em Porto Alegre, as escolas de samba passarão pelo Porto Seco nesta sexta-feira (23) e no sábado (24). Mas a festa fomenta o empreendedorismo muito além deste período. Em diferentes frentes, empreendedores e empreendedoras encontram no Carnaval inspiração para seus projetos ao longo do ano.
Uma das festas mais populares do Brasil, o Carnaval movimenta a economia de diferentes formas, seja nos blocos de rua ou nos desfiles em diferentes pontos do País. Em Porto Alegre, as escolas de samba passarão pelo Porto Seco nesta sexta-feira (23) e no sábado (24). Mas a festa fomenta o empreendedorismo muito além deste período. Em diferentes frentes, empreendedores e empreendedoras encontram no Carnaval inspiração para seus projetos ao longo do ano.
O projeto Mini Divas é uma dessas iniciativas. O grupo foi criado em 2018 por Raquel Nunes, ex-madrinha de bateria da Imperadores do Samba, cargo que ocupou por 15 anos. A iniciativa surgiu dentro da escola para recriar uma ala de crianças com o objetivo de engajar ainda mais os pequenos no Carnaval. "Montei o projeto na cara e na coragem. Começamos com seis crianças", lembra Raquel que, neste ano, colocará 76 crianças na avenida.
Em 2021, quando Raquel saiu da Imperadores do Samba, o projeto deixou de pertencer à escola, tornando-se uma iniciativa itinerante que contempla diferentes agremiações. "No momento que saí da Imperadores, começamos a receber convites e aí conseguimos abranger mais escolas. A primeira escola foi a Imperatriz Dona Leopoldina. Como precisávamos de um lugar para ensaiar, fomos para lá. Nosso primeiro ano, em 2022, retomada do Carnaval, desfilamos em quatro escolas: Imperatriz Dona Leopoldina, Bambas da Orgia, Acadêmicos da Orgia e Samba Puro", lembra Raquel.
Neste ano, as Mini Divas passarão por sete escolas: Samba Puro, Imperatriz Dona Leopoldina, Império do sol, Unidos da Vila Mapa, União da Vila do IAPI, Estado Maior da Restinga e Realeza. As crianças são dividias em grupos e desfilam em diferentes escolas a fim de priorizar a diversão e o conforto. "É uma emoção. Cada grupo de mães é responsável por uma escola e dividimos as tarefas", explica a fundadora do projeto, destacando que a iniciativa funciona como um serviço prestado às escolas. "Fomos em todas as escolas que não tinham crianças. Por exemplo, Imperatriz e Restinga são escolas de comunidade. É impossível não ter crianças. Tem que trazer essas crianças para dentro da escola. No momento que tem alguém que faça um trabalho, as pessoas levam", percebe Raquel. As escolas são responsáveis pelo fornecimento do material das fantasias, que são produzidas pelas mães do projeto. "Temos uma cadeia produtiva dentro do projeto. As nossas mães fazem os adereçamentos, as fantasias, porque é um aprendizado, sem contar que é um escape. Isso vira uma família", garante Raquel.
Para ela, o Mini Divas é uma ferramenta que contribui para a autoestima dessas crianças e adolescentes de 5 a 16 anos. "Tem as questões particulares. Temos 71 mães e 50 são separadas, muitos pais não dão apoio. Tem o preconceito com o carnaval, o mundo ainda é machista. E eu digo para elas: já somos mulheres, negras, gordas, pobres, já moramos em favela, se nós não nos ajudarmos, se não tivermos o apoio do carnaval e da cultura, a gente não consegue andar para frente", reflete Raquel, ressaltando que a alegria do Carnaval contagia os integrantes do grupo durante o ano todo. "O carnaval estimula e incentiva as crianças, faz com que elas tenham mais vontade de fazer suas próprias atividades. Ver essas crianças crescerem não apenas como artistas talentosos, mas também como indivíduos confiantes e conscientes de sua própria cultura, é incrivelmente gratificante", afirma.
Além de fomentar a cultura entre as crianças, o projeto foca no desenvolvimento da educação de quem compõe o grupo. Para seguir sambando na avenida, é necessário passar de ano na escola - atividades que são acompanhadas de perto pela Dinda, como Raquel é conhecida no meio. "Temos parcerias com escolas e conseguimos bolsas para os alunos. Começamos a crescer como projeto social. Fazemos trabalhos comunitários, temos de reforço de intercalasse, psicopedagogas."
Ao longo do ano, os encontros das Mini Divas são quinzenais, além da presença nos ensaios das escolas e participação em shows. Para manter o projeto, Raquel conta que realiza, no Dia das Crianças, um galeto onde angaria fundos para as camisetas de identificação. Há, ainda, doação de parceiros do setor público e privado. "Conseguimos cestas básicas com colaborações com a prefeitura. Temos parcerias com pessoas de grupos comunitários dentro dos bairros mais pobres e fazemos esse trabalho junto deles para que conheçam o carnaval. O nosso projeto é infantil, mas não me custa inserir o contexto do carnaval dentro desses lugares", pondera Raquel, destacando que não há custos para as crianças participarem do projeto. "A única coisa que é paga é o sapato do desfile. O resto é tudo doado por conta do projeto."
Quebrar os estigmas do Carnaval em Porto Alegre é uma das bandeiras carregadas por Raquel ao longo de toda sua trajetória. "Falta abrir um pouco a mente em relação ao carnaval. Não pensar que é só para o pobre, para o negro, para o favelado ou para o povo da periferia. O carnaval é para todos", afirma a fundadora do Mini Divas. "Precisamos vender uma imagem do carnaval próspero. Mostrar que é legal, que tu podes trazer a tua família, subir na arquibancada e ninguém vai te assaltar. Quero que as pessoas venham para o Porto Seco, usem esse espaço. Tem que fazer com que entendam que tem Carnaval aqui, e que não é mais um Carnaval marginalizado. Tem criança, tem família", afirma.
 

Costureira produz fantasias na Capital

“O Carnaval é essencial para as nossas vidas. Assim como estamos nos divertindo, estamos conseguindo o nosso sustento com ele”, afirma Janaína Monteiro. A costureira comanda a L’Oya Confecções, onde produz roupas de religião de matriz africana durante o ano e atende pedidos das escolas de samba de Porto Alegre no período que antecede os desfiles.
A história de Jana, como é conhecida, com o Carnaval começou bem antes da sua relação com a costura. Aos 18 anos, por convite de uma colega de trabalho, começou a frequentar o Carnaval. “Comecei numa ala de passo marcado. Fui vendo mais o dia a dia do Carnaval e aquilo foi me encantando”, lembra a empreendedora. Em 2019, Jana enxergou na costura uma possibilidade de negócio. Foi através da sua conexão com as religiões de matriz africana que surgiu o insight para migrar sua carreira, até então no comércio, para a costura. “Uma vizinha me sugeriu fazer uns panos de cabeça e me disse que aprendia tudo pelo YouTube. Foi assim que comecei a costurar”, lembra. Hoje, ela comanda a L’Oya Confecções, que conta com uma loja de itens de religião à pronta-entrega e um ateliê onde produz por encomenda. “Do meu serviço com roupas de religião, abriu o leque para o povo do Carnaval. As pessoas começaram a pedir roupas para as alas, e começou a misturar as duas coisas”, conta.
Neste ano, a empreendedora produziu as roupas da ala de baianas da Imperadores do Samba, sua escola do coração, além de peças para outras escolas e adereços para as Mini Divas - grupo do qual suas filhas fazem parte. Jana explica que a dinâmica beneficia seu negócio, já que as verbas do Carnaval ficam concentradas no verão. “É um período que dá uma baixa nas roupas de religião. Serve muito bem para o meu negócio. Trabalho o ano todo com as roupas de religião e, no verão, me dedico para a função do Carnaval”, pontua ela, afirmando que, agora, o Carnaval ocupa um espaço ainda mais importante na sua vida. “Antes eu trabalhava e, depois, ia para o Carnaval me divertir. Hoje, o Carnaval faz parte o dia inteiro”, diz Jana, defendendo o potencial econômico que o Carnaval tem. “As pessoas precisam ter a mente mais aberta. O Carnaval só nos faz bem e movimenta muito a economia. No dia da festa, tem ambulantes; eu sou costureira e, daqui a pouco, vou na loja de tecidos comprar material que faltou. Movimenta muito a economia. Ninguém está de farra. Estamos trabalhando para fazer uma festa bonita”, garante.

Mestre de bateria dá aula de percussão para jovens

Desde que pisou pela primeira vez em uma escola de samba, aos 8 anos de idade, Junior Medina sabia que trilharia sua jornada nas quadras. Hoje, aos 40 anos, o músico é mestre de bateria na escola de samba Copacabana, no bairro Bom Jesus, em Porto Alegre, além de comandar um projeto social voltado a ensinar percussão para jovens da região.
A caminhada no meio carnavalesco foi extensa e de altos e baixos, garante Junior. Aos 14 anos, iniciou como ritmista na bateria da Copacabana; aos 18, passou a atuar como auxiliar de bateria da escola; com 19, participou da bateria da União da Vila do IAPI; dos 20 aos 22, foi auxiliar de bateria na Imperatriz Dona Leopoldina. Em 2011, voltou às origens para assumir a bateria da Copacabana, onde ficou até 2015, quando se afastou do Carnaval por dois anos. "É maravilhoso, mas é muito estresse, estava cansado, foi um tempo que não queria mais saber de Carnaval", lembra Junior. Em 2016, voltou para a Copacabana, onde segue como mestre de bateria.
"Hoje posso dizer que amo a escola em que estou trabalhando. A partir do momento em que tu encontras a tua escola, podes acabar fazendo além da tua função para ajudar. Fica bem corrido, mas é muita alegria viver esse dia a dia, é inexplicável", reflete o músico. "Quem não conhece e, vai para conhecer, acaba ingressando e não quer mais sair. Pode até sair da Copacabana, mas vai para outra escola, isso é o Carnaval", define Junior sobre a paixão que o acompanha o ano todo. "Não tem como acordar e não pensar em Carnaval, na Copacabana. Se eu não entro dentro da quadra, pelo menos passo na frente todos os dias. É como se fosse um ímã."
A conexão com esse mundo e, em especial, com a música, tomou grandes proporções na vida de Junior. Hoje, ele comanda o projeto Os Bacaninhas, onde ensina a prática de instrumentos de percussão para jovens da comunidade. "Comecei tentando buscar aquelas crianças da comunidade mesmo. Sabemos que tem muitas crianças indo para o lado do crime, então vou atrás. Se precisar, dou um jeito de buscar e levar em casa, vou atrás dos recursos", afirma. Além da quadra, Junior vive o Carnaval em casa, já que praticamente toda a família está envolvida na escola. "A minha filha frequenta a Mini Divas, o meu afilhado é meu diretor de bateria, minha outra filha toca chocalho na bateria, minha esposa dança na frente da bateria." Neste ano, o desfile da Copacabana contará com 2 mil pessoas, sendo 26 alas e quatro carros. 
 

Confira a ordem dos desfiles em Porto Alegre

Sexta-feira, 23 de fevereiro
20h - União da Tinga
21h - Império da Zona Norte
22h - Academia de Samba Praiana
23h - Samba Puro
00h - Copacabana
1h10min - Bambas da Orgia
2h20min - Imperatriz Dona Leopoldina
3h30min - Fidalgos e Aristocratas
4h40min - Acadêmicos de Gravataí
 
Sábado, 24 de fevereiro
20h - Império do Sol
21h - Protegidos de Princesa Isabel
22h - Filhos de Maria
23h - Unidos da Vila Mapa
00h - Unidos de Vila Isabel
1h10min - União da Vila do IAPI
2h20min - Estado Maior da Restinga
3h30min - Imperadores do Samba
4h40min - Realeza