A startup InEdita Bio está desenvolvendo uma tecnologia de edição genômica que permite criar variedades de grãos mais resistentes a pragas, secas e altas temperaturas. Fundada em 2022, em Florianópolis, a empresa tem foco em combater as doenças tropicais - como a ferrugem asiática - que atingem as culturas de milho e soja. O objetivo é reduzir o uso de fertilizantes e pesticidas no agronegócio.
À frente da startup estão Paulo Arruda e Viviane Silva. Segundo os sócios, a dependência de produtos químicos no campo não é sustentável sob diversos aspectos - ambientais, sociais e econômicos. "Na última safra de soja, por exemplo, o Brasil gastou cerca de US$ 2,5 bilhões em uso de pesticidas químicos. É um custo de produção muito alto. O foco da nossa empresa é a sustentabilidade. Trazer um benefício para o planeta, para a saúde humana e para o bolso do produtor", destaca Paulo.
A aposta da InEdita Bio para diminuir o uso de químicos na produção de alimentos é a edição genômica. Para explicar como funciona a técnica, Paulo compara a edição de DNA com um corretor ortográfico, em que é possível substituir uma letra por outra para corrigir ou melhorar um texto. "Nosso genoma nada mais é que um enorme texto com 4 bilhões de letras. Usamos enzimas para editar esse texto, fazendo pequenas modificações, adicionando palavras, mudando letras."
Regulamentada no Brasil, a edição genômica de plantas permite que o produtor ligue ou desligue características de interesse nos grãos, aperfeiçoando-os em relação à resistência e rendimento, por exemplo. Uma das técnicas mais conhecidas de edição de DNA chama-se CRISPR/Cas9 - ou "crisper". A ferramenta foi descoberta pelas cientistas Emmanuelle Charpentier e Jennifer A. Doudna, que venceram o Prêmio Nobel de 2020 devido à invenção.
Edição genética da InEdita Bio é diferente de transgenia
O método não requer a introdução de genes de outras espécies, como acontece nos alimentos transgênicos. A manipulação do DNA é realizada apenas entre as características próprias de um único organismo. Essa mudança genética, como explica Paulo, poderia ocorrer por meio de mutações naturais, processo de seleção de espécies que levaria milhares de anos. Com a técnica aplicada pela InEdita Bio, a edição genômica pode ser feita em laboratório, a partir de uma alteração induzida. "É um método que simplesmente se espelha naquilo que a natureza faz, mas de forma estruturada, orientada."
Por isso, os grãos com genes editados a partir dessa técnica não são considerados organismos geneticamente modificados (OGM), sendo comercializados como produtos convencionais. Os transgênicos fazem parte do grupo dos OGM. "A maioria dos países, com exceção da comunidade europeia, considera que a edição genômica não é diferente daquilo que a natureza faz para criar variabilidade genética", fala Paulo.
A maior facilidade de registro abre espaço para startups, como a InEdita Bio, conquistarem um mercado dominado por grandes empresas. "O processo regulatório é infinitamente mais barato que o dos produtos transgênicos. A edição gênica veio para democratizar esse mercado", destaca.
Entrada no mercado em 2026
Apesar do foco em culturas de milho e soja, a tecnologia desenvolvida pela empresa pode ser aplicada em quaisquer plantas e para expressar as mais diversas características desejáveis. As primeiras sementes devem ser testadas no campo em 2026. A InEdita Bio trabalha com oito cientistas em laboratório em Florianópolis. A empresa também conta com uma sede nos Estados Unidos. "O valor das tecnologias que estamos trazendo é enorme. Temos um mercado de bilhões de dólares aberto para ciência brasileira", entende Paulo.
No momento, a empresa opera apenas com clientes interessados, sem volume de mercado. Produtores que desejem ter acesso aos grãos com DNA editado pela InEdita Bio devem entrar em contato pelo site da marca (inedita.bio).