Marca gaúcha de pão de alho conquista o Paraguai e projeta faturar R$ 10 milhões

Foi da receita tradicional do churrasco de domingo que veio a inspiração para o empreendedorismo. Hamilton Zettermann e Carla Oliveira são os nomes à frente da Alho Pan, indústria que opera na zona norte de Porto Alegre e produz 15 mil caixas de pão de alho por mês. Além da produção para a marca própria, a fábrica é responsável pelo fornecimento do quitute para outras 13 marcas, como Massa Milano, Massas Famigliare, Massas Di Napoli e Perte Alimentos.

A história do casal com o pão de alho, no entanto, começou muito antes do negócio. “O Hamilton fazia o pão de alho dos nossos churrascos aos fins de semana. Todo mundo da família só queria o pão do Hamilton nos churrascos”, lembra Carla. Foi do sucesso entre familiares e amigos que veio a ideia de investir no pão de alho como um negócio. “Em 2010, o Hamilton achou que ia ser demitido da empresa onde trabalhava como consultor de vendas. Estava muito preocupado e começou a pensar no que sabia fazer, que todo mundo gostava”, conta Carla sobre a resposta que estava na ponta da língua: pão de alho.

Na época, ela trabalhava como gerente financeira em uma indústria metalúrgica, mas não demorou a embarcar no sonho. No entanto, ao invés de demissão, Hamilton recebeu uma promoção e a jornada empreendedora ficou apenas no papel. Em 2014, a empresa em que Carla trabalhava começou a apresentar resultados negativos. Naquele momento, foi o start para tirar o projeto da gaveta. “Fui pesquisar máquina, fazer curso de padeiro. Não queria que acontecesse comigo o que aconteceu na empresa em que trabalhava, que ficava na mão de terceiros. Queria entender dos processos da minha empresa”, lembra Carla, que montou uma pequena indústria no fundo da casa de seus pais e começou a desenvolver a receita.

A empresa começou a engrenar, contam os sócios, a partir da primeira terceirização. “O Hamilton foi nas massas D’Itália, que hoje é nossa cliente, para oferecer produtos de higiene e limpeza, que era com o que ele trabalhava. Lá, ele perguntou se não tinham máquinas para vender e contou que estávamos montando a fábrica de pão de alho”, lembra Carla sobre o contato que deu início a parceria que segue até hoje. “Começamos com o primeiro contrato, era no fundo da casa da minha mãe. Essa marca terceirizada foi o que nos deu fôlego financeiro para investir”, conta a empreendedora.

Apesar dos bons resultados na produção para outras empresas, a dupla tinha o desejo de intensificar a produção própria, a fim de resolver uma sazonalidade que prejudicava a pequena indústria. “As marcas vendiam quando tinha pedido do cliente, e isso nos deixava muito vulneráveis a uma oscilação. Tínhamos oito funcionários, aluguel, todo custo fixo para manter. Acontecia que, no verão, choviam pedidos. No inverno, despencava. Foi quando decidimos investir na nossa marca própria”, conta Carla. Assim, a dupla comprou uma marca que já existia, a Alho Pan, indústria que operava no bairro Restinga, em Porto Alegre. “Ele tinha a marca própria, mas não tinha o fluxo dos terceiros que nós tínhamos”, pontua a empreendedora.

Hoje, 60% da produção da Alho Pan é para marca própria e 40% destinado para as 13 marcas parceiras. Com capacidade de produzir 240 mil pães por dia, a indústria embala, mensalmente, cerca de 15 mil caixas do produto, sendo que cada uma leva 12 pacotes de pão de alho. “Uma das características do nosso produto é que o pão é produzido por nós, é uma receita caseira, sem aditivos alimentares”, orgulha-se Carla, que projeta bater a marca de R$ 10 milhões de faturamento em 2023. 

A indústria gaúcha, no entanto, não ficou restrita às fronteiras do Estado. Desde 2021, o pão de alho pode ser encontrado nas prateleiras dos mercados do Paraguai. São mais de 240 pontos de venda no país, número que é motivo de orgulho para os empreendedores. “No início da pandemia, em 2020, chegou um e-mail de uma indústria do Paraguai interessada no pão. Em um primeiro momento, pensei que era impossível. De 2020 até 2021, ficamos negociando. Fizemos alguns ajustes, porque o paladar do paraguaio é mais aguçado que o nosso. Em agosto de 2021, embarcamos o primeiro caminhão. O pão no Paraguai é um sucesso. Chegamos lá em sétimo lugar, hoje estamos em segundo no ranking. A marca está crescendo bastante”, orgulha-se Carla, destacando que o feito também foi importante para a venda para outras marcas. “Reafirmou nossa relação com os terceiros, porque para eles também é um orgulho que o pão que vendem seja o mesmo que é exportado”, percebe. A forte presença no mercado paraguaio rendeu para a indústria da Zona Norte um reconhecimento da Associação dos Dirigentes de Marketing e Vendas do Brasil. A Alho Pan levou o Prêmio Exportação RS ADVB 2023 na categoria Pequeno Desbravador Internacional.

Com 17 pessoas na operação, Carla acredita que os bons frutos que a indústria tem colhido se devem ao investimento constante no negócio. “Quando começa a aumentar a venda, tem que investir. Quando é a hora do teu lucro, tens que comprar uma máquina mais moderna, aumentar a câmara fria. É a dor do crescimento. Sempre digo que crescer dói e dá trabalho”, avalia a empreendedora, que calcula com cautela os próximos passos. “Estamos trabalhando bastante para aumentar nossa participação no Rio Grande do Sul e pretendemos entrar em Santa Catarina, Paraná. Mas damos o passo conforme a gente pode. Não fazemos loucuras que podem colocar nosso negócio em risco. Devagar e sempre, mas nem tão devagar assim”, brinca Carla.

Em Porto Alegre e região, os pães de alho da Alho Pan podem ser encontrados na rede Gecepel, rede Comer Bem, além de mercados de bairro. São três opções de sabores: com queijo, com pimenta e com bacon.