Uma pessoa metodicamente ligada à forma como as coisas são feitas. É assim que Matheus Dreher, nome à frente da marca Dreher 1989, se define. O empreendedor resgata máquinas de costura da década de 1940 para produzir roupas masculinas manufaturadas e inspiradas em uniformes de trabalho.
Em coleções de calças, camisas, coletes e flanelas, as peças assemelham-se àquelas desenhadas para trabalhadores da indústria pesada do século passado. A confecção a partir do jeans bruto é o que dá o visual rústico às roupas da marca. "Fazemos o jeans como era feito no fim do século XIX, antes de virar moda e deixar de ser roupa de trabalho", diz Matheus.
Essa metodologia, aliás, é o que torna a Dreher 1989 tão singular. No Brasil, a marca é, de acordo com Matheus, uma das únicas - senão a única - a trabalhar com o jeans bruto em maquinário artesanal. O modelo consiste em pegar o tecido, cortá-lo, costurá-lo, e pronto: o cliente tem a calça. A produção sob demanda e em estilo handmade, contudo, faz com que esse processo dure até oito horas.
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Valorizando cada etapa do ciclo têxtil, Matheus apresenta novos benefícios a um mercado adaptado à fabricação em massa. Roupas feitas com raw denim não passam por processos de lixamento e lavanderia e, por isso, ganham maior durabilidade. O vestuário confeccionado a partir de jeans bruto, além disso, adquire marcas pessoais de desbotamento, trazendo originalidade às peças. "Tem uma galera que fica até um ano sem lavar a calça, para, quando lavar, os efeitos ficarem ainda mais fortes", observa.
Mas nem sempre Matheus esteve inserido no universo do slow fashion. Bisneto do alfaiate de Getúlio Vargas, ele trabalhou por dois anos na Renner, antes de criar uma marca própria em 2017. Além de sentir falta de costurar, o empreendedor relata que o contato com o fast fashion fez com que quisesse se afastar da fabricação em massa para começar a produzir sob demanda e em menores quantidades. Itens confeccionados dessa forma, contudo, também proporcionam desafios. "Não podemos simplesmente fechar os olhos e achar que vamos concorrer com os grandes", percebe.
Para o empreendedor, é preciso enfatizar os diferenciais das roupas para que a moda lenta tenha capacidade de competir com a moda rápida. "Quando a pessoa descobre que não precisa comprar uma camiseta a cada tendência, conseguimos concorrer", considera.
Em relação aos preços, o empreendedor afirma que o slow fashion carrega um estigma de ser mais caro, mas que não se prova na realidade. "Tem camisas nas grandes varejistas com valores parecidos com a nossas peças, que são feitas exclusivamente para cada cliente. Com exceção da Shein, o fast fashion não está mais tão barato", analisa sobre o o mercado.
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Carro-chefe da Dreher 1989, as calças de jeans bruto partem de R$ 400,00. Por serem fabricados sob encomenda, os itens são personalizáveis. Os clientes podem escolher até se preferem a braguilha com zíper ou botão. A marca também comercializa camisas, camisetas, bonés, coletas, flanelas, gorros e aventais. Os produtos são baseados na estética workwear, isto é, como se as peças fossem desenhadas para operários da indústria.
A marca, além disso, atende trabalhadores propriamente ditos - vestindo barbeiros, tatuadores, garçons e cozinheiros. A Dreher 1989 já forneceu vestuário para mais de 100 empresas em todo o Brasil. Algumas, inclusive, já passaram pelo GeraçãoE, como 20Barra9, Roister e Síndico Torra e Café. Em Porto Alegre, a loja está localizada na rua São Carlos, nº 725. Visitas devem ser agendadas pelo site, que também está aberto ao e-commerce.