Empreendedores de Porto Alegre apostam em uma produção consciente e na estética autoral para revolucionar o mercado da moda e conquistar uma clientela que busca propósito na hora da compra

Autoral, consciente e conectada: conheça quem faz a nova moda de Porto Alegre


Empreendedores de Porto Alegre apostam em uma produção consciente e na estética autoral para revolucionar o mercado da moda e conquistar uma clientela que busca propósito na hora da compra

Muitos são os conceitos e inspirações que guiam quem trabalha no ramo da moda. Uma crescente recente, no entanto, que tem se estabelecido no mercado, especialmente em negócios comandados por jovens empreendedores, é a moda autoral e consciente, produzida em baixa escala. Uma das marcas que leva esse conceito adiante no cenário gaúcho é a Enika, loja de roupas comandada por Nina Kern, 30 anos, que aposta em um estilo atemporal, com peças em linho e modalegens fluidas.
Muitos são os conceitos e inspirações que guiam quem trabalha no ramo da moda. Uma crescente recente, no entanto, que tem se estabelecido no mercado, especialmente em negócios comandados por jovens empreendedores, é a moda autoral e consciente, produzida em baixa escala. Uma das marcas que leva esse conceito adiante no cenário gaúcho é a Enika, loja de roupas comandada por Nina Kern, 30 anos, que aposta em um estilo atemporal, com peças em linho e modalegens fluidas.
Formada em Moda pela Unisinos, Nina produz e comercializa peças há muitos anos, mas foi em 2018, com a confecção de vestidos de festa sob demanda, que criou a própria marca. Mas, com a sazonalidade das festas de formatura e de aniversários, decidiu expandir a marca e desenvolver peças que pudessem ser comercializadas o ano inteiro.
Quando optou por ampliar a marca, a decisão em seguir com o modelo slow fashion e produção apenas sob demanda foi crucial para o desenvolvimento das peças. "Fiquei um bom tempo quebrando a cabeça porque, para ser uma coleção completinha, precisa ter um certo mix de peças, dois shorts, duas calças, duas blusas. Foi nesse momento que decidi trabalhar só com o que eu gostasse, com o que eu queria na marca", lembra a empreendedora, que define a marca como fiel a si mesma. "Não queria ter de tirar uma peça que é bem vendida do site para poder colocar novas coleções. Nós temos peças que estão lá desde o primeiro dia", afirma Nina.
A variedade das peças na Enika se dá por conta das cores e estampas dos tecidos. A maior parte dos itens são de linho e viscose, e o carro-chefe da marca é a calça comphy, no valor de R$ 238,00. "Assim nós conseguimos ser mais fiéis ao gosto e não tanto à microtendências da moda, o que vai muito ao encontro do que eu quero trabalhar. Não quero seguir tendências específicas, quero ter peças atemporais e que as clientes possam usar por muito tempo", destaca.
Toda a produção da Enika é realizada pós-venda. Por isso, pedidos feitos pelo site (enika.com.br) levam, em média, oito dias para serem enviados. Diminuir o tempo entre a produção e o envio é um dos objetivos de Nina para o futuro, mas, de acordo com a designer, não é um problema para a clientela da marca. "Elas já sabem como funciona e até gostam de saber que uma peça foi produzida especialmente para elas", percebe a empreendedora, que não trabalha com pedidos sob medida. "Somos uma loja online, então, a troca é muito bem-vinda, sempre reforço isso. Para conseguirmos realizar as trocas, precisamos trabalhar com uma grade de tamanhos pré-definida", explica Nina. A marca conta com uma grade extensa, com modelagens que vão do PP ao G5. "Isso é muito valioso de produzir sem estoque. Conseguimos abranger mais cortes, é algo que me deixa muito feliz", expõe. A produção sob demanda também é aliada da sustentabilidade, já que, sem ter peças à pronta-entrega, evita-se um estoque parado e sem uso.

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A Enika opera de forma online. Mas, vez que outra, Nina realiza eventos no ateliê da marca, sempre voltados para mulheres. "Gostamos de criar experiências. Já tivemos aulas de cerâmica, aquarela, festa junina, coloração pessoal, sempre associando com outras artistas mulheres. É uma forma de unir forças e crescermos todas juntas", pontua.
 

Com máquinas de 1940, bisneto de alfaiate cria peças inspiradas em uniformes de trabalho

Uma pessoa metodicamente ligada à forma como as coisas são feitas. É assim que Matheus Dreher, nome à frente da marca Dreher 1989, se define. O empreendedor resgata máquinas de costura da década de 1940 para produzir roupas masculinas manufaturadas e inspiradas em uniformes de trabalho.
Em coleções de calças, camisas, coletes e flanelas, as peças assemelham-se àquelas desenhadas para trabalhadores da indústria pesada do século passado. A confecção a partir do jeans bruto é o que dá o visual rústico às roupas da marca. "Fazemos o jeans como era feito no fim do século XIX, antes de virar moda e deixar de ser roupa de trabalho", diz Matheus.
Essa metodologia, aliás, é o que torna a Dreher 1989 tão singular. No Brasil, a marca é, de acordo com Matheus, uma das únicas - senão a única - a trabalhar com o jeans bruto em maquinário artesanal. O modelo consiste em pegar o tecido, cortá-lo, costurá-lo, e pronto: o cliente tem a calça. A produção sob demanda e em estilo handmade, contudo, faz com que esse processo dure até oito horas.
Valorizando cada etapa do ciclo têxtil, Matheus apresenta novos benefícios a um mercado adaptado à fabricação em massa. Roupas feitas com raw denim não passam por processos de lixamento e lavanderia e, por isso, ganham maior durabilidade. O vestuário confeccionado a partir de jeans bruto, além disso, adquire marcas pessoais de desbotamento, trazendo originalidade às peças. "Tem uma galera que fica até um ano sem lavar a calça, para, quando lavar, os efeitos ficarem ainda mais fortes", observa.
Mas nem sempre Matheus esteve inserido no universo do slow fashion. Bisneto do alfaiate de Getúlio Vargas, ele trabalhou por dois anos na Renner, antes de criar uma marca própria em 2017. Além de sentir falta de costurar, o empreendedor relata que o contato com o fast fashion fez com que quisesse se afastar da fabricação em massa para começar a produzir sob demanda e em menores quantidades. Itens confeccionados dessa forma, contudo, também proporcionam desafios. "Não podemos simplesmente fechar os olhos e achar que vamos concorrer com os grandes", percebe.
Para o empreendedor, é preciso enfatizar os diferenciais das roupas para que a moda lenta tenha capacidade de competir com a moda rápida. "Quando a pessoa descobre que não precisa comprar uma camiseta a cada tendência, conseguimos concorrer", considera.
Em relação aos preços, o empreendedor afirma que o slow fashion carrega um estigma de ser mais caro, mas que não se prova na realidade. "Tem camisas nas grandes varejistas com valores parecidos com a nossas peças, que são feitas exclusivamente para cada cliente. Com exceção da Shein, o fast fashion não está mais tão barato", analisa sobre o o mercado.
Carro-chefe da Dreher 1989, as calças de jeans bruto partem de R$ 400,00. Por serem fabricados sob encomenda, os itens são personalizáveis. Os clientes podem escolher até se preferem a braguilha com zíper ou botão. A marca também comercializa camisas, camisetas, bonés, coletas, flanelas, gorros e aventais. Os produtos são baseados na estética workwear, isto é, como se as peças fossem desenhadas para operários da indústria.
 
A marca, além disso, atende trabalhadores propriamente ditos - vestindo barbeiros, tatuadores, garçons e cozinheiros. A Dreher 1989 já forneceu vestuário para mais de 100 empresas em todo o Brasil. Algumas, inclusive, já passaram pelo GeraçãoE, como 20Barra9, Roister e Síndico Torra e Café. Em Porto Alegre, a loja está localizada na rua São Carlos, nº 725. Visitas devem ser agendadas pelo site, que também está aberto ao e-commerce.

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Sometimes Online conquista juventude de Porto Alegre com moda bem-humorada

Nada muda se nada muda. Foi seguindo essa direção que a Sometimes Online observou que existia um horizonte de novas possibilidades mesmo com a inviabilidade de continuar utilizando o seu primeiro nome, The Troubles Company. Desde agosto sob a nova identidade, o e-commerce porto-alegrense de camisetas e acessórios encarou essa transição como uma oportunidade para aprimorar o trabalho que estavam fazendo. "Poderíamos muito bem ter considerado que estávamos prestes a perder tudo, mas vimos isso como uma transição para sermos mais maduros", conta Leonardo Laky, fundador e proprietário.
Com mais de 90 mil seguidores no Instagram (@sometimes.online), a Sometimes Online ganhou destaque incorporando temas como saúde mental, arte, internet e referências locais em suas estampas. De capivaras com TDAH a ilustrações surrealistas, a marca aposta num sentimento singelo de identificação com a juventude para criar um laço com o seu público. Por esse motivo, estar na rua, vivenciando a experiência de ser jovem, é uma parte essencial do processo criativo da marca. "Foi uma construção de entender o que as pessoas gostariam de usar. Alguém olhar e falar 'onde é que tu conseguiste isso' e até referência de camisetas que se encontram no armário do teu avô. Tipo, 'eu nunca mais vou achar isso aqui, de onde é que veio coisa engraçada?'", relata Leonardo.
A produção consciente é um dos focos da marca. Tanto a malha quanto a tinta, de acordo com o empreendedor, são feitas em materiais sustentáveis, não agredindo o meio ambiente. Além dos 'panos', o e-commerce vende moletons, bonés, chaveiros e até cantil.
 
O orgulho de ser uma marca de Porto Alegre é presente tanto no processo de criação das estampas, nesse movimento de ocupar a cidade, quanto no de confecção, priorizando trabalhar com fornecedores locais. Isso é um desencontro com o que, teoricamente, seria o melhor para o negócio, dado que 60% dos consumidores são do estado de São Paulo, revela o proprietário. No entanto, nessa nova fase, pretendem se aproximar ainda mais da cidade. "Algo que a galera pede muito e que estamos trabalhando agora são parcerias. Já estamos conversando, por exemplo, com uma lanchonete de Porto Alegre para fazer essa colaboração. Até o fim do ano vai sair, acredito", revela o proprietário.
 
O apreço por fotografia, ilustração e Marketing Digital foi o que despertou a ideia de vender camisetas em Leonardo. Aos 21 anos, ele tinha em mente criar uma marca inspirada em tudo que vivia e com a visão de que encontraria pessoas que se identificariam. Segundo Laky, apesar de não possuir conhecimento de moda para além daquilo que gostava e vestia, isso não impossibilitou de seguir com o pensamento de criar uma marca nesse segmento. Então, um dia, voltando da faculdade, compartilhou a ideia do negócio com um motorista de aplicativo que, por acaso, confeccionava camisetas. Foi a partir dessa coincidência que, em 2018, fez o primeiro lote de 100 camisetas e deu início a The Trouble Company.
 
Por quase três anos dos cinco anos de existência da marca, Laky precisou conciliar a faculdade, o trabalho de gerente de marketing e o e-commerce. Ele conta que o negócio deslanchou quando saiu da casa da sua mãe e foi morar mais perto do seu emprego. "Meu salário, talvez, não fosse dar conta de pagar o apartamento sozinho, então precisava que isso aqui também andasse. Foi ali que que virou o jogo", relata. Assim, o que começou com um pequeno cômodo na casa de sua mãe, no bairro Tristeza, na zona sul de Porto Alegre, hoje ocupa uma sala comercial que, a cada mês, ganha mais uma prateleira para comportar o sucesso da marca.
 
A escolha por Sometimes Online manteve a essência da origem do primeiro nome: o quanto estar conectado à internet pode trazer problemas para a saúde mental. Por essa razão, o nome da marca é um trocadilho com a frase 'às vezes online, às vezes não'. "Fugimos um pouco de trazer esses problemas para trazer isso de uma maneira um pouco mais descontraída e um pouco mais madura", expõe Leonardo. O período da transição foi cheio de incertezas, principalmente porque não sabiam como o público ia receber esse redirecionamento. Antes de assumirem a nova identidade, precisaram fazer uma queima de estoque dos produtos de coleções anteriores e ficaram 15 dias trabalhando somente na divulgação da mudança, sem vender nada. Passado esse momento, a resposta veio logo no primeiro dia: "Conseguimos não dar ré nessa troca de marcha. Então, a nossa maior comemoração foi ver que a galera realmente nos acompanhou, realmente entendeu a transição. Estava todo mundo no site esperando para comprar", celebra Leonardo. Marcando esse novo início, a Sometimes Online adotou um girassol como sua nova logo.