A modalidade, que está nos holofotes em virtude da Copa do Mundo, tem ganhado espaço em solo gaúcho

Veja qual é o investimento da dupla Grenal no futebol feminino


A modalidade, que está nos holofotes em virtude da Copa do Mundo, tem ganhado espaço em solo gaúcho

 Mesmo enfrentando preconceito, falta de apoio e até mesmo anos de criminalização, o futebol feminino vem crescendo. O público nos estádios só aumenta e o número de telespectadores também não fica para trás. A transmissão da estreia brasileira na CazéTV bateu o recorde mundial de audiência simultânea em um jogo de futebol feminino no YouTube. Neste contexto de evolução de uma modalidade que por anos foi sucateada, o GeraçãoE conversou com representantes da dupla Grenal para entender como é a realidade do futebol feminino nos dois maiores clubes do Estado.
 Mesmo enfrentando preconceito, falta de apoio e até mesmo anos de criminalização, o futebol feminino vem crescendo. O público nos estádios só aumenta e o número de telespectadores também não fica para trás. A transmissão da estreia brasileira na CazéTV bateu o recorde mundial de audiência simultânea em um jogo de futebol feminino no YouTube. Neste contexto de evolução de uma modalidade que por anos foi sucateada, o GeraçãoE conversou com representantes da dupla Grenal para entender como é a realidade do futebol feminino nos dois maiores clubes do Estado.

Orçamento para 2024 está de acordo com a modalidade, garante Grêmio

MORGANA SCHUH/ REPRODUÇÃO/JC
Em 1980, um ano após o término da proibição, o Grêmio foi o primeiro clube no Brasil a ter um departamento feminino. Assim como em muitos outros grandes clubes do País, o departamento foi descontinuado, mas voltou em 2017, quando a Confederação Brasileira de Futebol reformulou o futebol feminino.

A modalidade dentro do clube vem se estruturando ao longo dos últimos anos. Em 2017, o tricolor montou uma equipe às pressas para ter um representante gaúcho no Campeonato Brasileiro. No ano seguinte, jogou o equivalente à segunda divisão nacional da modalidade. Em 2019, retornou à elite do futebol nacional e, desde então se, mantém-se como uma das principais equipes do país.

Hoje, as gurias gremistas já contam com centro de treinamento próprio. O Vieirão, antiga sede do já extinto Cerâmica Atlético Clube, abriga o CT feminino, incluindo um departamento médico e academia feitos exclusivamente para as atletas. O CT exclusivo para o futebol feminino, criado em 2018, foi um divisor de águas para a modalidade dentro do tricolor gaúcho. É o que conta Álvaro Ramos, coordenador do departamento de futebol feminino do Grêmio. "Trouxe uma nova perspectiva para a modalidade. Com o CT, melhoramos a questão do departamento médico, aparelhagem física e material para as meninas, a quantidade de uniformes por ano, de competições que participamos e, até mesmo, o número de atletas no elenco. Realmente melhorou o desenvolvimento da modalidade internamente, em consoante com o mercado", explica Álvaro.

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As categorias de base também passaram a receber mais atenção nessa nova fase. As meninas do Sub-20 treinam no mesmo espaço das profissionais. Do Sub-17 para baixo, treinam no CT do Cristal, na zona sul de Porto Alegre.

O orçamento do futebol feminino do Grêmio é separado do masculino. Segundo Álvaro, a orçamentação no futebol feminino, assim como no masculino, é feita antes do início da temporada, considerando os objetivos traçados para as equipes naquele ano. Sem citar valores, o coordenador explica que o orçamento de uma equipe de futebol engloba muito mais que os salários das atletas e garantiu que o valor investido pelo Grêmio está de acordo com as expectativas do clube para a modalidade. "A orçamentação para 2024 é de acordo com o que a modalidade exige e do que pensamos para o próximo ano", afirma.

Uma das dificuldades do Grêmio é a necessidade de investir em estrutura. Apesar dos avanços, o clube ainda acredita que precisa melhorar suas instalações e isso limita o investimento em atletas. "Queremos dar um outro passo na estrutura e tentar melhorar algumas outras condições, para que, no ano que vem, a possamos investir mais em atletas do que em estrutura", explica Álvaro.

Inter investe R$ 7,7 milhões na equipe feminina

Ricardo Duarte/SC Internacional/Divulgação/JC
O departamento de futebol feminino do Inter foi criado em 1983, quatro anos após o término da proibição, mas, como aconteceu no Grêmio e em muitos outros clubes do País, sofria com descontinuidades. Em algumas gestões, o departamento retornava, mas nunca como um projeto duradouro. Foi assim até 2017, quando, com a supervisão da ex-atleta Duda Luizelli, o departamento foi reestruturado.

No início, o futebol feminino do Inter sofria com a falta de estrutura e limitação orçamentária. Por vezes, as atletas não tinham local próprio para treinar e os salários oferecidos eram bem abaixo do que são hoje em dia. A modalidade foi evoluindo com o passar do tempo, mas foi em 2020, com a reforma do estatuto do clube, que teve seu principal avanço.

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"Com a mudança no estatuto, o departamento de futebol feminino, que era vinculado com a vice-presidência de relacionamento social, passou a ser vinculado com a vice-presidência de futebol. Isso realmente foi um marco muito grande para a modalidade no clube, já que ela passou a ter a mesma atenção, recursos e governança que o futebol masculino, tanto na base quanto no profissional", conta Leonardo Menezes, coordenador do futebol feminino no Internacional.

Outro ponto relevante para o avanço no futebol feminino no Inter foi a parceria com o Sesc Porto Alegre. Localizado na rua Protásio Alves, o local serve como a sede das gurias coloradas.

"O departamento passou a ter uma casa. A partir desse momento passamos a ter um espaço para realização dos jogos, para os treinamentos, para tratamentos médicos, para hospedagem e alimentação das atletas. Hoje, podemos dizer que o Internacional tem uma estrutura que não deixa nada a desejar para nenhum outro clube do Brasil no futebol feminino", ressalta Leonardo.

O Inter também tem um orçamento separado para o futebol feminino e masculino. Atualmente, o orçamento do time feminino colorado é de R$ 7,7 milhões, o que representa 1,75% do orçamento das despesas do clube. Apesar disso, de acordo com Leonardo, o valor ainda fica atrás dos clubes dos principais pólos do futebol feminino no País, como São Paulo e Rio de Janeiro. Uma das formas que o Internacional encontrou de contornar essa desvantagem orçamentária é investir nas categorias de base. Além de formar jogadoras de qualidade, o clube espera poder capitalizar com a venda de atletas para o exterior.

"Temos uma base campeã de todos os torneios que já disputou. Somos os atuais campeões brasileiros Sub-17 e bicampeões brasileiros Sub-20. Então, essa é uma forma que a gente encontra para lutar contra essa desvantagem financeira. A venda de atletas ainda está muito distante do mercado masculino, mas a tendência é que comece a acontecer cada vez mais. Inclusive, no ano passado, o Internacional realizou duas transações internacionais com atletas. Isso demonstra que a base é uma fonte importantíssima de receita para os clubes", explica o coordenador.

Apesar de todo o avanço da modalidade no País, Leonardo conta que grande parte dos clubes ainda não alcançou a autossuficiência financeira com seus departamentos de futebol feminino. Uma das causas apontadas por ele é a falta de repasse das cotas de televisão. Mesmo com um aumento significativo da audiência, o valor das transmissões televisivas ainda fica 100% com a CBF, que utiliza esse montante para cobrir os custos das competições nacionais.

Mesmo com todas as dificuldades, Leonardo garante que o futebol feminino é uma das prioridades do clube, e que o projeto colorado, que já tem colhido bons frutos nos últimos anos, tende a evoluir ainda mais.

"Digo que, hoje, é uma política institucional do clube o apoio, incentivo e o fomento ao futebol feminino", afirma.