Localizado entre duas grandes avenidas de Porto Alegre, a Ipiranga e a Protásio Alves, o bairro reúne empreendedores apaixonados pela região

Bairro Santa Cecília reúne empreendedores apaixonados pela região


Localizado entre duas grandes avenidas de Porto Alegre, a Ipiranga e a Protásio Alves, o bairro reúne empreendedores apaixonados pela região

O bairro se desenvolveu em torno da comunidade religiosa da Igreja Santa Cecília, fundada em 1943, que funciona na rua Santa Cecília, nº 1527. Diversos programas da antiga Rádio Difusora foram apresentados de dentro da Igreja, quando a mesma ainda era dirigida pelos Frades Capuchinhos. Outro ponto norteador da formação do bairro foi a criação da primeira escola católica da região, conhecido, hoje, como Colégio Santa Cecília - @colegiosantacecilia_ - com quase oito décadas dedicadas à educação.

Quem circula pela rua Dr. Alcídes Cruz, ainda vê parte do que, no passado, foi Estádio da Timbaúva, sede do Grêmio Esportivo Força e Luz, time de futebol carinhosamente chamado de Forcinha, extinto oficialmente em 2006.
Para quem deseja comer um dos mais tradicionais xis de Porto Alegre, o destino é o bairro Santa Cecília, no Moita Lanches, em plena avenida Ipiranga, nº 2800. Já para os apreciadores de uma experiência de mistério e enigmas, o Enigma Escape Game, na rua João Guimarães, nº 359, apresenta três opções de jogos de fuga, animando grupos de amigos e atendendo equipes corporativas.
*Vinicius Mitto é professor e arquivista e edita o blog Bah Guri (bahguri.rs) e o Instagram (@bahguri.rs)

Banca do Vilela está há 31 anos no Santa Cecília

Uma avaliação comum entre os empreendedores e empreendedoras do Santa Cecília é que, por lá, o cenário mais ou menos se manteve. Mas se tem um negócio que preserva mesmo a sua essência é a Banca do Vilela. Modernidades à parte, a banca conserva o que tem de mais tradicional e precioso no manuseio do objeto de leitura: a experiência sensorial.

Quem sabe muito bem dessa máxima é Antônio Vilela, figurinha carimbada do Santa Cecília e proprietário da Banca do Vilela, que opera há 31 anos na rua Vicente da Fontoura, nº 2175. Mesmo enxuta, a banca é um convite a uma viagem ao passado. O estabelecimento possui cheiros e itens que só se encontram por lá.

A banca já foi eleita a melhor de Porto Alegre e, hoje, usufrui dos diferenciais que a consolidaram para se manter firme na divisa dos bairros Santa Cecília e Petrópolis. "Quando comecei com a banca, tinha um total de 900 bancas. Hoje, se tiver 50 é muito", estima Vilela, acrescentando que os mais de 1 mil produtos disponíveis e a localidade possibilitaram a continuação do negócio.

"Para mim, isso aqui é diversão. Tenho amizade com clientes, vizinhos. Se tu perguntares pelo Vilela, todo mundo conhece", destaca sobre as vantagens de empreender num bairro compacto como o Santa Cecília. Com público fiel e clientes que frequentam o espaço há décadas, abandonar a banca nunca foi uma opção para Vilela. "Fui insistente. Teve época que diminuiu bastante, mas não desisti. Minha família me ajudou muito", rememora.

Apesar das dificuldades que ainda permeiam o ramo, o empreendedor percebe uma boa circulação de mangás, quadrinhos, revistas nacionais e importadas. A venda dos jornais, contudo, não é mais como antigamente. "Eram pilhas e pilhas, muito jornal, mas isso foi mudando. Num domingo, vendia centenas. Hoje, as vendas estão baixinhas. A internet tomou conta", diz Vilela.

Mesmo assim, a banca segue operando de segunda a sábado, das 8h às 18h, e, aos domingos, das 8h às 13h. "Isso não pode acabar. Tenho esperança que continue, porque o pessoal gosta disso aqui, de pegar o papel na mão", sonha Vilela, pensando em manter a tradição viva no bairro Santa Cecília.

Desde 1974, Zaffari Ipiranga é referência para economia da região

A marca Zaffari é uma das mais difundidas entre os gaúchos. Na pesquisa Marcas de Quem Decide de 2023, na categoria supermercados, o Grupo Zaffari foi o mais lembrado (34,8%) e o preferido, com 31,2% dos votos. E é no bairro Santa Cecília, às margens da avenida Ipiranga, que fica uma das unidades mais icônicas da marca. O Zaffari Ipiranga foi construído em 1974 e o tamanho do empreendimento, na época, foi um ponto de transformação para a cidade. "Em Porto Alegre, lojas de supermercados com as dimensões de área de vendas com um pouco mais de 3 mil m² eram uma raridade. A construção original tinha 11 mil m², incluindo um pavimento com estacionamentos cobertos", contextualiza Claudio Luiz Zaffari, diretor do Grupo Zaffari.

Próximo de completar 50 anos, a unidade segue sendo referência para a marca, assim como para os porto-alegrenses. "O Zaffari Ipiranga passou a fazer parte importante no abastecimento de inúmeros lares na Capital, inclusive com o deslocamento de famílias de outros bairros, quer pela facilidade dos acessos, quer pelos diferenciais de qualidade, variedade e serviços apresentados. Ainda hoje há muitas famílias que continuam se deslocando de seus bairros, mantendo a tradição e a certeza de ter o atendimento e os produtos desejados", conta.

Quando surgiu, o ponto foi responsável por trazer novidades para a Capital. "Foi no Zaffari Ipiranga que ocorreu, em 1974, o lançamento do Programa do Novilho Precoce em conjunto com a Secretaria Estadual da Agricultura e a indústria frigorífica do Estado, iniciativa que deu início à venda de carnes embaladas diretamente nas plantas dos frigoríficos, e que premiava os criadores pela qualidade dos novilhos", conta Claudio, lembrando que, na época, o espaço era referência também por suas outras operações. "O empreendimento tinha uma disputada lanchonete com serviços rápidos e posteriormente foi adicionado um restaurante no andar superior, onde, à tarde, era servido com todo o aparato, tortas, bolos e outros quitutes com diversos chás. Junto a uma elaborada área de bazar com uma variedade de produtos diferenciados, havia um balcão para onde o cliente comprava café moído na hora e podia degustar um xícara de café gratuitamente. Um dos clientes que marcava presença na época era o escritor gaúcho Érico Veríssimo, que aproveitava sua caminhada diária para fazer uma visita", lembra.

O prédio como está hoje foi remodelado em 1988, passando a ter uma área de venda de 5 mil m², numa edificação de 20 mil m². O alto fluxo de clientes na unidade é um dos pilares da economia do bairro. "A região do Santa Cecília continuou seu desenvolvimento com um adensamento gradual, novos prédios foram surgindo nos dois lados da avenida Ipiranga e este empreendimento continuou marcando sua atuação com seus serviços e produtos. O fluxo continuado de clientes, pedestres ou com seus carros, termina por dar a movimentação salutar para muitas atividades no seu entorno", percebe.

Mesmo com mais de 40 unidades espalhadas pelo Estado e até fora do Rio Grande do Sul, o Zaffari Ipiranga segue sendo um espaço importante para a marca, recebendo as novidades do grupo. "O Zaffari Ipiranga mantém-se atualizado, disponibilizando aos seus visitantes novas tecnologias e canais de compras. Atualmente, a unidade apresenta quatro unidades do selfcheckouts, que dão autonomia de compra e pagamento para os clientes. A loja também possui um ponto de coleta do Clique & Retire, serviço de e-commerce da empresa que permite ao cliente realizar as compras de forma online e retirar as mercadorias na loja, com horário agendado para maior conforto e praticidade", conta Claudio Luiz.

Há 37 anos, Xis Moita mantém tradição vendendo mais de 1 mil xis por dia

Manter-se por mais de três décadas em um mesmo ponto com bons números de vendas diárias é uma meta para quem está começando um negócio. Cleumar Zambiazi, 52 anos, é um dos empreendedores que pode celebrar esse feito. No entanto, talvez, o nome não o apresente da forma correta, já que é muito mais conhecido como o Alemão do Moita, lancheria de Porto Alegre que está no bairro Santa Cecília desde 1986.

Conhecido pelo seu xis, o Moita é, segundo o empreendedor, um dos mais antigos de Porto Alegre no ramo, já que outros pontos tradicionais da mesma época fecharam as portas, especialmente durante a pandemia. Cleumar conta que o negócio começou comandado pelos seus pais, Sétimo Zambiazi e Lourdes Zambiazi quando ele tinha apenas 14 anos. A marca, Moita, já existia há poucos anos no bairro e a família, vinda de São Miguel do Oeste, em Santa Catarina, comprou o ponto. "Quando compramos, era um trailer pequeno, duas mesas, quatro cadeiras, um freezer para tudo, que hoje já nem pode mais", lembra sobre o início. Quando foi comprar o terreno onde hoje fica a lancheria, o Alemão do Moita contou com a ajuda de outro empreendedor célebre da cidade: Ivo José Salton, fundador da Lancheria do Parque. "O primeiro prato de arroz e feijão que comi em Porto Alegre foi na Lancheria do Parque. O Ivo é meu padrinho. Quando fui comprar o terreno aqui, o dono disse que antes ia fazer só uma ligação. Ele disse que o cara tinha falado para ele que se eu não pagasse o terreno, ele pagaria para mim. E esse cara era o Ivo da Lancheria do Parque, o coração dele é do tamanho de um trem", conta sobre o apoio.

De lá para cá, muita coisa mudou. A lancheria, agora, conta com um espaço de dois andares no número 2800 da avenida Ipiranga e cativa clientes há 37 anos. Vendendo cerca de 1 mil lanches por dia, Alemão orgulha-se de contar com a preferência diária de muitas pessoas. "Tem um cara do Centro que pede todos os dias o mesmo lanche", diverte-se Cleumar, contando que, além dos clientes fiéis, não faltam figurinhas renomadas que são fãs dos lanches do Moita. Entre as histórias marcantes, o Alemão garante que um jogador da dupla Grenal saiu da seca de gols após comer um xis bacon.

Com mais de 20 opções de xis no cardápio, o Moita também conta com outros lanches, como baurus, porções, cachorro quente e pratos. Para o Alemão, não tem um lanche que mais se destaque na preferência dos clientes. "O carro-chefe é o bolso do cliente. No início do mês, vende só os tops e, no fim, os mais simples", garante o empreendedor, revelando o seu favorito: coração com bacon.

Apesar das opções fixas, para ele, não há o que não possa ser resolvido de acordo com o gosto do cliente. Por isso, orgulha-se em contar que domina todas as etapas do negócio, o que facilita na hora de instruir a equipe para entender as demandas da clientela. "Eu sei de tudo aqui. O bacana disso é que 'não pode' e 'não dá' não existe aqui dentro até eu mostrar que dá", garante Cleumar, que faz trocas nos lanches de acordo com o gosto dos clientes.

Hoje, a equipe do Moita é formada por 16 funcionários, e, de acordo com Cleumar, praticamente todos estão há mais de 10 anos no negócio, o que é um orgulho para a família. Além disso, conta com uma central de tele-entrega própria, para garantir agilidade no delivery. Lourdes, 78 anos, matriarca da família, segue na operação comandando a cozinha, enquanto Marines Zambiazi, irmã de Cleumar, fica no salão. Para o empreendedor, esse é um dos diferenciais do Moita e razão para a longevidade do negócio. "Em nenhum momento o Moita está aberto só com os funcionários. O único setor que não tem ninguém da família é nas motos", conta Cleumar.

Há mais de trinta anos na região, Cleumar conta que não vê muitas mudanças no bairro ao longo deste período. No entanto, a percepção não é negativa. "Não troco esse bairro. É muito cômodo, tem tudo por aqui. Moro a duas quadras, não pego carro para nada. Sempre procuro dentro do bairro primeiro o que preciso. Todos [empreendedores do bairro] são clientes do Moita e eu sou cliente deles. Em termos de comércio mudou pouco. Fecharam poucos lugares, e agora está começando a abrir novos, como o Sotaque. É um bairro que tem tudo perto, tem o Zaffari, posto de saúde, as avenidas que ligam com tudo. O único bairro que ganha em termos de logística é o Santana", percebe.

Para o futuro, o Alemão do Moita não faz muitos planos. Mas, no presente, garante: o Moita é sinônimo de vida. "Não me vejo hoje fora do Moita, não sei fazer mais nada a não ser isso. O Moita é tudo, mudou minha vida em todos os sentidos", emociona-se Cleumar.

Dos espetinhos de R$ 5,00 ao faturamento de R$ 100 mil, parrilla une churrasco e alta gastronomia em Porto Alegre

O Aqui Tem Churras está com um novo espaço, localizado na rua Dona Eugênia, nº 791, em Porto Alegre. Contudo, a mudança, que aconteceu no início de maio, não se baseia apenas no endereço. Trata-se de uma disrupção com parte dos conceitos antigos da marca, que, agora, tem a proposta de ser uma churrascaria mais sofisticada, com modificações no ambiente, no cardápio e no atendimento.

"Hoje, somos um restaurante, temos uma cozinha completa, profissional. Isso elevou o nosso nível, tanto que as pessoas vêm aqui e falam: 'vocês não perdem para nenhum outro restaurante", conta Thiago Vidal, que, ao lado de Leonora Weiss, comanda o Aqui Tem Churras.

A dupla, que, antes de chegar ao atual ponto, já alocou o negócio em uma galeria no Centro Histórico e na rua João Guimarães, também no Santa Cecília, realizou um investimento de R$ 450 mil para inaugurar o novo espaço. Neste, o espetinho, carro-chefe dos endereços anteriores, transforma-se em mais uma opção em meio a um cardápio diverso, um dos pilares do novo conceito da churrascaria.
Hoje, o restaurante conta com opções além da parrilla, com saladas, acompanhamentos, entradas, sanduíches, hambúrgueres e almoços executivos. São cerca de 25 produtos adicionados ao menu em relação à antiga operação.

Outra mudança que chama a atenção é a estrutura da nova casa. Com objetos escolhidos a dedo pelo arquiteto Dado Simch - literalmente, pois trata-se de um garimpo de antiguidades -, o novo ambiente busca unir caracterizações nativas e modernas. O rebranding aproxima o empreendimento do que, popularmente, entende-se por restaurante. Essa relação com o sentido conotativo, com aquilo que representa o Aqui Tem Churras, foi o que levou Leonora e Thiago ao redirecionamento da marca.

O estabelecimento nasceu, em 2019, com foco em espetinhos e porções para compartilhar. Mas, como relatam os proprietários, essa mesma ideia não era comungada entre a clientela. Os frequentadores, em sua maioria famílias, não buscavam um boteco, e sim um restaurante propriamente dito.

A mudança contou com a parceria da Ferramulti, empreendimento varejista da região, que, além do auxílio financeiro, realizou um apoio logístico às obras. Leonora, grata pela ajuda na mudança, diz que a mudança não teria ocorrido sem essa colaboração, principalmente por falta de capital. "Ele sempre falou: 'cara, eu não sei porquê, mas algo me diz para confiar em vocês", complementa Thiago, em lágrimas. A emoção não se deve exclusivamente ao acordo com a ferragem, mas também à trajetória do casal. Eles partiram de um espaço humilde, que vendia espetinhos à R$ 5,00, para um empreendimento que prospera, com renda mensal na casa dos R$ 100 mil. E percorreram esse caminho, como contam, em quatro anos, em meio à uma pandemia e suas crises.

O restaurante, hoje, expande e adiciona novas vertentes à operação, mas sempre mantendo o lema: "nosso tempero é o fogo". Com itens produzidos majoritariamente na parrilla, os destaques, segundo os sócios, são os sandubas - pão francês, recheado com maionese temperada, espetinho e queijo -, que partem de R$ 36,00, e os tradicionais espetinhos do Aqui Tem Churras, que partem de R$ 25,00.

Em relação aos cortes - alguns recém-chegados ao menu -, a combinação mais pedida é, segundo os empreendedores, entrecot, por R$ 65,00, e linguiça parrillera artesanal, por R$ 44,00. A cozinha, com saladas, entradas e complementos, é comandada pela chef Paula Schilling e pelo consultor gastronômico Raphael Dittrich.

Mesmo com inauguração recente, os proprietários do Aqui Tem Churras já visam ao futuro. "A nossa expectativa é dobrar logo para R$ 200 mil mensais, porém, pelas primeiras semanas, percebemos que essa meta pode aumentar", projeta Thiago, que contratou 13 funcionários para a nova operação.

Apesar do crescimento, a ideia é que o empreendimento fique no Santa Cecília, bairro em que reside há três anos. "Essa região está crescendo muito, e o pessoal gosta da gente aqui, é o nosso bairro", comenta o sócio, destacando que a localização do Santa Cecília é estratégica para alcançar moradores de outras regiões. "Além de ter uma clientela muito fiel, conseguimos abraçar clientes de todos outros lugares, porque é um bairro de fácil acesso", diz Thiago. A proposta é trazer renovação para o bairro, mas, ainda assim, manter uma relação próxima com quem já está há mais tempo por lá. "Nós temos uma proposta diferente dos buffets tradicionais do bairro, mas temos um relacionamento muito bom com todos os comércios", garante. O Aqui Tem Churras opera de terça-feira a sábado, das 11h45min às 15h e das 17h45min às 23h, e, aos domingos, das 11h45min às 16h. "As pessoas estão adorando o nosso cardápio, e temos certeza que é questão de tempo para a casa ter movimento no almoço assim como tem no jantar", projeta Thiago.

Escape game tem salas de enigmas autorais

O escape game é como um jogo ou um filme - só que na vida real. Os participantes são trancados em uma sala e têm até 60 minutos para desvendar os mistérios e escapar dela. Cada missão possui o seu próprio cenário. Os grupos mais corajosos podem fugir das maldições de um espírito maligno ou, até, desmascarar o suspeito de um crime hediondo.

O Enigma Escape Game, localizado na rua João Guimarães, nº 359, no bairro Santa Cecília, traz esse conceito para Porto Alegre. O estabelecimento, comandado por Cristina Winck e Jefferson Beuren, aposta em mistérios e temáticas autorais. A Condenados - sala que coloca os participantes no papel de presos sentenciados à morte - é a favorita da clientela, como apontam os empreendedores.

Há oito anos nesse mercado, Cristina e Jefferson podem se considerar um dos primeiros negócios do Rio Grande do Sul e do Brasil voltados ao nicho. Fanáticos por jogos virtuais e de tabuleiro, a dupla encontrou no escape game uma paixão. Não só eles, na verdade. O local já foi espaço para pedido de casamento. Na ocasião, o noivo pediu o auxílio dos proprietários do Enigma Escape Game para, em meio a charadas, presentear a noiva com uma aliança.

Hoje, o amor dá lugar às temáticas assustadoras das três salas que compõem o negócio. Voltado ao entretenimento desafiador, o escape game, por meio de missões enigmáticas, promove o desenvolvimento do raciocínio lógico e do trabalho em equipe. "Fazemos o pessoal quebrar a cabeça, pensar, chegar ao fim da missão sozinho", afirma Jefferson, explicando o porquê de poucas pessoas conseguirem escapar.

Também por esse motivo que o Enigma, apesar de receber diferentes perfis - do mais líder ao mais observador -, é voltado, especialmente, para os adultos. O empreendimento, além disso, recebe empresas que desejem realizar um trabalho monitorado para testar as capacidades dos profissionais ou integrar a equipe. "O que tem no jogo? Trabalho em equipe, uma missão e um prazo, e isso é o dia a dia dos projetos nas empresas", destaca Cristina, contando que marcas como Dell, Meta, Renner e Uber já aderiram à proposta.

A preferência dessas grandes redes pelo Enigma Escape Game ocorre, segundo os proprietários, pela boa localização do negócio. "O Santa Cecília é, de certa forma, central para as pessoas", entende Cristina, sobre o endereço que está próximo aos bairros Petrópolis, Santana, Rio Branco e Bom Fim. As marcas, segundo ela, preferem confraternizar - e desafiar as suas equipes - no estabelecimento, em detrimento de refugiar-se em sítios nos tão famosos churrascos do mundo corporativo.

Aula de cerâmica é opção de lazer no bairro

Há cinco anos no Santa Cecília e há dois anos ocupando o número 811 da rua Dona Eugênia, a Escola Alma Objetos Cerâmicos é um dos negócios que compõem o ecossistema empreendedor do bairro. Fundada por Marina de Freitas Carvalho, 36 anos, a Alma oferece cursos de introdução à modelagem manual, workshop para quem nunca fez cerâmica e cursos de aprimoramento de técnicas.

Depois de atuar por bons anos em um cargo corporativo, Marina, que já tinha proximidade com o empreendedorismo, já que seus pais também comandam negócios em Porto Alegre, decidiu trocar de profissão, e foi em um curso de introdução à cerâmica que a jovem encontrou sua vocação. “Fiz um curso no Atelier de Cerâmica da Katia Schames, e chegando lá, me apaixonei. Em um ano já tinha saído do meu trabalho, fiquei estudando muito, comprei um torno e passei a me dedicar totalmente à cerâmica”, rememora sobre o início da Alma, que iniciou em uma sala de 20m², onde Marina ministrava um workshop para iniciantes.

“Foi crescendo e chegou em um momento que só eu dava aula para oito turmas, era uma loucura. Tive que me mudar, foi quando vim para o bairro e, em 2021, nesse momento de pós-pandemia, viemos para cá, foi quase que um último suspiro da Alma, uma aposta mesmo, mas que deu muito certo”, reflete sobre a trajetória do negócio, que completa cinco anos no Santa Cecília. “Sempre gostei desse clima de bairro, com casinhas, pequenos negócios, bem residencial mesmo. Nós temos essa boa relação, de parceria, é um bairro com coisas pequenas, tudo meio pertinho, então vamos nos comunicando, a gente se ajuda”, define sobre empreender na região.

Hoje, o carro-chefe da Alma são as aulas, mas a marca também conta com um espaço de produção própria, em endereço próximo ao da escola, também no bairro, onde são produzidas louças para restaurantes e os itens vendidos no e-commerce. “Durante um tempo, foi tudo junto, escola e produção, mas era uma loucura, impressora suja de pó, era horrível. Brinco que a escola é nutella e lá é raiz, porque é a produção mesmo, da onde vêm as louças que vendemos aqui”, declara a empreendedora, que ressalta a importância que a venda dos itens teve para a continuação do negócio durante o período de pandemia. “A galera estava em casa e teve esse boom de itens para casa, de decoração, foi o que salvou a Alma”, admite Marina.

De acordo com a empreendedora, nos últimos anos, o bairro tem recebido muitos jovens, alguns que chegam até a escola por conta de vídeos que viram no TikTok, mas, também, segue com uma população idosa, moradora do Santa Cecília há muitos anos, que realiza suas caminhadas diárias pela região. “É um clima quase que interiorano, negócios pequenos, conhecemos todo mundo, os moradores, donos e donas, é muito legal fazer parte dessa comunidade”, expõe Marina.

Buscando atingir os diferentes públicos da região, a escola possui desde cursos introdutórios, como o workshop alma, uma manhã de introdução à cerâmica manual, no valor de R$ 290,00, até pacotes mensais, com aulas semanais e cursos de aprofundamento, focados em intensificar técnicas, que custam R$ 730,00. “Em outras escolas, paga-se mais barato pelas aulas, mas precisa comprar tudo. Comprar argila, esmaltes, pagar pelas queimas, mas aqui não, está tudo incluso no valor”, explica Marina. As aulas introdutórias incluem 3kg de argila, entre mais de 10 tipos disponíveis, diferentes potes com tintas, baldes e as queimas necessárias para a produção da cerâmica.

Com mais de 100 alunos por mês, Marina comenta que, entre jovens e aposentados, muitos procuram a cerâmica como uma forma de terapia, embora a escola não se denomine terapêutica. “Recebemos muitas pessoas que vem porque estão com algum problema pessoal e fazem a cerâmica como uma forma de terapia, mesmo nós nunca nos denominando como arte terapia. Existem técnicas para isso e não é o que fazemos, mas um trabalho manual, mexer com as mãos, não deixa de ser terapêutico”, pondera a proprietária.

Apesar de não ser o foco da escola, a Alma também recebe pessoas em busca de profissionalização, e Marina afirma ser muito grata por fazer parte da formação de outros profissionais. “Existem pessoas que vem com a expectativa de ter uma profissão, e é muito legal saber que já saíram da escola muitas marcas de cerâmica aqui de Porto Alegre”, destaca. Além dos cursos, o espaço conta com serviço de queimas para profissionais que não trabalham na Alma, mas precisam do recurso.

Casa dos Vinhos opera há quase 30 anos no bairro

Tradição aliada à inovação. É assim que as sócias Simone Betanin e Ângela Vendrame definem a Casa dos Vinhos, operação que está há quase 30 anos no bairro Santa Cecília. O negócio foi fundado pelo irmão de Simone que, em sociedade com a tia, Ângela, abriu o espaço, pela primeira vez, na rua Felipe de Oliveira, por onde ficaram alguns anos até a mudança - de sociedade e de endereço -, para a rua Dr. Alcides Cruz, nº 351, onde Simone passou a comandar o negócio, que segue no mesmo ponto até hoje, ao lado da tia.

Completando quase três décadas, a dupla celebra a boa relação que possui com a clientela, em especial, com os moradores do bairro. "Temos clientes assíduos, que vem toda semana, que me conheceram grávida e, agora, veem a minha filha com 14 anos e comentam 'ah, eu te conheci grávida'. São clientes de mais de 20 anos, não temos uma relação de vendedor e cliente, fomos criando uma relação de amizade, eles conversam, contam os problemas, a gente se envolve, acompanha as famílias, vê os filhos crescendo", descreve Simone, que reforça não enxergar os outros empreendimentos do bairro como concorrência, mas, sim, como parceiros. "Somos muito unidos aqui, temos um grupo para questões de segurança, passamos informações um para o outro, indicamos um ao outro, até porque tem muito comércio antigo aqui, os mercadinhos, a ferragem, viramos uma comunidade", define a empreendedora sobre os empreendedores do Santa Cecília.

Buscando manter a tradição, mas sem deixar a inovação de lado, hoje, o negócio tem foco total no consumidor final. "No início, era muito voltado para o atacado, vendíamos muitos vinhos de garrafão para supermercados, tinha muita procura na época", lembra Simone, que aposta em um atendimento personalizado para conquistar a clientela. "O cliente pode tranquilamente comprar vinho pela internet, não tem problema, mas aqui temos esse contato personalizado. Nós explicamos quais vinhos temos, fazemos degustação, explicamos como utilizar os produtos, trazemos a informação junto, não é só pegar um vinho e colocar no carrinho", define sobre o negócio, que expandiu ao longo dos anos, acrescentando novos produtos ao catálogo. "Começamos como uma empresa muito familiar. Hoje, crescemos, temos pessoas trabalhando aqui, mas sempre estamos juntos no negócio. Não terceirizamos nossas funções, gostamos de atender os clientes", enfatiza Simone.

Com mais de 5 mil produtos cadastrados e média de 2 mil rótulos, a Casa dos Vinhos também conta com linha de congelados, antepastos e cestas para presentear. "Faz parte da inovação, buscamos trazer novos produtos. As cestas, temos algumas prontas, mas também fazemos por encomenda. Os clientes já me conhecem, então ligam, falam o que querem, quem querem presentear, e vou dando indicações, montando com o que combina, eles confiam", afirma Simone, que comenta sobre a mais recente novidade do local. Agora, o segundo andar da casa conta com um espaço que separa os vinhos por nacionalidade, e conta com as mais comuns no ramo, como Chile e Argentina, até algumas que não são vistas com tanta frequência nas prateleiras, como Grécia e Sérvia. "Muita gente chega aqui e comenta 'nossa, nunca tomei um vinho da Sérvia', então estamos sempre atentos ao que está acontecendo no mercado, ficar parado não dá. Seguimos com vinho de garrafão aqui, não queremos perder os clientes que ainda gostam e procuram, a ideia é agregar e atrair um novo público", ressalta a sócia.

Com valores que variam entre R$ 16,00 e R$ 2 mil, alguns rótulos chamam a atenção de quem conhece a casa, como o Perfume de Sonsierrra, vinho espanhol que é vendido em uma garrafa que imita um perfume, mas, apesar dos destaques internacionais, Simone faz questão de citar as novidades gaúchas. "Também temos muitas coisas legais aqui no Estado, como o vinho Semento da Don Guerino, que inovou trazendo vinhos dentro de um ovo de cimento, a embalagem também lembra a textura do cimento, é muito diferente", comenta Simone, que compara a vivência no bairro Santa Cecília à de uma cidade do interior. "Aquilo de ir andando pelas ruas, conhecendo os lugares, passar e dar oi para todo mundo, isso se mantém desde o início, até porque é um bairro muito residencial, tem bastante idosos aqui, que moram a vida toda no bairro, então tem essa essência", descreve Simone. "Sempre terão novos prédios, novos moradores, mas a nossa relação aqui é longa, temos um contato muito grande com os moradores, comerciantes, procuramos ter essa relação de troca, acho muito válido esse contato", pondera ngela.

A Casa dos Vinhos opera com tele-entrega pelo WhatsApp e abre ao público de segunda à sexta, das 9h30min às 18h e, aos sábados, das 9h às 16h.

Atelier de doces fideliza clientes no Santa Cecília

A identificação com o entorno é fator imprescindível para o crescimento do Rocambolo, atelier de doces localizado no coração do bairro Santa Cecília. Estruturado nas relações afetuosas com a vizinhança e com os empreendedores e empreendedoras que fazem parte do bairro, o negócio tem ganhado espaço. Com as tortas como carro-chefe, que são vendidas em fatias ou inteiras, a operação chega a registrar a venda de mais de 300 itens por dia.

Letícia Souza, 27, e Fran Fuzer, 29, são os nomes por trás do negócio, que é citado por outros empreendedores da região como um marco de renovação para o bairro. A dupla se conheceu trabalhando em uma cafeteria na Cidade Baixa, enquanto empreender ainda era um sonho distante. E se a oportunidade é um cavalo encilhado que não passa duas vezes, as sócias não titubearam quando receberam a proposta de abrir o negócio há cinco anos. A primeira operação do Rocambolo funcionava já no bairro Santa Cecília, dentro de um coworking. As poucas mesas e a pequena cozinha que ficava atrás do balcão foram o ponto de partida para tirar o sonho do papel. "Surgiu a proposta de alugar um café pré-montado em um coworking e isso tornou o sonho realidade, porque o investimento inicial é o pontapé mais pesado para muitas empresas e não precisamos ter esse investimento da estrutura", lembra Letícia.

De lá para cá, muito mudou na estrutura do negócio, que cresceu e ganhou mais fôlego durante a pandemia. Com o sistema pegue e leve e delivery, além de caixas para datas especiais, a Rocambolo viu seu espaço ficar pequeno e, a partir daí, começou a busca pelo novo ponto. "Tivemos um crescimento bem grande na pandemia e percebemos que precisávamos de um espaço maior. Começamos a olhar na redondeza, porque não queríamos sair do bairro. Entendíamos que sair daqui seria começar do zero, e gostamos do Santa Cecília", garante Fran. "Os clientes faziam busca pelo bairro de possíveis lugares para a mudança da Rocambolo. E a casa apareceu quando estávamos no maior Natal de todos, atendendo empresas grandes como Dell, Banrisul, trabalhando só duas, porque não queríamos colocar pessoas no meio da pandemia", complementa Letícia. Assim, surgiu o ponto onde, hoje, fica a Rocambolo, no número 326 da rua Felipe de Oliveira.

Agora, o espaço mais amplo conta, além da parte interna, com um deck, decorado com luzinhas, onde as mesas ficam em meio às arvores com mantinhas para garantir o conforto nos dias frios. A mudança, que aconteceu em 2021, reafirmou a relação do negócio com o bairro. "Quando mudamos de endereço, passamos a ter uma relação mais próxima com a vizinhança, porque ficamos mais no centro do bairro. Tentamos trocar muito, ir prestigiar os outros negócios, agregar. Sempre tentamos indicar quando alguém pergunta. Temos uma relação muito boa", afirma Letícia, destacando a receptividade positiva que o atelier de doces sempre teve na região. "O que escutamos muito dos clientes e dos outros comércios é que faltava um negócio como o Rocambolo, e acho que ainda faltam muitos negócios por aqui", percebe a empreendedora.

Por mais que, a priori, a escolha pelo ponto tenha partido da oportunidade, hoje, as sócias enxergam vantagens estratégicas para empreender no Santa Cecília. "O pessoal é bem bairrista por aqui, gosta de caminhar. É confortável, perto da Ipiranga, da Protásio, um lugar legal de andar e ir nos lugares próximos", pontua Fran. "A localização é muito boa. Não estamos longe de grandes polos gastronômicos, como o Bom Fim, Cidade Baixa. Além da gente já gostar do bairro, ficamos felizes quando surgiu a oportunidade, porque, talvez, ir para um bairro que tem muita coisa, como a Cidade Baixa, seja mais um tiro no pé que uma expertise. Porque aqui, realmente, faltava. Os moradores curtem prestigiar os negócios do bairro, caminham muito, estamos perto de grandes escolas, tem uma população muito grande para explorar aqui", avalia Letícia.

Com foco nas tortas, a Rocambolo conta com 10 sabores fixos no cardápio, além de dois restritivos. No entanto, para as tortas sob encomenda, são mais de 30 opções. A torta Isa, uma das primeiras receitas desenvolvidas pela dupla, é o carro-chefe, com bolo de chocolate e brigadeiro meio-amargo. O negócio conta, ainda, com outros produtos, como alfajor, arroz doce, pavê no pote e biscoitos decorados. No entanto, apesar do sucesso dos doces, as empreendedoras acreditam que o diferencial é a relação próxima e afetiva que desenvolveram com a clientela ao longo dos anos. "A galera do bairro é muito gente boa e temos uma relação bem próxima. Tentamos criar uma conexão com todo mundo. Por isso, somos muito exigentes com a equipe do atendimento, porque não queremos perder essa intimidade. Ser uma empresa pequena tem esse privilégio. Numa empresa grande, às vezes, tem um giro tão grande de clientes que tu não crias essa relação. E, como começamos bem pequenas, as pessoas acompanharam e se sentem padrinhos", conta Letícia, destacando que essa intimidade com a clientela pode ser uma aliada para quem empreende. "São poucos os clientes que não retornam. Sempre fidelizamos, porque o produto é bom, mas também por causa da relação. Vemos esse reflexo até nas redes sociais. Muitos empreendedores não gostam de aparecer, e, na verdade, tu estás mais te boicotando que qualquer outra coisa. Quando eu e a Fran aparecemos, as pessoas comentam e interagem muito mais. Precisa aparecer, porque as pessoas gostam de pessoas reais, e o nosso empreendedorismo sempre foi sobre pessoas reais", garante Letícia.

Para o futuro, expansão não está no horizonte, mas isso não quer dizer que a dupla não almeje crescer. "Já tivemos propostas interessantes de abrir em outros lugares, mas sempre tivemos a ideia de manter essa pegada mais intimista, porque entendemos que as pessoas vêm muito por causa da gente, pela essência do negócio. Queremos crescer aos pouquinhos para não perder a essência", pontua Letícia, destacando que já estão colocando em prática a próxima meta: consultoria para outros negócios e o desenvolvimento de curso de confeitaria voltado para geração de renda. E para seguir fomentando o empreendedorismo do bairro, o Rocambolo Acontece, evento mensal que reúne outros negócios do bairro, é um dos focos das sócias neste ano. "Reunimos marcas locais, em geral que não têm um espaço físico, para mostrar o trabalho delas aqui conosco sem nenhuma taxa, com o intuito de trocar clientes e experiências", explica Letícia.


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