O período pós-pandêmico leva o público às práticas ao ar livre e coloca o segmento em destaque

Ponto para a economia: esportes movimentam negócios em Porto Alegre


O período pós-pandêmico leva o público às práticas ao ar livre e coloca o segmento em destaque

A edição deste ano da Maratona Internacional de Porto Alegre foi a maior da história: 16 mil atletas estiveram presentes para correr às margens do Guaíba. Trata-se de um marco não só para o evento, mas também para a cidade, que, repleta de belezas naturais e espaços ao ar livre, desponta no ramo esportivo.
A edição deste ano da Maratona Internacional de Porto Alegre foi a maior da história: 16 mil atletas estiveram presentes para correr às margens do Guaíba. Trata-se de um marco não só para o evento, mas também para a cidade, que, repleta de belezas naturais e espaços ao ar livre, desponta no ramo esportivo.
Josiane Mores, criadora do projeto Skate pras Gurias, também pegou embalo na orla. Na maior pista de skate da América Latina, a iniciativa dá espaço para meninas que sonham em praticar o esporte.
O projeto social oferece aulas de skate gratuitas para mulheres de todas as idades. Os encontros ocorrem uma vez ao mês, aos sábados, das 9h30min às 11h30min, no trecho 3 da orla do Guaíba. A iniciativa é uma parceria com a Orla Social, que, assim como o Skate pras Gurias, busca incentivar o esporte, principalmente entre as crianças.
A idealizadora do projeto, Josiane, é, por raiz, ligada ao shape e às rodinhas. Ela já foi campeã do esporte, porém, para se dedicar aos compromissos da vida de mãe, acabou se distanciando das pistas. No ano passado, com o olhar no crescimento do nicho - e com os filhos já criados -, o foco voltou ao esporte. "Entendi que começou a ter um mercado voltado para as aulas de skate", analisa a empreendedora, que possui cerca de 200 alunos, somados todos os projetos de que ela participa.

Entre o amor e o preconceito no skate

No ramo, além de educadora, Josiane busca dar um novo direcionamento à modalidade, que, até pouco tempo atrás, sofria com a marginalização e com o preconceito. "É mais do que ensinar crianças a andarem de skate, é ensinar crianças a socializarem com o skate, apaixonarem-se", vê a coordenadora do Skate pras Gurias.
E as habilidades adquiridas na sua trajetória, segundo ela, colaboram para que esse processo ocorra com êxito.
"O sucesso de saber como chegar numa criança, de saber o que falar para uma mãe, é por eu já ter vivido o outro lado", compreende, acrescentando que, no segmento, ela consegue unir quatro paixões: crianças, skate, educação e a orla do Guaíba.

A orla do Guaíba incentiva o skate para meninas

Esta última, inclusive, é responsável direta pela ascensão do skate em Porto Alegre. Além de hospedar a Megapista, o local é espaço para uma troca de vivências relacionadas ao esporte - ou à vida propriamente dita -, em decorrência de uma junção de gerações de skatistas amadores e profissionais. "A orla do Guaíba ainda vai trazer muitos campeões", sonha Josiane, que entende que o local amplificou o sucesso do segmento, que já vinha em crescimento após a medalha de prata de Rayssa Leal nas Olimpíadas de Tóquio.
Seguindo seus sonhos, Josiane planeja abrir duas novas escolinha de skate na Zona Sul em breve. A decisão é parte do entendimento de que o mercado ainda tem muito a ser explorado, além de verificar que há um aumento na procura por aulas de skate para crianças.
A empreendedora garante que, devido à demanda do público, não consegue dar conta de tantos alunos e, por isso, deve buscar novos meios para investir no segmento. Enquanto isso, as aulas seguem ocorrendo no Skate pras Gurias. As datas dos encontros são divulgados no Instagram (@sktgurias). Nesse primeiro momento, os eventos acontecem só uma vez ao mês, mas a ideia, segundo Josiane, é aumentar a frequência. Não é necessário conhecimento prévio nem equipamentos, o Skate pras Gurias fornece o necessário para os primeiros embalos no esporte.
 

Após perder o filho em acidente, professor aposentado ensina normas de trânsito em aulas de bicicleta em Porto Alegre

A iniciativa possui mais de 100 alunos

Foi no episódio mais trágico que um pai pode experienciar que Carlos Augusto da Silva encontrou um propósito para dedicar a vida. Há 25 anos, o professor aposentado perdeu o filho, de 11 anos, em um atropelamento na rua Antônio de Carvalho, em Porto Alegre. Hoje, ele dá aulas de bicicleta gratuitas para promover um trânsito menos violento na Capital.
"Jurei que, quando me aposentasse do magistério, faria do acidente um motivo para fazer um trânsito mais humano, mais respeitoso", diz Augusto. Com esse norte - e, desde o ano passado, livre das atividades na sala de aula -, o professor aposentado decidiu voltar-se à conscientização do tráfego urbano de Porto Alegre.
Levando para as ciclovias as valências adquiridas enquanto educador, Augusto ensina pessoas que nunca tiveram a oportunidade de andar de bicicleta. Os encontros ocorrem aos sábados e domingos, das 9h às 12h, no Parque Marinha do Brasil. Não é necessário conhecimento prévio nem equipamentos: ele dispõe de cerca de 36 bikes para emprestar aos alunos.

Como são as aulas de bicicleta em Porto Alegre?

A metodologia de ensino consiste em orientar os aprendizes em todos os sentidos da atividade, das primeiras pedaladas à compreensão do papel dos ciclistas na sociedade. "Quem anda de bicicleta tem que humanizar a cidade, possibilitar relações interpessoais e ser um agente da ecologia. Todos que aprendem têm como compromisso ajudar o próximo", destaca Augusto, que propõe a formação de um grupo a partir do legado do esporte.
A busca por transformação social estende-se ao ensinamento dos códigos de trânsito. "Ciclista não anda em zigue-zague, anda sempre à direita, não em cima da calçada. É igual autoescola, ou aprende certinho ou não aprende", fala Augusto, que, apesar de garantir um compromisso com o fluxo urbano, não possui vínculo com a EPTC.

O papel da orla do Guaíba no fomento ao ciclismo

E não só as bicicletas e as raízes educadoras de Augusto são auxiliares nesse projeto. A região da orla do Guaíba, segundo ele, é uma parceira geográfica da iniciativa, atuando como um espaço agradável para a prática em Porto Alegre. A cidade já viveu dias conturbados com ciclovias, mas, hoje, dispõe de um local adequado para as aulas de bicicleta. "A Orla veio para se associar comigo nos sonhos das pessoas. A Orla foi uma benção para quem é ciclista e quem deseja ser ciclista", comenta o professor aposentado, que, neste ano, ensinou mais de 130 alunos a andarem de bicicleta.
Além destes, Augusto diz ter sido procurado por outras centenas de pessoas via Instagram (@silvaaugusto.silva), onde os interessados em participar do projeto devem contatar o professor.
A iniciativa está aberta a receber alunos de todas as idades e, inclusive, pessoas com deficiência física. Hoje, Augusto ensina cerca de 15 PCDs, que buscam, no esporte, um meio para desenvolver a saúde física e mental. Um dos desejos do professor, aliás, é capacitar-se para incluir mais indivíduos desse grupo.
Outro sonho que está no radar é adquirir uma Kombi para transportar as bicicletas até o local das aulas. O objetivo é que o projeto ultrapasse as barreiras das margens do Guaíba e alcance Porto Alegre como um todo, transformando-a, quem sabe, na capital do ciclismo. 
 

Uber da foto esportiva: empresa faz fotos profissionais de atletas amadores

Mais de 60 milhões de imagens estão disponíveis no site, onde os atletas podem encontrar os seus registros por meio de reconhecimento facial

Quem participa de provas, treina ou simplesmente passeia pela orla do Guaíba já deve ter reparado em "paparazzis do esporte" que, em seus uniformes amarelos, clicam atletas em momentos de prática. Tratam-se de profissionais da Foco Radical, empresa que atua como um banco de imagens para esses registros, intermediando a relação entre fotógrafos e esportistas.
"Trabalhamos com um sistema parecido com o Uber. Fornecemos o meio para que o fotógrafo possa vender a sua foto ao atleta", analisa o CEO e fundador do negócio, Christian Schmidt. Nesse formato, os profissionais carregam as imagens na plataforma, e, às vezes, até no mesmo dia do evento, os esportistas podem escolher as que mais agradam, para adquiri-las e baixá-las. A identificação das fotos ocorre por meio de reconhecimento facial.
Mas nem sempre a tecnologia esteve ao lado de Christian. Quando decidiu apostar no ramo, em 2005, o empreendedor - e fotógrafo - registrava os momentos numa câmera analógica, e o processo era muito menos automatizado. "Ia mostrando foto por foto, e isso leva tempo. Até venderam algumas, gravadas em CDs ainda, mas, no final, percebi que era um sistema meio complicado", avalia Christian, com base em sua primeira experiência em um evento esportivo, em Florianópolis.
Anos mais tarde, os aparatos tecnológicos, que ainda engatinhavam, mostraram-se os principais aliados da Foco Radical. Hoje, são mais de 60 milhões de imagens disponíveis na plataforma, que conta com cerca de três mil fotógrafos cadastrados. O Rio Grande do Sul, que possui cerca de 150 profissionais, é dono do recorde de imagens baixadas em um único evento: na Maratona Internacional de Porto Alegre, mais de três milhões de registros foram disponibilizados.

Empreendedorismo e esporte

Fora do mundo digital, a veia esportiva também é essência da Foco Radical. Fundamental não só para as fotos, os atletas podem ensinar - e muito - aos empreendedores, como afirma Christian. "Assim como o esporte, o empreendedorismo requer persistência. Da mesma forma que vou ter uma planilha de treinos, vou ter um planejamento estratégico, saber onde quero chegar", destaca o fundador da plataforma, que pratica corridas e caminhadas para aprimorar o seu negócio e manter-se saudável.
Esta última razão, inclusive, é o que tem levado mais pessoas a participarem de práticas esportivas. A iniciativa parte da busca por divertimentos ao ar livre e por bem-estar, sentimentos repreendidos durante a pandemia. "A prefeitura fecha a orla do Guaíba, durante os fins de semana, para o público poder sair de casa. Essa é uma tendência mundial, dos governos cada vez mais investirem em esportes, porque é investir em saúde", afirma.

Como se cadastrar como um fotógrafo da Foco Radical?

Cobrindo eventos de esportes variados, a Foco Radical atua em todos os estados do Brasil e no exterior. Cada foto disponibilizada no site custa entre R$ 10,00 e R$ 17,00 - sendo de 25% à 30% desse valor destinado à plataforma -, a depender da qualidade desejada pelo cliente. Os fotógrafos interessados em fazer parte do projeto devem acessar o site e realizar um cadastro, que será avaliado pela empresa. Estima-se que um profissional que se dedique com frequência às atividades possa receber cerca de R$ 10 mil.
No futuro, a empresa planeja atingir diferentes mercados, no exterior e em eventos menores. Um dos grandes desejos de Christian é participar da cobertura oficial da UTMB Brazil, torneio que reúne corredores de trilha do mundo todo. Neste ano, a prova acontece em Paraty (RJ).