A resiliência e a força transformadora de uma segunda chance. Esse foi o tema que guiou uma conversa cheia de história, emoção e muita superação no Palco da Quebrada durante a Gramado Summit. O painel, conduzido pelo empreendedor Tiago Schmitz, do Charlie Brownie, contou com a presença de Leonardo Precioso, CEO do Instituto Recomeçar, Eduardo Oliveira, fundador do Projeto Gaditas, e Elias Tom, fundador do Instituto Capoeira Social. Apesar de possuírem histórias diferentes, os três painelistas contam com um grande denominador comum. Ao longo da vida, todos se envolveram, de uma forma ou outra, com o crime, e, hoje, os três dedicam sua rotina a projetos a fim de resgatar e de acolher jovens na mesma situação em que eles um dia estiveram.
Para Eduardo, que se envolveu com o tráfico aos 10 anos, largar as drogas é o mais fácil quando se decide mudar de vida. A parte mais difícil, e que faz com que, em muitos casos, jovens voltem para o crime, é a sociedade. “Não é difícil tirar o jovem da droga, o difícil é manter eles na sociedade. Hoje, o problema da dependência química são dois: a pessoa que usa tem que querer muito sair, mudar de vida mesmo, e a sociedade tem que abraçar essa escolha”, ponderou. Buscando fazer a diferença nesse cenário, Eduardo fundou, há 16 anos, o Projeto Gaditas, iniciativa que busca resgatar e reinserir na sociedade jovens com dependência química. “Nossa missão é salvar vidas. Não interessa se está em abrigo, na rua, na favela, a gente resgata, leva para casa, dá amor, dá carinho, dá o que precisa para voltar para sociedade uma pessoa renovada”, explica o empreendedor, que já adotou 18 jovens que viviam em situação de vulnerabilidade. “Acredito em uma nova geração que vai romper esse ciclo de exclusão social, e é isso que tento implantar no projeto. É algo que leva tempo, não vai ser da noite para o dia, mas começa por nós, os adultos de hoje, que precisamos criar as crianças e jovens de uma forma diferente para que essa mudança possa acontecer”, acredita.
LEIA TAMBÉM > Participar de eventos e aprender com histórias reais são algumas das dicas do CEO Marcus Rossi
Após ser preso por seis anos, Leonardo Precioso conta que sentiu na pele a rejeição por parte da sociedade, o que impulsionou seu apoio a programas voltados para egressos do sistema prisional. “Onde o poder público não atua, as organizações criminosas atuam. Já que o estado não faz esse processo de ressocialização, nós tentamos, de forma pontual, realizar esse trabalho de reinserção de egressos na sociedade”, explica o CEO do Instituto Recomeçar, que idealizou uma pizzaria social, onde trabalham apenas ex-apenados, como forma de gerar renda. “Seria difícil sair pedindo doação depois de sair do sistema carcerário, então, pensei em criar um produto. Se oferece algo bom, legal, de qualidade, as pessoas pouco se importam em quem a gente é, só querem consumir este produto”, pensa.
Leo comemora, ainda, que o assunto esteja presente em eventos como a Gramado Summit. Para ele, esse é o início da mudança. “Estar aqui já é uma forma de moralizar a questão do egresso do sistema carcerário, mudar essa sociedade que, hoje, ainda se nega a assumir sua responsabilidade nesse problema social”, comenta. Apostando no esporte como uma maneira de transformar vidas, Elias Tom, fundador do Instituto Capoeira Social, projeto de Sapucaia do Sul, também compartilhou um pouco da sua experiência de vida durante o evento. “A minha segunda chance foi quando um antigo professor de capoeira, que eu fazia quando era criança, me acolheu e me tirou da rua. Já estava dormindo em baú de caminhão, banco de praça, e ele me deu essa chance como professor de capoeira. Aquilo foi me resgatando, foi uma ferramenta de transformação social na minha vida”, lembra o empreendedor, que, hoje, busca fazer o mesmo pelas mais de 500 crianças que frequentam o Instituto.
LEIA TAMBÉM > Inspiração empreendedora: bailarina comanda escola de dança no Complexo do Alemão
Para Elias, é preciso gerar oportunidades para crianças e adolescentes vulneráveis, além de estender um olhar para quem vive no sistema carcerário, pensando no futuro e na reinserção dessas pessoas na sociedade. “Precisa ter o envolvimento de empresas e parceria de governos estaduais e municipais. Políticas públicas para que todos que estão nessa invisibilidade consigam ter uma chance”, acredita