O último especial GE nos Bairros do ano conta a história do Centro, região que vive um período de retomada com negócios focados na cultura e gastronomia

Centro Histórico vive retomada com novos negócios e empresas que resistem


O último especial GE nos Bairros do ano conta a história do Centro, região que vive um período de retomada com negócios focados na cultura e gastronomia

Fica no Centro Histórico a via pública mais antiga de Porto Alegre, a Rua da Praia, que tem o nome oficial de Rua dos Andradas. Nela se conservam diversos casarões que eram voltados ao comércio. Esta rua sempre foi ponto de referência para compras em lojas, escritórios, oficinas e ateliês, tendo um dos mais antigos centros comerciais - a Galeria Pedro Chaves Barcellos, em funcionamento desde os anos de 1930, e que tem sua arquitetura inspirada nos palácios europeus. Outro ponto importante do bairro é a região da Praça da Alfândega, que sempre foi sede de instituições financeiras, como os antigos Banco da Província, Meridional, Previdência do Sul e até hoje com o Safra, Banrisul e Caixa Econômica Federal.
Fica no Centro Histórico a via pública mais antiga de Porto Alegre, a Rua da Praia, que tem o nome oficial de Rua dos Andradas. Nela se conservam diversos casarões que eram voltados ao comércio. Esta rua sempre foi ponto de referência para compras em lojas, escritórios, oficinas e ateliês, tendo um dos mais antigos centros comerciais - a Galeria Pedro Chaves Barcellos, em funcionamento desde os anos de 1930, e que tem sua arquitetura inspirada nos palácios europeus. Outro ponto importante do bairro é a região da Praça da Alfândega, que sempre foi sede de instituições financeiras, como os antigos Banco da Província, Meridional, Previdência do Sul e até hoje com o Safra, Banrisul e Caixa Econômica Federal.

Vinícius Mitto é professor e arquivista e apresenta uma série sobre a história dos bairros de Porto Alegre no @cartaotri e em @bahguri.rs

Após ser colocado à venda, restaurante Guaipeca resiste há 34 anos e mira em renovação da Demétrio Ribeiro

O espaço, que foi colocado à venda durante a pandemia, segue firme com o propósito de fomentar a região

O número 1.061 da rua Demétrio Ribeiro abriga um dos tantos negócios tradicionais do Centro Histórico. Desde 1988, o restaurante Guaipeca opera no ponto servindo almoço e cerveja sempre gelada. Quem garante isso é a sócia do negócio, Rosalina Pereira de Andara, 52 anos, mais conhecida como Rose. Desde 1997, ela comanda o espaço ao lado de Miguel Wechenfelder.
Natural de Lagoa Vermelha, Rose empreendia no ramo da gastronomia em Vacaria antes de se mudar para Porto Alegre no início dos anos 1990. Recém-chegada à Capital, ela começou a trabalhar no Guaipeca antes de adquirir o negócio. "Vim embora para Porto Alegre e não sabia o que fazer. Meu namorado na época já era dono daqui, então compramos em 1997. O Guaipeca estava praticamente falido. Eu tinha 23 anos e assumi o Guaipeca com tudo. Fui para a cozinha, fazia compras, atendimento, servia, lavava a louça e criei o prato do dia. Foi indo tão bem que não dei mais conta e trouxe minha irmã para cá, a Maria Andara", lembra sobre a parceria com a irmã, que atuou por oito anos no negócio.
Segundo a empreendedora, a jornada do restaurante foi próspera até o início da pandemia, quando o cenário ficou adverso. Rose chegou a anunciar, em junho de 2022, a venda da operação no grupo de vizinhos do bairro no Facebook. "Estávamos com 10 funcionários e não sabia o que fazer. Comecei a fazer doces. Não fechei totalmente, comecei a tele-entrega, que não tínhamos, fui para internet, fiz vídeo, criei promoções e não fechei o Guaipeca. Me descapitalizei e, hoje, está bem difícil", afirma Rose, que desistiu da venda após receber o apoio dos clientes fiéis do negócio. "Anunciei a venda e recebi tantos comentários das pessoas falando para não vender. Os clientes vieram falar comigo: "poxa, tu superaste uma pandemia, tu estás com as portas abertas, vais conseguir sair dessa'. Estou batalhando com todas as forças, cheia de boletos, mas estou aqui trabalhando", orgulha-se a empreendedora, que conta com cinco funcionários na operação. "Tenho funcionários há 13 anos. É um orgulho grande, porque é sinal que eles estão crescendo e é um ambiente bom de trabalhar", percebe.
pesar do processo de revitalização do Centro, Rose pondera que ainda faltam iniciativas na região para atrair o público, especialmente turistas. "O Centro mudou muito, mas está precisando de eventos que atraiam pessoas. Quando tem evento no Capitólio, os bares do entorno vão muito bem, mas somente nesses dias. A boemia fica na Cidade Baixa, em outros lugares. Por aqui, temos espaços lindos, ótimos restaurantes. Dia de semana, horário do almoço, é bom o movimento. Mas durante a noite é muito parado. As pessoas não exploram os negócios do Centro", diz a empreendedora, que também mora na região.
"Moro há 30 anos e nunca tive nenhum problema. Para mim, é o melhor bairro de se morar. A vizinhança é tranquila, as pessoas se conhecem. Os bares dão segurança para a rua", acredita.
Operando de segunda-feira a sábado, das 11h às 23h, o Guaipeca tem como carro-chefe a à la minuta, que custa, em média, R$ 26,90 acompanhada de um refrigerante, e as pizzas. "No Guaipeca, a comida é feita na hora e é muito rápido. Você escolhe o prato e ele vem fresquinho. Sempre ofereci qualidade no atendimento e cerveja hipergelada", garante.
Para o futuro, após se recuperar totalmente do período difícil da pandemia, o objetivo é investir no negócio. "Pretendo fazer uma boa reforma, trabalhar com pratos veganos, me adaptar a comidas saudáveis também, que o bairro deixa a desejar", projeta.

Tradicional lancheria atrai os trabalhadores do Centro Histórico

Com o foco nos lanches e a lá minutas, o negócio está presente na região há 25 anos

É em um pequeno ponto próximo da Praça da Matriz que fica a operação da Lancheria Vicari. O espaço, desde 1960, abriga negócios do mesmo segmento. "Quem comanda ainda é a família do Manoel, que foi o primeiro proprietário do espaço, e agora as filhas dele que alugam para a gente. Ele veio de Portugal e montou o bar, e ficou trabalhando até 1980, depois foi alugando o espaço", explica Tarso Vicari, sócio da atual lancheria, que está de portas abertas há 25 anos. Continuando com a tradição, o negócio oferece cafés da manhã e almoços, com o forte nas à la minutas.
Operando das 7h às 16h, na rua Jerônimo Coelho, nº 103, a Vicari tem como público fiel os trabalhadores do Centro Histórico. "Aqui é um bairro boêmio, mas tentamos abrir na parte da noite e não valeu a pena, então preferimos ficar no horário que já era de costume. Dependemos muito dos órgãos públicos, a Assembleia é nossa maior cliente, o pessoal do Piratini também. Mas, depois da pandemia, muitos escritórios fecharam, eles começaram a trabalhar em casa, aí dificultou um pouco", comenta Tarso, que comanda o restaurante com os dois irmãos, Carina, cozinheira do empreendimento e Bianor Vicari.
Apesar da fachada discreta, o espaço é frequentado por diversos políticos da cidade. "Atendemos muitos deputados e assessores, principalmente pela localização. Notamos que nossos clientes são as pessoas que trabalham por aqui. Tentamos trabalhar no sábado, para chamar o morador do Centro, mas eram poucos e decidimos parar", explica. Para Tarso, a renovação da região pode ajudar a trazer um público novo para o negócio. "O Centro foi se desgastando, mas agora ele está sendo revitalizado, e o lugar que era meio esquecido pode começar a crescer, porque o Centro sempre chamou atenção das pessoas, sempre atraiu o povo", comenta o empreendedor. Atendendo cerca de 100 pessoas por dia e vendendo perto de 70 à la minutas no período do almoço, a lancheria se transformou em um ponto tradicional para os trabalhadores do Centro Histórico.

Armazém Porto Alegre celebra 10 anos na escadaria da Borges

Chope artesanal, pizza e panini feitos na casa e muita história são as marcas do bar

O Viaduto Otávio Rocha completou 90 anos em 2022 e o Armazém Porto Alegre, negócio localizado nas escadarias, faz parte da história. Carregando a herança do bar Tutti Giorni, o Bar dos Cartunistas, o Armazém funciona como bar, café e bistrô e é comandado pelos irmãos e sócios Renato e Mauren Pereira. "Faz 10 anos que nós estamos construindo um ambiente que, agora com a revitalização do Viaduto, vai ter a cara que a gente sempre sonhou, que é transformar este espaço em um polo gastronômico, turístico e cultural", acredita Renato.
Quando o Tutti fechou, em 2012, Renato, que era amigo do dono do antigo bar e já estava construindo o seu próprio em uma sala ao lado, herdou alguns itens do espaço.
"Isso aqui estava tudo em obra, mas as pessoas continuavam vindo mesmo assim, principalmente às terças. Então, eu comecei a colocar a bebida e vender antes mesmo de abrir. Sem lucro, sem sistema, sem saber de muita coisa", lembra entre risadas.
Este foi o impulso inicial para o Armazém, mas Renato conta que não foi o principal. Entre qualificações e construção de um formato próprio de trabalho, o empreendedor lembra que abriu o bar em um momento de enfoque nas cervejas artesanais em Porto Alegre. "Nós abrimos com essa ideia de oferecer chope feito aqui no Estado e comidas mais trabalhadas. E foi o que deu certo", afirma.
Sobre a relação com os empreendedores do bairro, Renato comenta que é a melhor possível. "É uma parceria, todos pelo mesmo objetivo, que é transformar esse espaço no que ele já é, que é um cartão postal de Porto Alegre. É uma construção coletiva e o melhor é poder ver quem vem de fora, e até as pessoas que moram aqui, encantadas com a cidade. É o que me dá satisfação", relata.
Os cardápios do local são feitos em álbuns fotográficos para mostrar e incentivar criações de clientes como cartas, fotos, desenhos e até pares de alianças de compromisso.
São mais de 20 unidades e o empreendedor pretende fazer uma exposição das peças, que podem ser apreciadas no horário de funcionamento do bar, que é de segunda a sábado, das 18h às 23h.
"O importante ao se ter um negócio é acreditar que tu vais ser grande e entender que a organização é uma das coisas principais, que deve ser cuidada desde o começo", aconselha.

Justo busca oferecer alta gastronomia a preços acessíveis no Centro Histórico

A proposta do bar foi pensada a partir do público local, e segue sendo adaptada à necessidade da clientela

Autor do Guia de Sobrevivência Gastronômico e ganhador do reality Batalha dos Cozinheiros de 2016, Adelino Bilhalva, é um dos nomes por trás do Justo, bar presente no Centro Histórico há cinco anos. Quando voltou para Porto Alegre após a temporada em São Paulo, em que participou do programa culinário, decidiu investir no ramo da gastronomia ao lado dos amigos, e hoje sócios, Ricardo Yudi, Tom Mendonça e Marcello Lima.
O ponto nas escadarias do Viaduto Otávio Rocha foi o primeiro e único visitado pelos sócios. "Começamos a olhar imóveis e, no dia seguinte, já pegamos as chaves do espaço. Em uma semana alugamos, sem plano de negócio, sem cardápio, não tinha nada. Ficamos surpresos por não ter um negócio no ponto porque é um baita espaço, então alugamos e fomos de improviso", admite Adelino sobre o começo do bar. "Era geladeira de casa, sofá de casa. Nós sabíamos que iria rolar, que iria aparecer gente, mas o início foi um negócio de guerrilha", lembra o empreendedor.
A proposta do espaço foi pensada a partir do público local, levando em conta quem são as pessoas que frequentam o Centro Histórico. "Começamos com uma ideia, pensando em quem vem aqui, que é uma galera universitária, sem muita grana, ou alguém que mora por aqui e também não tem muita grana", descreve, reforçando que o Justo vive em constante mudança. "Se o público está mudando, indo para outro lado, nós analisamos e mudamos também. Se algum rango não está vendendo, ele vai sair do cardápio, ou vamos buscar entender o público e o porquê eles não estão gostando daquilo", garante o sócio.
Uma das grandes características do bar, para Adelino, é ser um lugar democrático, acessível para todos. "O objetivo sempre foi ter um espaço que as pessoas não tenham vergonha de entrar. Eu vim da periferia, e quem vem da periferia passa pelos lugares e se questiona se vai poder entrar, se a roupa está adequada, se vai poder pagar, e a gente queria criar um lugar que não tivesse dúvida, onde qualquer pessoa que passasse sentisse que é de boa e entrasse", diz, acreditando ser esse um dos motivos do bar sempre ter movimento. "Imagino que isso explica muito do sucesso, ninguém se sente acuado ou com vergonha, também sempre teve o cardápio na frente do bar com os valores expostos", pondera.
Abertos ao público de segunda a sábado, das 17h às 22h30min, o negócio busca oferecer uma boa gastronomia por preços acessíveis, como a clássica pizza artesanal que custa R$ 10,00. O empreendedor garante que o segredo para manter um preço justo, principalmente em um momento de difícil situação econômica, é unir conhecimento e criatividade. "Nosso aniversário de dois anos foi durante a greve dos caminhoneiros, quando o preço da carne foi lá em cima, e o meu sócio Ricardo, que também é professor de gastronomia, conseguiu criar um sanduíche de carne que vendemos por R$ 10,00. Ele comprou a carne mais barata do mercado e utilizou uma técnica da alta gastronomia, o sous-vide, onde a carne ficou por três dias cozinhando em banho maria. Então, é ter criatividade, conhecimento, trabalhamos com ingredientes simples, mas utilizando a técnica certa para tirar o melhor sabor deles", define.
Enxergando o potencial do Centro Histórico, Adelino comemora a boa relação que os empreendedores do bairro possuem entre si. "Temos um grupo no WhatsApp, nos juntamos e estamos pensando em fazer uma associação. A galera é bem unida, não se enxerga como concorrência", comenta.
"Quando ia abrir aqui, fui falar com o Renato ali do Armazém. No outro lado, e ele ficou superfeliz, porque não enxergamos como concorrência, quanto mais coisa estiver acontecendo por aqui, melhor vai ser pra todo mundo, mais seguro", acredita.

Padaria artesanal é novidade na Duque de Caxias

A Pão e Maria é focada na produção de pães de fermentação natural que podem ser fatiados e consumidos no espaço

É em uma das ruas mais charmosas do Centro Histórico que Carolina Pereyron e Aky're de Souza decidiram abrir seu primeiro negócio, uma padaria focada em pães artesanais. A Pão e Maria, que tem esse nome por causa da filha de um ano do casal, está localizada na rua Duque de Caxias, n° 864, e tem quatro meses de operação. Foi durante a pandemia que Aky're, que já era cozinheiro, buscou se especializar em panificação de fermentação natural. "Antes de decidir abrir, trabalhei em um café e os horários eram muito mais tranquilos do que trabalhar em bar ou restaurantes. Podia ficar mais tempo em casa. A panificação e os horários de uma cafeteria foi um divisor de águas, juntou qualidade de vida em uma área que gostei de trabalhar", relembra Aky're.
O casal conta que o sonho sempre foi abrir no Centro, já que no início do namoro eles faziam muitos passeios pela área e tinham carinho pela região. "Adoramos o Centro. E também lemos sobre o que estava acontecendo pelo bairro, os vários pontos de revitalização, e achamos que, além de querer, também é um bom momento para vir pra cá. Estamos vendo várias outras coisas abrindo e está sendo um momento muito massa", percebe Carolina.
O casal afirma que a rotina de empreender na região é agitada. "É a vida acontecendo o tempo todo, mas existem os dois lados. Tem as pessoas que trabalham aqui, mas também é um bairro residencial, onde todo mundo se conhece", aponta Carolina. "As pessoas que moram na região vivem muito o bairro, nós também moramos aqui. Às vezes, vejo alguém correndo de manhã cedo, a pessoa pega um café de tarde e, quando eu saio de noite, vejo ela de novo em algum outro lugar também do Centro", comenta Aky're.
Já entre os desafios, os empreendedores explicam que pessoas de outros bairros ainda não percebem o Centro como um lugar para passeios frequentes, mas que isso está mudando. O local abre de terça a sexta-feira, das 7h30min às 19h, e no sábado, das 9h30min às 13h. "Não só o lugar nos recebeu bem, mas as pessoas que também empreendem por aqui vieram logo que abrimos, todo mundo é bem legal", comenta Carolina.
Além dos pães de fermentação natural que podem ser fatiados e consumidos no espaço, o local produz bolos, torradas e sanduíches, oferece várias opções de café e produtos de empório que os clientes podem levar para casa, como geleias, vinhos e queijos. "Abrimos cedo e têm pessoas da região e de bairros próximos que vem pra cá tomar um café e depois voltam para os home offices ou vão para o trabalho. O pão na chapa e o cafezinho passado trazem muita gente", garante o padeiro.

Imobiliária cria atelier de plantas para atrair clientes em Porto Alegre

O negócio foca em plantas próprias para ambientes internos e fáceis de cultivar

"É uma coisa que faltava aqui no Centro. Não tinha uma loja de plantas assim. Se as pessoas quisessem comprar, tinham que ir para grandes mercados, e, aqui, fazemos projetos, vendemos plantas para quem quer ter em casa, mas não consegue ou não sabe muito bem como cuidar". É dessa forma que Fernando Avilla, sócio do Plantas Atelier Botânico, localizado na rua Riachuelo, nº 1.100, define o negócio, que tem como outro sócio Anderson Coelho.
Os amigos, que também atuam juntos na imobiliária Somos Lares, que fica no mesmo prédio, perceberam que existia uma alta demanda no mercado botânico, principalmente dos clientes que procuravam os apartamentos já imaginando onde colocariam as plantas. "Foi no início da pandemia que percebemos o maior interesse das pessoas pelas plantas, e, como trabalhamos com muitos apartamentos no Centro Histórico, vimos que não tinha um negócio que suprisse isso aqui, até por isso que viemos para esse prédio. Os dois andares de cima são da imobiliária e, no de baixo, decidimos colocar o atelier", explica Fernando. O sócio afirma que, no início, o projeto do negócio ainda era confuso, justamente por não serem especialistas no assunto, mas a ideia de ser uma loja focada em plantas mais específicas para apartamentos foi o que mais chamou a atenção dos empreendedores. Para fazer a curadoria dos produtos, os sócios contam com a ajuda da Lívia Hafner, que cuida da operação no dia a dia.
Há um ano no Centro Histórico, o Plantas Atelier Botânico faz questão de oferecer produtos de artistas locais. "Fizemos parte da rota da Bienal, trouxemos quadros de pintores que ficaram expostos aqui, tentamos focar no artesanato local", diz Fernando.
Anderson se mudou para o bairro para ficar mais perto do negócio e por se identificar com o público do local. "Acho o Centro Histórico um lugar democrático, aqui vemos todo o tipo de gente, tem todo o tipo de negócio, desde o restaurante de luxo até a padaria simples, me identifico com esse clima", explica.
Para os empreendedores, o bairro se encaixa na proposta do negócio, que busca ser um ambiente de valorização da arte e também uma porta de entrada para a imobiliária. Eles contam que a clientela da loja é majoritariamente do Centro Histórico, e que a faixa etária é bem dividida entre jovens que estão querendo decorar a casa e idosos que já se interessam por plantas.
Anderson acredita que as obras de revitalização trarão mais público para a região, além de oferecer mais conforto para os moradores. "O Centro te proporciona muitas coisas bacanas, em relação aos negócios democráticos que dá para curtir, a valorização cultural, exposições que estão sempre acontecendo, cinemas por um preço mais acessível, tem muita coisa bacana, além de ser um bairro com muita diversidade", comenta.

Casal francês aposta no potencial artístico e cultural do Centro Histórico

O espaço busca fomentar a cultura, língua, arte e gastronomia francesa

O desejo de empreender fez com que o casal Jair Dupont e Mathilde Le Tourneur Du Breuil, natural da França, viesse para o Brasil e abrisse o próprio negócio. O sonho da dupla sempre foi ter um espaço voltado para a arte e cultura, e por isso, garante Mathilde, que o Centro Histórico foi a escolha do casal na hora de definir um ponto. Há 14 anos, a dupla comanda o L'Atelier Des Mots, espaço que busca fomentar e divulgar a cultura, língua, arte e gastronomia francesa.
Um dos motivos de optarem pelo Centro é a vontade que os sócios possuem em manter um espaço democrático e acessível ao público. "Não queremos algo elitista, queremos ser um negócio mais acessível a todos, e o bairro que mais encarna isso é o Centro Histórico, além da beleza dos prédios, somos apaixonados por casas históricas, como essa aqui", afirma Mathilde sobre o casarão de dois andares onde o Ateliê está localizado. "Essa casa aqui tem mais de 100 anos, e isso é uma coisa muito importante para nós, preservar e cuidar dessa casa, deixar ela bonita, mas ainda com essa cara de casa provençal, antiga, histórica", define.
Localizada na rua General Salustiano, nº 290, a operação começou enxuta, apenas com aulas de francês, ministradas pelos próprios empreendedores, que também são professores. "Nos primeiros anos, a casa era bem diferente, pequena, só com a parte de baixo, depois de anos fizemos uma reforma para ampliar e criar esse espaço cultural, incorporar o bistrô e a biblioteca", lembra Mathilde sobre o negócio, que hoje também realiza eventos culturais. "Fazemos almoços temáticos, jantares, encontros culturais, cursos, leituras guiadas. Hoje é o que mais fazemos aqui, junto com os cursos", pontua.
Completando 15 anos de operação em 2023, a empreendedora comemora que, apesar de possuírem muitos clientes e alunos fiéis, o espaço está sempre lotado de rostos novos. "Tem pessoas que frequentam a casa desde o início, mas temos um movimento muito grande de pessoas começando a vir. Com a pandemia, nosso público se renovou bastante", comenta. O espaço fechou as portas durante o período de isolamento e manteve os cursos de forma online. "Temos cursos regulares de língua, mas nossa especificidade é ter vários cursos em francês, mas voltados a uma temática única, seja literatura, arte, teatro, música. Temos diversas áreas culturais com uma proposta diferente a cada semestre", diz.
Apesar de não morar no Centro, Mathilde admite ser encantada pela arquitetura e charme da região. "É um bairro cheio de vida, um lugar charmoso, sempre tem alguma coisa acontecendo", enxerga. Para o futuro do negócio, o plano é investir na produção de eventos. "Ampliar essa parte, com mais arte, mais música, mais teatro, é o mais importante para nós", garante. O Ateliê abre ao público de segunda a sábado, sem horários definidos, pois acompanha o período de aulas. "Estamos sempre aqui, o dia todo, mas uma previsão para o próximo ano é ter horários mais regulares", projeta a empreendedora.

Banca criada no Mercado Público expande no Centro e RMPA de Porto Alegre

Negócio de família começou na década de 1970 no Centro da Capital

No começo, o território exclusivo da Banca 12 era o Mercado Público Central, com seus 153 anos e um mundo de varejos e fluxo intenso de pessoas no Centro Histórico de Porto Alegre. Comandada há mais de 50 anos por Heitor Nicolini, que tinha 16 anos quando desembarcou na Capital para trabalhar, vindo de Batuvira, interior de Progresso, no Vale do Taquari, a operação ultrapassou as paredes do grande complexo e diversificou ainda mais seu mix.
Hoje, são quatro lojas fora do Mercado, onde estão duas bancas (a segunda foi aberta em 2009). No começo de 2000, a marca chegou a Canoas, onde teve dois pontos, que foram unificados em 2021 em um só, com 170 metros quadrados de área de venda, no Centro da cidade.
A unidade mais emblemática, que redefiniu o layout interno e da fachada da operação, foi aberta em 2017 na rua dos Andradas, não muito distante do ponto onde o negócio surgiu. "O ponto tinha uma farmácia que fechou", lembra Heitor.
"As fotos que estão nas paredes da loja despertam a curiosidade das pessoas e reforçam a ligação que temos com o complexo do Largo Glênio Peres. Foi uma forma de levar o Mercado para fora e mostrar que nossa origem vem de lá e temos muito orgulho disso", valoriza o filho de seu Heitor, Heitor Júnior, que hoje puxa a frente da expansão.
"Minha palavra é sempre a última sobre as mudanças", brinca Heitor pai, que reforça, já com semblante mais sério, que "a família atua unida".
"Deixo para os jovens tocarem que estão mais por dentro das novidades", comenta o precursor, citando que o novo layout e modelo de operação "foram importantes para padronizar o negócio".
"Hoje a loja está mais moderna, tem sortimento grande", observa o experiente mercadeiro, que considera a experiência acumulada e a reputação suas maiores contribuições para a permanência da Banca 12. Agora, ele diz que se envolve mais com as compras de fornecedores.
Além das três da Capital e de Canoas, outras duas ficam em Cachoeirinha e Esteio, abertas em 2015 e 2020, respectivamente. A rede soma 75 funcionários e cresce com recursos próprios.
"A última (loja) foi aberta em meio à pandemia. Resolvemos apostar que as pessoas iriam querer comprar mais produtos saudáveis", explica Heitor Júnior.
O foco principal da banca 12 é ser um empório de venda de grãos e outros itens integrais, suplementos naturais e chás. Alguns artigos do antigo armazém de secos e molhados que caracterizava o varejo até o fim dos anos de 1970, mantêm-se nas gôndolas.
A incorporação de grãos e outros alimentos atendeu a uma demanda que a clientela passou a pedir nos anos de 1980. "Tinha fechado uma loja que vendia cereais no Centro e as pessoas passaram a procurar aqui. Alguém tinha de ocupar o espaço", recorda Heitor pai.
Mesmo com layout, conceito e linhas novas, os donos não querem abandonar a marca do comércio a granel e aviamentos que vêm do armazém. "Temos produtos integrais, suplementos, mas continuamos a vender muito pano de prato. Esta é nossa característica", reforça Heitor Júnior.
A expansão da Banca 12 não deve parar. Heitor Júnior estuda abrir mais lojas em 2023, cogitando se instalar nas zonas norte ou sul da Capital e avançar para mais cidades. O novo layout também deve ser levado às bancas do Mercado Público.
Todos os passos são conversados e decididos com o pai, que fez 76 anos em outubro passado, comenta Heitor Júnior, formado em Educação Física e com MBA em gestão de vendas e relacionamento.
"Tenho muito orgulho de ter ele por perto. Tudo isso só existe por causa dele", resume o filho.