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27 de Outubro de 2022 às 00:25
GE NOS BAIRROS
Isadora Jacoby
GE
Isadora Jacoby
O negócio, que atravessa gerações, celebra a relação fiel com os clientes
Lancheria do Parque comemora 40 anos em mesmo ponto no Bom Fim
Isadora Jacoby
O negócio, que atravessa gerações, celebra a relação fiel com os clientes
É em frente à Redenção, bem no meio da Osvaldo Aranha, que está um dos negócios mais icônicos de Porto Alegre. Desde 1982, a Lancheria do Parque ocupa o número 1.086 da avenida que se estende ao longo do Bom Fim. Do suco servido na jarra de liquidificador, os pedidos feitos em alto e bom som atravessando o salão, ao boné vermelho que compõe o uniforme: a Lanchera, como é conhecida, coleciona características que a tornam um espaço único e amado por uma clientela fiel e em constante renovação.
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É em frente à Redenção, bem no meio da Osvaldo Aranha, que está um dos negócios mais icônicos de Porto Alegre. Desde 1982, a Lancheria do Parque ocupa o número 1.086 da avenida que se estende ao longo do Bom Fim. Do suco servido na jarra de liquidificador, os pedidos feitos em alto e bom som atravessando o salão, ao boné vermelho que compõe o uniforme: a Lanchera, como é conhecida, coleciona características que a tornam um espaço único e amado por uma clientela fiel e em constante renovação.
Neomar José Turatti, 57 anos, conta que começou no negócio ainda adolescente, quando tinha 13 anos, ao lado do tio, Ivo José Salton, 70, fundador da operação. Inicialmente, a família trilhou os cerca de 150 quilômetros que separam Encantado de Porto Alegre para operar um negócio próximo da Rodoviária. Aquela lancheria - que ainda não era a Lanchera, chamada Risotejo - não funcionava aos domingos. O dia era reservado para os jogos de futebol. "Vínhamos na Redenção para jogar. Foi aí que vimos que o Bom Fim era um bairro muito bom, o lugar ideal para colocar uma lancheria e começamos a buscar um ponto para colocar uma loja aqui", lembra Neomar sobre o início do negócio. "Abrimos a Lancheria do Parque em 1982. Na época, as pessoas se perguntavam o que uns italianos iam fazer no meio dos judeus, porque é um bairro tradicional. Mas sempre fomos muito bem acolhidos. É muito bom fazer parte do Bom Fim", garante Neomar.
Ser um negócio familiar é uma característica fundamental da Lancheria do Parque. Passados os primeiros anos, o negócio se tornou uma cooperativa com os funcionários mais antigos. "Colocamos esses garçons mais antigos como sócios, virou uma cooperativa. Criamos um laço de amizade muito grande", conta Neomar.
Outro ponto que identifica a Lanchera é o sistema de atendimento - ou a ausência dele. Se os negócios adotam comandas eletrônicas e QRcodes, as cerca de 2 mil pessoas que passam por lá diariamente são atendidas na base do grito, mas com muita gentileza, garante o empreendedor. O garçom, diretamente da mesa, comunica o pedido em voz alta para a pessoa que comanda a chapa ou está preparando os sucos e é assim que a banda toca. "Nós tivemos funcionários que não aguentaram trabalhar um dia aqui. Depois que acostuma, é natural. Se não gritar, não é a Lancheria", diverte-se Neomar.
Estar há 40 anos em um mesmo ponto torna o negócio uma testemunha das mudanças do bairro. "Quando nós começamos, o bairro era boêmio, muitas bandas foram criadas aqui. O Nei Lisboa, o Bebeto Alves, o Alemão Ronaldo, toda essa turma vivia aqui. Pegamos os punks, os darks, os boêmios e, agora, estamos vivendo a geração saúde. Antigamente, era mais cerveja e trago, hoje é mais suco", compara Neomar, revelando que, há 10 anos, gastava cerca de 1 tonelada de açúcar por mês e, agora, pouco passa dos 100 quilos.
Apesar das transformações, há uma característica que não muda. O Bom Fim é um bairro acolhedor, e é isso que eles transmitem para os recém-chegados. "Nós fomos muito bem recebidos pelo bairro, e tentamos dar muito suporte para o pessoal. Todo comerciante que chega aqui recebe muita força", afirma.
Durante a pandemia, o espaço ficou fechado por oito meses e desligou todos os funcionários. "Agora, já recontratamos quase todos, só uns cinco que foram para o Interior e preferiram não voltar", conta Neomar, lembrando de um momento que viveu ao lado do tio no período. De portas fechadas, ele via Seu Ivo preparar a Lanchera, mesmo que não fosse receber clientes. "Durante os oito meses que ficamos fechados, eu olhava nas câmeras e, todos os dias de manhã, via ele aqui dentro. Pegava um pano, passava nas mesas e ia embora", emociona-se.
Das tantas histórias que se acumulam ao longo das quatro décadas de um balcão agitado, as mais lembradas por Neomar têm uma característica em comum: a relação de amizade que a equipe construiu e segue construindo diariamente com a clientela. "Já cheguei no aeroporto de São Paulo e uma guria gritou perguntando se ia ter Lancheria por lá. Fui para Paris e uma pessoa estava com o boné da Lancheria do Parque. Tem gente que não mora mais em Porto Alegre e, quando volta, vem do aeroporto direto para cá. São 40 anos, praticamente três gerações, gente que veio com os pais e agora traz os filhos. É gratificante trabalhar assim", diz Neumar, revelando o que não pode faltar no pedido para conhecer de verdade a Lanchera: suco, xis coração e filé a parmegiana.