De início, o ponto mais relevante a ser tratado é o porquê empreender. De acordo com Álvaro Fossati, analista de relacionamento com clientes do Sebrae-RS, o interesse pelo empreendedorismo ocorre por dois motivos: oportunidade ou necessidade. E, só depois de identificar em qual dos dois uma ideia se classifica, que se pode partir para a ação. "Oportunidade é quando uma pessoa enxerga algo que sabe fazer bem feito, melhor do que os outros, ou até algo que ainda não esteja sendo feito. Já a necessidade, como se espera, é algo que ela vai fazer para a sua subsistência, então, muitas vezes, não é a área que ela tem o melhor domínio", explica o especialista, que reforça o quão importante é, para o potencial empreendedor, trabalhar com algo que goste.
"O empreendedorismo traz muita carga horária mesmo. Alguns pensam que vai ser tranquilo por já cumprirem oito horas diárias de jornada de trabalho como empregado, mas o empreendedor trabalha muito mais do que isso. Precisa ser um segmento satisfatório para que essa pessoa consiga se dedicar e se sentir bem, porque todo dia vai surgir algum empecilho, e, se for algo que ela não gosta tanto, não vai ter a força necessária para superar esses obstáculos", ressalta, partindo para o próximo ponto: estudo de mercado.
Seja por oportunidade ou necessidade, é essencial pesquisar sobre o mercado que pretende atuar. "Esse potencial empreendedor precisa estudar e conhecer o segmento que vai fazer parte. O crucial, nesse momento de início, é tentar fazer o que chamamos de modelagem de negócios", indica. Trata-se de tirar as ideias da cabeça e colocar no papel, apostando em uma ferramenta que viabilize o indivíduo a enxergar toda a sua futura empresa, dessa vez, fora da sua própria mente. Uma fácil e acessível sugestão é o Canvas, ferramenta de planejamento estratégico. "Do público-alvo ao relacionamento que ela vai ter com os seus clientes, concorrência, serviços, produtos. Nessa parte, entra a construção da ideia do negócio", descreve o analista, destacando que toda essa etapa é, e deve ser, moldável. "Muitas vezes, vão haver mudanças. Nem sempre o que essa pessoa pensou de início vai dar certo, podem ter conversões", expõe.
A partir daí, com todas as ideias alinhadas, o próximo passo é a realização de um plano de negócios. "É como colocar o trilho no trem para poder ir de uma estação a outra. É o caminho que o empreendedor deseja percorrer", compara. É nesse momento que surgem pilares muito importantes para uma empresa, como missão, visão e valores, mas também é quando se realiza o planejamento financeiro. "Aqui, entram os custos que a empresa vai ter, as despesas e o potencial de receita", explica. Em uma rápida busca pelo Google, é possível encontrar diversos exemplos de planos de negócios, mas Álvaro reforça que a presença de um especialista pode ser de grande ajuda nesta etapa.
Por ser uma construção trabalhosa, o plano pode levar de dois a três meses para ficar 100% pronto, mas é ele que servirá de base para o negócio. Após finalizado, inicia-se a fase de execução. "Tudo aquilo que ele pensou lá no modelo de negócios, tudo que ele colocou no plano, agora vai ser feito, porque ele já tem a projeção de vendas, lucro, faturamento. Tudo isso vai impactar para a abertura efetiva do negócio, saber quanto será investido, capital de giro nos primeiros meses, que sempre são os mais críticos, para que a empresa comece a operar de forma satisfatória", justifica o especialista.
Todos esses passos podem ter parecido muito trabalhosos, e, de acordo com Álvaro, realmente são. "É importante ter em mente que empreender é muito cansativo, mas um negócio é muito mais efetivo se conta com essa etapa prévia de estudo e planejamento", reflete o analista, citando, como exemplo, o modelo de franquia. "Porque quando alguém se torna franqueado, o negócio normalmente dá certo? Porque já foi estudado, pensado sobre o mercado, sabe-se o público alvo, o preço correto. Foi feito tudo que o pequeno empreendedor tenta fazer sozinho", pontua.
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Físico e digital podem andar juntos
Escolher a melhor localização para o teu negócio envolve tanto escolher um ponto físico quanto avaliar se existe a necessidade de ter um. Em muitos casos, ter presença digital, com um e-commerce que funcione bem, pode ser o caminho. O que vai ser decisivo nesta etapa é o produto ou serviço a ser trabalhado e o que ele demanda.
Álvaro garante que tudo depende da característica do negócio. "O ideal, que trabalhamos hoje no Sebrae, é ter os dois. Contar tanto com a loja física quanto a parte virtual", afirma. Mas isso não quer dizer que o empreendedor precisa, necessariamente, vender por ambas plataformas. Trata-se apenas de ter presença digital e divulgar o produto. "Se é um prestador de serviço, ele não vai ter a loja física, mas precisa de uma rede social ativa e propositiva, daí entramos na comunicação, como WhatsApp e Instagram, para fazer com que a mensagem desse trabalhador seja conhecida", explica.
Flávia Murr, especialista em marketing para pequenos negócios, ressalta que, antes de "brigar" por um espaço dentro do Instagram, é preciso fazer o básico, ou seja, o Google. "Quando uma pessoa quer alguma coisa, encontrar algo, o canal de pesquisa principal é o Google, então sempre pergunto para os empreendedores: tu estás no Google? Tu tens site?", enfatiza. De acordo com Flávia, perfis nas redes sociais são apenas alugados, então é essencial um canal próprio antes de apostar em outros. "É fazer o básico primeiro. Só no Google tu colocas todas tuas informações como horário de funcionamento, localização, perguntas frequentes, esse é o primeiro passo para o teu negócio. Fazer o básico bem feito", assegura a especialista.
Identificando e se relacionando com o público-alvo
Durante o processo de construção de um negócio, é importante que o empreendedor saiba quem é o seu cliente. Segundo Flávia, é preciso, além de identificar o público, conhecê-lo o máximo possível. "Quando o empreendedor entende quem são essas pessoas, ele vai poder falar sobre coisas que importam para elas, e, a partir daí, traçar um perfil mais detalhado daqueles que consomem o seu produto", explica.
A especialista comenta sobre a errônea decisão de algumas empresas em "vender para todo mundo". Apesar do objetivo final de um negócio ser sempre vender mais, é preciso ter um olhar atento para quem são as pessoas que se beneficiam do produto ou serviço oferecido, pois toda a comunicação da empresa será feita pensando nelas. "É como se fosse um canhão de luz, o empreendedor vai jogar em uma direção, em um tipo de pessoa. As laterais também podem pegar outras pessoas, mas não serão o foco. Ter um público-alvo não quer dizer que não irá vender para mais nenhum público, mas a empresa vai ter um norte para trabalhar", esclarece.
Uma dica que a especialista dá para o potencial empreendedor é entender, antes de abrir o negócio, onde o futuro público-alvo está. "Quem está atendendo as necessidades do seu público agora? Quem é a tua concorrência e o que ela está fazendo? Como ela se comporta nas redes sociais?", diz. Essas são algumas das perguntas que podem auxiliar nesse processo, compartilha Flávia.
De acordo com a profissional, é muito mais fácil olhar para o outro do que para si mesmo. "Isso é do ser humano, ter dificuldade de olhar para o nosso, mas, quando olha para fora, para o outro, é mais fácil de identificar vantagens e desvantagens", opina.
A especialista reforça que, para um negócio ter sucesso, o marketing é essencial.
"Sempre sugiro voltar lá para a raiz do marketing, ler Kotler, teorias antigas que já diziam que um produto precisa encantar, criar relacionamento, entregar valor. Teu público precisa ver que não é só um vestido, é empoderamento", compartilha.
Ainda sobre a divulgação de um negócio, Flávia acrescenta que expor o preço do serviço ou produto não é opcional, mas essencial. "Está na lei, é preciso divulgar o preço. Se alguém achar o preço caro e não quiser comprar, é porque essa pessoa não tá vendo valor em adquirir o serviço. Ela não é o público-alvo, e, nessa de esconder o preço, o empreendedor vai perder tempo respondendo e conversando com aquela pessoa, sendo que ela não vai comprar", complementa.
Categoria: MEI, micro, ou pequena empresa
Para descobrir qual categoria se encaixa melhor ao seu negócio, é preciso entender mais sobre a Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE). A ferramenta, obrigatória a todas pessoas jurídicas, é utilizada para determinar quais atividades são exercidas por uma empresa.
Se o empreendedor abre seu negócio por conta própria, não tem sócios e conta somente com um funcionário, ele se classifica como Microempreendedor individual (MEI). "É uma alternativa melhor para começar, porque o empreendedor consegue ter um custo operacional tributário mínimo", pontua Álvaro. Mesmo sendo MEI, o negócio deve emitir nota fiscal. A receita anual declarada deve ser igual ou inferior a R$ 81 mil. Ultrapassando esse valor, o negócio migra para o formato de microempresa.
Ainda podendo ser individual, a microempresa trata-se de uma sociedade simples, que pode contratar até três funcionários. A diferença, nesse caso, é que, mesmo que o empreendedor consiga dar conta da parte tributária e administrativa da empresa, esses números precisam passar por um contador. Nesta categoria, a receita anual pode chegar a R$ 360 mil.
Já a empresa de pequeno porte pode ter um faturamento de até R$ 4,8 milhões. "É uma empresa mais robusta, que, normalmente, emprega uns 10 funcionários", classifica. Álvaro reforça que para as empresas crescerem o planejamento estratégico é fundamental. "O empreendedor brasileiro não tem essa prática de planejar, mas isso é fundamental para evitar que o passo seja maior do que as pernas", admite. Além da categorização da empresa, o plano estratégico também auxilia o empreendedor na hora de expandir.
Cinco dicas para o potencial empreendedor
1. PLANEJAMENTO
Pense, estude e planeje cada passo do seu negócio. Desde a embalagem do produto, atendimento e relação com o cliente. Coloque no papel tudo o que você deseja para o seu negócio e avalie se é viável.
2. INOVAÇÃO
Não dá para ficar fazendo tudo igual ao que sempre foi feito. Acompanhar o mercado e trazer inovação é imprescindível para qualquer negócio. E essa inovação não precisa ser tecnológica, pode ser uma inovação nos processos da empresa, por exemplo. É preciso manter-se atualizado e acompanhar as mudanças.
3. PÚBLICO
Preste atenção no problema do cliente e o resolva. O público-alvo precisa ter uma vida pior sem o produto que a empres está oferecendo. Então, esteja atento aos problemas e em como facilitar a vida da clientela.
4. MARKETING
Entenda o melhor tipo de divulgação para o seu negócio. Cada empresa exige um marketing próprio para o seu produto ou serviço. Descubra qual é o seu e trace uma estratégia, não só de divulgação, mas de relacionamento.
5. COMUNICAÇÃO
Organizar, antes de tudo, os canais básicos de comunicação: WhatsApp, Google e site. E, só depois do essencial, partir para as redes sociais como Facebook, Instagram, TikTok, avaliando quais delas faz mais sentido para o teu negócio.