Muitos elementos são decisivos na hora de abrir um negócio. O segmento, a solução oferecida à comunidade e, claro, onde ele vai estar situado são pontos que estão no checklist de quem deseja ter um espaço físico, seja para receber o público ou para uma operação administrativa. Diversos empreendedores e empreendedoras que passam pelas páginas do GeraçãoE apostam nos bairros na hora de percorrer esse caminho. Conhecer as especificidades da região e oferecer, de forma assertiva, o que determinada comunidade precisa pode ser uma receita bem sucedida.
Neste mês, Porto Alegre foi eleita a 6ª melhor cidade para empreender no Brasil, segundo estudo realizado pela Escola Nacional de Administração Pública (Enap) e pela Endeavor. No entanto, a população de mais de 1,4 milhão de pessoas que ocupa os mais de 80 bairros da capital gaúcha, certamente, encontra cenários diferentes.
De acordo com levantamento feito pela Diretoria de Informação e Políticas Públicas e pela Diretoria de Microcrédito e Empreendedorismo da prefeitura em 2021, Porto Alegre tem 97.030 MEIs e MEs registradas. O Sarandi, na Zona Norte, segundo bairro mais populoso da cidade, é o que possui mais registros nas categorias: são 4.732, que representam 5% do total.
O levantamento aponta ainda que, em termos de empreendedorismo formal, Centro Histórico, Rubem Berta, Restinga e Lomba do Pinheiro completam os cinco bairros mais relevantes de Porto Alegre. Juntos, contam com quase 1/5 do total dos MEIs e MEs. Entre os segmentos com mais registros na Capital, as atividades de cabeleireiros e manicures (7.580), comércio varejista de vestuário e acessórios (5.891), atividades de publicidade (4.033), serviços de construção (3.886) e serviços de catering e bufê (3.222) representam 1/4 das atividades de MEIs e MEs no município.
Paulo Bruscato, gerente Regional Metropolitana do Sebrae-RS, pontua que, com a pandemia, os limites físicos das regiões da cidade perderam força em virtude do crescimento digital dos negócios. No entanto, isso não deve diminuir a atenção ao entorno na hora de abrir um negócio. "O empreendedor precisa entender quanto os seus canais digitais, somados a seus canais físicos, focam só no bairro ou podem transcender", ressalta. O especialista destaca que, além do crescimento digital, a pandemia trouxe outros pontos que podem ser analisados por quem deseja abrir um negócio mirando na região. A modalidade do takeaway, por exemplo, ganha força na proximidade física entre cliente e negócio.
Outro ponto é a relação de confiança entre consumidor e empreendedor, que pode ser uma aliada na sustentabilidade do negócio, principalmente em momentos de crise. "Algumas pessoas estão com tanta dificuldade de consumir que vão olhar preço, mas esse nível de consciência cresce quando se tem esse comprometimento mais olho no olho da confiança. O teu filho brinca com o filho da vizinha, vocês estão no mesmo bairro, tu estás sentindo a dificuldade que o teu vizinho está passando, e aí fazes questão sim de compra no bairro", pondera.
Quem está empreendendo em um mesmo bairro há muito tempo e percebe mudanças no perfil dos moradores e consumidores da região deve ponderar se adequar o negócio é sempre o melhor caminho. "Por exemplo, tenho um bar e vendo cerveja para comunidade classe D. Se chegou um novo condomínio, o morador provavelmente não vai ir comprar cerveja no meu bar, por mais que seja mais barata. Tem que fazer uma análise de nicho, entender quem é esse novo consumidor que está entrando, e, se for o caso, reposicionar o seu negócio ou não", ressalta.
"Novos elementos precisam entrar no raio de olhar do empreendedor. Quem tem um negócio precisa, praticamente, reabrir o seu negócio todo ano. E isso envolve fazer uma análise competitiva da sua empresa, identificar concorrência, novas oportunidades, entender os clientes", diz o especialista, indicando que, antes de fazer qualquer reestrutura no negócio para atender às transformações do público, o empreendedor deve testar para entender se é o caminho indicado.
"Há bairros que estão em crescimento. Você precisa ficar atento a isso, mas só mudar o seu negócio após fazer testes. Precisa entender se isso vai conversar com uma mudança simples ou complexa da sua empresa e analisar como o dinheiro anda no bairro, quais são as principais demandas. Assim, você vai conceber seus produtos e soluções para atender essas necessidades", alerta.