Quando o restaurante em que trabalhava fechou, por conta da pandemia, o cozinheiro Jonas Azambuja, 33 anos, se viu desempregado e obrigado a tomar uma atitude. Em maio de 2021, abriu as portas do seu primeiro negócio. Ao lado do antigo colega de trabalho e atual sócio, Guilherme Chagas, 32, o empreendedor está à frente do Café e Cozinha .ZERO, na Dona Augusta, nº 48.
“Tanto eu quanto o Guilherme sempre tivemos vontade, mas nunca houve a oportunidade, então a pandemia acabou resultando nisso. Tínhamos que fazer alguma coisa. Foi empreendedorismo por necessidade”, explica Jonas. Ainda que o negócio tenha sido inaugurado durante um período conturbado, o sócio afirma que o empreendimento está sendo a realização de um sonho. “Apesar de o mercado da gastronomia ser muito difícil, com salários baixos e pouca valorização do nosso trabalho, abrir um espaço próprio significa ter a possibilidade de colocar lá dentro tudo aquilo que tu acreditas e gostaria de ver no mundo, e é isso que fazemos aqui”, garante.
Uma das iniciativas aderida pelos sócios é o “pensar fora da caixa”, como diz Jonas. “Sempre tentamos encontrar uma utilidade para o que normalmente seria descartado, como talos, cascas e folhas de vegetais, por exemplo”, explica. Uma dica, segundo o empreendedor, é evitar o descasque de alimentos. “Muitos vegetais, se bem limpos, não precisam ser descascados, como cenoura, batata e beterraba. É o que fazemos aqui. Folhas que acabam sobrando utilizamos muito em saladas, já os talos vão para os nossos salgados, temos empanados feitos apenas de talos de beterraba, cenoura e outros vegetais. É tentar utilizar o alimento por inteiro, do talo até a casca dele”, declara.
Outra situação que acaba sendo muito comum em restaurantes, segundo Jonas, é o excedente de algum alimento. “Muitas vezes o desperdício vem pelo excesso, seja uma conta que foi feita errada ou a demanda que não foi tão alta como esperado. Uma sugestão é sempre tentar algum tipo de conserva. Seja um caldo de frutas, suco, molho, qualquer coisa que possa ser utilizado”, afirma. Como última alternativa, o restaurante possui a própria composteira de minhocas, então, aquilo que não pode ser aproveitado, como restos de pratos que já foram servidos, acabam indo para lá. “Também trabalhamos em parceria com a Arco Reciclagem e Compostagem, que faz gestão de resíduos para restaurantes, então o que não vai para a nossa própria composteira, vai para a Arco. Ainda acaba sendo um desperdício, de certa forma, mas estamos levando esse vegetal de volta para a natureza em forma de composto, o que já ajuda muito”, expõe.
O empreendedor reforça que uma das propostas do espaço, além de gerar esse questionamento sobre desperdício e resíduo de alimentos, é fazer com que o público enxergue vegetais, frutas e verduras de outra forma. “Aqui não somos vegetarianos, preferimos nos definir como reducionistas. Ainda trabalhamos com carne porque existe essa demanda, mas oferecemos outras opções para que também entendam que não é preciso depender só da carne”, conta.
Fugindo do clássico conceito de montanha-russa, Jonas descreve a experiência como um castelo de cartas. “Tu podes achar que está tudo bem, as pessoas estão gostando e está tudo indo ótimo, mas se uma coisinha dá errada, tudo desmorona. É sempre preciso estar atento e nunca pensar que tudo está perfeito e nada vai atrapalhar”, expõe.
Mas a recepção do público, de acordo com o sócio, vem sendo muito melhor do que o esperado. “Já possuímos vários clientes fiéis, seja no almoço, café ou aos sábados, e acredito que, dado o contexto de pandemia, estamos tendo uma aceitação muito boa da vizinhança”, afirma. O objetivo é tornar-se referência na região em que estão situados, tanto pelo atendimento quanto pela comida. “Já recebemos muitos feedbacks positivos, mas ainda queremos crescer, poder fazer a comida e oferecer a experiência que a gente acredita”, completa. O plano, para os próximos meses de trabalho, é iniciar com a operação noturna, oferecendo outra vivência para a clientela.