Do delivery ao home office, passando pelas escolhas de moda, empreendedores se adaptaram para atender às demandas

Negócios gaúchos são transformados pela pandemia


Do delivery ao home office, passando pelas escolhas de moda, empreendedores se adaptaram para atender às demandas

O ano nem terminou ainda, mas já é possível sentenciar: 2020 foi transformador para os negócios. A pandemia e suas consequências, como o distanciamento social, mudaram as possibilidades de consumo e a relação dos clientes com os empreendimentos. Não poder ir regularmente a um restaurante querido, passar a trabalhar em casa e não sair todos os dias. Isso tudo fez com que novas demandas surgissem, desde os móveis do local de trabalho até as roupas usadas no dia a dia para permanecer em casa. 
O ano nem terminou ainda, mas já é possível sentenciar: 2020 foi transformador para os negócios. A pandemia e suas consequências, como o distanciamento social, mudaram as possibilidades de consumo e a relação dos clientes com os empreendimentos. Não poder ir regularmente a um restaurante querido, passar a trabalhar em casa e não sair todos os dias. Isso tudo fez com que novas demandas surgissem, desde os móveis do local de trabalho até as roupas usadas no dia a dia para permanecer em casa. 
No segmento da gastronomia, o delivery foi a saída encontrada para manter as operações, mesmo com espaços físicos fechados por meses. Muitos locais aderiram à modalidade durante a pandemia. Foi o caso da Oh Brüder, cafeteria da Zona Norte de Porto Alegre. João Otto, 31 anos, sócio do espaço com Renato Hahn, 59, conta que eles criaram como uma alternativa a caixa brunch, para levar a refeição, até então servida somente no espaço físico aos sábados, à clientela. "Não tínhamos nada de delivery e takeaway. Quando chegou a pandemia, descobrimos que não só eu, mas também meu sócio e dois baristas tinham carteira de habilitação para moto. Já tínhamos duas motos e dois amigos emprestaram mais duas. Da noite para o dia, viramos baristas, donos de café e entregadores. Foi uma loucura, e foi o que fez o nosso negócio se sustentar", relata João. 
Nos últimos meses, foram mais de 15 mil kits entregues por eles na casa de seus clientes. "Foi um baque, porque abrimos um braço que não tínhamos e ele começou a ser o faturamento principal. Nos surpreendemos com essa demanda", conta. O bom desempenho do formato deu frutos para a marca, que agregou um setor de marketing à operação, está lançando um e-commerce com itens que levam o nome da cafeteria e abrirá uma nova unidade, em outubro, no bairro Bela Vista. As entregas feitas pela dupla foram fundamentais para a abertura da filial. "Tínhamos dúvida se era o momento, já que todo mundo estava enxugando ao máximo. Mas o que nos deu confiança é que, dentro das entregas feitas por nós, fomos descobrindo que vários dos nossos clientes estão nesse bairro. Então, avançamos com a certeza de já ter uma demanda ali", explica João. 
O brunch da Oh Brüder custa R$ 75,00 e leva pães de queijo, pão da casa, salame, queijo, manteiga, geleia, creme de cinna, panquecas americanas, cookies e cinnamonrool: tudo produzido no espaço. A caixa conta, ainda, com café moído na hora, para que o consumidor tenha a mesma experiência do espaço físico. "O nosso insight foi pegar o café especial que usamos, moer ele antes de sair, deixar superfresco. Na caixa, mostramos o passo a passo para o cliente ter a mesma experiência da cafeteria. Mostramos como esquentar os produtos, como filtrar o café", pontua o empreendedor. Há kits individuais que partem de R$ 24,00. 
Para João, a pandemia fez com que ele e o sócio percebessem o valor da marca de uma forma diferente, o que provocou um processo de rebranding e a vontade de que mais produtos levem o nome da Oh Brüder. "Vimos que a nossa marca se tornou um presente e um alívio para quem estava em um momento de isolamento. Decidimos, então, explorar isso de uma maneira mais inteligente para que tivesse uma experiência mais profunda. No e-commerce, vamos lançar uma linha de madeira. Tudo que servimos no café é em tábua de madeira com design bem diferente, e isso tudo vai poder ser comprado por lá", detalha. 
Mesmo com as portas abertas para receber clientes no espaço físico agora, o delivery, que antes não existia, segue sendo um braço importante da operação. "Percebemos que, por mais que o café esteja aberto, o volume de pedidos para entrega continua igual. É uma maneira das pessoas levarem carinho para outras."

Coworking aluga kit home office na Capital

A pandemia de Covid-19 impactou diretamente as formas de trabalho. De um dia para o outro, diversas empresas aderiram ao formato de trabalho remoto a fim de evitar o contágio entre os funcionários, que tiveram de adaptar as suas casas para a nova rotina. Percebendo que muitas pessoas não têm uma estrutura adequada, a Flowork, coworking com sede em Porto Alegre e em Curitiba, passou a oferecer o aluguel de cadeiras e mesas para home office.
A ideia, segundo Daniel Pocztaruk, sócio da operação, surgiu a partir da demanda das empresas que estão alocadas na sede em Porto Alegre. "Foi uma demanda interna dos clientes que começaram a não usar as estruturas físicas e passaram a nos solicitar que pudessem levar as cadeiras ou mesas para casa. Em um primeiro momento, estávamos fazendo isso de uma forma cordial com nossos clientes através de um termo de garantia. Mas começou a surgir demanda de pessoas que não eram nossos clientes", explica Daniel. Foi assim que ele percebeu que o que, até então, era uma facilidade para seus clientes poderia virar um produto. "Foi uma forma de darmos uso para nossas 700 cadeiras que, do dia para noite, ficaram vazias. Uma solução que, hoje, a gente acredita ser um produto", pontua.
Antes da pandemia, a Flowork já oferecia o serviço de escritório virtual a partir de R$ 147,00. Nessa modalidade, o usuário tem gestão de correspondência, desconto no uso de salas para reuniões presenciais e pode usar o endereço do coworking para fins comerciais, como em cartões de visitas e site. A partir da contratação de um plano, o custo do aluguel da cadeira é feito por mais R$ 100,00 por mês, mesmo valor para ter uma estação de trabalho em casa. A contratação do kit completo de mesa e cadeira sai por R$ 180,00 mensais. "As nossas estações têm diferentes tamanhos, seguem as normas das multinacionais", explica o sócio, afirmando que o custo da cadeira oferecida no pacote é, em média, de R$ 1,5 mil.
Daniel adianta que, em breve, devem ser lançados pacotes trimestrais, semestrais e anuais, com descontos de acordo com o período contratado. "Corremos para atender e, agora, estamos formatando de acordo com a demanda que vai entrar", pondera o sócio da operação, relatando que a experiência dos clientes que já fazem uso do serviço tem sido positiva. "Depois que você tem um cadeira profissional, uma boa estação de trabalho, há muita dificuldade em trabalhar na mesa de jantar ou em um lugar adaptado. Acho que traz mais produtividade. Não conseguimos elaborar nenhum estudo, mas o feedback dos clientes tem sido fantástico", destaca Daniel.
Operando desde 2017, a Flowork funciona como um ambiente compartilhado para empresas, mas com escritórios privativos. Daniel acredita que a pandemia fortaleceu o conceito de espaços compartilhados para companhias, já que reduz custos, inclusive na hora de encerrar a operação. "Todas as empresas que fecharam escritórios tiveram custos altos, negociar condomínio, luz, internet, funcionários. E os clientes da Flowork fizeram somente uma negociação com a gente. Acreditamos que tem um movimento muito grande vindo para compartilhamento e a Flowork vai ter que atender, de alguma maneira, online, home office, ser virtual. Vamos ter que criar soluções diferentes que atendam esse novo normal", acredita Daniel. A taxa de ocupação do espaço era de 98% em março deste ano. Agora, está em 70%, o que, para ele, prova a aposta das grandes corporações nesse formato de escritório. "As grandes empresas, que tinham suas sedes, devem acabar parando em ambientes compartilhados, flexíveis, que possam aumentar e diminuir conforme a necessidade. É uma revolução que está sendo promovida a força, ninguém se preparou pra isso."
Por enquanto, os produtos oferecidos nos kits de home office já faziam parte do mobiliário da empresa. A ideia é que, a partir da demanda, sejam oferecidas peças mais adaptáveis.
 

Marca gaúcha all sizes aposta em coleções para ficar em casa

Se antes da pandemia algumas pessoas tinham receio de fazer compras online, a modalidade ganhou força com lojas físicas fechadas nos últimos meses. Mesmo quem já estava inserido no universo digital teve de criar estratégias para manter o interesse dos consumidores.
Thayna Candido, 35 anos, proprietária da Chica Bolacha, marca que produz roupas de todos os tamanhos em Porto Alegre, analisa positivamente a performance do negócio na pandemia. A marca autoral, produzida desde 2001, ganhou uma coleção de roupas para ficar em casa, o que rendeu, segundo a empreendedora, um dos melhores resultados de venda da Chica Bolacha. A ideia surgiu a partir de uma necessidade própria de ter roupas confortáveis para trabalhar de casa que não fossem pijamas. "Quando começou a pandemia, pensei que ninguém compraria roupa de sair para rua, porque não era o clima. Nos inspiramos em nós mesmas, no que gostaríamos de usar agora, que não fosse pijama. Então, fizemos os conjuntos de ficar em casa. Conseguimos ousar um pouco mais nas estampas e foi um sucesso absurdo. Foi um dos meses que mais vendemos na história da marca. Entendemos uma necessidade que as pessoas não sabiam que tinham", orgulha-se Thayna, que vende, em média, 2 mil peças por mês. 
Por coincidência, pouco antes da pandemia, em fevereiro, a marca fechou a sua loja física, em Porto Alegre, para direcionar os esforços todos para o online. "Foi um timing perfeito. Nem acreditamos na sorte de ter tido esse insight antes da pandemia. Resolvemos aumentar a produção, que é 100% local e feminina, e concentrar isso de uma forma mais sustentável, que tivéssemos mais controle de onde vem nosso produto. Migramos toda a nossa produção para uma fábrica bem grande em Porto Alegre e estamos operando só com o virtual", explica. 
As peças, que vão do número 38 ao 60, agora são vendidas somente pelo ecommerce da marca (www.lojachicabolacha.com.br). Por lá, é possível encontrar a coleção de verão para ficar em casa, dando continuidade a ideia surgida no início da pandemia. As peças partem de R$ 109,00. "Vamos manter sempre essa coleção de ficar em casa, porque é uma coisa que deu super certo. Mas entendi, também, pela necessidade das clientes, que as pessoas estão precisando de roupas normais de novo, para sair de casa, para tentar voltar à normalidade, resgatar sua essência, ter mais vaidade. Então, também lançamos a coleção de verão normal que sempre fazemos", pondera Thayna. A empreendedora acredita que os últimos meses foram positivos para quem trabalha com ecommerce e soube aproveitar a demanda.