Dedicação cinquentenária à pesquisa merece prêmio especial

Engenheiro agrônomo Moacir Cardoso Elias será homenageado com o Prêmio Especial O Futuro da Terra

Engenheiro agrônomo Moacir Cardoso Elias será homenageado com o Prêmio Especial O Futuro da Terra


Éder Rodrigues/Divulgação/JC
Cinco décadas de docência e pesquisa serão homenageados no dia 28 de agosto, no Parque de Exposições Assis Brasil, em Esteio, durante a 46ª Expointer. É quando o currículo do engenheiro agrônomo Moacir Cardoso Elias - robusto ao ponto de preencher esta página com um simples copia e cola - lhe renderá o prêmio especial do 27º Troféu O Futuro da Terra, concedido pelo Jornal do Comércio e pela Fapergs (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul).
Cinco décadas de docência e pesquisa serão homenageados no dia 28 de agosto, no Parque de Exposições Assis Brasil, em Esteio, durante a 46ª Expointer. É quando o currículo do engenheiro agrônomo Moacir Cardoso Elias - robusto ao ponto de preencher esta página com um simples copia e cola - lhe renderá o prêmio especial do 27º Troféu O Futuro da Terra, concedido pelo Jornal do Comércio e pela Fapergs (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul).
Prestes a se aposentar como professor da UFPel (Universidade Federal de Pelotas) e à beira de completar 75 anos, ele se diz surpreso e feliz por ter alcançado o respaldo dos colegas de profissão. Elias teve o nome indicado à premiação por todas as associações de engenheiros agrônomos do Estado e pela Sociedade de Agronomia do Rio Grande do Sul.
Não é para menos. Graduado em 1972, ele é doutor em Agronomia, licenciado em Química e livre docente em Tecnologia de Produtos de Origem Vegetal e professor titular do Departamento de Ciência e Tecnologia Agroindustrial da Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel, a mais antiga em atividade ininterrupta do País. Acumula, ainda, os títulos de especialista em Metodologia do Ensino Superior pela, Ufrgs (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), e mestre em Tecnologia de Alimentos, pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
Mais do que isso, Moacir Elias tem no sangue a verve dos obstinados. E, talvez, impulsionado por esse espírito inquieto, construiu uma trajetória que lhe rendeu a honraria pelo conjunto da obra. Afinal, o Prêmio Especial é concedido, a cada edição, a apenas um pesquisador ou pesquisadora com reconhecidos méritos por sua contribuição para o avanço do conhecimento em alguma das áreas do agronegócio, inquestionável em sua atribuição. O perfil encaixa como uma luva no agraciado deste ano.
Natural de Canguçu, ele fundou, em 1978, e coordena o Laboratório de Pós-Colheita, Industrialização e Qualidade de Grãos, setor do Departamento de Ciência e Tecnologia Agroindustrial da UFPel. A unidade é referência do setor na América Latina, e os trabalhos ali desenvolvidos têm papel preponderante para auxiliar a entender e explorar ao máximo as potencialidades de etapas da cadeia de grãos que permitem reduzir perdas e agregar valor ao produto que chega ao consumidor.
"O que fazemos aqui, com a colaboração de pesquisadores do Brasil e de outros países, gera benefícios econômicos e sanitários ao País. Desenvolvemos, por exemplo, uma metodologia de secagem de grãos de arroz capaz de reduzir o número de grãos quebrados. Treinamos do operador dos secadores até o engenheiro que supervisiona esse processo. O Rio Grande do Sul produz 70% do arroz brasileiro, e essa redução nas perdas impacta, obviamente, em toda a cadeia", explica. Para ele, o investimento no pós-colheita é fundamental, pois cresce a importância do trabalho do homem nessa etapa do processo. "A partir desse ponto, não podemos mais atribuir ao tempo ou ao clima os resultados que serão obtidos. Por isso, a exigência em tecnologias após a colheita é muito grande".

Mesmo com a chegada da aposentadoria, pesquisador promete seguir atuando

Movido a trabalho, Moacir Elias já adianta que, mesmo após a aposentadoria da UFPel, não pretende se desligar das pesquisas. Mesmo após ter orientado e ajudado a formar mais de 7 mil engenheiros agrônomos e mais de 200 mestres, doutores e pós-doutores - em estatística própria, vai seguir trabalhando, como é de sua essência. Quando ingressou nesse mercado, recorda, o Brasil era importador de alimentos e tinha cerca de 70% de sua população no meio rural. "Hoje, temos 80% da população em centros urbanos e somos um dos maiores exportadores de alimentos do mundo. Por isso, é fundamental investir em tecnologias, em conhecimento, em ciência e em logística."
Há 50 anos, o pós-colheita era um importante gargalo na cadeia produtiva de grãos do País. Identificar quais as melhores condições de secagem e armazenagem, bem como fazer o controle de pragas e qualificar os profissionais tornou-se ativo valioso.
"Hoje, trabalhamos olhando para o futuro. E o que precisamos é oferecer segurança alimentar e alimento seguro. São diferentes, mas complementares. A segurança alimentar diz respeito a oferta e preço. O alimento seguro significa qualidade e segurança para a saúde do consumidor. Ou seja, produzir quantidade adequada, com qualidade nutricional e sanitária, com preço acessível. Tudo isso com foco na mudança do perfil da população", analisa Elias.
Com a maior parte das pessoas morando nas cidades, os alimentos não são produzidos por esse público. O meio urbano desconhece a produção e não tem tempo para preparar uma refeição rotineiramente. "As pessoas, na rotina das cidades, precisam preparar os alimentos de forma rápida e também poder armazená-los por mais tempo sem que estraguem. Esse é o desafio de hoje: alimentar a população, que é 80% urbana, e ainda atender aos demais mercados. Mais de 40% das receitas brasileiras com exportação vem do agronegócio. As universidades e os centros de pesquisa precisam estar atentos às necessidades da sociedade", destaca o pesquisador.
Ele assegura, aliás, que, em qualidade, as pesquisas desenvolvidas em agronegócio no Brasil estão entre as melhores do mundo. A diferença está na disponibilidade de recursos financeiros para financiá-las. "A qualidade dos profissionais e a integração entre os órgãos de pesquisa são fundamentais. E o intercâmbio de conhecimento traz equilíbrio. Mas é preciso dinheiro para pesquisa e confiança mútua entre órgãos públicos e iniciativa privada", defende o homenageado especial do prêmio O Futuro da Terra.
Com tanta história para contar - e tantos feitos para a ciência -, Elias ainda tem mais um compromisso antes de encerrar o ciclo acadêmico. No dia 13 de setembro, ministrará a palestra inaugural do XXXIII Congresso Brasileiro de Agronomia, na Sociedade Rural de Pelotas. No encontro, cujo tema central é "Formação, Atribuições e Exercício Profissional Pleno da Agronomia no Mundo em Transformação", ele abordará o assunto destacando a necessidade de preservar a identidade da profissão.
"Ao longo dos anos, houve alterações nos currículos do curso, comandadas pelos Ministérios da Agricultura e, a partir das décadas de 1950, da Educação. O lado bom é que isso permitiu, pela autonomia dada às universidades, ocorresse a incorporação de conhecimento na formação dos profissionais. O lado ruim é o risco de, por dificuldades financeiras, os cursos não darem atenção a determinadas áreas. O profissional tem de conhecer toda a cadeia. O grande salto foi na concepção da cadeia produtiva. Para o agronegócio, isso é fundamental", ressalta o professor Moacir Elias.
Por isso, o reconhecimento em vida de sua obra por um prêmio gaúcho. "Não vou comprar pijama novo com a aposentadoria das salas de aula. Ainda há muito a fazer."
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