Pesquisa monitora qualidade do leite de búfala

Trajetória da zootecnista Vitória Di Domênico conta com a implementação de um sistema de acompanhamento de búfalas leiteiras na Ufrgs

Por Amanda Flora

Foi na pesquisa e manejo de bubalinos que a doutoranda construiu sua trajetória
Foi no manejo de bubalinos que a jovem Vitória Di Domênico se encontrou na Academia. A pesquisadora de 27 anos diz que sempre acreditou que seguiria carreira na Medicina Veterinária, cuidando de animais domésticos, como gatos e cachorros. No entanto, foi no curso de Zootecnia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) que a profissional descobriu uma paixão: os búfalos.Desde o início da graduação, a estudante esteve inserida na pesquisa, através da iniciação científica, e não parou por aí. Seu objeto de estudo sempre foram os bubalinos, termo que ela mal conhecia até ingressar numa disciplina com o nome. “Eu lembro de ver na grade de aulas da graduação: produção e manejo de bubalinos, e eu fui pesquisar para descobrir o que era um bubalino”, relembra.Sua trajetória acadêmica está dedicada à bubalinocultura desde a criação no Grupo de Estudos de Bubalinos da Ufrgs (Gebu), em 2018. No seu trabalho de conclusão de curso (TCC), pesquisou a qualidade do leite das búfalas, com o apoio da Associação dos Criadores de Búfalo (Ascribu), mesma entidade em que fez estágio durante a graduação. “Através da própria Associação de Criadores, eu tive a oportunidade de fazer o meu estágio final com búfalas leiteiras na Argentina, lá na província de Buenos Aires. Fiquei três meses por lá, fiz meu TCC sobre qualidade de leite e pensei: é isso aqui que eu quero para minha vida. Agora eu tenho mais certeza ainda”, destaca.Na formatura, em 2020, ela recebeu o prêmio de aluna destaque, concedido pelo Conselho Regional de Medicina Veterinária do Rio Grande do Sul (CRMV-RS). Após finalizar a graduação, algumas dúvidas surgiram e Vitória resolveu fazer um hiato na carreira acadêmica. “Eu me formei e apareceu uma oportunidade de emprego como zootecnista em Farroupilha, numa propriedade de gado holandês”, conta. Porém, logo a pesquisadora sentiu falta da lida com os búfalos e resolveu voltar para a Universidade.Ela ingressou no Programa de Pós-Graduação em Microbiologia Agrícola e do Ambiente da Ufrgs como mestranda e foi orientada pela professora Amanda Motta. Com foco na bubalinocultura, a agora mestranda implementou, junto à orientadora, um sistema de búfalas leiteiras na Estação Experimental Agronômica da Ufrgs, em Eldorado do Sul. A novidade fez ela seguir na pesquisa sobre qualidade do leite de búfalas.“Começamos a fazer toda a adaptação com os animais, todo o acompanhamento nutricional, porque elas não estavam acostumadas com ordenha. E aí a gente começou a conversa de desenvolver um produto. Cogitamos iogurte e mussarela”, explica a pesquisadora. Mas foi na criação de um queijo colonial feito à base de leite de búfala que a profissional se dedicou. “O queijo colonial tem uma importância regional sem tamanho aqui no sul. E aí esse acabou sendo o direcionamento do meu mestrado.”, finaliza.O queijo colonial desenvolvido através da sua pesquisa rendeu prêmios à pesquisadora. Um deles, o prêmio Sérgio Souza Fernandes, promovido pela Associação Sulina de Criadores de Búfalos e celebrado na Expointer. Intitulado "Monitoramento da Qualidade do Leite de Búfala (Bubalus bubalis) Produzido na Estação Experimental Agronômica da UFRGS e Desenvolvimento do Queijo Colonial Bubalino", o trabalho de mestrado de Vitória se tornou destaque em feiras agrícolas, além de ser um valioso material para os produtores de bubalinos.

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Novas tecnologias na reprodução de búfalas

Após o curso de mestrado, Vitória Di Domênico logo ingressou no doutorado, agora no Programa de Pós-Graduação em Zootecnia da Ufrgs (PPGZoo). Sob a orientação do professor Bernardo Gasperin, ela passou a pesquisar a reprodução na bubalinocultura, visando desenvolver tecnologias que resolvessem problemas sazonais para os criadores.

Acontece que a reprodução das búfalas depende de diversos fatores relacionados ao período estacionário do ano, o que acaba dificultando o trabalho dos produtores. “As búfalas são poliéstricas sazonais de dias curtos. Ou seja, elas só vão entrar em cio e emprenhar de forma natural quando os dias forem mais curtos do que as noites. Elas são muito dependentes deste fotoperíodo”, explica a zootecnista.

A pesquisa teve como objetivo auxiliar o trabalho dos produtores e criadores de búfalos com a reprodução, o que, segundo ela, está relacionado ao seu trabalho anterior. “Se todas as búfalas tiverem parido ao mesmo tempo, e entrado em lactação ao mesmo tempo, todas elas vão acabar secando. Ou seja, parando de produzir leite ao mesmo tempo. E aí vai ter a sazonalidade da oferta do leite de búfala no mercado”, pontua Vitória.

A tese busca criar uma tecnologia de reprodução na bubalinocultura que diminua os impactos da sazonalidade na prenhez das búfalas. "A gente está buscando estratégias através de protocolos hormonais de inseminação artificial a tempo fixo para obter índices satisfatórios de prenhez", afirma. Ainda segundo a pesquisadora, esses protocolos auxiliam os criadores de forma permanente e poderia acarretar uma diminuição de preços dos laticínios provenientes do animal.

Mas para isso ter o impacto desejado, os protocolos precisam ser simplificados e acessíveis aos criadores. “A gente não quer desenvolver um protocolo reprodutivo que seja muito mirabolante, tenha muitos manejos ou que seja muito custoso. Assim, ele realmente vai ser eficiente, vai ter algum resultado, vai melhorar um pouco da porcentagem de prenhez, mas vai ser algo que os produtores aqui do Brasil não vão conseguir aplicar. Queremos priorizar algo que seja aplicável. No momento, estamos estudando possibilidades de trabalhar com ajustes finos nos protocolos que já existem e que já são utilizados para melhorar os índices”, finaliza a doutoranda.