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Publicada em 25 de Agosto de 2024 às 16:53

Novas estrelas da Expointer chamam atenção por onde passam

Fazenda Campeãs da Gameleira, de Itapetininga (SP), trouxe dois exemplares de mulas e dois de burros que já viraram atração

Fazenda Campeãs da Gameleira, de Itapetininga (SP), trouxe dois exemplares de mulas e dois de burros que já viraram atração

TÂNIA MEINERZ/JC
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Ana Esteves, especial para o JC
Ana Esteves, especial para o JC
Todos os anos, uma novidade. Esse já virou o mote da Expointer, pois, a cada edição, a grande vitrine do agronegócio gaúcho é palco de raças e espécies estreantes. Dessa vez, dois burros e duas mulas chamam a atenção de quem circula pelas ruas do Parque de Exposições Assis Brasil, em Esteio. Além deles, uma raça ovina, a Dohner Merino participa pela primeira vez da feira para provar que é possível ter boa produção de lã e de carcaça, ao mesmo tempo. A raça bovina Pardo Brasil também está entre as estreantes, uma variedade sintética oriunda do cruzamento do Pardo Suíço com os zebuínos, que torna a pecuária mais produtiva. Entre as raças que retornaram, a bovina Senepol que volta após dois anos e a caprina Saanen, num movimento de retomada da raça no Estado.
O criador de muares, Martin Frank Herman, da fazenda Campeãs da Gameleira, de Itapetininga, interior de São Paulo, trouxe dois exemplares de mulas e dois de burros que já viraram atração durante o primeiro final de semana da feira. O objetivo é justamente esse: aproveitar a Expointer para difundir a espécie no Estado. “A aptidão dos muares é justamente conforto de sela, pois eles marcham, não trotam”, diz.
Segundo ele, ao contrário dos cavalos que trotam, ao montar os muares a pessoa não se mexe na sela durante a marcha. E como o mercado gaúcho é inédito, a ideia é mostrar a tropa para comprovar a qualidade de cômodo. “É como o empresário que tem uma frota de carros populares (os cavalos), mas para ter conforto anda numa BMW (as mulas)”.
Herman participou da edição passada da Expointer com exemplares de jumentos Pêga e, neste ano, repetiu a dose para difundir os asininos entre os gaúchos. As vantagens desses animais são a rusticidade, menor carência nutricional, maior resistência física e resistência a doenças. As mulas e os burros são animais híbridos, resultado do acasalamento entre os asininos (jumentos) e os equinos. Por serem oriundos de duas espécies diferentes, são animais estéreis.
Outra estreante é a raça de ovinos Dohne Merino que tem como principal diferencial a possibilidade de atender tanto o mercado de lã, como o de carne de forma eficiente. O criador da raça, pecuarista Fernando Martins, da Cabanha Mata-Olho, de Livramento, diz que a raça consegue se manter bem entre a produção de lã e a de carcaça, equação em que é bem difícil de encontrar equilíbrio.
“O fiel da balança é o trabalho com genética e seleção que permitem uma raça com a Dohne não perder peso quanto reduzimos a micra da lã. Com ela conseguimos um animal de micragem mais baixa (que é o ideal para o mercado), que não vai perder o perfil carniceiro”, explica Martins. Segundo ele, ambos os mercados de lã e carne encontram-se numa situação boa em termos de demanda. “Se essa pergunta fosse feita há cinco anos, eu diria que estava melhor para a carne, mas hoje está empate, ainda mais após o programa de certificação da lã criado pela Arco (Associação Brasileira de Criadores de Ovinos)”, avalia. A proximidade do Estado com o Uruguai, maior comprador de lã do Brasil, com 11 municípios fazendo fronteira com o pais vizinho, facilita o comércio. “Por isso que a tradição laneira está aqui e o restante do Brasil é carne."
Com a comercialização da lã certificada pela Arco, o produtor chega a receber R$ 18,00 pelo quilo. A lã comum fica em torno de R$ 9,00 o quilo. “Quem tem lã fina, tem que ir para a certificação. Se não, cai na vala comum”, diz Martins. Ele explica que o Dohne tem uma lã semelhante a do Merino, mas algumas micras mais grossa: o Merino tem 16 a 17 micras e o Dohne tem 18 a 19, mas se ganha na carcaça. Além disso, a vitalidade do cordeiro é maior, a mãe é mais leiteira, então é possível criar mais animais, eles são mais resistentes." Para a Expointer, ele trouxe um borrego e duas borregas, já nascidos na propriedade. “Livramento é uma região ovelheira e tradicionalmente laneira, e a raça se adaptou muito bem, os cuidados são os mesmos que se tem com outras raças e a adaptação foi muito boa”, afirma Martins. 
Entre os bovinos de corte, a novidade para este ano é a raça Pardo Brasil, uma cruza entre o Pardo Suíço e o zebu. São nove animais da cabana Nova Esperança, de Glorinha, do pecuarista e presidente da Associação Gaúcha de Criadores de Gado Pardo Suíço (AGPS), Flávio Humberto Tusinho que se orgulha de ser o primeiro gaúcho a trabalhar com essa raça. “Eu criei a raça em 2016, sou o único a criar no Estado e o segundo no Brasil”, conta. Entre os diferenciais da raça ele destaca a precocidade, crescimento rápido, excelente habilidade materna, ideal para a produção de terneiros fortes e que ganham peso rapidamente, garantindo rentabilidade e resistência ao carrapato, como o zebu.
“O peso dos terneiros com oito meses chega a 380 kg e com um ano pode passar de 500 kg”, afirma Tusinho. O pecuarista sempre trabalhou com o Pardo Suíço para corte, mas enxergou a necessidade de, assim como ocorre em outras raças como Angus e Hereford, realizar a cruza com zebu para conferir mais rusticidade à raça. “O Pardo Brasil veio para ficar. É muito produtiva e, assim como as outras sintéticas, tem um futuro promissor porque agrega qualidade e precocidade à produção de carne”, frisou.
Pardo Brasil faz sua estreia na feira, com nove animais oriundos da cabana Nova Esperança, de Glorinha | ALINA SOUZA/JC
Pardo Brasil faz sua estreia na feira, com nove animais oriundos da cabana Nova Esperança, de Glorinha ALINA SOUZA/JC
 
Entre as raças que retornaram estão a bovina de corte Senepol e a caprina Saanem
Nesta edição da Expointer, duas raças estão de volta, de olho na projeção que a vitrine do agro costuma dar: a raça bovina de corte Senepol retorna depois de dois anos, e a caprina Saanem, após sete anos sem pisar em Esteio. Doze exemplares Senepol vêm do criador Emanuel Penha, da Cabanha Ematholu, de Triunfo. “Nós criamos Senepol desde 2019, trabalhamos na venda de reprodutores PO, matrizes, sêmen e embriões”, destaca. Segundo ele, os animais têm sido bem requisitados, pois são usados na cruza industrial: touro Senepol com matrizes de outras raças britânicas e Nelore.
O Senepol é uma raça rústica que se adaptou muito bem aos trópicos, dócil, de fácil manejo, com baixa incidência de carrapato e ótima cobertura a campo. “É um animal com pelo zero que tem tido grande procura, justamente por ter menos infestação por carrapato, o que reduz bastante o manejo”, diz Penha. Entre as 15 raças de bovinos de corte, estão inscritos 615 animais, dois a menos do que em 2023.
Cabanha Ematholu veio com 12 exemplares Senepol, raça com alta demanda no cruzamento industrial  | ALINA SOUZA/JC
Cabanha Ematholu veio com 12 exemplares Senepol, raça com alta demanda no cruzamento industrial ALINA SOUZA/JC
A grande estrela do pavilhão dos caprinos tem nome de patinadora campeão olímpica: Katarina Witt, uma cabra da raça Saanem tem chamado a atenção por ser a única no espaço e por representar o retorno da raça  à Expointer. “Eu trouxe a Katarina como um símbolo para retomar a raça no Estado, pois ela está desaparecendo do Brasil. Aqui no Estado não tem e restam apenas alguns exemplares em Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro”, revela a criadora Bernadete Batista, de Governador Celso Ramos (SC). Ela conta que iniciou a criação de cabras pois precisava de leite para alimentar os filhotes de cães São Bernardo do seu canil, cuja mãe ficou sem leite.
“E eu me apaixonei pela raça, fui estudar, saber de manejo, pois é a maior cabra de leite do mundo e hoje já tenho cinco exemplares da raça Saanem, dando cria, e outras cinco mini-cabras também”, destaca. Segundo ela, se trata de uma raça dócil, tranquila e resistente, de manejo fácil. “Elas só precisam de carinho e alimentação correta para produzirem bem. Até música clássica eu uso para elas ficarem mais tranquilas”, comenta Bernadete que se dedica à produção de queijo e doce de leite de leite de cabra. Entre os caprinos, são 101 animais inscritos de três raças: Saanem, Anglonubiana com 40 exemplares e Boer com 60 exemplares. As raças Kalahari e Savana, presentes em 2023, não estão participando neste ano.

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