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Publicada em 23 de Agosto de 2024 às 18:10

Startup transforma conhecimento em inovação para a agricultura

Sandro Daniel Nornberg e Rafael da Silva Gonçalves são sócios da Partamon

Sandro Daniel Nornberg e Rafael da Silva Gonçalves são sócios da Partamon

Partamon/Divulgação/JC
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Patricia Knebel
Patricia Knebel
A partir do conhecimento científico na área de controle fitossanitário e a estruturação de uma rede de cooperação, a Partamon (MRS Bio) tem buscado soluções sustentáveis para melhorar a qualidade da produção agrícola.
A partir do conhecimento científico na área de controle fitossanitário e a estruturação de uma rede de cooperação, a Partamon (MRS Bio) tem buscado soluções sustentáveis para melhorar a qualidade da produção agrícola.
O negócio combina inovação a partir da pesquisa científica para assegurar que o produtor tenha acesso a recursos eficientes no controle de pragas, mas que não agravem os impactos ambientais – algo que não está amplamente disponível no segmento. Essa abordagem inovadora foi reconhecida com a conquista do Prêmio Futuro da Terra na categoria Startup do Agronegócio.
A startup está inserida no ecossistema de empreendedorismo e inovação tecnológica, ligada ao Pelotas Parque Tecnológico à Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e a Embrapa Clima Temperado. A Partamon é resultado do conhecimento acadêmico e surgiu a partir dos estudos desenvolvidos pelos engenheiros agrônomos Sandro Daniel Nornberg e Rafael da Silva Gonçalves, sócios da empresa, durante mestrado e doutorado na área.
“Nascemos como uma startup, ou uma spin-off, porque surgiu a partir de uma pesquisa científica. Somos cientistas empreendedores”, conta Nornberg, que também é o CEO da empresa.
A visão dos empreendedores é que a convergência entre ciência e empreendedorismo pode contribuir com soluções inovadoras e sustentáveis para os grandes desafios da produção de alimentos no Brasil. Por isso, acreditam que fomentar iniciativas que contribuam para a produção de alimento de forma sustentável, com a visão da ciência sobre a dinâmica das necessidades, irá assegurar a qualidade das escolhas que vão desenhar o futuro do nosso país.
A área de estudo dos empreendedores, a entomologia, é dedicada ao estudo dos insetos. “Durante esse tempo da pós-graduação, boa parte dos nossos trabalhos esteve diretamente relacionado ao controle biológico usando insetos (macroorganismos), que controla outros insetos”, conta Nornberg. O conhecimento acadêmico foi transformado em tecnologia, que virou inovação para a agricultura.
Hoje, a Partamon é uma deep tech (startup baseada em investigação científica) que une biotecnologia e inteligência artificial para desenvolver soluções que atendem a uma das maiores necessidades do setor: o controle sustentável de pragas. Tendo um dos focos na produção de insumos biológicos, a empresa oferece alternativas mais amigáveis ao meio ambiente. Com isso, atende a demanda dos consumidores, mitiga a emissão de resíduos no meio ambiente e contribui fortalecimento econômico de cadeias produtivas, como a fruticultura no Brasil.
"Em nosso cotidiano, nas frutas em nosso quintal ou silvestres, estamos acostumados a encontrar umas larvinhas, conhecidas como "bichinho da goiaba". Só que na produção comercial isso é um grande problema", destaca. Isso acontece devido à praga de moscas-das-frutas.
“Se o produtor for buscar ferramentas comerciais para controlar essa praga, vai encontrar o inseticida químico. Não existe produto biológico a base de macroorganismos e há pouca disponibilidade de produtos alternativos para esse sério problema na fruticultura nacional”, acrescenta o empreendedor.
Atualmente, o portfólio da Partamon inclui três áreas principais de atuação: Digital Farming, que visa o monitoramento e diagnóstico de pragas nos cultivos; Bio Crop Protection, voltada para soluções biológicas no manejo de pragas; e consultoria técnica, que oferece capacitações e assessoria especializada em controle biológico e manejo integrado de pragas.
O PD&I da empresa é formado por meio de uma rede de cooperação, tendo o professor João Carlos Deschamps (professor emérito da UFPel) como mentor e importante parceiro na prospecção dos parceiros e estruturação da rede.
Além do vínculo com a UFPel, por meio da incubadora de empresas Conectar, a startup tem relação estreita com a Embrapa Clima Temperado. Uma das tecnologias que está sendo desenvolvida pela Partamon é feita por meio de acordo de cooperação técnica com a entidade, contando com a orientação do pesquisador Dori Nava.
“Esse tem sido um dos principais trabalhos que a gente tem dedicado tempo nos últimos anos, o nome da tecnologia é Biolatus, um parasitoide de mosca das frutas, que é um inseto nativo. Buscamos essa informação na natureza e a transformamos em tecnologia. Praticamente 100% da tecnologia é gaúcha, sendo desenvolvida por pesquisadores, alunos e empreendedores que acreditam e apostam em nosso Estado", relata Nornberg. Além disso, a expectativa é que possa ser usada em todo o Brasil, inclusive em países do Mercosul onde as moscas-das-frutas também são problema.
Essas soluções devem ser oferecidas pela empresa em breve. O empreendedor explica que as tecnologias desenvolvidas estão praticamente prontas para o mercado. Uma das etapas mais importantes e difíceis nesse processo já foi concluída: a obtenção das Especificações de Referência do Ministério da Agricultura. Agora, já é possível solicitar o registro para comercialização.
O procedimento é importante e revela o caráter inovador dos insumos desenvolvidos pela empresa. “Isso precisava ser cumprido, porque, inicialmente, esse inseto, parasitóide, com o qual trabalhamos, não tem outra empresa que produza, então não existia na lista do Ministério para que pudéssemos registrar”, esclarece.
Com a parte de pesquisa científica bem estruturada e fortalecida por meio de parcerias, o foco da empresa se volta para o mercado. “Uma vez que temos alguma tecnologia validada e com bom potencial de mercado, vamos buscar caminhos para que cheguem ao mercado, seja por meio de parcerias, transferência de tecnologias ou com investimentos para estrutura própria”, destaca o CEO. “Num primeiro momento a busca é pelo caminho mais rápido para termos um retorno financeiro, capitalização da empresa e reinvestimentos”, acrescenta.
A conquista do prêmio O Futuro da Terra evidencia a trajetória que foi construída pelos empreendedores até aqui, fundamentada no investimento em pessoas, ou seja, no conhecimento, e na formação de uma rede de cooperação que possibilitou o desenvolvimento de soluções inovadoras pela startup.
“Receber essa premiação traz um sentimento de satisfação e alegria ao perceber que nossas decisões, atitudes e persistência em superar os desafios e não desistir estão gerando resultados e reconhecimento”, avalia o empreendedor.

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