Os sólidos trabalhos de pesquisa agropecuária deverão proporcionar ao Brasil a produção de uma safra de 400 milhões de toneladas de grãos em até seis anos. A projeção foi feita nesta segunda-feira (28) pelo engenheiro agrônomo Jorge Lemainski, chefe-geral da Embrapa Trigo, no Painel JC Debates, na Casa do Jornal do Comércio no Parque de Exposições Assis Brasil, em Esteio.
Ele participou do encontro, cujo tema foi Produtividade e Rentabilidade no Campo – Desafios e Avanços, ao lado do diretor de crédito do Banrisul, Osvaldo Lobo Pires, e do especialista em agro do banco, Alexandre Mendonça de Barros.
“A natureza não dá saltos, mas nós estamos avançando numa velocidade gigantesca. De 1984 a 2001, nós saímos de 58 milhões de toneladas e grãos para 100 milhões de toneladas. Umm intervalo de 17 anos. Depois disso, levamos 14 anos para chegar a 200 milhões. E agora, passados mais oito anos, estamos indo para 320 milhões de toneladas. Estimo que em seis anos nós teremos 400 milhões”, projetou Lemainski.
Isso, segundo ele, somente na área de grãos. Além do desenvolvimento de variedades de sementes com diferentes características, sempre voltadas a entregar o melhor rendimento possível ao produtor, as pesquisas também procuram fornecer ao mercado pacotes tecnológicos cada vez mais avançados, com insumos mais eficazes e de menor impacto sobre o ambiente, cultivares resistentes a doenças e à escassez hídrica ou outras peculiaridades.
Para a pecuária, a expectativa é de que o País reduza a área de pastagens, dos atuais 180 milhões de hectares para 150 milhões de hectares. Mas o rebanho irá crescer de 225 milhões de cabeças nas pastagens recuperadas para 360 milhões de cabeças.
“E isso é ganho em escala. E o que vai acontecer com esses 30 milhões de hectares que saíram da pastagem? Vão entrar para grãos, e dali virão os outros 100 milhões de toneladas para chegarmos àquelas 400 milhões de toneladas. Boa parte já está acontecendo. Uns 7 milhões de hectares já aconteceram. E nós, da pesquisa, estamos entrando com avanços gigantescos em biotecnologia”, disse Lemainski.
O agrônomo definiu sua visão de agricultura e da pesquisa: “Fazer agricultura é plantar um grão de colher e colher 800 grãos em 120 dias. Plantar um grão de soja e obter 95, plantar um grão de milho e tirar 727. Esta é a revolução que o agro faz. E o nosso papel, como pesquisa e com a empresa pública, sempre foi resolver o problema de Estado”.
Mas pesquisa não se faz sem recurso. E o produtor rural também depende de crédito para transformar seu trabalho em alimento para o mundo. Nesse sentido, os agentes financeiros têm papel fundamental. E vêm mostrando confiança no setor, mesmo após repetidas frustrações de safra, como aconteceu no Rio Grande do Sul, por conta da estiagem provocada pelo La Ninã.
“O Banrisul olha sempre querendo apoiar o produtor a fazer o projeto correto para alcançar a rentabilidade esperada. É a partir desse resultado esperado e positivo que o banco vai financiar. Para esse próximo ano-safra, temos R$ 11 bilhões em financiamento, sendo R$ 9 bilhões, para custeio e R$ 2 bilhões para investimento”, observou Osvaldo Pires.
Manejo de solo, reservação de água e irrigação e o salto tecnológico na propriedade são importantes exemplos de iniciativas a serem apoiadas pelo banco. “Salto tecnológico, normalmente, é você ter um novo tipo de condução, um novo tipo de variedade, para ter uma produtividade melhor e sempre reduzir o risco. Queremos saber quais são as melhores soluções, e é importante o cliente aderir a essas soluções, diminuindo risco e aumentando a prosperidade do produtor. Esse é o nosso desafio, seja pequeno, médio ou grande produtor”, acrescentou.
Para o especialista em agro do Banrisul, Alexandre Barros, o desafio é equilibrar o curto com o médio e longo prazo. "O produtor girar uma safra é um cenário. Ampliar a produção ao longo de 10 anos, 20 anos, exige equilibrar os resultados de curto prazo com as expectativas de recortes de longo prazo. O Rio Grande do Sul teve, talvez, oito safras excepcionais. De repente, três anos seguidos de La Niña, que machucam a rentabilidade de qualquer produtor. Por isso tem que ter consistência no crédito. Para passar esses momentos de ciclos, de preços, de clima, e por aí vai. O papel do setor financeiro é dar os instrumentos de seguro, de crédito, avaliar risco e ser persistente. De tal sorte que a hora que o ciclo bom vier de novo, e ele vem, como agora, provavelmente o El Niño deve trazer uma safra boa, novamente, eu possa seguir na trajetória de intensificação da produção", completou Alexandre Barros.