Cansados de ouvir discursos sem efeito prático às suas demandas, criadores de bovinos leiteiros que participam da Expointer 2023 organizaram neste domingo (27) um movimento de protesto contra as importações de lácteos de países vizinhos e alertando para a situação crítica enfrentada neste lado da fronteira. No final da manhã, em ato simbólico, uma faixa advertindo sobre o problema foi hasteada no Pavilhão do Gado Leiteiro sob aplausos de produtores, familiares e simpatizantes da causa.
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"O Mercosul vai salvar os produtores de leite da Argentina e do Uruguai. E eles virão jogar flores sobre os túmulos dos produtores gaúchos", avisou o presidente da Associação dos Criadores de Gado Holandês do Rio Grande do Sul (Gadolando), Marcos Tang.
Segundo o dirigente, os 100 mil produtores de leite que haviam no Rio Grande do Sul há 10 anos foram reduzidos a 30 mil. “Somente do ano passada para cá, 12 mil famílias deixaram a atividade. Não há condições de seguir assim. O custo médio de produção de um litro de leite no Estado é de R$ 2,25, enquanto o valor pago atualmente pelas indústrias fica em R$ 2,17. Mas há quem esteja recebendo apenas R$ 1,60 pelo litro. Isso sem falar que insumos como o diesel estão em tendência de alta, e impactam diretamente sobre a produção”, reclamou o dirigente.
Diante desse cenário, o setor pretende falar alto na sexta-feira (1º/9), quando deverá ser instalada a Frente Parlamentar do Leite, da Assembleia Legislativa, em Esteio. Na oportunidade, quando o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, também deverá estar no Parque de Exposições Assis Brasil, eles entregarão um documento pedindo a adoção de medidas objetivas e eficazes para tentar salvar a atividade.
“Os produtores estão cansados. As entidades falam, os políticos falam. E poucas ações efetivas são adotadas. Taxar a importação de subprodutos com representatividade insignificante no mercado não resolve. O que precisa ser sobretaxado são produtos que competem conosco, como o leite UHT e o queijo mussarela, por exemplo”, disse o dirigente da Gadolando.
O vice-presidente de Finanças da entidade, Nacir Penz, ressaltou que o problema é geral. Tanto que o movimento não é gaúcho, mas nacional. “As cooperativas de leite estão falindo. Enquanto isso, na Argentina e no Uruguai estão estimulando a produção. E aqui estamos morrendo pelo enorme volume de importações, que cresceram 230% desde o ano passado.”
Tang revelou que os proprietários de cabanhas de animais leiteiros chegaram a cogitar não participar da Expointer, mas que após dialogar sobre o tema concordaram em usar a mostra como palco para dar visibilidade ao problema.
"Chegou a haver um movimento pelo boicote à feira. Mas repensamos. Esse não é um ato político ou partidário. a crise está aí, e não é de hoje. O Rio Grande do Sul produz 11 milhões de litros de leite por mês. Consome apenas 40% desse volume, e ainda assim ocorre uma enxurrada de importações. Quando não houver mais produtor nem leite produzido aqui, e o preço do litro voltar a custar R$ 9,00 ao consumidor final, como vai ser? Não temos como competir com leite importado e subsidiado", completou o dirigente.