Publicada em 26 de Agosto de 2022 às 00:05

Preço da carne bovina entusiasma pecuaristas

O comércio internacional anima, já que o volume de exportações aumentou 21,5% no primeiro semestre em relação a igual período de 2021

O comércio internacional anima, já que o volume de exportações aumentou 21,5% no primeiro semestre em relação a igual período de 2021


/MAURO PIMENTEL/AFP/JC
Diferentes realidades opõem interesses de produtores de alimentos e do consumidor brasileiro. De um lado, o mercado internacional aquecido. De outro, a queda do poder de compra das famílias. O impacto imediato dessa combinação foi a redução do consumo de carne bovina no País para o menor nível em pelo menos 25 anos.
Diferentes realidades opõem interesses de produtores de alimentos e do consumidor brasileiro. De um lado, o mercado internacional aquecido. De outro, a queda do poder de compra das famílias. O impacto imediato dessa combinação foi a redução do consumo de carne bovina no País para o menor nível em pelo menos 25 anos.
Os pecuaristas estão entusiasmados. O volume de exportações aumentou 21,5% no primeiro semestre deste ano em relação a igual período de 2021, passando de 874 mil toneladas para 1,06 milhão de toneladas. A receita com o comércio para o exterior cresceu 52% sobre os primeiros seis meses do ano passado. E o preço médio da proteína subiu 25,1%, passando de US$ 4,6 mil a tonelada para US$ 5,8 mil por tonelada.
Os números mostram que a carne bovina brasileira ganha cada vez mais espaço no comércio internacional. "Isso ocorre graças não somente à qualidade do produto, mas também ao posicionamento do Brasil como um importante parceiro comercial de outras nações, como China e Estados Unidos, que lideraram as compras de carne bovina brasileira nos primeiros seis meses do ano", diz o coordenador do Centro de Inteligência da Carne Bovina (CICarne), da Embrapa Gado de Corte, Guilherme Malafaia.
Apesar do bom desempenho no mercado internacional, lembra o pesquisador, nosso maior mercado é o doméstico, onde a população vem experimentando quedas no poder aquisitivo em virtude da inflação. A pandemia de Covid-19 provocou mudanças na mesa da população. Em 2018, cada brasileiro comeu, em média, 34 quilos de carne. Já em 2021, foram 27 quilos. E, para este ano, a projeção é de uma queda de 10,6% em relação ao ano anterior. "A carne bovina teve uma inflação média de 78% desde 2018 até agora", calcula Malafaia.
Ele projeta, entretanto, que esse consumo se fortalecerá num futuro próximo, à medida que a renda e as preferências alimentares se expandam. "A tendência de percepção de mais saúde, qualidade e experiência com produtos que fazem o consumidor se sentir bem também será forte na carne bovina, gerando oportunidades para projetos de carne de qualidade e de marcas-conceito."
Para Malafaia, o desafio do setor, no curto prazo, é proteger os rebanhos das ameaças sanitárias, que oferecem riscos para o comércio. Além disso, más condições climáticas em regiões de cultivo de grãos podem levar à redução da produção de ração e resultar em custos mais elevados para os processadores de carne. "Já no longo prazo, o desafio será intensificar a produção pecuária para que se garanta a capacidade de atender a demanda crescente de carne bovina sem a necessidade de avançar em áreas de florestas, uma vez que o desmatamento representa riscos para toda a cadeia produtiva", diz.
Para o presidente da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Gedeão Silveira Pereira, as expectativas de futuro são ótimas, não apenas sobre a carne bovina, mas sobre o conjunto do agronegócio.
"A pecuária é um componente desse conjunto, como o frango, a carne suína, a soja, o milho, o trigo, enfim, todos os produtos que saem do campo. O Brasil já é o maior exportador líquido do mundo no setor. Neste ano, é bem provável que superemos os US$ 10 bilhões em exportações de carne bovina", comemora o dirigente, que projeta ver o País abastecendo 50% do mercado mundial de carne bovina até 2040.
Pereira reconhece, porém, os problemas com a diminuição do consumo no mercado interno, devido à queda do poder aquisitivo da população. "Atualmente, entre 70% e 80% da produção é vendida internamente, e as exportações são crescentes. Mas o Brasil começa a apresentar sinais de crescimento econômico, e também deveremos verificar uma retomada local da demanda", acredita.
Veterinário e pecuarista na região da Campanha, Pereira também comentou a situação no Estado. A entrada, nos últimos anos, do cultivo de soja na Metade Sul, tradicionalmente ocupada pela pecuária de corte, transformou a atividade pecuária. "Com o grão, veio o aumento da produção de forrageiras. E, na esteira, a introdução de raças britânicas nos rebanhos, com uma genética espetacular", avalia.
De acordo com o representante da Farsul, o caminho para a pecuária de corte é investir na verticalização para se manter competitiva frente ao avanço dos grãos, especialmente a soja e, mais recentemente, o milho irrigado.
"Esses produtos são competidores da pecuária, mas a atividade se beneficia dos investimentos em agricultura. O Rio Grande do Sul provavelmente tenha diminuído sua população bovina, mas, pela verticalização, tivemos um aumento de qualidade, sustentando a atividade com menos vacas e mais eficiência. Além disso, os mercados árabes e asiáticos são fortes compradores da carne gaúcha", frisa.

Cadeias do frango e de suínos enfrentam impactos da pandemia

Aumento do preço do milho e do farelo de soja afetou o setor

Aumento do preço do milho e do farelo de soja afetou o setor


/TÂNIA MEINERZ/JC
Maior exportador de carne de frango do mundo, com 4,61 milhões de toneladas em 2021, e ocupando o quarto lugar no ranking global de produção e exportação de carne suína, o Brasil vive momento inusitado para o segmento, a partir da pandemia de Covid-19. Segundo o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin, disrupções na rede logística e no fluxo de insumos e mercadorias em diversas partes do planeta geram forte elevação nos custos para o desembaraço de cargas desde 2020.
"Além disso, as adequações em ambientes produtivos com medidas protetivas, como as barreiras sanitárias, o distanciamento e equipamentos de proteção individual adicionais demandaram investimentos bilionários. As travas logísticas também tornaram mais elevados os custos de determinados insumos, como papelão e embalagens plásticas, que tiveram incrementos superiores a 80%. E o câmbio mais desvalorizado pulverizou efeitos em toda a cadeia agroindustrial, com especial atenção ao preço dos combustíveis, que agora experimentam os mais elevados patamares já registrados."
Paralelamente aos efeitos do quadro pandêmico, novos problemas alcançaram as cadeias produtivas. No caso das agroindústrias de produção de aves, suínos e ovos do Brasil, o efeito mais grave veio pelas altas históricas do preço do milho e do farelo de soja, com elevações próximas a 150% nos últimos 20 meses. "Esses dois insumos básicos representam 70% dos custos de produção agropecuários destes alimentos. E o conflito no Leste Europeu também agravou o quadro, com elevação de 10% nos preços dos insumos para o mercado brasileiro", aponta.
Ainda assim, a cadeia do frango aponta tendência otimista, com produção estável e tendência de crescimento de até 4,5% para 2023. As exportações tiveram aumento de 8% no volume e 36% na receita no primeiro semestre deste ano sobre o período de janeiro a junho de 2021, totalizando US$ 4,729 bilhões. Além disso, conforme a ABPA, a questão sanitária internacional deve pressionar o comércio global de carne de frango. Novos focos de influenza aviária foram identificados entre os produtores, sustentando a demanda de exportadores livres da enfermidade, como é o caso do Brasil. Adicionalmente, a já sentida redução da participação da Ucrânia no comércio internacional, a retirada das tarifas de importação do México, a forte demanda filipina e a redução temporária das tarifas sul-coreanas de importação impactarão no saldo das exportações.
Em relação à carne suína, apesar do crescimento da produção, as vendas para o mercado externo caíram 9,3% no primeiro semestre em comparação à primeira metade de 2021, e a receita foi 17,4% menor, passando de US$ 1,35 bilhão para US$ 1,115 bilhão. Conforme Santin, entretanto, há um novo patamar nas vendas de carne suína para a China, em torno de 40 mil toneladas, o que deve se manter nos próximos meses e acima dos volumes praticados no primeiro semestre deste ano. Ao mesmo tempo, outros mercados ganharam protagonismo em 2022, como Filipinas, Estados Unidos, Tailândia e Japão.
Comentários CORRIGIR TEXTO