O proprietário da agroindústria Rodeio da Figueira, do município da Candelária, Givanildo Vidal de Souza, perdeu absolutamente tudo na enchente de maio: as duas casas da família ruíram, ficaram inabitáveis com risco de desabamento, as plantações de cana foram levadas pela enxurrada e no lugar delas ficaram pedras e lodo. A estrutura produtiva da agroindústria, as máquinas, os insumos e os produtos estocados foram todos varridos pelas águas. E, por incrível que pareça, a perspectiva de participar da Expointer é o que fez com que Souza tivesse a ideia de montar uma estrutura básica para produção de melado, num canto de um galpão que não foi atingido por estar numa área mais alta da propriedade.
O proprietário da agroindústria Rodeio da Figueira, do município da Candelária, Givanildo Vidal de Souza, perdeu absolutamente tudo na enchente de maio: as duas casas da família ruíram, ficaram inabitáveis com risco de desabamento, as plantações de cana foram levadas pela enxurrada e no lugar delas ficaram pedras e lodo. A estrutura produtiva da agroindústria, as máquinas, os insumos e os produtos estocados foram todos varridos pelas águas. E, por incrível que pareça, a perspectiva de participar da Expointer é o que fez com que Souza tivesse a ideia de montar uma estrutura básica para produção de melado, num canto de um galpão que não foi atingido por estar numa área mais alta da propriedade.
"A feira foi a luz no fim do túnel para nós. De uma expectativa zero de participar, juntamos forças, fizemos um mutirão e alguma ajuda financeira. Em 20 dias, conseguimos voltar a produzir, comprando matéria-prima de terceiros", afirma o produtor. Para esta edição da feira, a 11ª que a Rodeio da Figueira participará, Souza conta que levará melado batido, melado líquido e a novidade: puxa-puxa de potinho. "Serão mais de 2 mil unidades dos nossos produtos, variando os tamanhos das embalagens."
A possibilidade de ter uma vitrine como o Pavilhão da Agricultura Familiar (PAF) para comercialização dos produtos tem mobilizado muitas agroindústrias a não medir esforços para participar da feira, pois é o primeiro grande evento no pós-enchente e tem uma importância muito grande no caminho da retomada. "Muitas famílias ficaram com seus produtos represados, pois não havia estradas, não havia locais e feiras para comercialização. Tudo parou. Outros perderam tudo e tiveram que recomeçar como deu para, pelo menos, garantir alguma produção para vender na Expointer", afirma o vice-presidente da Federação dos Trabalhadores Rurais do Rio Grande do Sul (Fetag-RS), Eugênio Zanetti.
O dirigente evita falar em volumes recordes de vendas no pavilhão, a exemplo do que ocorria nos anos anteriores, pois, na opinião dele, o mais relevante nessa edição da feira é a participação das agroindústrias por si só. "A capacidade delas de superação, de resiliência diante da tragédia e de mostrar que o povo gaúcho é capaz de recomeçar. Neste ano, a Expointer representa um símbolo da reconstrução." E os números de expositores inscritos corroboram com essa ideia: este será o ano com maior participação das agroindústrias, com 413, ou seja, 41 expositores a mais do que em 2023, quando foram 372. Nesse ano, esses empreendimentos representam 181 municípios do Rio Grande do Sul.
Um dado importante e que, cada vez mais, se consolida é a participação de jovens e mulheres à frente das empresas familiares. No ano passado, eram 148 com a força feminina liderando e agora são 216. Dos empreendimentos participantes, 125 são liderados por jovens, em 2023 eram 87. "Cada vez mais, a mulher está se consolidando na questão da independência financeira, da autonomia e o jovem vê a agroindústria como uma forma de permanência na propriedade, se ele tiver renda e qualidade de vida, além do idoso que, muitas vezes, não consegue mais fazer trabalho pesado, fica na agroindústria ajudando a família", explica Zanetti. Neste ano, 73 agroindústrias vão estar participando pela primeira vez da feira, que completa 25 anos.
E a pergunta que não quer calar e que todos os anos se repete: quais as novidades que devem atrair e conquistar os paladares dos visitantes do pavilhão? Zanetti destaca alguns como o queijo com erva-mate, queijo com raspas de limão, geleia com queijo, geleia com bacon, calda de fruta para drinques, azeite de oliva trufado com alho. "As atrações vão muito além e são sempre irresistíveis." O espaço da agricultura familiar é reconhecido pela grande variedade de embutidos, defumados, queijos e laticínios diversos, pães, cucas, biscoitos, doces, geleias, mel, pescados, derivados da cana-de-açúcar, farinhas, vinhos, espumantes, cachaças, sucos, temperos, frutas desidratadas, ovos, licores, erva-mate, grãos e cervejas artesanais.
No artesanato, estarão produtos elaborados com matérias-primas encontradas nas propriedades rurais - como lã, fibras vegetais, couro, madeira, porongos e artigos de cutelaria ligados à tradição gaúcha. Entre os produtores de plantas e flores, destaca-se a produção de suculentas, orquídeas, bromélias, cactos e sementes crioulas. Além disso, seis estandes apresentarão artesanato indígena das etnias Mbyá-Guarani, Kaingang e Xokleng. Haverá ainda um estande com produtos artesanais feitos por comunidades quilombolas gaúchas e 38 agroindústrias trabalharão com produtos orgânicos.
Para o secretário de Desenvolvimento Rural, Ronaldo Santini, o aumento do número de expositores demonstra a importância da feira para os empreendedores familiares. "Este tem sido um ano desafiador para o Rio Grande do Sul como um todo, mas especialmente para o pequeno produtor rural. Apesar dos obstáculos impostos, vamos conseguir superar e ampliar o número de empreendimentos presentes", comemora. "Isso mostra mais uma vez a relevância que o espaço tem para a economia dessas famílias, que veem a Expointer como o ponto alto de comercialização do ano."
Zanetti diz que o pavilhão não sofreu muitas avarias em função da enchente e que foi preciso apenas fazer uma grande faxina e a reforma dos banheiros. "Ficamos com um metro de água dentro do pavilhão, mas nada que comprometesse estrutura." Com o acréscimo de 41 agroindústrias, foi preciso redistribuir os estandes para que uma nova ilha fosse criada. "Antes, os estandes eram de dois por três metros e agora ficaram dois por dois", explica.
"As agroindústrias tiveram uma parada muito grande da comercialização no mês de maio, depois daqueles eventos climáticos, deslizamento de terra, enchentes, muitas feiras programadas para aquele período não ocorreram e o pessoal não conseguiu vender", afirma o engenheiro agrônomo, extensionista da Emater/RS-Ascar e integrante da comissão organizadora do Pavilhão da Agricultura Familiar, Marcio Dalbem. E é justamente em função desse represamento das feiras e dos bons resultados que eventos como a Fenadoce de Pelotas têm apresentado, que a expectativa é de incremento de, pelo menos, 10% na comercialização, em relação à edição de 2023, quando foram negociados R$ 8,67 milhões no espaço.
"O público tem prestigiado bastante esses eventos que ocorreram fora de época, em função das enchentes e acreditamos que, na Expointer, não será diferente", completa Dalbem. Ele conta que, além do cancelamento das feiras, muitos produtos ficaram represados nas propriedades, pois a falta de estradas e as inundações deixaram os produtores sem condições de sair de casa, em vários municípios do Estado. "Ainda há algumas agroindústrias com produtos estocados, mas a maioria conseguiu vender nas feiras que ocorreram fora de época e o que a gente vê agora são famílias correndo para produzir mais e poder levar para a Expointer."
O período de abril a junho é considerado o mais importante para as plantações de pimenta no Estado, época em que o fruto encontra-se no auge. E foi justamente nesse espaço de tempo que o Rio Grande do Sul viveu a maior catástrofe climática da sua história, episódio que refletiu diretamente na produção da agroindústria Sabor da Colônia, da produtora Vera Tuchtenhagen, de Turuçu. "Perdemos quase a nossa matéria-prima principal, e em maio a gente não teve faturamento praticamente nenhum. Tudo parou: logística, feiras. Fenadoce adiada, sem a certeza de que teria Expointer", conta Vera. E a chuva chegou no fim da safra da pimenta, impossibilitando a colheita de algumas variedades para armazenamento e utilização ao longo do ano. A expectativa para a Expointer é muito positiva, com base no retorno que o empreendimento teve Fenadoce, com incremento em torno de 50% na comercialização, em comparação com 2023. "Temos a perspectiva de conseguir esse mesmo resultado ou mais", afirma Vera.
A produtora engrossa a lista de mulheres que estão à frente de agroindústrias familiares e conta que o negócio começou em parceria com a mãe. "Produzíamos fumo e trocamos de matriz produtiva. Foi daí que surgiu a agroindústria. A questão de gerenciar a agroindústria é algo desafiador, mas ao mesmo tempo gratificante e é uma tendência do meu município, onde praticamente 90% estão sob a coordenação feminina e algumas delas já na segunda geração", ressalta.
Uma das grandes atrações do estande da Sabor da Colônia é o molho de uma variedade de pimenta extremamente picante, a Carolina Reaper, originária dos Estados Unidos, da Carolina do Sul. É considerada a pimenta mais forte do mundo e, por isso, deve ser servida com um conta-gotas. "Conseguimos armazenar uma certa quantidade da Carolina e produzir os molhos para levar." Além dela, a agroindústria produz em torno de 12 variedades de pimenta, desde as mais suaves até as mais fortes, originárias do Brasil, México e Índia, das quais são produzidos molho, conserva, pimenta em vinagre e geleias. "Entre as novidades, temos geleias diferentes que levam pimenta: uma é a mostarda com pimenta em mel e a outra é uma geleia de mel com pimenta", revela Vera.
A perda da matéria-prima também foi o principal impacto das chuvas de maio na destilaria Alto da Cruz, agroindústria administrada pelo produtor Mateus Ribeiro Camargo, de Canguçu. "Nosso município está localizado na Serra dos Tapes e não foi seriamente afetado pelas enchentes, mas o dano causado por ela está presente até agora: o canavial sofreu bastante e tivemos alguns prejuízos na lavoura", explica Camargo. Além disso, o prejuízo veio como reflexo da falta da venda em feiras, que fez com que a empresa ficasse alguns meses sem comercialização. "É fundamental ter no horizonte feiras e eventos que possam dar esperança e essa edição da Expointer será marcada pela força de superação do povo gaúcho", diz Camargo.
Este é o segundo ano que a agroindústria participa da feira e, como estreante, no ano passado foi premiada com o segundo lugar no concurso de cachaças da mostra. "Isso alavancou muito a nossa visibilidade no Estado. Este ano trazemos dois produtos novos: o Licor de Caramelo Salgado, que temos uma expectativa muito grande pela experiência sensorial que ele apresenta, e o Licor de Manga com Pimenta, que foi desenvolvido em parceria com a Equaliza, empresa júnior do curso de química do IFSul campus Pelotas", conta.