A subsecretária do Parque de Exposições Assis Brasil, Elizabeth Cirne Lima, fala sobre os desafios de realizar a Expointer num momento em que o Estado ainda se recupera da maior tragédia climática enfrentada pelos gaúchos. "Neste ano, não falaremos em bater recordes, em superação, pois realizar a feira por si só já foi um ato de imensa superação e coragem", diz a subsecretária.
Jornal do Comércio - A tomada de decisão sobre a realização da feira ocorreu quando o Estado ainda estava vivendo a enchente, com áreas alagadas, vidas sendo resgatadas. O que fez vocês acreditarem que seria possível viabilizar a Expointer?
Elizabeth Cirne Lima - Todos os anos falamos em recordes, em novidades, mas nesse ano, a coisa mais expressiva que ocorreu foi a confirmação de que nós iríamos realizar a Expointer e isso se deu pelo fato do governo estadual entender o impacto e a representatividade da feira e a importância dela nesse momento especial de retomada, de recuperação, de necessidade de movimentar o agronegócio, que representa 40% da economia gaúcha, gerar renda, viabilizar a comercialização de produtos. Tomamos a decisão de confirmar a feira quando ainda estávamos com água em muitas regiões da cidade e aqui no entorno do Parque Assis Brasil. Então, foi uma decisão bem difícil. Mas o entendimento foi de que, após três meses da data em que ocorreu a enchente, teríamos condições de viver um segundo momento que seria de retomada da economia. Foi um ato de coragem, pois estávamos saindo de uma catástrofe sem precedentes. Por isso, não trabalhamos, nesse ano, com projeções de que será um evento melhor do que o do ano passado, batendo todos os recordes.
JC - Em termos de recursos para recuperação do parque, quanto foi investido e que tipo de melhorias precisaram ser feitas no pós-enchente?
Elizabeth - O governo conseguiu destinar recursos dos valores de investimentos emergenciais e conseguimos fazer investimentos básicos de infraestrutura. E o mais importante: nada do que aconteceu no parque é impeditivo para a realização da feira. O maior risco era a questão da rede elétrica, que já vinha sendo modernizada, mas tinha uma parte importante para fazer esse ano, programado para antes da enchente e com ela ficou mais urgente ainda. Os pisos dos pavilhões ficaram muito danificados depois da enchente, com buracos que cabiam um carro de tão grandes, e não vamos conseguir entregá-los na totalidade, pois já estavam muito ruins antes de inundar. Menos o da Agricultura Familiar, que tinha sido recentemente reformado. Os outros ficaram de molho por muito tempo, infiltrou água e piorou muito a situação. O processo de licitação demorou e agora não tem mais tempo para trocar o piso, com a feira já sendo montada. Então vamos arrumar os corredores de fluxo de pessoas de visitantes e expositores e um conserto provisório em outras áreas, para depois da feira concluirmos a totalidade dos pisos dos pavilhões. Importante destacar que nem expositores nem os animais serão afetados. Também foram trocadas as calhas dos pavilhões, que estavam subdimensionadas, fazendo com que vazasse água para dentro dos pavilhões.
JC - E quais foram as melhorias programadas, ou seja, as que não foram realizadas em função das inundações de maio?
Elizabeth - Fizemos duas novas áreas de exposições, com urbanização de algumas quadras que eram áreas com grama para acolher novos expositores. Além disso, aumentamos o Boulevard, um lugar super procurado da feira, tanto para a parte gastronômica quanto para fazer negócios. A nova área está localizada em frente ao pavilhão do gado leiteiro no mesmo esquema: uma rua coberta com área de passeio e uma área de mesinhas com tablado.
JC - E quais os valores dos investimentos?
Elizabeth - Houve investimentos emergenciais que foram contratados através de licitações específicas, dentro de um teto que o governo concedeu para nós, que foi de R$ 6 milhões. Nesses investimentos entraram piso dos pavilhões, calhas dos telhados dos pavilhões, parte elétrica e hidráulica. Também houve investimentos programados, como calçamento e Boulevard, que foram de R$ 500 mil.
JC - Mesmo nesse cenário de crise e recuperação, pode-se dizer que a feira já está sendo um sucesso: número de expositores aumentaram, número de animais inscritos quase repetindo 2023.
Elizabeth - O governo enxergou a feira como um espaço de recuperação da economia, de proporcionar um espaço de negócios, comércio, discussões técnicas. São gerados cerca de 30 mil empregos durante o período da Expointer, então é um movimento importantíssimo da economia. E os expositores estão vindo, especialmente os da agricultura familiar, pois estão com muito produto represado que não puderam escoar durante a enchente e isso serve para todos os setores, mesmo o de grandes animais, dos remates. A Expointer é o primeiro momento no pós-enchente que as pessoas vão ter uma vitrine gigante para conseguir retomar.
JC - Até onde chegou a água no Parque Assis Brasil?
Elizabeth - Os prédios mais ao fundo do parque chegaram a ficar com 3 metros de água. Na pista de julgamento dos bovinos chegou a 1,20 metro. A água veio até a capela, na frente da pracinha da Farsul e ali parou, pois logo tem a lomba que leva para as esferas. O parque ficou um mês submerso. Mas, felizmente, não houve perda nem avaria de estruturas como pavilhões e as casas.
JC - Existe uma obra gigante na BR-116, bem na frente do parque Assis Brasil. De que forma ela vai afetar o trânsito nas imediações da feira?
Elizabeth - Vai afetar, mas nos precavemos: abrimos uma nova rua, do lado do estacionamento 15, vindo da rodovia do parque e entrando naquela rua lateral, abrindo mais mil vagas de estacionamento. Com a obra, que vem por essa via que liga a BR- 448 à BR-116, não se consegue transitar pela frente do parque, como ocorria anteriormente. Então, a entrada será por essa nova rua e estamos tentando um acesso para a Celina Kroeff por trás do parque. É uma área privada e já temos autorização para construir uma passagem temporária ali para poder acessar o portão 10, o 5 e o portão 4. Outra novidade é que o portão 5 vai ser exclusivo dos expositores de animais e colocamos a entrada da imprensa no portão 4, o mesmo das autoridades.
JC - E como ficará o transporte público, já que a Trensurb ainda não está funcionando entre Canoas e Porto Alegre?
Elizabeth - A Metroplan, a Secretaria de Agricultura e nós do parque construímos uma operação de atendimento especial entre Porto Alegre e Esteio, com itinerários de hora em hora, ida e volta, de 24 de agosto até o dia 1 de setembro. A operação terá dois terminais de partida na Capital, na Rodoviária e na rua Cassiano Nascimento, esquina com a Siqueira Campos. O primeiro ônibus tem saída prevista de Porto Alegre às 7h e o último ônibus com saída do Parque Assis Brasil previsto para às 22h. Além disso, a Trensurb vai disponibilizar uma linha circular de ônibus que trará as pessoas que prefiram se deslocar de trem de Porto Alegre até a Mathias Velho e vice-versa, sem a cobrança adicional de passagem nos ônibus.
JC - Uma das maiores atrações dessa edição da Expointer será o Festival Sou do Sul, com atrações musicais de peso. Fale um pouco sobre essa novidade.
Elizabeth - Serão três shows na programação do Festival, cujo mote é agradecer toda a ajuda que artistas do Brasil prestaram ao Rio Grande do Sul, durante as enchentes, além de fomentar a cultura e o trabalho de músicos gaúchos que também tiveram seus trabalhos prejudicados pelas enchentes. Então, vamos trazer a Luísa Sonza junto com Elton Saldanha, Guri de Uruguaiana e a Luísa Barbosa, do The Voice Kids. Também teremos um show com Maiara e Maraísa, para homenageá-las, já que elas fizeram uma série de doações para o Estado. A terceria noite será com Fernando e Sorocaba, numa parceria com a Ford Motors. O Festival será realizado de 24 a 26 de agosto, na pista do Cavalo Crioulo e será gratuito. Depois do festival, teremos mais o show Reconstruir, com Os Serranos e Michel Teló.