Ednaldo Rodrigues foi reeleito nesta segunda-feira (24) o presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol). Depois da fracassada tentativa do ex-jogador Ronaldo de lançar uma candidatura opositora, o atual mandatário acabou declarado vencedor por aclamação por não ter nenhum outro adversário. Historicamente, os presidentes angariam apoio suficiente das federações estaduais nos meses que precedem a eleição, tornando o pleito uma mera formalidade -a última vez em que as eleições na CBF tiveram dois concorrentes foi em 1989.
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"Ao longo dos últimos anos, enfrentamos muitos desafios. Sofremos todo tipo de preconceito e perseguições. Tentaram até um golpe. Resistimos e vencemos", declarou Ednaldo, que obteve os votos das 27 federações e dos 40 clubes das Séries A e B.
Na reta final de seu atual mandato e durante todo o ciclo do próximo, de março de 2026 a março de 2030, o dirigente terá a missão de cumprir uma importante e difícil promessa, de combater a discriminação no futebol, sobretudo o racismo.
O compromisso consta, inclusive, no lema definido pela chapa do cartola: "Por um Futebol Mais Inclusivo e Sem Discriminação de Qualquer Natureza". Apesar de ressaltar a "inclusão", não há nenhuma mulher no grupo indicado para compor os vice-presidentes. São oito homens.
É o combate ao racismo, porém, a principal bandeira de Ednaldo Rodrigues. E a razão pela qual ele entrou em rota de colisão com a Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol) na véspera do pleito.
Após a assinatura do presidente da CBF aparecer em uma carta contra o racismo feita em conjunto pela Conmebol e as outras nove federações da América do Sul, com um texto de apoio às medidas da entidade contra a discriminação, a CBF voltou atrás e disse discordar do teor da publicação e também da forma de condução dos recorrentes casos.
Em um ofício assinado por Rodrigues, o presidente da confederação brasileira eleva o tom das críticas a Alejandro Domínguez, que preside a confederação sul-americana. "A CBF discorda veementemente da atuação da Conmebol nos casos de racismos e muito menos que a entidade esteja em conformidade com as medidas mais rigorosas implementadas nas mais importantes ligas, confederações e Fifa", diz trecho do ofício.
Mais do que cobranças à entidade máxima do futebol sul-americano, o mandatário da confederação do Brasil sabe que será cobrado por ações práticas para mostrar o comprometimento da CBF com o combate ao racismo, inclusive no caso envolvendo o jogador do Palmeiras.
Na semana passada, o Ministério Público Federal abriu uma investigação sobre uma possível omissão da CBF no episódio citado. O inquérito apura uma suposta negligência na defesa do jogador, em ações que não teriam sido tomadas pela CBF, entre elas, pedir acesso à súmula, questionar a interrupção da partida e não contestar a multa de US$ 50 mil (R$ 287 mil), considerada pequena.
Como a última mudança no estatuto da CBF permitirá que Ednaldo concorra a uma nova reeleição ao final de seu próximo mandato, ele pode estar à frente da entidade máxima do futebol do Brasil até março de 2034, sempre sob a cobrança de sua promessa de combate a toda forma de preconceito.
Presidente da Federação Baiana de Futebol por quase duas décadas, o cartola assumiu a presidência da CBF pela primeira vez em agosto de 2021 de forma interina, após o afastamento de Rogério Caboclo. Foi eleito para o primeiro mandato em chapa única, em março de 2022.
Em dezembro de 2023, ele foi afastado por decisão do TJ-RJ (Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro), pelo entendimento de que um acordo firmado entre a CBF e o MPF (Ministério Público Federal), que abriu caminho para sua eleição, era ilegal. Após uma série de idas e vindas nos tribunais, o dirigente foi reconduzido ao cargo em janeiro de 2024, por decisão do STF (Supremo Tribunal Federal).
O ex-jogador Ronaldo Nazário chegou a anunciar sua candidatura, mas não encontrou respaldo para seguir com a empreitada. Segundo ele, das 27 federações procuradas, encontrou 23 portas fechadas. Ednaldo assume o segundo mandato com o compromisso assumido junto aos clubes de maior transparência e participação na gestão e de apoio à criação de uma liga do futebol brasileiro.
Agências