O Inter encara um final de ano movimentado no âmbito financeiro. Isso porque a segunda-feira (16) ficará marcada pela votação no Conselho Deliberativo referente ao projeto das debêntures, elaborado pela gestão Alessandro Barcellos para reduzir os juros e alongar o prazo do pagamento das dívidas do clube. A iniciativa visa ampliar os meios de arrecadação de verba do Colorado, que sofre anualmente com as correções monetárias por parte dos bancos e, agora, busca adentrar no mercado dos fundos de investimento. Com isso, serão angariados R$ 200 milhões. Destes, RS 100 milhões estão assegurados e o restante precisa ser captado.
As debêntures “são títulos de dívida remunerados por uma taxa combinada com um percentual fixo, mais o Certificado de Depósito Interbancário (CDI), que varia”, explica o presidente Barcellos, em entrevista ao Jornal do Comércio. Caso aprovado, o movimento define que os debenturistas se relacionem com a securitizadora e a mesma com o clube. Mesmo sem a supervisão do Inter frente à captação destes investidores, o mandatário garante que “existem premissas de investidores qualificados dentro da Comissão de Valores Mobiliados (CVM), e do regulamento do próprio instrumento de debêntures”.
Arcando com valores elevados em juros bancários, que muitas vezes inviabilizam o débito das dívidas em si, a direção vê as debêntures como alternativa para a necessidade de amortizar as cobranças, que engessam os investimentos do dia a dia. “É uma taxa (juros) menor do que os clubes encontram nos bancos, em condições favoráveis para que você possa ter mais previsibilidade de pagamento, alongamento da dívida por cinco anos e capacidade de pagamento dentro do fluxo de caixa”, enfatiza Barcellos, que alerta para os movimentos a serem tomados em caso de um resultado adverso do que busca a direção, “sob pena tomar medidas mais duras ainda, de maior venda de atletas e a necessidade de desmontar parte do elenco para pagar as dívidas”.
A previsão é de um ganho calculado na ordem dos R$ 150 milhões nos próximos cinco anos, resultante do abatimento de juros. O presidente detalha que a projeção é resultante de um “backtesting”, testando as debêntures como se fossem lançadas de 2019 em diante, passando pelos cenários adversos de pandemia e enchentes, com respostas positivas e lineares.
A decisão, até aqui, trata-se de um movimento de gestão. No entanto, a pauta corre pelo Conselho por conta da proposta de alienação fiduciária do estádio Beira-Rio, que obriga a votação dos conselheiros, por se tratar de um patrimônio do clube. Em suma, a casa colorada seria entregue como garantira ao credor, neste caso, a securitizadora, até que a dívida seja quitada, no prazo de cinco anos, com mais um de carência.
A administração do local e o lucro dos eventos seguiriam com o Inter. Antes, o clube pretende envolver, como garantia, a bilheteria dos jogos e a receita social. Com a proposta na mesa, surgiu a dúvida sobre a BRio deter parte do local e inviabilizar o movimento. “A empresa tem um direito de superfície, não sobre o patrimônio. Isso não sobrepõe uma coisa à outra, este é o parecer jurídico apresentado na operação”, tranquiliza Barcellos. Receitas de liquidez como direitos de televisão, venda de atletas e patrocínio, que são vistas como cruciais para o fluxo de caixa, não estarão envolvidas nos trâmites.
Quanto à votação desta segunda, o presidente se mostrou incomodado pela politização do debate que, segundo ele, foge dos termos técnicos. “Temos o otimismo, mas sabemos que sempre que você leva um assunto tão técnico para um debate mais político, acabamos sofrendo interpretações que desvirtuam o foco do real objetivo”. O pleito terá votação nominal registrada em ata, para que o associado possa conferir o voto de cada conselheiro. Para que o projeto seja aprovado, é necessária maioria simples dos votos válidos.