Com o calendário do futebol brasileiro repaginado para 2025 por conta do novo formato do Mundial de Clubes da Fifa, com 32 equipes e pouco menos de um mês de duração, entre os dias 15 de junho e 13 de julho, os campeonatos estaduais precisaram antecipar seu início, tradicionalmente marcado para a segunda quinzena de janeiro. Agora, o Gauchão terá sua primeira rodada na segunda semana do mês, entre os dias 11 e 12, encurtando a distância entre o começo da temporada e o término do Campeonato Brasileiro, no dia 8 de dezembro.
O anúncio da redistribuição dos prazos para a realização das competições foi confirmado pela CBF na última semana, e levantou dúvidas sobre a falta de tempo hábil para os clubes organizarem suas férias e voltarem à ativa após o Ano Novo, tendo em vista a necessidade da pré-temporada. Buscando esclarecer os planos para o Estadual de 2025, a reportagem conversou com o presidente da Federação Gaúcha de Futebol (FGF), Luciano Hocsman, que explicou o planejamento e o diálogo com a CBF em relação ao novo calendário. O conselho técnico do Estadual, entre federação e clubes, está marcado para a próxima sexta-feira (22), encurtando ainda mais o tempo para o ajuste fino da realização do torneio.
Jornal do Comércio - O que a FGF pensa sobre a mudança do calendário? É algo que vai atrapalhar o planejamento para o Gauchão?
Luciano Hocsman - Vamos atravessar um ano excepcional em razão do Mundial. Terá a necessidade de uma paralisação, e essa antecipação do início do campeonato mexe um pouco a nossa programação. Tanto da federação quanto dos clubes, não só daqueles que disputam o Brasileiro Série A, mas dos outros também. Vamos ter que nos adequar ao que foi proposto. Estamos estudando as situações para minimizar algum tipo de impacto, especialmente, nos atletas e no seu período de férias.
JC - Já existe um diálogo com os clubes da primeira divisão sobre o planejamento?
Hocsman - Conversamos com todos os presidentes. Passamos para eles a ideia da CBF e as datas que ela disponibilizou às federações para realizar os seus estaduais. Para aqueles que têm equipes disputando a Série A, a final do campeonato precisa acontecer até o dia 26 de março, o que também é um complicador. Estamos conversando não só com os três do Campeonato Brasileiro, mas também com os demais, e trabalhando para encontrar a melhor decisão para adequar o campeonato nessa excepcionalidade do calendário.
JC - O presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, falou sobre um diálogo incessante e de muitos esforços com as federações para aprovar o novo calendário. O tema realmente foi abordado com antecedência ou é algo que vocês estão sendo pegos de surpresa?
Hocsman - Primeiro, ocorreu o diálogo com as equipes, através da Comissão Nacional de Clubes (CNC), com representantes das séries A, B, C e D. Posteriormente, houve uma discussão com as federações para buscarmos um meio-termo daquilo que a CBF pensava no início, até o que ficasse minimamente razoável para realizarmos as competições. Mas houve um debate e uma apresentação das possibilidades e dos estudos feitos pela entidade máxima, até que chegássemos a um acordo termo e fosse lançado o calendário de 2025.
JC - Você falou sobre chegar a um meio-termo. A primeira proposta da CBF foi para que o Estadual começasse ainda mais cedo?
Hocsman - Existiam alguns estudos para se iniciar um pouco mais cedo, mas nunca houve uma proposta, apenas a apresentação para a montagem de calendário. As datas são sugeridas, mas não necessariamente as federações precisam iniciar exatamente nestes dias. Lembrando que o prazo final para a competição é 26 de março.
JC - O Estadual costuma ter 16 datas, o planejamento é que elas se mantenham sendo disputadas ou haja uma redução?
Hocsman - Esse é o número de datas disponibilizadas pela CBF para realização dos estaduais. No ano passado, utilizamos todas as datas. Até porque fizemos uma fase de quartas de final. No ano que vem, frente à excepcionalidade do calendário, teremos que fazer alguma adaptação no formato para minimizar o impacto dessa alteração.
JC - Você já falou algumas vezes que este calendário é algo excepcional por conta da disputa do Mundial de Clubes. As federações têm uma garantia da CBF de que, a partir de 2026, se retome o calendário habitual?
Hocsman - Falo em excepcionalidade pois é o que foi tratado e apresentado para o ano que vem. Com o Brasileirão 2025 terminando no dia 21 de dezembro, o calendário de 2026 vai ser impactado de qualquer forma. Inclusive porque tem Copa do Mundo e a necessidade de outra parada. Acho que vai ser outro calendário modificado. E também em 2027, já que a Copa do Mundo feminina vai ser no Brasil, e já há a manifestação da CBF de que ela pretende parar as competições nacionais.
JC - Os calendários cada vez mais apertados podem significar que, no futuro, os estaduais vão perder força?
Hocsman - O Estadual é de extrema importância para o ecossistema do futebol brasileiro. É uma porta de entrada para a descoberta de talentos. Quanto ao calendário, a gente vai vendo uma disputa, ainda que velada, entre Fifa e Uefa, e aí vão se criando essas competições que acabam impactando em um sistema de futebol que só existe no Brasil. Acho que é preciso que nós, com essa situação prevista para 2025, pensemos em uma espécie de comissão, com um debate mais ampliado, para adequar o futebol brasileiro ao calendário do futebol mundial. Não acho que o patinho feio são os estaduais, mas é necessário ter um debate, especialmente considerando a quantidade de clubes que nós temos e a função social que os estaduais possuem.