Um grupo com cerca de 20 pessoas, uma quadra, uma rede e uma bola de voleibol. Essa é a combinação necessária para um dos esportes que mais têm contribuído para a saúde física e a socialização de idosos em Porto Alegre. Trata-se do câmbio, modalidade com regras similares às do vôlei e surgida no Rio Grande do Sul, mas adaptado para idosos.
O câmbio utiliza a mesma quadra do vôlei, a bola também é igual e os times são compostos por nove jogadores que podem ser do mesmo sexo ou mistos. No caso dos times mistos, o recomendado é que três jogadores sejam homens e seis sejam mulheres nos jogos oficiais. As partidas têm dois tempos com duração de 15 minutos cada ou até que uma das equipes atinja 15 pontos. Depois de dominar, a equipe pode dar até três toques na bola antes de passar para o outro lado da rede. Assim como no vôlei, o objetivo é fazer com que a bola atinja o chão da quadra adversária.
A principal diferença em relação ao jogo tradicional de vôlei é o fato de se jogar "com a bola presa", ou seja, os participantes seguram a bola quando ela vem da quadra adversária. Como o número de participantes é maior, a velocidade do jogo é reduzida, fazendo com que os jogadores possam participar independentemente da condição física e vivência esportiva anterior.
"O câmbio é uma adaptação do jogo de vôlei para as pessoas que têm mais de 60 anos poderem estar aqui. Então a finalidade é poder se divertir, participar, conviver; mas, para aqueles que gostam, também de competir", explica Valter Jorge Guimarães de Moura, de 75 anos. Ele diz que, para além da prática esportiva, a modalidade proporciona convivência entre os idosos.
O grupo Parque Ramiro Souto, em alusão ao parque onde são realizadas as atividades, reúne pessoas que costumavam praticar esportes em outros momentos da vida, como basquete, handebol e o próprio vôlei. Mas não ter praticado atividades físicas anteriormente não é um impeditivo para iniciar no câmbio, já que a modalidade é de baixo impacto.
A equipe se reúne nas quadras localizadas no Parque Farroupilha (Redenção) duas vezes por semana, nas quartas e sextas-feiras, das 8h30min as 10h30min. Não são só porto-alegrenses que se encontram no parque para praticar esportes e se divertir, mas pessoas de Canoas e Gravataí também se deslocam de suas cidades para esse momento de descontração.
Quem coordena o grupo é Carolina Padilha Guedes, de 76 anos, que já fazia atividades físicas no Parque Ramiro Souto e foi convidada por uma amiga para experimentar o câmbio. O envolvimento com o esporte foi tanto que ela já está na modalidade há 20 anos. "As pessoas que se interessam, que gostam ou que queiram participar, ou para olhar e aprender ou já para jogar, é só vir aqui que nós acolhemos", afirma Carolina.
Carolina Padilha Guedes, coordenadora do grupo de câmbio Parque Ramiro Souto. Foto: Maria Welter/Especial/JC
"É um esporte que visa, principalmente, oportunizar ao idoso não ficar em casa. Ele vem para cá, se diverte, tem o pessoal jogando, brincando, se divertindo e isso faz bem para a saúde", complementa Moura.
Histórico do câmbio
O esporte foi criado na década de 1990 no Rio Grande do Sul por iniciativa coletiva de professores de Educação Física e de especialistas na área da Gerontologia de instituições como Universidade Fedral do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e Serviço Social do Comércio (Sesc). A ideia para desenvolver a modalidade visava promover a saúde da população 60+, aliada ao senso de equipe e integração dos idosos.