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Publicada em 21 de Fevereiro de 2024 às 12:52

Árbitra gaúcha é a primeira mulher das Américas a apitar vôlei nas Olimpíadas

Angela Araújo Gusmão Grass está no mais alto nível da arbitragem internacional de vôlei

Angela Araújo Gusmão Grass está no mais alto nível da arbitragem internacional de vôlei

Kacper Kirklewski/FIVB/Divulgação/JC
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Maria Welter
Maria Welter Repórter
"Se tu tens times femininos, por que a arbitragem é só masculina? Se a mulher pode jogar, por que que a mulher não pode apitar?", são esses questionamentos feitos pela educadora física e árbitra gaúcha Angela Araújo Gusmão Grass, de 55 anos, que a fizeram alcançar um feito histórico para o voleibol brasileiro e americano. Ela será a primeira mulher das Américas a apitar partidas de vôlei em Jogos Olímpicos.
"Se tu tens times femininos, por que a arbitragem é só masculina? Se a mulher pode jogar, por que que a mulher não pode apitar?", são esses questionamentos feitos pela educadora física e árbitra gaúcha Angela Araújo Gusmão Grass, de 55 anos, que a fizeram alcançar um feito histórico para o voleibol brasileiro e americano. Ela será a primeira mulher das Américas a apitar partidas de vôlei em Jogos Olímpicos.
A história de Angela com o esporte não começou nas quadras, mas nas pistas de atletismo da Sociedade de Ginástica Porto Alegre (Sogipa). A velocista de 100m decidiu trocar de modalidade pois buscava um esporte coletivo e optou pelo vôlei aos 11 anos de idade. "Fui participando das seleções do Rio Grande do Sul, mas, na época, a estatura do vôlei era uma estatura mais baixa, então começou a aumentar a estrutura", relata.
Quando chegou a época de escolher uma graduação, a escolha foi cursar Educação Física no Centro Universitário Metodista (IPA). Angela continuou tendo contato com o vôlei. Primeiro, jogando pela equipe do IPA e, depois, atuando como monitora na cadeira de voleibol. Como acreditava não ter altura para seguir como atleta profissional, resolveu se dedicar ao ofício de treinadora.
"Tive uma experiência dentro da própria faculdade com equipes mirins e odiei atuar como técnica, o outro lado não era interessante", conta. Então, um colega de faculdade da época – que, hoje, é seu marido – incentivou Angela a fazer o curso de arbitragem para que pudesse se manter dentro de quadra. Ela aceitou o desafio e fez o curso da Federação Gaúcha de Voleibol (FVG) em 1987, passando a apitar jogos no Estado.
A falta de representatividade feminina nos apitos foi, ao mesmo tempo, um empecilho e um impulsionador para Angela. Ela ouvia que deveria tentar ser montadora por ter a letra bonita. "Mas eu dizia que não queria ficar sentada. Meu negócio não é escrever, meu negócio é participar do jogo", diz a árbitra. Assim, foi galgando seu espaço na arbitragem, passando por diversas categorias até chegar à arbitragem internacional.
Na arbitragem de voleibol, é preciso seguir uma linha com os cursos de promoção. Angela fez o curso para se tornar árbitra internacional em 2004 e, a partir de então, começou a apitar jogos dentro do continente. Em cada competição, é feita uma avaliação criteriosa para saber se o profissional está qualificado para apitar torneios de maior relevância. Entre os critérios, estão postura, conhecimento da regra, trabalho como árbitra e empatia com colegas, técnicos e atletas.
"Fui a primeira mulher do nosso continente a atingir a categoria de internacional. Hoje em dia, atuando, só tem eu como mulher e o restante todos são homens no Brasil", conta Angela. Atualmente, ela está na categoria A da arbitragem internacional, que a autoriza a apitar competições como o Mundial Adulto, Liga das Nações e Pré-Olímpico.
Neste ano, ela foi qualificada para apitar quatro etapas da Liga das Nações, competição internacional de voleibol disputada pelas seleções masculinas filiadas à Federação Internacional de Voleibol (FIVB), o que significa que havia alcançado boas avaliações nas competições anteriores. Em seguida, recebeu a notificação de que iria apitar partidas nos Jogos Olímpicos em Paris.
A preparação para a maior competição multiesportiva do mundo começa apitando uma etapa feminina e três masculinas na Liga das Nações. Ainda, é feito o envio de documentações e são realizadas diversas reuniões online sobre a organização das Olimpíadas. O desembarque em solo francês acontecerá quatro dias antes do inícios dos Jogos, em 23 de julho, para que o local das competições seja checado com antecedência.
"Muitas vezes, tu pensas em desistir por ser a única mulher, por essa pressão masculina e achar que tu não tens espaço para chegar", confidencia Angela. Ela pode apitar competições internacionais até os 60 anos, idade limite da FIVB. Depois, pode continuar como árbitra de vídeo.
Chegando ao mais alto posto que uma árbitra pode chegar no voleibol, a gaúcha pretende focar seus esforços em inspirar outras mulheres a seguirem o caminho da arbitragem, tanto a nível brasileiro quanto internacional. "Eles têm a presunção de dizer 'ah, mas é que a mulher é mais sentimental, mulher é mais fraca', e a mulher não é. Não tem nada a ver esses fatores com a arbitragem. Mas, ao mesmo tempo, ser mais sentimental ajuda muito na tua empatia com atletas com técnicos", finaliza Angela.

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