O julgamento do jogador Daniel Alves, acusado de estupro por uma jovem de 24 anos em uma boate na noite de 30 de dezembro de 2022, começou na manhã desta segunda-feira (5) em Barcelona, onde o brasileiro está preso desde o dia 20 de janeiro de 2023.
Alves chegou à Audiência de Barcelona, palácio da Justiça no centro da cidade, por volta das 10h (6h em Brasília) e sentou-se na sala do julgamento às 10h29min. Alves, que seria o primeiro da lista a falar, teve seu depoimento transferido para a quarta-feira (7), o último dia do julgamento, a pedido da defesa.
A imprensa acompanhou a sessão em três salas no local, nas quais se podia assistir ao julgamento por meio de um circuito fechado de televisão. Credenciaram-se 270 jornalistas.
A primeira pessoa a ser ouvida, entre 13h e 14h15min, foi a suposta vítima, mas não foi possível acompanhar seu depoimento, já que o sinal interno foi cortado. Essa medida foi tomada para garantir a sua privacidade. Além disso, ela se sentou atrás de um biombo para evitar contato visual com Daniel Alves. Sua voz foi distorcida para que, mesmo no futuro, a filmagem não a possa identificar.
Ela foi seguida pelo testemunho de sua amiga, que a acompanhava na boate Sutton Barcelona quando o caso aconteceu. Ainda está previsto para esta segunda-feira o depoimento da prima da suposta vítima, igualmente presente de 30 de novembro de 2022.
A moça, que chorou algumas vezes durante o depoimento, detalhou o que fizeram naquela noite. "Fomos jantar na minha casa e depois fomos para a zona de Tusset, para o [bar] Duplex, onde nos dão um desconto para entrar na Sutton antes das 2h. Estávamos dançando na parte geral da boate e, em frente, na mesma altura, fica a área VIP. Dois ou três mexicanos desceram e perguntaram se queríamos ir com eles para lá. Nós concordamos e fomos com eles, afirmou.
Na área VIP, "estava esse homem [Daniel Alves] de pé. Ele teve uma atitude nojenta, colocou a mão nas minhas costas e quase tocou na minha bunda. Minha amiga disse 'ele tocou minha vagina'."
Mais tarde, a prima da jovem avisou a ela "que precisava ir embora". "Eu a conheço desde os três anos e nunca a vi chorar daquele jeito. Nós três choramos, eu não sabia como reagir naquele momento", explicou ela.
A testemunha disse que de forma alguma a relação de sua amiga com Alves foi consensual: "Ela não quis, não, não, não". "Ela não queria denunciar, realmente foi muito difícil. Ela estava em choque. Hoje ela está muito mal, perdeu muito peso, está ansiosa. Reduziu seu círculo de amigos porque não confia em ninguém", comentou.
De manhã, a sessão começou com o Ministério Público apresentando o documento de licença médica da vítima, entrevistas de Alves em janeiro de 2023 e a ação movida pela denunciante por divulgação de suas imagens pela mãe do jogador de futebol.
Já a advogada de Alves, Inés Guardiola, pediu a suspensão do julgamento devido a uma suposta violação dos direitos fundamentais do jogador ao privar o perito da sua parte de intervir no exame psicológico da vítima. O pedido foi negado.
A pena máxima, sem agravantes, para um estupro na Espanha é de 12 anos, tempo pedido pela acusação. Já a defesa do brasileiro pede a absolvição.
Havia a expectativa, entre os jornalistas presentes, de que as partes chegassem a um "acordo de conformidade" antes de o julgamento começar. Isso significaria que o julgamento seria suspenso, o que não aconteceu.
Esse acordo, no qual Alves pagaria um valor à vítima, ainda pode ser feito mesmo no meio das sessões. É possível, em teoria, até o último momento antes de o juiz proferir a sentença.
O julgamento deve durar três dias e seis testemunhas no total devem ser ouvidas nesta segunda. A terça-feira (6) está reservada para o restante dos depoimentos, e a quarta, para apresentação de relatórios e conclusões dos policiais e de peritos.
Folhapress