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Publicada em 26 de Dezembro de 2023 às 17:59

Fechado há 10 anos, estádio Olímpico segue com destino indefinido

Palco de grandes glórias do Grêmio entre 1954 e 2013, o Olímpico Monumental gera saudosismo aos torcedores e insegurança a moradores da Azenha

Palco de grandes glórias do Grêmio entre 1954 e 2013, o Olímpico Monumental gera saudosismo aos torcedores e insegurança a moradores da Azenha

/TÂNIA MEINERZ/JC
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Maria Welter
Maria Welter Repórter
Palco de grandes glórias do Grêmio entre 1954 e 2013, o Estádio Olímpico Monumental é, hoje, motivo de lamento de torcedores e de insegurança para moradores da região do bairro da Azenha, em Porto Alegre. O Velho Casarão viu 1.766 jogos e 21 títulos em seus 58 anos na ativa e seu destino segue indefinido devido aos impasses entre o clube e a construtora Metha (antiga OAS), responsável pela construção da Arena.
Palco de grandes glórias do Grêmio entre 1954 e 2013, o Estádio Olímpico Monumental é, hoje, motivo de lamento de torcedores e de insegurança para moradores da região do bairro da Azenha, em Porto Alegre. O Velho Casarão viu 1.766 jogos e 21 títulos em seus 58 anos na ativa e seu destino segue indefinido devido aos impasses entre o clube e a construtora Metha (antiga OAS), responsável pela construção da Arena.
O estádio entrou no pacote feito entre o clube e a Construtora OAS para a construção da Arena do Grêmio, no bairro Humaitá. O espaço seria entregue à OAS como parte da negociação, em meio ao boom de novos estádios, impulsionados pela Copa do Mundo de 2014. A construtora planejava implodir a área do Olímpico e erguer prédios residenciais, mas o descumprimento de cláusulas previstas no contrato – como a de melhorias no entorno da Arena – fez com que o clube não entregasse o Monumental.
Em meio ao imbróglio, a OAS foi uma das principais investigadas pela Operação Lava-Jato, maior investigação de desvio e lavagem de dinheiro público já realizada no Brasil, e a companhia entrou em recuperação judicial. Assim, o Olímpico segue sob posse do Grêmio, enquanto a OAS detém os direitos da Arena até 2032. Já as obras no entorno seguem sem previsão de execução.
Atualmente, os únicos autorizados a adentrar os portões do Olímpico são os seguranças e funcionários responsáveis por documentos que estavam no arquivo morto do clube. Do lado de fora, é possível ver os danos na estrutura causados pelo tempo, com partes dos arcos destruídas e as arquibancadas caindo. Os refletores seguem de pé, e viraram casa para pássaros que fizeram seus ninhos e sobrevoam o local histórico.

Da inauguração ao fim do Velho Casarão

 
TÂNIA MEINERZ/JC
Destruição toma conta do estádio e demais construções na área do Olímpico. Foto: Tânia Meinerz/JC
De propriedade do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense, o estádio foi inaugurado no dia 19 de setembro de 1954. A partida inaugural foi um amistoso entre Grêmio e Nacional de Montevideo, com vitória gremista por 2 a 0, gols do atacante Vitor.
Localizado no Largo Patrono Fernando Kroeff nº 1, o Olímpico teve sua construção finalizada na metade do ano de 1980, com o fechamento da última parte do anel superior. A partir de então, a casa gremista passou a ser conhecida como Olímpico Monumental. No dia 21 de junho de 1980, a vitória de 1 a 0 sobre o Vasco da Gama, em partida amistosa, marcou a nova era do estádio.
A última partida no Velho Casarão seria contra o tradicional rival, o Internacional, no dia 12 de dezembro de 2012 em partida válida pelo Campeonato Brasileiro. Contudo, o estádio continuou a receber jogos até 2013 devido aos atrasos na construção da Arena. A última partida oficial no Olímpico foi no dia 17 de fevereiro, contra o Veranópolis, pela rodada final da Taça Piratini, primeiro turno do Campeonato Gaúcho. O último gol tricolor no estádio saiu dos pés do zagueiro Werley, que sacramentou a vitória por 1 a 0. O estádio chegou a sediar ainda os treinos da equipe principal e da base em 2014.

As memórias do torcedor

TÂNIA MEINERZ/JC
Letreiro apagado da Grêmio Mania na entrada da Rua José de Alencar. Foto: Tânia Meinerz/JC
Na memória do torcedor, restam os dias em que o Olímpico pulsava futebol. O empresário Júlio Cesar Queiroz Ribeiro, 61 anos, conta que costumava ir aos jogos no estádio e foi contra a ida do Tricolor para a Arena. "Por que não fizeram como o coirmão? Que reformassem aqui", questiona o empresário. O gremista vestia uma camiseta vintage do ano de 1962, que explica ter sido presente do seu filho, pois é o ano de seu nascimento.
Morador da região há cinco anos, ele afirma que sente falta do sentimento de fraternidade que o Olímpico proporcionava. "Aquele grupo de pessoas com a mesma sintonia, sentindo a mesma emoção que o futebol traz para gente. Antes, não tinha tanta vinculação com o capitalismo, era mais em função do esporte. Eu perdi a vontade, não conheço a Arena, prefiro ver os jogos na televisão, porque perdi aquela emoção que tinha antes", afirma Ribeiro.
Já o construtor Valdemar Barth, de 77 anos, acompanhou a mudança da região com a chegada do Olímpico e com o seu fim. Ele lembra que, antes da construção do estádio, a Vila Caiu do Céu ocupava a área. Eram mais de mil casas que foram deslocadas para que pudessem ter início as obras do que seria a nova casa Tricolor. "O Grêmio errou em ir para a Arena, era para ter ficado aqui, teria ganho dinheiro se tivesse ficado no Olímpico", defende o construtor. Colorado, Barth afirma que a região era um "antro de gremistas" com o Velho Monumental em funcionamento.

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