O mandatário dos próximos três anos de gestão do Inter será conhecido neste sábado a partir do voto do seu torcedor. A situação quer se manter à frente do clube através de Alessandro Barcellos, da Chapa 1 - Em frente! Pelo Inter, Pela Torcida. Do outro lado, o ex-vice de futebol Roberto Melo tenta comandar o Colorado pela primeira vez, representando a Chapa 2 - Gigante de Novo. As eleições ocorrem das 9h às 17h, tanto da forma online como presencial, no ginásio Gigantinho. Em entrevista ao Jornal do Comércio, os dois reforçaram os principais pontos de suas campanhas, passando pelo futebol, finanças e quadro social. Para ambos, o foco está em retomar o caminho dos títulos.
FINANÇAS
Barcellos: A necessidade de continuar o projeto estabelecido desde 2021 passa pela nova condição financeira do clube, após três anos de superávit e um aporte maior para investir no futebol. O clube hoje tem recurso, fez o seu dever de casa, equilibrou e estancou a dívida e, hoje, tem uma receita extraordinária de R$ 200 milhões garantida dentro dos cofres, algo que não teve ao longo dos últimos três anos. Por necessidades financeiras, não tínhamos condições de fazer grandes aportes para investimento, mas agora é diferente. Podemos fazer estes movimentos, disputar atletas com outros clubes, algo que já estamos fazendo.
Melo: O Inter precisa ter melhores resultados e precisa todo ano se qualificar. É isso que a gente vai fazer, investir para montar um time forte já para ganhar o Gauchão, que é a nossa primeira grande prioridade. Precisamos fazer alterações no departamento de futebol já que há quase um ano não temos um executivoe nem um coordenador técnico. Vamos investir tanto no time dentro de campo, quanto fora das quatro linhas, com profissionais que conhecem o clube.
INVESTIDORES
Barcellos: Reconheço a importância dos aportes financeiros vindo de investidores, mas acho necessário recebê-los com mais transparência. Trabalhamos desde o final do ano passado na confecção e na montagem de um fundo de investimento. Ele dá condições a esses investidores de aportarem recursos no clube, com garantia de retorno e transparência de como isso vai funcionar. Além disso, quais as taxas serão utilizadas e o prazo de retorno. Isso tranquiliza o investidor, o clube e o Conselho Deliberativo.
Melo: Todo colorado sabe a importância que o [Delcir] Sonda já teve no Inter. Ele está há muito tempo no clube e não chegou agora em meio à campanha eleitoral. Ele ajudou em diversos momentos, tanto de conquistas como em situações difíceis. Agora, ele vai fazer parte da gestão. Já é conselheiro desde e tem o sonho de ser presidente do Inter. Ele vai ajudar a construir o CT da base e a formar um grande time. Mas se a gente vencer a eleição, vamos buscar outros investidores, sejam eles quais forem.
CATEGORIAS DE BASE
Barcellos: Além do investimento no novo centro de treinamentos, que é necessário e será feito a partir dos mecanismos de investimento, nós também vamos investir em jogadores que estão acima dos 16-17 anos. Já existe no Brasil, um mercado relativamente novo de valores mais altos desses jogadores semi-prontos. Aumentamos a capacidade de observação com profissionais na base para captar esse tipo de atleta. Ainda, esperamos o retorno desses investimentos em outras categorias. Os resultados serão mais visíveis nas categorias inferiores, que são objeto de uma mudança que iniciou três anos atrás. A sub-15, 16 e 17 já vai começar a enxergar esse trabalho de forma mais clara nos próximos anos.
Melo: Comecei no clube em 2007 e, em 2011/2012, fui diretor geral da base, então, sei da importância dela. Naquele momento, formamos jogadores como Alisson, Fred, Otávio, Rodrigo Dourado e William. Agora, nos últimos anos, apareceram jogadores que a gente deixou para a gestão atual. Eles vão fazer cerca de 50 milhões de euros em receitas desses atletas que foram deixados, como Yuri Alberto, Nonato, Praxedes, Vinicius Tobias e, agora, o Johnny, que acabou de ser vendido. O que nos preocupa é quem essa gestão vai deixar para o próximo triênio? Pelo jeito, ninguém. Não se revelou nenhum jogador nesses últimos três anos, se tratando de atletas que estejam no time principal e que estejam aparecendo, que é um processo que muitas vezes demora para acontecer.
FUTEBOL FEMININO
Barcellos: Pretendemos manter o ritmo que a nossa gestão vem atuando na modalidade. Já no início do próximo ano, vamos alocar mais recursos no futebol feminino. Fomos quem mais investiu nas Gurias Coloradas, dobrando os investimentos e trazendo mais visibilidade.
Melo: Vamos dar a prioridade que ele merece, o futebol feminino está forte, nossas atletas sempre se apresentando bem, e a gente tem que dar uma atenção para investir mais e ter contratos mais longos com as principais atletas. Para não se repetir o que vem acontecendo nos últimos anos de, em cada final de temporada, o time se desmanchar. O nosso objetivo é fortalecer a modalidade com melhores condições, estrutura e contratos.
SAF
Barcellos: A SAF (Sociedade Anônima do Futebol) é um longo processo e exige muito estudo até uma tomada de decisão. Ano passado, fizemos um seminário interno tratando de finanças relacionadas ao assunto. Convidamos especialistas do Brasil inteiro, alguns com modelos de Saf, uns a favor, outros contra. Trouxemos exemplos do mundo todo para tentar nivelar o debate para o conselho que, ao fim e ao cabo, é quem decide assuntos como esse. A gestão tem a responsabilidade de estar atenta e trazer esse tema. Para nós, é uma realidade ainda distante, no que diz respeito a uma decisão final. Se você não está bem preparado, você acaba sendo chamado para um modelo de Saf como a única solução da sua vida e acaba se submetendo a qualquer tipo de negócio. O Inter não precisa disso.
Melo: Creio que é um grande risco, o tipo de contrato que vem sendo feito. A gente vê clubes que estão virando Saf e na realidade são todas instituições que estão desesperadas e muito endividadas, quase insolúveis. E aí no ato de desespero praticamente entregam o clube na mão destes investidores. A SAF não é sinônimo de boa gestão. Um clube pode fazer uma boa administração por conta. E o risco que a SAF tem é a falência. As pessoas esquecem que o clube vira uma empresa, e se esse investidor que vem aqui não pagar as dívidas assumidas, pode ser pedido a falência. Caso decretada, vai acontecer que nem na Europa, onde os times foram rebaixados para a última série dos campeonatos nacionais.