Dois zagueiros, três zagueiros, dois volantes, três volantes, quatro volantes, laterais ou alas. 4-4-2, 3-5-2, 4-3-3. Não importa a formação do time nem o esquema tático colocado em campo pelo treinador. A defesa do Grêmio é uma peneira que vaza por todos os lados. Chega a ser angustiante de ver. Cada ataque adversário, não importa o adversário, é um filme de terror. Mal posicionamento, jogadores com baixa qualidade técnica, treino insuficiente? O que acontece com a defesa do Grêmio?
São 53 gols sofridos no Brasileirão. O Grêmio conseguiu a façanha de sofrer três gols do rebaixado América-MG. Tomou três do Inter, três do Botafogo, três do São Paulo, quatro do Corinthians, e, agora, neste domingo, mais três do Atlético-MG. O time de Renato Portaluppi faz muitos gols também, é verdade – 57 no total, o segundo melhor ataque da competição. Entretanto, é impossível conquistar algo tendo uma defesa tão frágil como é a gremista.
Não se pode dizer que Renato Portaluppi não tem ficado inerte diante da situação. O técnico gremista tem feito sucessivas mudanças nos nomes e no esquema da defesa buscando encontrar o tão falado equilíbrio. Essas mexidas, no entanto, até o momento, não lograram resultados positivos. A impressão que passa, assim, é que Renato não tem o diagnóstico do problema que afeta o setor defensivo do seu time. Sem saber qual é o problema, o treinador atua como um cientista. Faz experimentos e mais experimentos em busca de respostas que possam levá-lo à solução desejada. Até agora, acumula fracassos.
Na opinião deste jornalista, o problema da defesa do Grêmio é sistêmico e passa por individualidades insuficientes e uma mecânica de jogo que dá muitos espaços. Senão vejamos:
Individualidades
As falhas defensivas gremistas começam pelos atletas que formam a linha mais baixa do time. Geromel não consegue jogar e, quando o fez, mostrou que o tempo passa para todos, e não é mais aquele zagueiro que entrou na história do clube. Sem Geromel ao lado, Kannemann não dá a resposta que sempre deu ao lado do seu parceiro de conquistas. Bruno Alves e Bruno Uvini mostram uma leitura de posicionamento bastante equivocada. Gustavo Martins é um garoto que ainda tem muita estrada pela frente para poder se firmar na posição. E, por fim, Rodrigo Ely pouco jogou e, quando entrou em campo, não mostrou grandes valências técnicas.
Nas laterais, o problema é maior ainda. Reinaldo dá muitos espaços em suas costas pela esquerda e, pelo outro lado, nem João Pedro nem Fábio conseguem dar segurança.
No meio campo, a falta de um “cão de guarda” que compense as fragilidades dos laterais é evidente. Villasanti é quem mais marca, mas fica sobrecarregado, visto que seus companheiros não possuem capacidade de cobrir os avanços dos laterais e são mais passadores do que marcadores. Por fim, nem Cristaldo, nem Galdino, nem Ferreira e nem Besozzi fazem o que Everton Cebolinha, Pedro Rocha e Pepê faziam muito bem, que é fechar o lado dando suporte para o lateral.
Posicionamento e mecânica de jogo
O Grêmio dá muitos espaços para os oponentes infiltrarem – principalmente pelo meio – e entrarem em sua área. Isso se dá pela falta de compactação do meio campo com a defesa. O buraco entre os zagueiros e os meio-campistas e laterais se transforma em uma passarela para os meias e avantes adversários se movimentarem. Como os volantes e laterais jogam muito adiantados, os zagueiros precisam avançar para cobrir esse espaço e aí qualquer atacante que saiba minimamente se movimentar entre as linhas acaba ficando livre para receber na cara do goleiro.
Soluções?
Se fosse fácil resolver os problemas gremistas, Renato já o teria feito. Em relação às individualidades, não há o que ser feito. O grupo é o que está aí e cabe ao comandante tirar o melhor de seus atletas. Já no que diz respeito ao modo de jogar, mudanças podem ser feitas, mesmo que o tempo seja escasso até o final da temporada.
Renato precisa fazer os setores do seu time jogarem mais próximos. O time tem de se movimentar em bloco, como engrenagens que, ao se moverem, fazem todo o mecanismo funcionar. Um meio campo mais robusto e posicionado poderia dar conta das subidas dos laterais e dar um refresco para os zagueiros. Por fim, o movimento de pêndulo dos jogadores de ataque que jogam pelos lados precisa ser feito repetidamente com vistas a dar o suporte defensivo.
Restam três jogos e não se espera que uma revolução seja feita na defesa do Grêmio. Entretanto, se quer a vaga direta na Libertadores, o time precisa parar de vazar tanto.