As judocas Katia Alves e Enya Pires, do Grêmio Náutico União (GNU), vão representar o Brasil no Campeonato Mundial Sub-21, que acontece desta quarta-feira (4) a 8 de outubro em Portugal. Após protagonizarem a final do Campeonato Pan-Americano e Oceania, as atletas alcançaram o TOP 2 e TOP 6 do ranking mundial, respectivamente, e foram convocadas pela Confederação Brasileira de Judô (CBJ) para o campeonato internacional.
Na competição realizada no Canadá em setembro, Katia ficou com o ouro e Enya com a prata na categoria +78kg. As judocas ainda conquistaram o ouro por equipes com o Brasil, após vencerem as donas da casa na decisão.
As unionistas já haviam feito dobradinha em competições nacionais e afirmam que a rivalidade fica apenas dentro do dojo. "Nós fazemos as lutas normais, mas quando acaba continuamos na mesma. Porque temos que nos manter no mesmo ambiente, de viajar juntas, treinamos aqui no dojo juntas e acho que é mais (uma questão de) maturidade. Temos que ter muita maturidade para não causar confusão ou brigas, algo assim", conta Katia.
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"No patamar em que estamos, é muito bom pela visibilidade que estamos dando para o clube porque praticamente o ano inteiro nas competições nacionais foi sempre eu e ela no pódio, então isso é muito bom para o clube porque dá para enxergar que o trabalho que fazemos aqui no tatame está dando certo", complementa Enya.
Colegas de clube, as atletas embarcam juntas para Portugal para competir o Mundial Sub-21. Foto: Tânia Meinerz/JC
O sensei Rafael Garcia, treinador da equipe principal de judô do GNU, comenta que esse cenário em que as duas são as principais rivais uma da outra foi uma construção feita pelo clube. "Ter duas atletas no mesmo peso poderia ser uma coisa ruim, mas conseguimos fazer com que isso se tornasse algo muito positivo. Através do nosso trabalho e da nossa metodologia, conseguimos fazer com que elas se tornassem principais parceiras e que uma apoiasse a outra para que elas pudessem crescer, tanto que hoje uma é a número um do ranking nacional e a outra é número dois", explica o sensei.
A dupla coleciona bom desempenho nas competições de 2023. Além das duas medalhas de ouro no Canadá, Katia subiu ao topo do pódio na Áustria, levou a prata na Alemanha e no Brasil e outro bronze no Brasil. Já Enya foi ouro no Brasil e Prata em Paris e no Canadá.
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Devido à crescente de conquistas, as atletas comentam que já esperavam que a convocação para o Mundial aconteceria, mas que a emoção ao ver os nomes na lista da CBJ foi enorme. "Já vínhamos fazendo um baita trabalho desde o início do ano e estávamos com a expectativa de sermos convocadas e foi só essa confirmação, mas veio aquela alegria junto, a emoção, do ano inteiro ter trabalhado duro para conseguir a vaga e foi muito bom, foi ótimo", comemora Katia.
Da esquerda para a direita: Judoca Enya Pires, sensei Rafael Garcia e judoca Katia Alves. Foto: Tânia Meinerz/JC
Garcia explica que em um campeonato internacional, que é o caso do Mundial, apenas duas categorias podem ter o peso dobrado, ou seja, cada país pode convocar dois atletas na mesma categoria em apenas dois pesos – que é o que aconteceu no pesado feminino com Katia e Enya. "Conseguimos o feito de ter duas atletas do mesmo clube representando o Brasil na principal competição da idade delas e ainda dobrando a mesma categoria. Acredito que foi algo extremamente positivo", comenta o sensei.
O sensei comenta que parte do objetivo foi concretizado com a convocação para o Mundial e, agora, dão um passo em direção a outra meta: a dobradinha na competição. "Elas acabam nunca ficando na zona de conforto, porque veem 'opa, ela está treinando, tenho que treinar também'. Então conseguimos fazer todos esses fatores que poderiam ser negativos se somatizarem e se tornaram extremamente positivos", destaca Garcia.
"Essas últimas semanas nós treinamos muito, tanto a parte técnica, quanto a parte física e eu acho que a expectativa que a gente tem é que, se Deus quiser, a gente vai conseguir fazer uma final porque estar entre as melhores do mundo assim é uma coisa muito extraordinária", diz Enya.
Katia Alves
Quando criança, a cearense Katia Alves não imaginava que seria judoca. Começou a treinar por incentivo da irmã, que já praticava o esporte, e a relação com o dojo não foi amor à primeira vista. "No início, eu não gostava do judô, porque eu apanhava bastante, e eu comecei a não querer ir mais. Eu fui crescendo e voltei a fazer judô por volta de 2015", conta a atleta.
A participação em um campeonato regional fez com que Katia pegasse gosto pelo esporte e, em 2019, conquistou sua primeira medalha nacional. "Em 2020, teve a seletiva olímpica e eu vi os senseis do Grêmio Náutico União. Eu tinha uma amiga aqui também, aí ela conversou com os senseis, falou que eu gostava de treinar e que eu queria algo a mais, que no meu estado não estavam me proporcionando", afirma.
"Eu me senti muito abraçada, me sinto em casa aqui, os senseis são muito 'pais', nos acolhem muito bem e o clube também, é muita aconchegante estar aqui, é como se fosse uma casa, é o melhor lugar em que eu poderia estar hoje", destaca Katia.
Enya Pires
Natural de Passo Fundo, a judoca Enya Pires deu os primeiros golpes aos sete anos de idade, por incentivo de um amigo que praticava judô. "Antes do judô, eu já tinha feito a maioria dos esportes, porque como eu era uma criança muito hiperativa, eu tinha que fazer algum esporte para conseguir dormir de noite (risos)", diz Enya.
Inicialmente, Enya não encarou o judô com seriedade, mas a participação em competições fez seus olhos brilharem pelo esporte. A atleta começou a treinar no GNU no início de 2022, após convite do sensei Rafael.
"Já nos conhecíamos das competições estaduais e nacionais que, às vezes, ele ia como técnico da seleção gaúcha de judô nos brasileiros. Acho que foi uma das melhores coisas ele ter me chamado porque como eu já tinha amigos aqui na União é como se fosse a minha segunda casa", afirma a judoca.