Gaúcha campeã brasileira de xadrez sub-8 irá representar o Brasil em mundial na Geórgia

Um velho ditado popular já dizia: filho de peixe, peixinho é. No caso de Maria Eduarda Tischler, de Santa Cruz do Sul, região central do Estado, o ditado se realizou através do xadrez. A garota de 8 anos iniciou sua trajetória no xadrez aos 4, vendo o pai jogar pela internet. Uma tradição passada de pai para filha que se materializou em conquistas em 2022: a menina venceu o Campeonato Brasileiro de Xadrez Sub-8, disputado em Natal (RN) em junho deste ano. Além do título de campeã brasileira, o resultado carimbou o passaporte de Maria para Batumi, na Geórgia, onde ela irá disputar o Campeonato Mundial de Xadrez Infantil de 2022 (World Cadet Chess Championship 2022) entre os dias 15 e 28 de setembro.

Seu pai, o juiz federal Eduardo Vandré Lema Garcia, conta como o interesse da filha pelo jogo foi despertado: “Sempre tive tabuleiro na sala e ela me via jogar online também. Ela pediu para eu ensinar. Depois do primeiro dia, nunca mais parou de pedir para jogar”. Ele também conta que, em pouco tempo, percebeu que a menina tinha um grande potencial para o jogo: “Eu notei que ela amava xadrez e gostava muito de pensar e calcular. Ensinei o xadrez “sério” para ela, como deve ser jogado, tentando demonstrar a beleza do jogo. Ela desenvolveu esse amor e esforçou-se muito; esses dois fatores (amor e dedicação) foram os grandes diferenciais dela”.

Em suas próprias palavras, Maria conta sobre seu intenso treinamento para o Mundial: “O meu treinamento está bem forte. Eu faço 4 tabuleiros por dia e treino mais ou menos 3 horas. Nos tabuleiros, eu não posso mexer as peças, é tudo cálculo. Faço vários exercícios e jogo partidas pensadas no tabuleiro toda a semana”.

Em abril deste ano, ela passou a contar com um reforço de peso em seu treinamento: o Grande Mestre André Diamant, de Chapecó (SC), campeão brasileiro em 2008 e integrante da equipe nacional que disputou as Olimpíadas de Xadrez em Chennai, na Índia, há cerca de 1 mês. O enxadrista foi convidado pelo pai da menina para avaliar o jogo dela, e logo percebeu um potencial na jovem: “Comecei a treiná-la no início deste ano. O pai dela me procurou pra jogar umas partidas-treino com ela e avaliar seu jogo. Logo vi que era um talento e me coloquei a disposição para treiná-la”.

André comentou sobre alguns trabalhos já feitos desde o início dos treinamentos: “Ela tem uma compreensão de jogo muito à frente da idade dela. Reforcei bastante todos os aspectos do jogo, incluindo aberturas e finais. Ela amadureceu muito também com o treinamento e joga com bastante calma”. Além dos treinamentos, o Grande Mestre destaca o prazer que é treinar um jovem talento do esporte: “É uma honra imensa treiná-la. Toda vez que a Maria está jogando eu fico ansioso acompanhando os resultados, e pedindo fotos das posições para a família pra poder acompanhar. Meu objetivo é manter o interesse dela até ela alcançar seus objetivos”. Atualmente, os dois treinam juntos 3 vezes por semana, e o Grande Mestre acompanhará a garota de maneira virtual durante a disputa do Mundial.

Uma característica de Maria é que ela sempre deixa uma boneca ao lado do tabuleiro em suas partidas. Isso nos lembra que, embora tenha um jogo muito avançado para sua idade, ela ainda é uma criança de 8 anos, e tanto ela como o pai demonstram saber muito bem disso, equilibrando o xadrez com as demais atividades infantis. “As exigências para o xadrez são muito grandes. É muito treino e dedicação. Não é algo que os pais possam impor, tem que vir da criança. Eu falei para ela: ‘filha, se quiseres crescer, é muito o que vamos te exigir, mas tu não és obrigada a isso. Porém, ela respondeu que queria. Então, organizamos uma rotina de treinamento que fica próximo a três horas por dia. Mas bem equilibrado com a escola e brincadeiras. Maria brinca muito, tem muitos amigos e eles estão sempre lá em casa. A vida não é só xadrez”, diz o pai.

Sobre a boneca ao lado do tabuleiro, ele conta que é uma marca registrada da menina: “Maria é muito pé no chão. Ela sabe que o que conta é o esforço e não sorte. A boneca, diz ela, ‘é a minha marca registrada’”.