Carlos Trein tem uma ligação de décadas com o Senai. Engenheiro químico, entrou na instituição como instrutor de Química no curso técnico de calçados, e desde então permanece no Senai. Como diretor regional, destaca que o Senai prima, desde a sua origem, por uma formação diferenciada. Nesta entrevista, explica que a tecnologia e a inovação, mais do que nunca, estão presentes nas atividades da instituição.
Jornal do Comércio - É possível traçar um paralelo entre o Senai, no momento da sua criação, em 1942, e o cenário que se apresenta hoje, em 2022?
Carlos Trein - Até hoje, eu acredito que o papel do Senai é o mesmo. Temos a missão de apoiar a competitividade da indústria, seja com educação ou outros serviços. E desde a origem, primamos por uma formação diferenciada, seguindo o princípio do Hands On (aprender fazendo). O nosso formando sabe operar, construir, reparar. A atividade no Senai é muito concentrada nos laboratórios, nas oficinas. O nosso aluno sabe fazer. E este era o princípio em 1942, quando o mundo estava em um ambiente de guerra e com falta de profissionais qualificados para operar as máquinas de uma nova era, da industrialização. Na época, eram os menores aprendizes. E nesta década, temos um papel de protagonismo para a migração à indústria 4.0, por exemplo. O trabalho do Senai hoje tem a tecnologia e a inovação como uma exigência, por demanda de todos os setores industriais no Rio Grande do Sul.
JC - Quando aconteceu essa virada de chave para um foco tecnológico na formação e nos serviços do Senai?
Trein - Não há exatamente um marco temporal. O fato é que chegamos aos 80 anos muito modernos. Uma das características principais do Senai é responder à demanda das empresas. Por exemplo, quando se fala em robô colaborativo, em inteligência artificial, nós temos que ter a resposta. Por isso, é tão importante formar este profissional que vai desenvolver e operar essa tecnologia. É errado pensar que o Senai forma mão-de-obra para a indústria. Nós formamos cérebros-de-obra. Seja no nível de formação de jovens aprendizes, nos cursos técnicos ou nos cursos superiores.
JC - Qual o alcance do Senai hoje no contexto da indústria gaúcha?
Trein - Temos alguns indicadores que nos apontam estarmos na direção certa. Hoje, 8 em cada 10 formandos dos nossos cursos técnicos têm absorção no mercado ainda no primeiro ano após formados. E 95% das indústrias prefere empregar egressos do Senai em eventuais seleções de novos colaboradores. São demonstrações da importância da formação, mas temos ainda a presença do Senai como um parceiro do empreendedor. Só em 2021, foram dedicadas mais de 3 mil horas em atendimentos dos mais diversos a empresas gaúchas. Fomos criados, somos mantidos e geridos pela indústria. É uma relação que tende a ser cada vez mais próxima.
JC - Na sua opinião, qual será o papel do Senai nas próximas décadas?
Trein - No Brasil, apenas 9% das pessoas optam por uma carreira técnica. Nos países mais desenvolvidos, este percentual chega a 42%. Há uma inversão no nosso país, e eu acredito que o Senai, com esta vocação de estar sempre inovando e respondendo às demandas de quem busca a qualidade, terá papel importante na busca de uma mudança na característica dos profissionais brasileiros. Todos os nossos cinco cursos da Faculdade Senai têm conceito 5 do MEC. Assim como nos cursos técnicos, trabalhamos com a formação por competências, com avaliações constantes ao longo dos cursos. Esta, sem dúvida, é uma das chaves do nosso sucesso.