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Publicada em 11 de Outubro de 2024 às 03:00

Modelo de Previdência brasileiro terá que ser revisto devido ao impacto da Inteligência Artificial no trabalho

Fórum da Longevidade do Bradesco, realizado em São Paulo no início da semana, debateu o tema

Fórum da Longevidade do Bradesco, realizado em São Paulo no início da semana, debateu o tema

/Bradesco/Divulgação/JC
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Cláudio Isaías
Cláudio Isaías Repórter
A longevidade é uma revolução que impacta todos os setores da sociedade brasileira, principalmente a Previdência Social. A avaliação é do médico gerontólogo Alexandre Kalache, presidente do Centro Internacional de Longevidade Brasil (ILC-Brasil), que participou do Fórum da Longevidade do Bradesco, realizado em São Paulo no início da semana.
A longevidade é uma revolução que impacta todos os setores da sociedade brasileira, principalmente a Previdência Social. A avaliação é do médico gerontólogo Alexandre Kalache, presidente do Centro Internacional de Longevidade Brasil (ILC-Brasil), que participou do Fórum da Longevidade do Bradesco, realizado em São Paulo no início da semana.
Ainda com relação à Previdência, João Paulo Cunha, diretor do Instituto de Pesquisa Locomotive, destaca que existe hoje uma discussão do que vai ser o mundo do trabalho daqui algumas décadas, principalmente com a implementação da Inteligência Artificial. "A pergunta é que tipo de modelo teremos de trabalho para os brasileiros que estão sendo formados hoje e que acaba sendo decisivo para o modelo de previdência que teremos para o futuro", comenta o diretor do Instituto de Pesquisa Locomotive.
Segundo Cunha, todas essas questões vão tornar necessário que a sociedade pense novas maneiras de produção de renda que são diferentes das de hoje. "Teremos um mundo do trabalho e uma Previdência diferentes", acrescenta. Cunha destaca que percebe uma insegurança no horizonte da população com relação à inserção no mercado de trabalho.
"O modelo atual de Previdência, devido às novas relações de trabalho e à Inteligência Artificial, terá que ser revisto no Brasil", destaca. Para o gerontólogo, o envelhecimento é uma realidade e existe uma alternativa para a sociedade brasileira: envelhecer com qualidade.
Sobre o impacto no sistema de Previdência e Saúde, o gerontólogo diz que as pessoas nos países desenvolvidos primeiro enriqueceram para depois envelhecer. "No Brasil, estamos envelhecendo na contramão. E, por isso, é necessário que haja uma demanda de políticas públicas que possam oferecer um mínimo de condições aos idosos", explica.
Kalache afirma que para preparar alguém que, em 2050, vai ter mais de 60 anos - e serão 68 milhões de brasileiros — vai ser preciso correr para compensar os estragos feitos no passado. "Seremos um grande Japão daqui a 25 anos e precisamos estar preparados", explica. No entanto, o gerontólogo destaca que o Brasil não está preparado para este envelhecimento da população.
"Estamos vivendo a Revolução da Longevidade, com impactos em todos os aspectos da sociedade. No entanto, ainda há uma crença muito disseminada de que o Brasil é um país jovem", comenta. O gerontólogo comenta que nos países desenvolvidos foi feita uma redefinição da velhice. Em alguns, o marco é 65 anos e até mais. No Brasil, a definição de velhice segue sendo de 60 como estabelecido pelo Estatuto das Pessoas Idosas. Segundo Kalache, o único segmento que continua crescendo no Brasil hoje é o de 50 e 60 , e será preciso fazer o possível para que as pessoas possam continuar produtivas. "Ou seja, elas vão precisar ter boa saúde, bons conhecimentos, ter direito de participar na sociedade e ter direito à segurança e proteção. É um horror não saber se você vai ter Previdência ou um pé de meia", avalia.
O gerontólogo afirma que o preconceito contra o idoso é o grande problema da sociedade. "A gente trabalha a vida toda e no final da vida somos vitimizados e culpabilizados pelo déficit da Previdência. É é uma perversidade total", lamenta Kalache. Ele lembra ainda que o idoso, com a sua aposentadoria, sustenta boa parte das famílias brasileiras, o que foi visto na pandemia da Covid-19.
"O idoso, com a sua aposentadoria, colocava a comida na mesa e pagava as contas (luz, água)", comenta. O gerontólogo destaca que é preciso fazer todo o possível para que os idosos de hoje e os de amanhã possam envelhecer com seus direitos, com saúde, com conhecimento e proteção. "Comece a pensar já no envelhecimento e isso vale para todas as faixas etárias (dos 20 anos, 30 anos). Quanto mais cedo, melhor. Não é errado pensar o futuro", acrescenta.
De acordo com Kalache, envelhecer com saúde, com habilidades e conhecimentos, com direito a participar integralmente da sociedade, sentindo-se amparado e protegido é um trunfo que a vida moderna oferece. "Envelhecimento ativo e saudável pressupõe investimentos anteriores. Não espere chegar aos 60 ou 70 para assegurar que sua velhice seja com bem-estar, saúde e alegria", comenta. Para Kalache, a sociedade brasileira se recusa a olhar para as pessoas idosas.
"Existe o preconceito e o culto à beleza física. Não pode ter ruga, ser careca, ter cabelo branco. O jovem que é 'bonito'. Não há respeito, não há uma cultura de reverência ao idoso", destaca. O médico gerontólogo afirma que é necessário informar, educar e batalhar para transformar a sociedade. "Hoje, falamos mais em envelhecimento do que antes. Pode não ser suficiente para se traduzir em políticas públicas, mas é bom falarmos sobre o envelhecimento e seus impactos", ressalta.
Para Ana Julião, envelhecimento ainda é um tabu no Brasil. A gerente geral da Edelman diz que o Indicador de Longevidade Pessoal (ILP) mostra que a expectativa de vida no Brasil vem crescendo porque a linha que divide as gerações é cada vez mais tênue, o que provoca grandes debates e reflexões na sociedade brasileira.
"Oito em cada 10 pessoas ouvidas na pesquisa associa a terceira idade a conceitos conservadores e religiosos", destaca. Segundo Ana, isso faz com que os mais jovens não se sintam parte dessa conversa sobre longevidade e nem que vejam que elas são os idosos de amanhã.
"Muitas vezes o jovem não se sente parte dessa conversa e vê o assunto ainda de forma meio superficial", explica. Conforme Ana, ao mesmo tempo, por exemplo, que crescem as pesquisas sobre temas como a importância das atividades físicas, boa alimentação e controle do colesterol, a longevidade ainda não é medida e por isso a conversa fica longe das pessoas.
João Paulo Cunha, diretor do Instituto de Pesquisa Locomotive, explica que o ILP tem o objetivo de produzir dados sobre a população brasileira. "Existe muitos preconceitos na sociedade com relação à população mais velha no Brasil de que não são ativos e tem menos interações sociais", ressalta. No entanto, Cunha aponta que o levantamento mostra justamente o contrário ao identificar que os idosos tem um desempenho mais satisfatório nas suas relações pessoais que os jovens. "Os idosos estão mais abertos a aprender sobre o tema longevidade do que a juventude", acrescenta.
A avaliação mostrou que os mais jovens no Brasil não estão preparados financeiramente para a longevidade. "A população brasileira tem uma extrema dificuldade de conseguir poupar para o futuro", comenta. Conforme o diretor do Instituto de Pesquisa Locomotive, as pessoas velhas possuem uma postura mais atenta sobre a longevidade do que os mais jovens.
"Você pega um estudante de medicina, hoje, e provavelmente ele não sabe nada de geriatria. Mas ele vai lidar com pessoas idosas", destaca. 

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