As seguradoras e as insurtechs (startups que oferecem soluções tecnológicas para o mercado de seguros) estão incorporando cada vez mais tecnologias em suas operações. O processo reflete o avanço da transformação digital no setor, que, no Brasil, arrecadou R$ 181,77 bilhões no primeiro semestre deste ano, de acordo com dados da Superintendência de Seguros Privados (Susep). Essa quantia representa alta de 7,7% em relação ao mesmo período do ano passado.
O crescimento do setor é um movimento que intensifica a relevância da digitalização, potencializada pela pandemia da Covid-19. Segundo a Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CNseg), mais da metade das seguradoras já realizam pelo menos 75% dos seus processos de forma digital.
A pesquisa realizada pela entidade revela ainda, que, durante a pandemia, as empresas do mercado segurador tiveram três focos principais: a digitalização (migração para ambientes digitais), a criação de novos produtos (com maior grau de humanização) e adoção de um modelo de "ganha-ganha", voltado a beneficiar a sociedade a partir do investimento em pessoas, tecnologia e comunicação.
"À medida que o setor cresce, as tendências evoluem e as seguradoras, insurtechs e afins precisam acompanhar o movimento para garantir a segurança e garantia necessária aos clientes", observa Lorain Pazzetto, head de Estratégia Digital de Finance da FCamara, ecossistema de tecnologia e inovação.
Um aspecto que tem se destacado em relação às novas tecnologias é a preocupação que as empresas do setor têm manifestado em relação à segurança. "Investir em cibersegurança é obrigação das empresas, que precisam priorizar a proteção dos dados, tanto delas como de seus clientes", avalia. Segundo os dados, 70% das seguradoras planejavam melhorias relacionadas à proteção e segurança da informação. A adoção do sistema de nuvem híbridas é uma das tendências para o setor.
O recurso combina funcionalidade e segurança ao facilitar o gerenciamento de vários ambientes ao mesmo tempo, incluindo o armazenamento. Ou seja, possibilita tanto a melhoria dos processos e do desempenho de rede quanto a segurança dos dados.
Outra aposta é a realidade aumentada, que permite às empresas prestar um atendimento remoto e personalizado aos clientes. "Além disso, a realidade aumentada pode simular possíveis desastres ou tragédias, mostrando quais seriam os danos e quanto essa pessoa gastaria caso não tivesse um seguro", acrescenta Pazzetto.
Ao realizar processos de forma digital, uma tecnologia que tem se projetado pela eficiência e segurança é a blockchain, por meio da qual os dados são criptografados, autenticados e transmitidos de forma segura. O executivo ressalta que, na comparação com os processos realizados de forma manual, a blockchain representa, além da segurança, menor custo e otimização de tempo. A tecnologia também tem se projetado em relação à inteligência analítica, por meio de recursos que viabilizam as análises preditivas. Com a coleta e análise de dados, as seguradoras podem prever o comportamento dos clientes, oferecendo planos personalizados e detectando possíveis fraudes.
Entre as tendências, se destacam a automação de processos (por meio da robotização), a inteligência artificial (que tem potencial para aprimorar desde os processos de detecção de fraudes até a experiência do cliente) e a Internet das Coisas (IoT). Esta última, surge com potencial inovador para monitorar situações em tempo real, além de ser mais um recurso capaz de favorecer a personalização.
AVLA aposta em cobertura patrimonial para franquias
Pérez comenta que apenas 20% dos empreendedores contam com seguros
AVLA/Divulgação/JC
Com uma proposta centrada no mercado de franquias, a insurtech chilena AVLA lançou no mês passado o Seguro Patrimonial All Risk, um produto desenvolvido para simplificar a gestão de riscos.
A AVLA é uma das principais seguradoras de garantia e crédito da América Latina e vislumbra o potencial do segmento de franquias, que movimentou R$ 211 bilhões em 2022, segundo a Associação Brasileira de Franchising (ABF) — alta de 14,3% em relação ao ano anterior.
A proposta da empresa é simplificar a cotação e a contratação do seguro empresarial, considerando apenas quatro passos nesse processo: escolha de coberturas, inserção de dados, cotação e pagamento. A insurtech assegura que todas as etapas podem ser concluídas em até cinco minutos.
Raimundo Pérez, gerente geral e chief de P&C na AVLA, destaca que a solução tem potencial para conquistar um mercado promissor. "Atualmente, apenas 20% dos empreendedores contam com seguros, pois os brasileiros acreditam que é muito complexo, burocrático e demorado o processo de adesão e contratação", comenta. "Pensando em solucionar essa dor, trouxemos essa solução All Risk que já funciona em outros países que operamos e torna todo o processo confiável e ágil", acrescenta.
O produto conta com diferentes coberturas, como eventos naturais e danos elétricos, roubo, responsabilidade civil empresarial e acidentes All Risk (a única que é obrigatória). As opções permitem a personalização do seguro, que também pode ser customizado em relação ao tempo de duração do contrato, número de pagamentos sem juros, franquias, formas de pagamento e coberturas de responsabilidade civil.
Segmento das insurtechs ganha primeiro unicórnio de 2023
O surgimento de empresas unicórnio (com valuation superior a US$ 1 bilhão) no setor de insurtech tem sido rara neste ano, demonstrando que, apesar do potencial, o segmento ainda enfrenta desafios. Na verdade, até agora, em pleno novembro, apenas uma startup chegou no patamar: é a insurtech de seguros residenciais Kin, de Chicago (EUA). A empresa levantou um investimento Série D de US$ 33 milhões liderado pela QED Investors, de acordo com informações divulgadas pela consultoria CBInsights. Com isso, a avaliação da empresa alcançou a marca de US$ 1 bilhão, tornando-se o insurtech de 2023.
A Kin conquista esse status em um momento tumultuado para o seguro residencial. Riscos de catástrofes, inflação e preocupações com a cadeia de suprimentos são algumas das razões pelas quais os seguros residenciais têm apresentado prejuízo nos EUA desde 2019. Diante desse cenário, os investidores têm se mostrado cautelosos, com um declínio no financiamento para provedores de tecnologia. Enquanto outras seguradoras abandonaram mercados vulneráveis a furacões, como Flórida e Louisiana, a Kin enxergou nessas regiões oportunidades para utilizar tecnologia e dados na subscrição de apólices de maneira lucrativa.