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reportagem cultural

- Publicada em 20 de Janeiro de 2022 às 18:15

Da carreira solo ao Defalla, Edu K inspira gerações de músicos há décadas

Aos 53 anos, um dos mais inventivos e transgressores artistas do rock gaúcho pensa no futuro

Aos 53 anos, um dos mais inventivos e transgressores artistas do rock gaúcho pensa no futuro


ARQUIVO PESSOAL EDU K/DIVULGAÇÃO/JC
Na verdade, Edu K é o nome artístico (dado por Gustavo X Aguirre, parceiro na Fluxo de Energia, sua primeira banda) com o qual ele conquistou, mundo afora, prestígio, reconhecimento e (por vezes, má) fama. A cédula de identidade, porém, não mente: seu nome é Eduardo Martins Dorneles. Filho de Ogum e protegido pelo Exu Caveira, ele veio ao mundo no dia 8 de novembro de 1968, em Porto Alegre.
Na verdade, Edu K é o nome artístico (dado por Gustavo X Aguirre, parceiro na Fluxo de Energia, sua primeira banda) com o qual ele conquistou, mundo afora, prestígio, reconhecimento e (por vezes, má) fama. A cédula de identidade, porém, não mente: seu nome é Eduardo Martins Dorneles. Filho de Ogum e protegido pelo Exu Caveira, ele veio ao mundo no dia 8 de novembro de 1968, em Porto Alegre.
Umbandista, Edu acredita que as entidades espirituais lhe deram salvaguarda em momentos-chave de sua trajetória, que, na música, conta quase 40 anos. Especialmente, nas ocasiões em que as provocativas metamorfoses, pelas quais passou (seja no Defalla ou solo), possam ter lhe oferecido algum perigo. No plano terreno, Edu, cujo olhar sempre esteve voltado para frente, alega ter encontrado no passado, mais exatamente nos inesgotáveis anos 1960, uma filosofia de vida.
Hoje, ele se diz, simplesmente, um "merry prankster" (seguidores do escritor Ken Kesey, autor do best-seller Um estranho no ninho, que, a bordo do ônibus "Furthur", saíam pelos Estados Unidos a distribuir LSD). O "pranksterismo" postulado por Edu, todavia, nada tem a ver com drogas. E, sim, ele difere, com uma visão psicodélica do mundo e da arte, "em que tudo, por mais absurdo que possa parecer, se encaixa".
É nesse espírito prankster, por sinal, que o bom e velho Edu K começa 2022: distribuindo músicas e muitas novidades. E a primeira (que o Jornal do Comércio anuncia com exclusividade), das tantas que vêm pela frente, é o lançamento, nesta sexta-feira, do single I wanna die, but first i need a drink. A música foi pinçada de Vacinado No Bum Bum, seu novo álbum, que, em março, sai pelo selo Maxilar. De Edu, o selo lançou, até agora, os singles Troglô, Aceleradão, SP Fashion Week, RS-389, A gangue da luz vermelha e Loco, loco.
De acordo com o autorama Gabriel Thomaz, criador do Maxilar, o prolífico Edu tem material suficiente para lançar, até 2024, quatro diferentes álbuns. "O engraçado é que, ao contrário da imagem de 'malucaço', que se tem do Edu, ele não brinca em serviço", observa Gabriel.
Outra novidade é que, após dois anos de isolamento, Edu está ensaiando sua volta aos palcos. E, para o escoltar, ele alistou o trio paulistano Velodkos, banda também do cast da Maxilar. Fora isso, o selo também vai pôr na roda um regalo que acertará em cheio novos e velhos fãs do Defalla.
Trata-se de Banshee, o disco "esquecido" do grupo, ainda como trio - Edu K, Biba Meira e Carlo Pianta. Gravado em 1986, de Banshee três músicas (Sodomia, Alguma coisa e Tinha um guarda na porta) foram sulcadas no LP Papaparty, lançado, em 1987, pelo selo Plug-RCA. Banshee será disponibilizado, em streaming, ainda no primeiro semestre de 2022.
O ano também marca duas importantes datas relativas ao Defalla (e, sem dúvida, fundamentais na "linha evolutiva" do pop brasileiro): os 35 anos de Papaparty e os 30 do álbum Kingzobullshitbackinfulleffect92s, de 1992. Edu, contudo, relativiza o significado das efemérides: "São apenas datas", ele resume. Ainda assim, uma dessas datas não passará em branco. Em 2022, Kingzo (acrescido de quatro faixas inéditas), assim como We Give a Shit! (Kickin' Ass for Fun), álbuns originalmente lançados pela Cogumelo Records, ganharão relançamento com remasterização de Fábio Golfetti, da banda Violeta de Outono.
Antônio Meira, velho amigo e primeiro empresário do Defalla, acompanha a evolução da carreira de Edu K desde os tempos da Fluxo. É justamente pela efervescência de sua linha do tempo artística, acredita Meira, que o futuro parece encurtar o "brete" de opções Edu. Ou talvez, ele medita, Edu faça pouco caso do futuro como uma ideia de amanhã - já que, como diria a canção, "sobre amanhã ainda nem pensou". "Sigo com a estranha sensação de que, por parte do Edu, sempre algo está por vir. Um trabalho que ele ainda não fez, algo que ainda não gravou, porque também não compôs. Mas é um risco, em se tratando de Edu K, alimentar expectativas. Ele só aparece quando você menos espera. Não espere, portanto".

O ano de Orwell

Banshee (1986), disco esquecido do grupo, será disponibilizado em streaming no primeiro semestre de 2022

Banshee (1986), disco esquecido do grupo, será disponibilizado em streaming no primeiro semestre de 2022


reprodução/JC
Um fortuito encontro, numa loja de discos usados, reuniu, motivados pela disputa por um LP, três das cabeças que, cada qual a sua maneira, seriam decisivas para o vicejar, na Porto Alegre do começo da década de 1980, uma música jovem de atributos mais "modernos". O ano era 1984 (que Carlos Eduardo Miranda, ao lançar, estrategicamente, o termo "rock gaúcho", batizou de "O ano de Orwell") - tardios dias em que, culturalmente, a cidade ainda estava envolta em reminiscentes brumas da era hippie.
Na Free Discos, localizada debaixo do viaduto da Borges, certa tarde, vieram dar, por acaso, o ainda adolescente Edu K, Miranda (Urubu Rei) e Carlos Gerbase. Que, mesmo sem se conhecerem, diz Gerbase, não se furtavam em comentar os discos que cada um separava para comprar. "Nós três estávamos atrás de alguma preciosidade. Até que, de uma das pilhas de LPs, o Edu puxou One Step Beyond, do Madness. Daí foi um alvoroço, porque os três, no ato, cobiçaram o disco. Rolou uma disputa", ele lembra.
O jovem Edu, porém, não deixou por menos e, com unhas e dentes, defendeu seu achado: "Na época, eu enxergava um disco que gostava e ficava cego. Eu mal encostei no One Step Beyond e, imediatamente, vieram duas mãos. Tive de me impor e, no final, acabei levando o disco pra casa", rememora Edu.
Na opinião de Gerbase, apesar do simbolismo da disputa discográfica, mais cedo ou mais tarde, aquele encontro acabaria rolando. A Fluxo, formada por Edu, Biba Meira, Carlo Pianta e X Aguirre, situa, logo passaria a ensaiar na casa de Miranda, da qual, por sua vez, ele também se tornaria habitué.
A contenda motivada por One Step Beyond, define o replicante, foi a "pré-estreia" daquela turma. "O encontro na Free Discos, na verdade, apenas evidenciou que, musicalmente, tínhamos muito em comum. Principalmente, que estávamos buscando coisas novas para ouvir. Então, discos de bandas como Madness, Television e The Specials, por exemplo, eram objetos de desejo para todos nós".

Guitarrista incidental

Edu K em apresentação da banda DeFalla no Porto de Elis em 1991

Edu K em apresentação da banda DeFalla no Porto de Elis em 1991


FERNANDA CHEMALE/DIVULGAÇÃO/JC
Dois dos hits de Julio Reny (quiçá os mais emblemáticos), Amor & morte e Não chores Lola, em suas primeiras gravações, têm a mão, ou melhor, o dedilhado de guitarra de Edu K (que, porém, não se reconhece como guitarrista: "Eu não sei tocar guitarra direito. Sou um guitarrista incidental", faz questão de frisar).
Na época do episódio da Free Discos, Edu, magnetizado pela presença do pioneiro Julio, começou a frequentar a lendária garagem da Santana, onde ensaiavam desde os Engenheiros do Hawaii aos Replicantes. Foi lá que Julio percebeu a desenvoltura daquele guri ao instrumento. E, assim, o convidou para fazer os arranjos de guitarra e também para tocar na gravação de Amor & morte. A canção, de imediato, emplacou na programação da rádio Ipanema FM.
Com o êxito da música, Julio efetivou Edu, na guitarra, em sua KM-0. Igual sucesso sucederia, no ano seguinte, com a gravação de Não chores Lola, também arranjada pelo juvenil talento. "O Edu, sem dúvida, foi um cara super importante em minha carreira. O brilho sonoro que ele deu em duas das minhas mais simbólicas canções, sem dúvida, teve um valor determinante em minha obra musical", enaltece Julio.
O guitarrista (e, depois, baterista) do Defalla Castor Daudt viu Edu, do qual é sete anos mais velho, tocando guitarra, pela primeira vez, num show da KM-0. Foi quando percebeu, diz Castor, que, de fato, ele não estava para brincadeira. Brincadeira que, poucos anos depois, ele destaca, se tornaria ainda mais séria com o Defalla: "A química entre a gente - eu, Edu, Biba e Flávio "Flu" Santos - funcionava perfeitamente".
Algo, no entendimento de Daudt, difícil (e raro) de se conseguir, uma vez que exige, além de amizade, tempo de ensaio e, sobretudo, vivência: "Foi sorte nossa ou destino, ter rolado esse encontro de pessoas. Já no caso do Edu, sua evolução como crooner-vocalista-guitarrista-compositor e, eventualmente, produtor foi inevitável. Desde piá, ele era uma irresistível força da natureza".
 

Vitoriosa derrota

Quarteto que formava a banda Defalla em 1988

Quarteto que formava a banda Defalla em 1988


/antonio meira/DIVULGAÇÃO/JC
Na edição do festival Hollywood Rock de 1993, Edu K teve, talvez, seu momento midiático de maior exposição, ao ser televisionado, ao vivo, para todo o Brasil, pela Globo, cantando seminu (apenas com um meia tapando os genitais). Ele lembra que, nos bastidores, o comentário geral: "Quem diabos, afinal, são esses caras?". "Acho que [cantar seminu] acabou influenciando, de alguma forma, as outras performances, já que, depois disso, o Kurt Cobain mostrou o pau na TV e as meninas do L7 ficaram peladas no final do show. Eles devem ter pensado: "É assim que se faz no Brasil? Então vambora!", diverte-se.
Para o Defalla, avalia Edu, o Hollywood Rock foi um momento muito importante, mas, por outro lado, foi quando a banda acabou. "Naquela ocasião, eu fui morar em São Paulo e daí, tristemente, a banda foi definhando, até acabar. Por causa disso, o Hollywood Rock foi uma gigantesca vitória e, ao mesmo tempo, uma grande derrota. Aliás, como é tudo, basicamente, relacionado ao Defalla".

O nome dele é Tim Maia

Tim Maia fez uma canção especialmente para o Defalla gravar, após ouvir versão de Sossego

Tim Maia fez uma canção especialmente para o Defalla gravar, após ouvir versão de Sossego


SONY/DIVULGAÇÃO/JC
Em 1995, Edu recebeu, de Tim Maia, uma canção que ele fizera especialmente para o Defalla. Tudo aconteceu, explica Edu, em razão de Tim ter amado a versão de Sossego que o Defalla gravou em Kingzo. Curtiu tanto, ele frisa, que, descolou o número de Edu e passou a lhe telefonar, de madrugada.
No começo, ele achava que era trote. "Com a guria na cama, eu praguejava: 'Quem é o chato que tá me ligando essas horas?!'. E aquela voz, de fato, muito parecida com a do Tim Maia, saindo do aparelho: 'Eduarrrdo, Eduarrrdo, aqui é o Tim, o Tim Maia!'. Só que desligava, não acreditava que era ele. Isso se repetiu durante várias madrugadas e eu não dava chance pro cara falar. Aí, certa noite, resolvi atender: 'Sério que é o Tim Maia?'. Após me convencer que estava falando com o próprio, ele, então, teceu vários elogios a Sossego e falou da canção inédita, Sai pra lá. Como a banda, porém, havia terminado bem naqueles dias, ela acabou sendo gravada no meu primeiro disco solo. E o resto é história", narra.

Fãs número 1

F.Band (Lory Finocchiaro e Edu K) no Porto de Elis Teatro Bar, em 1991

F.Band (Lory Finocchiaro e Edu K) no Porto de Elis Teatro Bar, em 1991


FERNANDA CHEMALE/DIVULGAÇÃO/JC
Edu K e o Defalla contam com zelo e fidelidade de duas fãs, desde o princípio. Uma delas é a paulistana Patty Fang (também notabilizada por ter sido a responsável por viralizar, na internet, o vídeo de Eu quis comer você, dos Cascavelletes). A história tem início em 1987, quando ela tinha 14 anos e os descobriu ao ouvir no rádio Sobre amanhã e Não me mande flores, do álbum Papaparty. Ela, que já os adorava pela música, passou a amá-los depois que viu, em 1988, uma apresentação do Defalla no Boca Livre da TV Cultura, apresentado por Kid Vinil: "Foi amor à primeira vista. No mesmo instante, fiquei completamente apaixonada pelo Edu. Ele era totalmente diferente do que se via, naqueles dias, no pop brasileiro".
Patty, que, até hoje, acompanha a carreira de Edu, assim como as idas e vindas do Defalla, também ficou amiga de outra incondicional fã de Edu: sua mãe, Syrlei Martins Dorneles, que se tornou conhecida por ir aos shows do filho e, com frequência, por acompanhar o Defalla na estrada.
Syrlei (de quem Edu pegava peças de seu guarda-roupa para vestir-se de mulher, chocando, assim, incautos transeuntes nas ruas de Porto Alegre) não consegue segurar a emoção ao falar do orgulho que sente pelo filho: "Desde criança, ao vê-lo cantar no colégio, já sabia que o Edu seria um grande artista".
 

Popozuda rock'n'roll ao redor do mundo

Foto de arquivo pessoal de Edu K com a artista Ana Maria Mainieri

Foto de arquivo pessoal de Edu K com a artista Ana Maria Mainieri


ARQUIVO PESSOAL EDU K/DIVULGAÇÃO/JC
Apesar de sua participação no reality show A Fazenda, da TV Record (do qual foi eliminado, após disputar a permanência com Mara Maravilha), no final das contas, foi com uma música do Defalla que, até agora, Edu chegou mais longe. E, de fato, foi bastante longe. Desde que relançou o hit Popozuda rock n' roll, em sua carreira solo, a música já ultrapassou, no Spotify, a marca de mais de 1 milhão de acessos. Hit na Europa, Popozuda rock' n' roll foi utilizada em comerciais de marcas como Coca-Cola, Nike e Sony Ericsson.
O "miami pancadão" também retumbou na trilha sonora do filme Velozes e Furiosos 5: Operação Rio. A incursão que a música teve, ao redor do mundo, ainda rendeu outros frutos. Em 2010, Popozuda rock' n' roll foi sampleada pelo rapper austríaco Skero, no hit Kabinenparty, que, por sua vez, atingiu a primeira posição nas paradas de sucesso daquele país.
A despeito de toda essa aceitação, não foi bem assim, porém, quando Popozuda rock' n' roll saiu, em 2000, como single do álbum Miami Rock. Embora a música tenha se tornado um incontrolável hit, figurando entre as mais tocadas do Brasil, na época choveram críticas, especialmente por parte dos fãs mais tradicionais do Defalla.
Muitos alegaram, na ocasião, que, apesar de seu histórico mutante, a banda teria "passado dos limites" ao visar, de forma tão apelativa, o sucesso comercial. Edu K, por outro lado, sempre defendeu - e continua defendendo - que, em sua essência, a música é "rock'n'roll de verdade": "Popozuda é puro AC/DC, se você tirar a batida. Talvez assim, as pessoas possam entender, inclusive, porque o Miami Rock 2000 é um disco de rock", decifra.

As diversas grafias do nome da banda

Defalla, com Edu K, Flávio Santos, Marcelo Truda e Castor Daudt, no Leopoldina Juvenil, em 1989

Defalla, com Edu K, Flávio Santos, Marcelo Truda e Castor Daudt, no Leopoldina Juvenil, em 1989


FERNANDA CHEMALE/DIVULGAÇÃO/JC
Em seus mais de 30 anos de existência, a grafia do nome "Defalla" (uma homenagem ao compositor erudito espanhol Manuel de Falla, ideia que partiu de Carlo Pianta, baixista e um dos fundadores da banda) transitou por diversas possibilidades, ora com a letra “f” em maiúscula, ora em minúscula – que é a forma, nos últimos tempos, oficialmente adotada pelo grupo.
Em Papaparty, o primeiro disco, a banda usou "DeFalla"; e, no segundo, It's Fuckin Borin To Death, passou para DeFALLA (em caixa alta). No disco Top Hits (que, na verdade, não é uma coletânea), de 1995, que tinha o vocalista Tonho Crocco, da Ultramen, no lugar de Edu K (nos dias em que saiu, pela primeira vez, em carreira solo), o grupo alterou o nome para “D.Fhala”.
Outra curiosidade é que, nos diversos cartazes de shows, as grafias se dividiam entre DE FALLA (tudo em caixa alta) ou De Falla (com a separação das palavras). Como tudo que acontece relativo ao Defalla (nome que virou sinônimo para "mutação"), tudo sempre pode mudar. Portanto, não espere deles um nome definitivo. E, menos ainda, ainda bem, que tenham uma sonoridade fixa.

Edu K Sound

Lançamento do single I wanna die, but first i need a drink ocorre nesta sexta-feira

Lançamento do single I wanna die, but first i need a drink ocorre nesta sexta-feira


REPRODUÇÃO/JC
O primeiro disco produzido inteiramente por Edu foi Meu nome é Edu K, seu debut-solo, de 1995. Depois disso, passou a ser requisitado por artistas de diferentes matizes. Sua mão (e sua cara) está em títulos lançados por grupos, entre outras, como Pavilhão 9 (Cadeia Nacional, 1997), Mundo Livre S.A. (Carnaval na Obra, 1998), Câmbio Negro (Câmbio Negro, 1998) e Comunidade Nin-Jitsu (Broncas Legais, 1999). A Cachorro Grande foi a única produzida por Edu em dois discos consecutivos: Costa do Marfim (2014) e Electromod (2016). Beto Bruno, vocalista da banda, conta como foi a experiência de trabalhar com Edu K - sobre o qual, sem medir palavras, declara: "O Edu é um gênio":
"Já fazia um bom tempo que a Cachorro vinha flertando com música eletrônica. E, no disco Costa do Marfim, decidimos que íamos explorar essa possibilidade mais a fundo. O Edu K, aliás, é um dos pioneiros desse tipo de música no Brasil. Os outros caras da banda, porém, a princípio tiveram certo receio. Temiam que, se a gente largasse inteiramente na mão do Edu, poderia se correr o risco de o disco ficar demasiadamente eletrônico. Ou, então, muito a cara dele. Só que, na verdade, tudo que o Edu produz tem a cara dele. Ele possui uma marca toda pessoal, uma assinatura, espécie de 'Edu K Sound'. Após muita conversa, decidimos, por fim, dar-lhe carta branca e, assim, partimos para a produção do álbum. Dito e feito. Por inúmeras razões, o Edu acabou fazendo toda a diferença no resultado final. Pra começar, que, antes de tudo, ele reuniu todas as demos que havíamos feito e, a partir delas, começou a trabalhar as bases eletrônicas. Em seguida, nos surpreendeu pedindo que não fizéssemos ensaios. Incomum pedido, diga-se de passagem. Essa, na real, foi uma coisa louca e revolucionária pra nós, na época. No primeiro dia de gravação, o Edu nos apresentou as programações eletrônicas que havia feito para as músicas, a partir das quais, então, fomos colocando bateria, baixo, guitarra, voz e piano. O Edu, mais do que um processo, nos revelou uma maneira de gravar que nunca havíamos experimentado e com a qual, muito menos, nem sonhávamos. E que, no final, funcionou bem demais. 'A mágica acontecesse aqui no estúdio, pessoal, e não nos ensaios', ele nos dizia. O Edu era totalmente diferente de qualquer outro produtor com que tínhamos trabalhado. Era, na verdade, como se ele fosse da banda. Deu tão certo que, no álbum seguinte, Electromod, chamamos ele de novo pra produzir. No entanto, o aprendizado que tivemos em Costa do Marfim foi inigualável. O Edu, com sensibilidade, inventividade e talento nos presenteou com aquele que considero, em 20 anos de existência da banda, o melhor disco da Cachorro Grande."

10 discos que fizeram a cabeça de Edu K

  • Bitches Brew (1970), Miles Davis
  • Raw Power (1973), Iggy Pop & The Stooges
  • Exile on Main St. (1972), Rolling Stones
  • Niggaz4Life (1991), N.W.A.
  • It Takes a Nation of Millions to Hold Us Back (1988), Public Enemy
  • Raising Hell (1986), Run-D.M.C.
  • Licensed To Ill (1986), Beastie Boys
  • As Nasty As They Wanna Be (1989), 2 Live Crew
  • Loc-ed After Dark (1989), Tone Lõc
  • Never Mind The Bollocks, Here's the Sex Pistols (1977), Sex Pistols
 

Discografia

Capa do primeiro LP do De Falla contou com a participação do colunista do JC Ivan Mattos

Capa do primeiro LP do De Falla contou com a participação do colunista do JC Ivan Mattos


/TONHO MEIRA/DIVULGAÇÃO/JC
Com o Defalla
  • Papaparty (1987)
  • Its Fuckin Borin to Death (1988)
  • Screw You (1989)
  • We Give a Shit (1990)
  • Kingzobullshitbackinfulleffect92 (1992)
  • Miami Rock (2000)
  • Superstar (2002)
  • Monstro (2016)
 
Solo
  • Meu Nome é Edu K (1995)
  • Frenetiko (2006)
  • Do The Brega (2013)

Cristiano Bastos é jornalista e autor de Julio Reny – Histórias de amor e morte, Júpiter Maçã: A efervescente vida e obra, Nelson Gonçalves: O rei da boemia, Nova carne para moer e Gauleses irredutíveis – Causos & Atitudes do Rock Gaúcho. Também dirigiu o documentário Nas paredes da pedra encantada.