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reportagem cultural

- Publicada em 10 de Junho de 2021 às 21:00

Músico Bebeto Alves reinventa fronteiras artísticas e prepara novo disco

Quarenta anos depois do LP de estreia, artista segue cruzando estradas e criando caminhos

Quarenta anos depois do LP de estreia, artista segue cruzando estradas e criando caminhos


MARIANA ALVES/JC
Para Bebeto Alves, a fronteira sempre foi o meio do caminho. Não o risco no chão que separa mundos, mas uma ponte que leva para o outro lado, para o que ainda precisa ser descoberto, as coisas que esperam pela criação que está por vir. Fronteiras, na vida e na arte do compositor e criador gaúcho, não são para serem temidas: elas existem para serem ultrapassadas. Com ousadia, sim, mas também com um tanto de doçura.
Para Bebeto Alves, a fronteira sempre foi o meio do caminho. Não o risco no chão que separa mundos, mas uma ponte que leva para o outro lado, para o que ainda precisa ser descoberto, as coisas que esperam pela criação que está por vir. Fronteiras, na vida e na arte do compositor e criador gaúcho, não são para serem temidas: elas existem para serem ultrapassadas. Com ousadia, sim, mas também com um tanto de doçura.
"Eu me identifico como um não-localizável", diz o próprio Bebeto, em conversa com o Jornal do Comércio da periferia de São Leopoldo, onde reside com a esposa, a fotógrafa Simone Schlindwein. "Acho que essa sensação de estar localizado surge a partir de uma identificação, e essa identificação é o que me falta como membro de algum grupo ou instituição. Não há nada com que eu me identifique. Me utilizo de linguagens para poder criar: a música, a fotografia, outros tantos elementos. Eu sou de todos esses lugares, e de lugar nenhum."
Bebeto Alves surge da fronteira. Mais precisamente de Uruguaiana, cidade que é, em si mesma, uma janela entre mundos. Lá ele descobre sua potência de artista; em Porto Alegre, onde veio morar na adolescência, o possível se torna certeza. O criador define a si e a uma cidade que, na segunda metade dos anos 1970, ansiava por entender e cantar a si mesma. Curiosamente - mas, ao mesmo tempo, de forma profundamente coerente - aquele que talvez seja o grande marco deste período surge quando ele está em outro lugar, no Rio de Janeiro, buscando outros horizontes para a própria inquietude.
Como uma seta que sempre aponta para o lado de lá das fronteiras, Bebeto não é muito de olhar para trás. Ficou até surpreso quando percebeu que seu LP de estreia, lançado em 1981 pela CBS, estava completando 40 anos de existência. Não planejou nenhuma comemoração especial, nenhum relançamento ou live para redes sociais. Mesmo marcando época na música gaúcha, o disco era um tanto desconfortável para seu criador. Talvez por ser uma linha tão enfática. Um fim do começo, talvez se possa dizer. Ou, quem sabe, uma fotografia da estrada.
"Sim, ele é um 'road disco'", concorda Bebeto. "Ele é uma estrada, é a minha estrada. Está tudo ali, a descoberta do veio regional, misturado com uma série de coisas. Obviamente que, depois de pronto, ouvi o disco e pensei 'cara, tá errado, tem alguma coisa errada'. Porque ele aparece em um período de muitos anos de luta interna, tentando entender o que eu era, o que eu estava fazendo, que tipo de música que eu queria."
Nessa trajetória, Bebeto Alves passou por vários lugares. Esteve no Rio de Janeiro, em São Paulo, nos Estados Unidos. Viajou aos mais diferentes pedaços do mundo. Buscou as sonoridades pop e, mais tarde, assumiu com certo radicalismo a energia telúrica da música regional. Fez rock, fez milonga, fez sucesso e foi underground.
Lançou dezenas de discos, estabeleceu uma série de parcerias, muitas ativas até hoje. Foi além da própria música, descobrindo a si mesmo na fotografia e nas experimentações pictóricas. Uma busca incessante, sim, mas não exatamente por uma definição: talvez seja mais justo dizer que Bebeto está sempre refazendo as fronteiras de si mesmo.
No ano passado, o compositor tentou traçar um novo risco no chão de sua vida, tão drástico quanto o álbum de 40 anos atrás. Com dois CDs simultâneos, Pela última vez (gravado pelo seu projeto OhBlackBagual) e Salvo, Bebeto Alves pretendia se despedir do conceito disco, formato no qual já tinha dito tanta coisa e que, sentia, não tinha muito espaço em um mundo digital marcado pela pressa e falta de atenção. Um rompimento e tanto, para quem tem cerca de 30 álbuns no currículo. Foi uma bela tentativa, há que se admitir - mas que o próprio Bebeto admite, em primeira mão, que fracassou.
"Cara, eu estou com um novo disco pronto", revela, dando uma risada. São 10 músicas novas, escritas durante a pandemia e que já estão sendo trabalhadas com os parceiros de OhBlackBagual, Marcelo Corsetti (guitarra), Rodrigo Rheinheimer (baixo) e Luke Faro (bateria). "Só que não sei o que fazer com isso. E nem estou muito preocupado, na verdade, porque há várias outras coisas ao mesmo tempo. O que acontece é que eu sou um criador. Eu não vou deixar de criar."

De Uruguaiana para dentro do mundo

Com os Zumbis, Bebeto Alves (dir.) teve primeira experiência com bandas, aos 13 anos

Com os Zumbis, Bebeto Alves (dir.) teve primeira experiência com bandas, aos 13 anos


BEBETO ALVES/ARQUIVO PESSOAL/JC
"Na verdade, a fronteira não é um limite", reflete Bebeto. "Tu olhas para uma margem do rio, olha para a outra, e isso amplia a perspectiva do teu olhar. Mas, ao mesmo tempo, tudo faz parte do mesmo terreno, da mesma geografia. Tu te mudas para o outro lado e, no fundo, é tudo a mesma coisa."
No caso de Luís Alberto Nunes Alves, a fronteira é um ponto de partida. Nasceu no dia 4 de novembro de 1954, em Uruguaiana, na borda do Brasil. Filho de um auditor fiscal e de uma professora transformada em dona de casa, foi o mais novo de quatro irmãos - todos inclinados, de uma forma ou outra, para a expressão artística. Somente ele, contudo, pisaria de forma decidida nesse chão. Cantava desde os nove anos em rádios locais; aos 13, já tocava rock com os Zumbis, apavorando nos bailes da região. Em seguida, virou o vocalista do Hi-Fi, cantando covers de tudo que vinha do lado de lá do mundo.
"Há um acúmulo de coisas que acontecem quando se está nessa situação limítrofe", reflete Bebeto. "A questão comportamental me motivava: eu pegava a revista Realidade e ia ler sobre os beatniks, entende? Vinham informações da vida argentina, do rádio argentino. Isso tudo fez parte, tecnicamente de uma formação. Mas havia uma tendência que eu não sei explicar, e naturalmente me coloquei nessa posição, me apresentava sem pudor e com a maior naturalidade", relembra.
De lá, Bebeto Alves foi rumando para dentro - e Porto Alegre surgiu naturalmente no horizonte. Veio com a mãe e os irmãos, em 1970, e encontrou na Capital a convicção para assumir-se como artista. Em 1974, formou com os irmãos Ronald e Ricardo Frota o lendário grupo Utopia - uma mistura de folk, rock progressivo e sonoridades locais que capturou a imaginação de uma cidade em plena efervescência. "Anos 70, que serão dez", dizia o refrão de Aos anos 70, canção que virou praticamente hino informal de uma geração que se agregava em torno da Rádio Continental, da Faculdade de Arquitetura da Ufrgs, das Rodas de Som no Teatro de Arena.
Quem viveu aqueles dias é unânime: é uma lástima que a Utopia não tenha tido tempo de chegar ao vinil. "Tentei encontrar um qualificativo para adjetivar essa banda, mas todos me pareceram redundantes. Sempre me ficou, prioritariamente, na memória, a canção Lírio, que era como um hino lírico, de cuja letra só me vinha uma palavra, uma palavra flor, um centro de beleza nascente em um palco de Porto Alegre", relembra o cantor, compositor e amigo Antonio Villeroy - parceiro do grupo Juntos.

Perto demais das capitais, Bebeto reencontra o caminho do Sul

Álbum de estreia marcou época, mas gerou sentimentos conflitantes em seu criador

Álbum de estreia marcou época, mas gerou sentimentos conflitantes em seu criador


NÚCLEO DE ESTUDOS DA CANÇÃO DA UFRGS/REPRODUÇÃO/JC
Quando o primeiro álbum solo de Bebeto Alves surge, em 1981, o músico já era um nome cheio de fronteiras ultrapassadas. A do registro em vinil ele havia rompido pouco antes, em 1978, como um dos participantes da coletânea Paralelo 30, iniciativa de Juarez Fonseca e lançada pela gravadora Isaec, com direção musical de Geraldo Flach.
"Um dia, fizemos uma reunião com o Geraldo, todos os artistas, durante a pré-produção do disco", relembra o compositor Nelson Coelho de Castro, amigo de Bebeto de outros carnavais. "Depois da reunião, sentamos todos na escada (da Igreja Luterana, na rua Senhor dos Passos, Centro de Porto Alegre) e ficamos conversando. O pessoal da reunião foi se despedindo, e ficamos só eu e o Bebeto, conversando naquela escada. E não paramos de conversar até hoje", sorri.
As duas músicas de Bebeto no LP (Que se pasa e De banquetes e de jantares) chamaram a atenção do produtor Carlos Sion, que escutou nelas a possibilidade de inserir a música gaúcha no coração da MPB. A essa altura, o cantor já buscava outras fronteiras: rumou primeiro para São Paulo, depois para o Rio de Janeiro, em busca de sucesso no coração do País.
Surgido no meio desse turbilhão, Bebeto Alves, o disco, é reconhecido por muitos como um dos pilares da música gaúcha contemporânea. Nele, já surge a tendência de aproximar as sonoridades do pago com as influências da contemporaneidade, em uma pegada roqueira que transborda das paisagens geográficas e sentimentais do Sul. "Somos um bando e muitos outros", canta o refrão da inesquecível De um bando - e essa simples frase é forte o suficiente para (re)definir uma geração que, agora, se pulverizava em outras direções, buscava outros caminhos, outras cidades e fronteiras. Mas que, mesmo dispersa, seguia uma só. Como Bebeto.
O disco, contudo, não estourou nacionalmente. O que não o impediu de seguir tentando, com álbuns como Notícia urgente (1983) e Novo País (1985). Buscou a música pop, tocou no programa do Chacrinha, teve aparição no Fantástico. Mas talvez, no inverso do conceito criado por Humberto Gessinger, Bebeto Alves estivesse perto demais das capitais. "Lembro de uma vez que eu estava na praia de Ipanema com o (compositor e produtor carioca) Maurício Tapajós, que era uma figura muito querida, a gente era amigo de praia. E o Maurício olhou para mim e disse 'Bebeto, deixa eu fazer uma pergunta para você, rapaz, o que é que você tá fazendo aqui?' E eu fiquei com aquilo na cabeça: 'afinal, o que é que tu queres? Fazer um sucessinho imediato, para ganhar uma grana?'"
Mais ou menos nessa época, Bebeto se separava da primeira esposa, a astróloga Claudia Lisboa, com quem teve as filhas Luna e Mel Lisboa - a segunda, atriz que alcançou sucesso nacional nas telas da Rede Globo. Nesse rebuliço, surgiu a oportunidade de passar uns meses nos Estados Unidos. E foi em terra estrangeira que Bebeto Alves reencontraria o caminho do Sul, escrevendo as músicas que se transformariam em Pegadas (1987), um dos discos mais emblemáticos de sua trajetória.
 

Criando a partir do afeto e da indignação

Depois de retorno ao Estado, nos anos 1980, ritmo criativo tornou-se frenético

Depois de retorno ao Estado, nos anos 1980, ritmo criativo tornou-se frenético


FREDY VIEIRA/ARQUIVO/JC
Ao lado de um amigo, o músico e produtor Marcelo Corsetti estava na plateia no show de lançamento de Pegadas, em 1987, realizado no Auditório Araújo Vianna. "Comprei o disco naquela noite, depois fui para casa e comecei a aprender a tocar Pegadas. Fiz um arranjo e pensava 'cara, um dia eu vou ter uma banda para tocar essa música, desse jeito'. Mal sabia eu que, anos depois, eu ia tocar essa música com o Bebeto mesmo. A primeira vez que toquei Pegadas eu praticamente chorei em cima do palco", relembra.
A volta de Bebeto Alves ao Estado foi tudo, menos um recuo. Na verdade, disparou um processo quase frenético de criação, marcado por dezenas de discos e shows. Entre tantas coisas, talvez seja possível destacar o encontro do Juntos, no qual o compositor se une, desde 1997, aos igualmente emblemáticos Antonio Villeroy, Nelson Coelho de Castro e Gelson Oliveira. Uma espécie de Crosby, Stills, Nash & Young dos Pampas que, verdade seja dita, superou em muito a comparação fácil com a formação norte-americana. "Ele tem essa coisa, esse ímpeto. Ele é gente que faz", brinca o colega de banda Gelson Oliveira. "Ele é o tipo de pessoa que chega para você e diz 'tô cansado' - mas o cansaço dele é 'vou lançar dois discos, estou preparando uma exposição'", acrescenta, com uma gargalhada.
A partir de 2003, com o show BlackBagualNegoVéio, a confluência entre milongas, toadas, pegadas roqueiras e guitarras encontra talvez a expressão mais radical já proposta por Bebeto Alves. "Um dia, estávamos eu, ele e o Nelson Coelho de Castro e disse 'velho, vamos gravar um disco desse show'", recorda Corsetti. "Ele estava numa desesperança, 'não quero mais gravar discos', e o Nelson intercedeu e disse 'cara, se tu tens 30 pessoas que gostam de ti, tu tens que alimentar essas pessoas'. Aí o Bebeto olhou para mim e disse 'OK, eu gravo, mas tu faz tudo'". Foi uma boa ideia: nascida em decorrência deste projeto, a banda OhBlackBagual segue ativa até hoje.
O projeto Los 3 Plantados, por outro lado, tem ligação direta com um momento dramático na vida de Bebeto: o transplante de fígado, ao qual teve que ser submetido em abril de 2013. Ao lado dos igualmente lendários Jimi Joe (que marcou época no rádio e nos palcos, com a banda Atahualpa Y Us Panquis) e King Jim (voz do Garotos da Rua), surgiu uma cumplicidade de quem passou pela fila por um novo órgão, traduzida em um projeto musical e humanitário. "(No primeiro ensaio), isso estava no olhar de cada um, o espanto que a gente sentia por estar vivo", relembra Bebeto, pensativo.
"Para mim, tocar com ele é um aprendizado sempre. É um cara muito profissional, muito exigente em termos de estética, de fazer uma música bem feitinha", comenta o parceiro e amigo Jimi Joe. "Mas, quando ele fica brabo, ele fica muito brabo. Aí eu e o King Jim temos que acalmar a fera. Mas é uma agressividade saudável, uma ânsia de fazer a coisa avançar. Uma indignação que faz parte da vida."

Em meio a turbilhão criativo, a promessa de um novo disco

Projetos como Plano de Voo, ao lado de Antônio Augusto Bueno, unem desenho e fotografia

Projetos como Plano de Voo, ao lado de Antônio Augusto Bueno, unem desenho e fotografia


BEBETO ALVES E ANTÔNIO AUGUSTO BUENO/REPRODUÇÃO/JC
Além das muitas trilhas da música, Bebeto tem explorado com especial interesse o mundo da fotografia. Em conexão com o artista visual Antônio Augusto Bueno, foi desenvolvida a mostra Voo da pedra, unindo desenho e fotografia e que, em 2019, se desdobrou em quatro espaços de Porto Alegre. "Surgiu em conjunto essa ideia de unir diferentes linguagens. Ele começou a interferir em umas fotos minhas, e a minhas fotos começaram a se transformar em função do desenho, buscar uma outra coisa, ganhar contornos mais pictóricos", descreve.
O desejo de desdobrar esses experimentos em um novo projeto, chamado Linha de voo, foi sendo adiado pela chegada da pandemia de Covid-19. O que, mesmo assim, foi insuficiente para colocar em silêncio a ânsia criativa em torno do material. Veiculada no ano passado no site pessoal de Bebeto, a exposição virtual Plano de voo foi um sucesso, com uma série de gravuras vendidas.
Depois da pausa forçada, o Linha de voo vai ganhando ímpeto para se concretizar. Um livro com as artes está concluído, e uma exposição física terá início em 19 de junho, presencialmente no Sesc da mesma Uruguaiana que é a fronteira de largada de todo esse universo.
A mostra também poderá ser visitada online a partir dessa data na galeria virtual do Sesc. A previsão é que, nos próximos meses, o trabalho chegue também às cidades de Pelotas (no Espaço de Arte Ágape, em agosto) e Porto Alegre - em outubro, na Fundação Força e Luz, antigo Centro Cultural Ceee Erico Verissimo.
"Estou envolvido também com um outro projeto fotográfico pessoal, que estou elaborando desde o início deste ano, mas estou protelando porque, sabe, é tanta coisa", diz. E não se trata de exagero. Entre outras iniciativas, ele está contribuindo com o canal de podcasts Desapaga POA, que conta a história de Porto Alegre a partir de seus invisíveis, como as comunidades negras e indígenas. Está também no documentário Misturados, que reflete sobre as trocas culturais que marcam a vida e a expressão artísticas de sete criadores e criadoras do Rio Grande do Sul.
No meio disso tudo, a música insiste: lançou novas canções com o Juntos (Uma volta e meia) e com Los 3 Plantados (E ninguém larga a mão de ninguém), com os devidos videoclipes. A segunda banda, aliás, lançou recentemente um documentário em parceria com a Fundação Ecarta - percebam, aliás, que o repórter tem que fazer algum esforço para não deixar nada para trás.
E, é claro, tem o disco novo. "Não sei que formato vou dar a isso. Poderia fazer um CD prensado bem bonitinho, com capa e encarte, mas precisaria estar com a vida muito frouxa para bancar tudo e não me importar com retorno financeiro", diz Bebeto, de bom humor. "Não me agrada em nada fazer um trabalho digital, virtual. Mas são músicas que estão muito bonitas, tem umas milongas inclusive, umas parcerias diferentes. Mas não sei como concretizar."
Seja como for, a nova coleção de músicas deve trazer, em seu espírito, um caráter de busca. Uma continuidade que também é um retorno, fiel a essa jornada de fronteiras e recomeços. "São músicas que refletem bastante isso tudo que estamos vivendo, esse momento que é tão duro, tão violento com a gente. Mas também são músicas esperançosas, porque não quero me abster de sentir uma coisa boa, apesar de tudo."