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Publicada em 20 de Março de 2025 às 18:35

Cineasta e professor, Glênio Póvoas é o guardião do cinema gaúcho

Colecionador, pesquisador e cineasta, Glênio Póvoas é considerado o maior especialista na produção cinematográfica do Estado

Colecionador, pesquisador e cineasta, Glênio Póvoas é considerado o maior especialista na produção cinematográfica do Estado

/EVANDRO OLIVEIRA/JC
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Daniel Rodrigues, especial para o JC
Daniel Rodrigues, especial para o JC
 
Aparentemente, é apenas mais um dia quente e ensolarado de verão em Porto Alegre. No robusto edifício dos anos 1960 em estilo neoclássico na Rua dos Andradas, de frente para a Casa de Cultura Mário Quintana e a Cinemateca Paulo Amorim, a sensação térmica de mais de 35 graus da rua, entretanto, não impede que o dia seja de trabalho. Aliás, sempre o é. E trabalho em prol do cinema.
Os cômodos do apartamento de 98 metros quadrados, 13º e último andar, são tomados de livros, filmes, discos, catálogos, cadernos, pôsteres, apostilas, souvenires, quadros e todo um manancial de conteúdos que não se encontram facilmente em qualquer lugar - quanto menos juntos. Não há por onde se circule na casa que não se encontre algum material de cultura. Percorrendo rapidamente as prateleiras, mesas e paredes veem-se algumas referências, de Elizeth Cardoso a Ismail Xavier, de Pina Bausch a Jorge Benjor.
Um manancial de informações e preferências que traduzem a diversidade dessa personalidade sensível, leal e criteriosa que dá suporte para a obstinada lida voltada, principalmente, ao cinema. O rico acervo, apelidado pelos amigos ironicamente de Cinemateca Glênio Póvoas, pertence ao colecionador que lhe dá o carinhoso e anedótico nome.
Jornalista, professor, cineasta, roteirista, pesquisador. Glênio Nicola Póvoas, Mestre em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicações e Artes da USP e Doutor em Comunicação Social pela Pucrs, é uma referência para gerações de profissionais do cinema e da comunicação há mais de três décadas, seja como alunos, colegas ou objetos de suas infindáveis pesquisas. "Glênio sempre me surpreende com suas pesquisas. São 30 anos de trocas, críticas e muitas risadas", conta Nora Goulart, amiga e produtora de cinema. A admiração é evidente perante seus pares, como manifesta o cineasta Jorge Furtado: "Glênio é um valioso e raro historiador do Brasil através do cinema".
A figura deste rio-grandino de 63 anos, embora múltipla no contexto do cinema gaúcho, é, no entanto, fortemente associada ao acervo e à preservação da memória desta arte produzida no Rio Grande do Sul. Não à toa. Há seis anos, Glênio iniciou, junto ao Núcleo de Pesquisa, Informação e Memória do Instituto Estadual de Cinema (Iecine) e à Cinemateca Paulo Amorim, as pesquisas para o Portal do Cinema Gaúcho, um inédito e nababesco banco de dados online da produção audiovisual gaúcha desde o seu primórdio, no início do século XX, em 1904, menos de 10 anos após a invenção pelos irmãos Lumière, na França. O portal, lançado em 2023, já computou mais de 800 longas-metragens produzidos no Estado. E essa busca, em constante atualização, prossegue diariamente, faça chuva ou faça sol. "Adoro fazer isso. Eu sou o 'homem-arquivo'", autointitula-se.
A riqueza de detalhes contida no Portal do Cinema Gaúcho denota que não haveria de ser outra pessoa a organizá-lo. Só mesmo o minucioso Glênio para estar à frente desse projeto. Cada título é abastecido com sinopses, verbetes, fichas técnicas, imagens e datas de exibição. "O nível de detalhamento das informações de cada título no Portal chega a ser, em alguns momentos, assustador", comenta o cineasta e músico Carlos Gerbase, amigo e ex-colega. Jornalista, professora e amiga de longa data de Glênio, Fatimarlei Lunardelli acrescenta: "Ele une o gosto pelo cinema com uma enorme e rigorosa atenção aos detalhes".
O portal rendeu também uma importante publicação: o Dicionário de Filmes Gaúchos - Longa-metragem 1911-2022, organizado por Glênio e editado pelo Iecine dentro do projeto Primavera Gaúcha da Sedac. Celebrado no meio do cinema, a obra compila, pela primeira vez em livro, 421 títulos extraídos do conteúdo do site.
Há muito ainda o que fazer, contudo. O plano é incorporar ao catálogo médias, curtas, séries e programas de TV. Estima-se que, somente de curtas-metragens gaúchos, o volume chegue a mais de 3 mil filmes. Atualmente, está em andamento a catalogação de aproximadamente 500 médias-metragens (filmes entre 30 e 60 minutos). Nada que assuste alguém que chamou para si a responsabilidade de preservar a memória do cinema feito em sua terra. "Sei que o trabalho que eu faço é importante e que eu precisava preencher uma lacuna na história do cinema gaúcho, que estava toda dispersa", declara Glênio. "É uma missão que eu tenho."
 

Cenas da infância

Paixão de Glênio Póvoas pelo cinema surgiu ainda na infância, em Rio Grande, influenciado pelo pai cinéfilo

Paixão de Glênio Póvoas pelo cinema surgiu ainda na infância, em Rio Grande, influenciado pelo pai cinéfilo

/EVANDRO OLIVEIRA/JC
Pode-se dizer que o gosto de Glênio Póvoas pelo cinema vem de berço. Nascido numa Rio Grande ainda com ares de pequena cidade, no ano de 1961, o mais velho de três irmãos do casal Aldo Ítalo e Rosa Póvoas guarda na retina as imagens da infância quando percorria o enorme galpão da fábrica de sabão do avô João Póvoas, a Duas Flechas. "Era mágico aquele lugar", recorda. As condições de vida eram boas, principalmente em virtude do empreendedorismo do avô, imigrante português que montou a muito custo o bem-sucedido negócio.
Foi na mesma Rio Grande dos anos 1960 também que Glênio teve seus primeiros contatos com o cinema, através das sessões nos quatro cinemas de calçada da cidade àquela época, mas, principalmente, por influência da paixão do pai pelos filmes. "Ele era fã de cinema e das estrelas de Hollywood". Assistia desde o cinema comercial norte-americano a diretores como Woody Allen e Alfred Hitchcock. E não só amor pelos filmes, mas pela arte da catalogação. "Meu pai comprava as revistas sobre cinema disponíveis e anotava todos os filmes que assistia, desde os anos 1940". Glênio foi contagiado pela mesma prática. Surgia ali o olhar analítico para com o cinema que o acompanha até hoje.
Mauro Póvoas, professor de Literatura e irmão mais novo de Glênio, lembra que o pai era fanático por cinema e que "contaminou" toda a família. "Ele era um diletante, mas passou sua paixão para todos da família: minha mãe, nosso irmão do meio, Fernando, a mim, que me formei em Letras mas gosto bastante de cinema e, principalmente, o Glênio, que virou um profissional da área".
Como nos filmes, no entanto, há os momentos de altos e baixos. Quando criança, a escola, hostil e autoritária, não lhe representava um ambiente amigável. Na família, as coisas também não iam satisfatórias. O padrão de vida começou a baixar desde que o avô deixara o negócio nas mãos do filho, que não soube administrar e levou a empresa à bancarrota. Já adolescente, no final dos anos 1970, a cabeça de Glênio já estava a 334 km de Rio Grande: na capital Porto Alegre. Queria cursar Jornalismo.
 

Verdes anos

Com os amigos Jorge Furtado e Nora Goulart, em foto de 2022

Com os amigos Jorge Furtado e Nora Goulart, em foto de 2022

/ACERVO PESSOAL GLÊNIO PÓVOAS/REPRODUÇÃO/JC
"Dançar nos fez pular o muro." O verso da música Verdes Anos, de Nei Lisboa, que intitula o filme de Carlos Gerbase e Giba Assis Brasil, de 1984, traduz de forma poética o anseio de uma geração de jovens a qual Glênio Póvoas pertence. Havia a necessidade de independência diante dos pais, o conhecido "sair de casa". Mas para isso era necessária uma boa dose de astúcia. O Brasil do início dos anos 1980 vivia ainda sob o regime ditatorial, que, embora já abrandada pela anistia, de 1978, ainda mantinha um clima de tensão e vigília.
Neste cenário, a saída de Glênio de Rio Grande para fazer faculdade na Capital era como transpor uma barreira. Primeiro, financeira, no sentido de se emancipar das raízes. Mas, principalmente, emocional. Após um semestre cursando Comunicação em Pelotas, em 1981, o jovem Glênio passou no vestibular da Pucrs para a então badalada Faculdade de Comunicação Social, a Famecos, onde, anos mais tarde, voltaria não só na condição de aluno do doutorado (2001-2005), mas também de professor da graduação e do Curso Tecnológico de Produção Audiovisual (Teccine).
A cena cultural de Porto Alegre efervescia na música, no teatro, na televisão e, claro, no cinema. A faculdade espelhava essa agitação. "Era a época dos filmes em super-8, como Deu Pra ti, Anos 70, e eu era um aluno dedicado", lembra Glênio. "Foi um momento especial na história da Famecos, que infelizmente hoje decaiu muito com a dispensa de diversos professores qualificados", lamenta.
Absorvido por esta atmosfera, Glênio buscou seu lugar ao sol. Dividia quarto com amigos, fazia bicos e buscava se manter. Ainda estudante, fez estágios no Museu de Comunicação Social Hipólito José da Costa e na Secretaria de Planejamento Municipal Porto Alegre, onde já teve contato com atividades de acervo e catalogação.
O primeiro emprego, porém, veio do Jornalismo. Já formado, em 1985, passa a integrar a redação do Jornal do Crea-RS, editado pelo Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Rio Grande do Sul. Mas foi no extinto Diário do Sul, para onde foi a convite do jornalista e escritor Carlos Urbim (1948-2015), então editor de Cultura do veículo, que as coisas começaram a melhorar tanto no bolso quanto na visibilidade. Redator e repórter, Glênio assina, então, centenas de matérias ligadas à cultura e cinema, quando teve oportunidade de ter como editor o jornalista e crítico de cinema Luiz Carlos Merten.
E havia gás para mais. Foi neste período que Glênio também teve as primeiras experiências com duas atividades que se tornariam inerentes à sua biografia: a docência e o fazer cinematográfico. Devidamente enturmado com a turma que frequentava os corredores da Famecos e os bares da Osvaldo Aranha, Glênio virou até figurante no filme Verdes Anos, marco daquela geração e que trata, justamente, dos conflitos adolescentes diante do futuro. "Eu estou na cena da arquibancada do jogo de futebol. Tem um plano em que eu apareço bem", conta.
 

Fazer cinema, fazer-se cinema

Imagem do curta Passageiros, que chegou a ser premiado em festivais

Imagem do curta Passageiros, que chegou a ser premiado em festivais

/PRANA FILMES/REPRODUÇÃO/JC
A figuração de Glênio Póvoas em Verdes Anos era o indicativo de uma trajetória atrás e, por vezes, à frente das câmeras. Seu primeiro e elogiado curta, Segunda vez, integrou a seleção oficial do 9º Festival do Filme Super 8 de Gramado, em 1985. Mas foi Passageiros, curta codirigido com Carlos Gerbase, em 1987, que lhe deu ainda maior vitrine. O filme foi vencedor dos prêmios de melhor curta-metragem gaúcho e de melhor montagem no 15º Festival do Cinema Brasileiro de Gramado, além de participar de festivais e mostras no Rio de Janeiro, Salvador, Porto Alegre e Cuba.
Gerbase, que fora professor de Glênio na Famecos, não apenas se tornaria seu parceiro de set de filmagens como, anos mais tarde, colega de sala de professores. "Há um Glênio pesquisador e historiador, há um Glênio professor, mas também há um Glênio roteirista e diretor. A seriedade e a dedicação que ele tem como professor são replicadas quando está fazendo cinema e TV. Acho que ele deveria se aventurar mais nessa área", acrescenta.
Nos anos 1990 e 2000, Glênio teve participações importantes no audiovisual, seja para cinema, televisão ou acervo. Localmente, pesquisou, roteirizou e dirigiu curtas e episódios de séries televisivas, como A Ferro e Fogo e Histórias Extraordinárias, da RBS TV. É nesta época também que, no Arquivo de Mídias da emissora gaúcha, desenvolve um trabalho fundamental para a memória do cinema no Rio Grande do Sul e no Brasil: a consolidação do Arquivo da Cinegráfica Leopoldis-Som, onde catalogou os documentários e cinejornais de 1930 a 1981 da pioneira produtora gaúcha.
Para a Globo, escreve, em 1994, junto com Gerbase, Jorge Furtado e Renato Campão, o roteiro da prestigiada série Memorial de Maria Moura, estrelada por Glória Pires. Dez anos depois, adapta para o cinema, ao lado de Furtado e da cineasta Monique Gardenberg, o romance Benjamim, de Chico Buarque, pelo qual recebeu o Prêmio Guarani de melhor roteiro adaptado.
Tamanha contribuição não passou em branco aos olhos de seus pares. Em 2019, Glênio recebe a homenagem da Sociedade Brasileira de Estudos de Cinema e Audiovisual (Socine). Recentemente, mais duas distinções por seu papel essencial ao cinema gaúcho: o prêmio Sedac/Iecine, no Festival de Cinema de Gramado, em 2023, e o Prêmio Luís César Cozzatti, conferido pela Associação de Críticos de Cinema do RS (Accirs), em 2024.
Além de algumas aparições em filmes, o diretor e roteirista ainda se transporia totalmente para o outro lado da câmera. Em 2023, o cineasta Luiz Alberto Cassol dirige o documentário Glênio, em que aborda a marcante trajetória do agora protagonista. "O Glênio sempre foi merecedor de um filme, porque a pesquisa intensa e cuidadosa feita por ele proporciona refletirmos de forma profunda sobre o cinema produzido no Brasil e, especialmente, aqui no Estado", explica Cassol, com quem Glênio vai dirigir o curta A Biblioteca de Jorge Furtado para uma mostra especial em homenagem ao diretor de Ilha das Flores, no final deste mês, na Cinemateca Paulo Amorim.
 

Vocação: professor

Cena da gravação do curta-metragem Glênio, dirigido por Luiz Alberto Cassol

Cena da gravação do curta-metragem Glênio, dirigido por Luiz Alberto Cassol

/FREDDY PAZ/DIVULGAÇÃO/JC
Sem afetação, Glênio Póvoas confessa não se sentir vocacionado para ser professor. Contudo, a própria sala de aula contradiz sua opinião. De 1988, quando começou a lecionar Análise Fílmica na Graduação do curso de Comunicação Social da Unisinos, até 2022, quando foi dispensado da Pucrs e se aposentou, foram 34 anos dedicados à docência. Diversas cadeiras, milhares de horas-aula, incontáveis laboratórios e projetos avaliados, inúmeros alunos e muita experiência na bagagem.
"Glênio sempre levou muito a sério sua trajetória acadêmica e sabia conquistar todo mundo com seu jeito despojado e, ao mesmo tempo, comprometido com a qualidade de ensino", afirma Carlos Gerbase. Já Gustavo Spolidoro, que deu aula a seu lado por 10 anos no curso de Jornalismo da Pucrs, lembra com carinho e admiração dos anos de convivência com o amigo e colega. "Sempre preocupado com os créditos dos filmes e com dicas legais para os alunos".
Se a passagem como professor horista pela Unisinos se encerrou em 2000, outra jornada diante das lousas começaria três anos antes a partir do convite de um mestre seu, o cineasta e professor Aníbal Damasceno Ferreira (1933-2013). Lenda do cinema gaúcho, Aníbal, que havia trabalhado, entre outros projetos, nos sucessos de bilheteria de Teixeirinha, nos anos 1960 e 1970, convidou-o para dividir com ele a disciplina de Produção de Cinema e TV e Cinejornalismo.
Gerbase orgulha-se de que Glênio e ele tenham herdado o legado acadêmico de Aníbal, conhecimento que compartilharam com gerações de discípulos. Entre estes, alguns ilustres, como o cineasta Filipe Matzembacher. De Berlim, na Alemanha, onde exibiu no Festival Berlinare o longa Ato Noturno (codirigido por Marcio Reolon), Matzembacher lembra do papel fundamental de Glênio para a sua formação como realizador. "Lembro da paixão dele por cinema, as falas emocionadas e as inúmeras recomendações. Ele me indicou vários filmes e livros, que acabariam se tornando fundadores da minha visão de cinema", relata.
As nove vezes em que foi reconhecido como docente homenageado ou paraninfo não deixam mentir: o "não-vocacionado" Glênio tem jeito, sim, para ensinar.
 

Homem-cinemateca

Homenageado com o Prêmio SEDAC/IECINE - O Futuro Nos Une, na edição de 2023 do Festival de Cinema de Gramado

Homenageado com o Prêmio SEDAC/IECINE - O Futuro Nos Une, na edição de 2023 do Festival de Cinema de Gramado

/CLEITON THIELE/PRESSPHOTO/DIVULGAÇÃO/JC
"Glênio Póvoas é sinônimo de pesquisa cinematográfica." Esta frase, dita pelo cineasta e admirador Luiz Alberto Cassol, caberia na boca de muita gente. Afinal, Glênio se tornou, ao longo de suas mais de quatro décadas dedicadas ao cinema e à pesquisa, uma referência neste campo. A abnegação e o estudo que depositou sobre o filme Vento Norte, de 1951, primeiro longa-metragem filmado no Rio Grande do Sul, é um exemplo. A clássica película de Salomão Scliar foi dissecada por Glênio em sua passagem de dois anos e meio por São Paulo para a realização do mestrado na USP, período em que fez diversas amizades, entre elas, com o crítico de cinema, escritor e cineasta franco-brasileiro Jean-Claude Bernardet.
Após a temporada paulistana, voltou para Porto Alegre pronto para, enfim, criar uma cinemateca no Estado. A oportunidade ideal parecia ter surgido por volta de 2005, com a formação da Cinemateca Capitólio. Após a participação voluntária em etapas iniciais do projeto junto a Sedac e Fundacine, Glênio percebeu-se, no entanto, alijado. "Tenho essa frustração. Meu sentimento é de pertencer àquela cinemateca por tudo que fiz e pela vontade que tinha de montá-la, mas me senti excluído na fase em que ela foi constituída", diz.
Após um período sabático afastado do cinema (afora as obrigações das aulas na faculdade), a paixão falou mais alto. Em 2019, convidado pelo cineasta Zeca Brito, à época à frente do Iecine, e por Fatimarlei Lunardelli, Glênio voltou à ativa - e com tudo - para erigir o Portal do Cinema Gaúcho.
Na primeira etapa da pesquisa do panorama produtivo audiovisual do Rio Grande do Sul, aproveitando sua tese de doutorado sobre os primeiros 50 anos de história da filmografia gaúcha e os três catálogos que indexou para Iecine e Fundacine, Glênio e sua equipe se concentraram nos longas a partir de 61 minutos de duração. E em todos os formatos existentes: 35 mm, 16 mm, 8 mm, super-8, VHS, Betacam, DV, digital, DCP e, inclusive, DVDs de shows musicais ou espetáculos teatrais.
"O Glênio é um pesquisador nato, aquele tipo que coleta e organiza os dados, o que é muito comum nas ciências exatas, mas não nas humanas", considera Fatimarlei. "Sorte nossa termos alguém como ele, que tem um valor inestimável para a memória e para a história do cinema no Estado e no Brasil, o que nos permite compreender, inclusive, os caminhos do cinema na América Latina", destaca.
Para Carlos Gerbase, "a sagrada obsessão de Glênio Póvoas precisa ser aproveitada ao máximo, para orgulho de quem trabalha com o cinema desta província meridional". Já Jorge Furtado sentencia, em uma palavra, o que Glênio significa para a memória cinematográfica do Rio Grande do Sul e do Brasil: "Guardião".
 

* Daniel Rodrigues é jornalista, escritor, radialista e crítico de cinema. Atual presidente da Accirs, tem duas obras lançadas (Anarquia na Passarela: a influência do movimento punk nas coleções de moda e Chapa Quente), além de participação em antologias de contos e no livro 50 Olhares da Crítica Sobre o Cinema Gaúcho, editado pela Accirs.

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