Uma das mais impactantes viradas de chave na cena cultural de Porto Alegre não teve investimento de vulto, localização badalada ou placa luminosa. Sequer houve uma logomarca que a identificasse. Mas apresentou à cidade um conceito que ainda hoje é padrão para boa parte dos adeptos da boemia como estilo de vida: a boate moderninha, com som mecânico e para "dançar separado". O estopim foi aceso no em 24 de novembro de 1961 pela Crazy Rabbit, casa noturna instalada em loja na rua Garibaldi, a poucos metros da avenida Independência.
Leia as demais reportagens da série Porto Noite Alegre:
- A história do Santa Mônica, casarão dançante que marcou a noite da Dom Pedro II
- Danceteria 433 foi espaço de projeção para o rock gaúcho nos anos 1980
- Pub Abbey Road aqueceu a agenda musical de Porto Alegre nos anos 2000
- Bar Theatro Mágico aproximou boemia e cultura nas noites do Bom Fim
- Carlitus, na Getúlio Vargas, era espaço sob medida para casais de bom gosto
- Na Cristóvão Colombo, boate Papagayu's fez sucesso no auge dos embalos da 'discoteque'
- Alambique's, um piano-bar cheio de bossa na Independência
Leia aqui as reportagens da primeira temporada da série Porto Noite Alegre
Leia aqui as reportagens da segunda temporada da série Porto Noite Alegre
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Na capital gaúcha já sobravam opções para vários gostos, com uma linha divisória entre a cartilha conservadora e os instintos mais liberais. Reuniões domésticas, bailes nas agremiações ou faculdades e eventos em clubinhos sociais como o Cotillon coexistiam com cabarés, 'inferninhos' e bares com música - Je Reviens, Piano Drink, Cocktail Club, Vogue, Black Horse, Radim, Cote D'Azur, Perroquet, Bambu, Ivanhoé, Rio Club, Black White, Michel, Clube da Chave. As coisas mudariam de figura com a energia, criatividade, ousadia e cosmopolitismo de Carlos Heitor Azevedo, 23 anos à época.
Natural de Vacaria e radicado em Porto Alegre desde a infância, ele se alistara aos 20 anos como soldado na missão de paz criada pelas Nações Unidas para atuar no conflito do Egito contra Israel, França e Inglaterra pela posse do canal de Suez, entre os mares Vermelho e Mediterrâneo. A experiência no Oriente Médio, entre agosto de 1958 e novembro de 1959, não estava restrita a menções honrosas ou ao orgulho do pai, estancieiro, jornalista e deputado: finalizada a participação de seu contingente, um giro do rapaz por Roma e Paris havia fisgado sua atenção para as casas noturnas de padrão norte-americano, que se globalizavam desde o fim da Segunda Guerra Mundial (1938-1945).
"Quando voltei, a noite daqui andava tétrica", relembraria em entrevista de 1995 ao jornal Zero Hora. A ideia de uma boate com cara de boate e vibrante como as europeias amadurecia, em meio a recordações do tempo de festinhas organizadas com as duas irmãs (uma mais velha, outra mais nova) no porão da antiga casa dos Azevedo na rua José Bonifácio, diante do Parque da Redenção. Já morando com a família no prédio 831 da Independência, no final da década, ele acabou identificando a menos de duas quadras a trincheira ideal de sua batalha por uma boemia mais divertida.
A mira apontava para um edifício de dez andares residenciais, construído no fim da década anterior sob encomenda do neurocirurgião Eliseu Paglioli (então reitor da Ufrgs e ex-prefeito) como moradia e fonte de renda extra para si e os filhos. No térreo, a porta principal pela Independência e um acesso secundário na face esquerda se intercalavam com três pontos comerciais locados pelo condomínio - na Independência o Cine Vogue, na esquina o bar Stylo Drink e na Garibaldi em direção à Cristóvão Colombo o número 944, disponível para aluguel.
Com 60 metros quadrados, pé-direito alto, duas colunas de sustentação, portas de vidro e ausência de divisórias, o espaço se encaixava nos planos. A ajuda do pai e a ampla rede de contatos garantiram um investimento modesto, porém suficiente para a montagem do ambiente, com a assessoria de Vitório Gheno, um experiente diretor de arte e ilustrador a serviço do departamento de publicidade da Varig, após longa temporada na agência McCann-Erickson do Rio de Janeiro. O desafio é relembrado por Gheno, aos 101 anos (completados neste sábado, 26 de outubro):
"Eu ainda não tinha feito nenhum projeto decorativo de casa noturna, exceto alguns trabalhos para o Country e Jockey Club, mas o entusiasmo do Carlos Heitor em abrir logo o negócio me fez topar a empreitada. Sem muita grana, apelamos à imaginação para bolar um esquema simples, com móveis coloniais, detalhes como grades de ferro ornamentadas, biombos e paredes com desenhos meus de um arvoredo e de uma versão bêbada do tal coelho doido, o Crazy Rabbit (fusão dos personagens Lebre de Março e Chapeleiro Maluco, do livro Alice no País das Maravilhas, publicado pelo inglês Lewis Carroll em 1865)".
Uma nova onda que veio para ficar
Embora eventualmente abrisse espaço para shows intimistas, foi como espaço dançante que a Crazy Rabbit marcou época
/ACERVO MARCELLO CAMPOS/REPRODUÇÃO/JCA novidade se espalhou rapidamente. Não deu outra: cerca de 100 figuras abarrotaram o pequeno e pioneiro espaço na rua Garibaldi para a sexta-feira de inauguração da Crazy Rabbit, em 24 de novembro de 1961. Na jovem tropa recrutada por Carlos Heitor Azevedo, sobrenomes como Chaves Barcellos corroboravam as conexões do empreendedor com a ala jovem de uma elite porto-alegrense que se tornaria habituê da casa, ao lado de jornalistas, colunistas sociais - Gilda Marinho, Luiz Carlos Lisboa, Célia Ribeiro, Paulo Gasparotto - e outros formadores de opinião.
"Havia alguma seleção de clientela na entrada, com a ajuda de um porteiro negro, elegante e muito simpático", comenta Gasparotto, 87 anos. O personagem era Wilson, sempre fardado de smoking, quepe, luvas brancas e sapatos pretos reluzentes. Cruzar a filtragem do dono, sempre de olho na porta, garantia noitadas animadíssimas em um ambiente de ideias arejadas, boa bebida (uísque, vodka, champanhe, cuba libre), discos e fitas-rolo com 'coqueluches' mundiais trazidas do Rio de Janeiro - em Copacabana funcionava uma casa noturna homônima, e a família Azevedo mantinha apartamento no bairro.
Da cabine de som para uma diminuta pista central banhada por luzes intermitentes, muito hully-gully, surf rock, twist, calipso e cha-cha-cha, dentre outros ritmos norte-americanos e caribenhos, com eventual espaço para shows intimistas de bossa nova ou similares. Solteiros. Namorados. Noivos. Casados. Desquitados. Eles e elas na informalidade dos trajes esporte, dançando em separado (avulsos, em duplas ou grupos) - uma onda que chegara para ficar, sob narizes torcidos de muitos dos adeptos ferrenhos da beca e do rosto colado para aproximações românticas e conversas ao pé do ouvido para os 'avanços de sinal'.
"O próprio Carlos Heitor se encarregava de ensinar passos e coreografias em reuniões na boate ou no salão de festas da cobertura do prédio de um casal de amigos no bairro Moinhos de Vento", conta a irmã Leonilda Azevedo, 91 anos, ex-jornalista e professora aposentada. A Crazy Rabbit foi também cenário da estreia do adolescente Claudinho Pereira como discotecário. "Eu já tocava em festinhas de garagem e morava ali perto, na rua Tomaz Flores. Quando fiquei sabendo de uma vaga na boate, me apresentei", explica o icônico personagem de 77 anos, em preparativos de uma edição 'remixada' de seu livro de memórias Na Ponta da Agulha (2012).
"Muito do que sei sobre a minha profissão eu aprendi com ele, sempre rápido e que não marcava bobeira", prossegue o DJ de fama consolidada pelo trabalho em mais de 30 estabelecimentos do gênero desde aquela época. "Os aparelhos de rolo tinham um som incrível, e o Carlos Heitor tinha um gravador Akai trazido da França, no retorno de Suez. As fitas eram montadas com faixas em sequência numerada para indicar cada música, sendo que muito fiz isso à tarde para tocar noite adentro. Os hits rodavam mais de uma vez por noite, até porque muitos não tocavam nas rádios."
Claudinho adiciona outros detalhes: "Lembro do efeito luminoso que era operado junto ao equipamento de som, de forma tosca, usando para isso uma geringonça feita com hastes de madeira e ferro que, ao serem encostadas manualmente em chapas de metal, faziam piscar sobre o ambiente quatro spots, nas cores vermelha, amarela, verde e azul. O pessoal adorava, sem imaginar o risco de choque que a gente corria. E a cabine ficava bem em frente à cozinha, nos fundos da boate, então eu saía toda madrugada cheirando a fritura".
Pequeno lugar, grandes histórias
Embarque para Suez (1958) levou Carlos Heitor à guerra - e para a vida noturna
/ARQUIVO PÃBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO/REPRODUÃÃO/JCCom uma movimentação desproporcional à sua modesta metragem, o recinto festivo no Edifício Paglioli às vezes exigia pulso firme de seu comandante. O rapaz bonachão era também bom de briga e não titubeava em retirar pelo colarinho algum indisciplinado. Ou impedir o acesso de inconvenientes - nem sempre conformados com a negativa. "Certa ocasião, uma turma barrada partiu para a revanche, utilizando um automóvel para raptar o porteiro até outro local, o que deixou Carlos Heitor uma fera", corrobora o colunista social Paulo Gasparotto.
O fundador da casa noturna citaria em bate-papo com este repórter, décadas depois, um episódio em que a situação quase saíra do controle. "Uma moça da alta sociedade estava na boate com o marido quando os dois viraram alvo de cubos de gelo lançados por alguns filhinhos de papai. O sujeito partiu para cima e, antes que desse m*, mandei parar a música e acender a lâmpada central. Dei dois tiros de pistola para cima e mandei os bagunceiros darem o fora. Eles só saíram após mais dois disparos. Se não estivesse armado, eu resolveria no braço mesmo".
Mas foi longe da toca que o coelho da Garibaldi viveu sua maior doideira. Em 1962, o capitão do navio que levara o pelotão de Carlos Heitor a Suez teve a ideia de promover um baile de máscaras a bordo, com vários nomes da alta roda na capital gaúcha. Mera desculpa para impressionar uma dama - casada - pela qual se apaixonara cegamente. Coube ao ex-pracinha transferir quase toda sua boate (de móveis a garçons) para o convés da embarcação. Não deu certo para as pretensões do militar, que ainda amargou uma reprimenda pelas altas esferas da Marinha.
Missão cumprida
Baiuca, na Independência, foi continuação direta do Crazy Rabbit; espaço original na Garibaldi abriga empreendimento comercial (ao lado)
/ACERVO MARCELLO CAMPOS/DIVULGAÇÃO/JCTudo que é bom acaba - é o que dizem. Em algum momento hoje incerto do final de 1963, a Crazy Rabbit teve encerrada sua breve, porém marcante contribuição, com direito a uma unidade avançada na praia de Torres (Litoral Norte gaúcho) que dera o que falar durante o verão de 1962. As acomodações acanhadas e o incômodo da vizinhança com o inevitável barulho em uma área de noites ainda pouco movimentadas pesaram na decisão, embora o principal fator tenha sido positivo: a oportunidade de abertura de um novo front, maior e a menos de cinco minutos de caminhada dali.
A jogada de sorte envolvia o empréstimo gratuito, na Independência, da recém-desocupada casa de uma tia residente no Rio de Janeiro. O recheio do espaço dançante foi então embarcado por Carlos Heitor em seu jipe Willys branco (acrescido da bandeira azul da ONU), rumo ao número 828 da avenida, logo convertido em moradia e quartel general para uma segunda fase de agitos com a ainda mais arrojada Baiuca (1964-1967). Pelos 20 anos seguintes, o ponto abrigaria outras boates de seu inquilino - Vila Velha, Milho Verde, Casablanca e Gilda's Single Club, além do restaurante Churrasqueto.
Cansado da vida empresarial, ele continuou morando no imóvel, mas arrendou o térreo em 1987 para a montagem do bar e danceteria Bere & Ballare, última ocupante do ponto, que seria demolido na década posterior para que mais um prédio ajudasse a apagar o charme da arquitetura original da região. Já o espaço comercial da rua Garibaldi resiste ao tempo, sem mudanças significativas em comparação a seus primórdios - o piso é o mesmo de seis décadas atrás. Desde a saída da Crazy Rabbit, acomodou cabeleireiro, lan-house, empresa de móveis sob medida e, nos últimos anos, uma empresa de cortinas e persianas.
Situação atual do espaço onde funcionou o Crazy Rabbit, em foto de outubro de 2024
MARCELLO CAMPOS/ESPECIAL/JCO currículo pós-noite de Carlos Heitor Azevedo é eclético, incluindo a administração do patrimônio familiar que restara e investimentos no ramo imobiliário, por meio da aquisição de apartamentos para reforma e revenda. Atuou, ainda, como assessor de gabinete do governador Alceu Collares (1986-1989), função que exercera com Ildo Meneghetti (1963-1967). Foi também colunista do Jornal do Mar, em Torres, cidade onde permanece radicado aos 86 anos. Das tantas histórias que protagonizou, uma das mais divertidas é compartilhada por Fernando Albrecht, 81 anos, colunista do Jornal do Comércio.
"Eu perambulava pela Independência em certa ocasião na década de 1980 quando topei com a figura, que me confidenciou o plano de uma biografia bombástica, intitulada Fatos Que Presenciei, Pessoas Que Conheci. Usei minha então coluna na Zero Hora para antecipar a novidade, sugerindo que segredos seriam revelados. Em uma conversa por telefone na noite seguinte, próxima ao Natal, ele estava feliz da vida porque muita gente tinha entrado em contato, disposta a pagar para que desistisse da ideia. Foi o livro não publicado que mais vendeu até hoje na cidade".
Fofocas à parte, quem perdeu foi Porto Alegre, impedida de conhecer em pormenores um dos mais fervilhantes capítulos de sua vida social. Ainda hoje há quem passe pela lateral do Edifício Paglioli apontando o dedo para o pequeno lugar onde a noite da capital gaúcha atingiu sua maioridade, graças à bravura de um sujeito parecido com tantos outros mas que, do seu jeito, jamais economizou esforços em proporcionar à boemia de sua geração um entretenimento de qualidade. Quem sabe, ao ler esta reportagem, ele não se anime a desengavetar o projeto?
"Eu perambulava pela Independência em certa ocasião na década de 1980 quando topei com a figura, que me confidenciou o plano de uma biografia bombástica, intitulada Fatos Que Presenciei, Pessoas Que Conheci. Usei minha então coluna na Zero Hora para antecipar a novidade, sugerindo que segredos seriam revelados. Em uma conversa por telefone na noite seguinte, próxima ao Natal, ele estava feliz da vida porque muita gente tinha entrado em contato, disposta a pagar para que desistisse da ideia. Foi o livro não publicado que mais vendeu até hoje na cidade".
Fofocas à parte, quem perdeu foi Porto Alegre, impedida de conhecer em pormenores um dos mais fervilhantes capítulos de sua vida social. Ainda hoje há quem passe pela lateral do Edifício Paglioli apontando o dedo para o pequeno lugar onde a noite da capital gaúcha atingiu sua maioridade, graças à bravura de um sujeito parecido com tantos outros mas que, do seu jeito, jamais economizou esforços em proporcionar à boemia de sua geração um entretenimento de qualidade. Quem sabe, ao ler esta reportagem, ele não se anime a desengavetar o projeto?
Revolução fora da pista
Carlos Heitor Azevedo, em foto de 1963
/ACERVO MARCELLO CAMPOS/REPRODUÇÃO/JCHouve época em que o espírito festivo de Carlos Heitor Azevedo convivia com o ativismo político. Antes de aderir ao trabalhismo de Leonel Brizola (PTB), no final da década de 1950, ele havia presidido o Grêmio Estudantil do Colégio Rosário e liderado a ala jovem do PSD (Partido Social Democrático, de Juscelino Kubitschek), legenda centrista pela qual seu pai, Pedro Camargo de Azevedo, assumiu em 1960 o mandato de deputado estadual como suplente. A insatisfação com o golpe militar de 1964, contudo, resultou em um pesadelo aos 26 anos, nos primeiros meses de ditadura.
Em noite de folga na Baiuca, sua nova boate e residência, ele usou o Fusca vermelho da família para lançar nas portas dos quartéis, acompanhado de um sobrinho do ex-presidente João Goulart, um panfleto conclamando os jovens do Exército a se rebelarem contra o regime. Acabou detido em 48 horas - na empolgação, esquecera de esconder as placas do carro. De nada adiantou seu passado como pracinha na missão de Suez (que prosseguiria até 1967, com 1.150 gaúchos engajados até o fim das operações). Destino: o 'Dopinha', sucursal de torturas do Departamento de Ordem Política e Social (Dops) em uma mansão na descida da rua Santo Antônio rumo ao bairro Bom Fim, a 220 metros de casa.
Ali permaneceu em uma cela por vários dias, interrogado ao som de gritos, gemidos e choros de militantes submetidos a flagelos físicos que fariam do endereço uma triste penumbra na história de Porto Alegre. É provável que Carlos Heitor também dançasse, no pior sentido da palavra, se não fosse a interferência do pai, apoiador do governo e que recorrera a contatos nos bastidores para descobrir o paradeiro e pressionar pela soltura. "Eu poderia ter desaparecido", diria, em depoimento de 2012 para um documentário da TV Unisinos.
Boates de Carlos Heitor Azevedo
Ambiente interno da Crazy Rabbit, em foto de 1962; é possível ver, na parede, a ilustração com um coelho que caracterizava o estabelecimento
/ACERVO MARCELLO CAMPOS/REPRODUÇÃO/JC• Crazy Rabbit (1961-1963)
• Baiuca (1964-1967)
• Vila Velha (1967-1970)
• Milho Verde (1970-1973)
• Casablanca (1978-1983)
• Gilda's Single Club (1986-1987)
* Marcello Campos é formado em Jornalismo, Publicidade & Propaganda (ambas pela PUCRS) e Artes Plásticas (UFRGS). Tem seis livros publicados, incluindo as biografias de Lupicínio Rodrigues, do Conjunto Melódico Norberto Baldauf e do garçom-advogado Dinarte Valentini (Bar do Beto). Há mais de uma década, dedica-se ao resgate de fatos, lugares e personagens porto-alegrenses. Contato: [email protected].