O Rio Grande do Sul vivenciou, na década de 1990, uma notável efervescência musical. Todavia, o rock'n'roll não conseguia, sozinho e de forma irrestrita, representar a rebeldia e os anseios sociais da juventude gaúcha. Catapultada pelo lançamento do álbum Cinco Elementos, em 1999, a Da Guedes (nome em alusão à Rua Guedes da Luz, onde o grupo formou-se) surgiu nesse momento histórico conquistando espaço nos cenários do rap e hip hop brasileiros. Inicialmente, constavam entre os "cinco elementos" que davam suas vozes ao grupo Baze, Nitro G, Negro X, DJ Deelay e Antônio "Padeiro".
Primeiro batizada com o nome de Sons of Guedes (ou S of G), a Da Guedes escreveu a própria trajetória tendo na união e na colaboração as palavras chave de sua arte. O lirismo do rap e do hip hop, com seus versos criados nas ruas, converteu-se no instrumento do qual fizeram uso para denunciar as mazelas tanto de sua comunidade, situada no bairro Partenon, quanto do Brasil e do mundo. Hits da banda como Minha cultura e Dr. Destino levaram ao público uma mensagem de conscientização que também colocou em consonância críticas sociais e diversão musical.
Como reforço ao legado desses mais de 30 anos de atividade, a Da Guedes agora mira o futuro, prometendo novidades musicais para muito em breve. Uma delas é a nova canção, que deverá ser lançada tendo como base sample o hino da Graforréia Xilarmônica Amigo punk. A outra é o álbum de inéditas, no qual Baze, Nitro G e DJ Deeley - os três atuais integrantes - vêm trabalhando com previsão de sair no ano que vem.
"Eu sempre fico pensando na façanha que foi a trajetória da Da Guedes. A gente começou do nada, praticamente, mas conseguimos evoluir de forma surpreendente. De apenas um toca-discos e utilizando bases instrumentais de grupos gringos, no início de nossa caminhada, além de termos conseguido atingir bastante público, lançamos uma série de discos, gravamos videoclipes e um DVD. Também fizemos muitas turnês tocando em tudo quanto é lugar do Brasil", avalia DJ Deeley. O músico ainda acrescenta que, por conta dessa movimentação toda, a Da Guedes passou a ser conhecida em todo o País: "Até hoje, onde quer que a gente vá, somos reconhecidos no Brasil como referência do rap e do hip hop feitos aqui no Rio Grande do Sul".
DJ, skatista e também prolífico agitador cultural nas "quebradas" de Porto Alegre, Buiu Rodriguez é convicto ao afirmar que, em sua arte musical, a Da Guedes (que conta com a admiração de nomes, entre outros, como GOG, Marcelo D2 e Thaíde) é uma das mais importantes referências nacionais. "A Da Guedes, sem sombra de dúvida, hoje é um dos principais nomes do Brasil, tanto no rap quanto no hip hop", ele crava. As palavras de Rodriguez encontram concordância na opinião do rapper Piá. Um dos precursores do movimento hip hop riograndense e fundador da banda Lords, Piá recorda que em 1996, quando produziu a coletânea de rap gaúcho intitulada Gás Rap Total, reunindo várias bandas da época, a única música que já lhe chegou totalmente pronta foi a faixa Isso é Brasil, dos futuros Da Guedes (no disco eles ainda aparecem como S of G). "Desde o embrião, a Da Guedes já era uma banda criativamente muito forte, porque desde o começo sempre formou inúmeros talentos em sua formação", destaca Piá.
DJ Deelay afirma que, embora o grupo tenha ficado um período em stand by nos últimos anos, devido a projetos individuais de seus integrantes, o retorno da Da Guedes à estrada chega marcado por uma agenda de shows que encontra-se lotada até o final do ano e também por inúmeros convites para participar de festivais. Independente de tudo, ressalta Deelay, o mais importante é que o grupo continua com sua criatividade a mil, escrevendo novas canções, planejando novos álbuns e fazendo shows. E, principalmente, sempre mantendo a disposição para meter o pé continuamente na estrada. "A Da Guedes, como nós mesmos sempre costumamos dizer, não para. E não pretendemos parar tão cedo", ele avisa.
Hip hop nascido e criado na rua
Baze (esq), DJ Deeley e Nitro Di no Museu da Cultura Hip Hop RS
THAYNÁ WEISSBACH/JCOs três primeiros álbuns da Da Guedes, passados mais de duas décadas após seus respectivos lançamentos, converteram-se em dois verdadeiros clássicos da música rap e hip hop produzidos em território nacional. Com lançamento em 1999 pelo selo Matraca da Trama, o disco Cinco Elementos contou com produção de DJ Hum (pioneiro do rap no Brasil e incentivador da banda Da Guedes junto ao produtor Carlos Eduardo Miranda, o qual na época ocupava a posição de diretor da gravadora). Sua mixagem e masterização ficaram a cargo de Wander Carneiro, enquanto as programações e arranjos tiveram elaboração de Marcelo Fornazier.
O processo que levou à gravação de Cinco Elementos, porém, teve origem em 1996. Naquele ano, conta Baze, eles (ainda como Sons of Guedes) conheceram a produtora Fabiana Menini que, naqueles dias, cuidava da organização dos shows alternativos que eram realizados no Festival de Música de Canela. "Na ocasião, a Fabiana conseguiu nos colocar para abrir os espetáculos de Thaíde e DJ Hum. Rolou que, após o show, deixamos nas mãos deles uma demo tape que havíamos gravado. Quando eles vieram fazer um show no Opinião, meses depois, eles ligaram e nos convidaram para abrir o show deles em Porto Alegre e acabou que foi muito louco". Baze também rememora que, nessa mesma ocasião, Carlos Eduardo Miranda fazia-se presente e viu o show da Da Guedes, o que levou ao convite para integrarem o cast da Trama. "O DJ Hum tem parte forte na parada porque foi ele que meteu uma pilha forte no Miranda e nos caras da gravadora para gravar nosso disco. Convidamos, então, o DJ Hum para ser o produtor de Cinco Elementos. E o resto é história", rememora Baze.
Outra história ocorrida nesses tempos, relembra DJ Deeley, diz respeito à troca de nome de Sons of Guedes para Da Guedes. "Logo de cara, na primeira reunião que tivemos com a Trama, o Carlos Eduardo Miranda no ato sugeriu veementemente: 'Porque vocês não mudam o nome simplesmente para 'Da Guedes'? Apenas olhamos um para o outro e, é claro, assentimos com ele no ato", diz Deelay.
Cinco Elementos abre com Aqui embaixo, trazendo para dentro do disco a voz da cantora Marietti Fialho, vocalista da banda Motivos Óbvios. Na música Tô cansado, Piá deixou impresso seu tom grave de voz. Já na letra de Vê se muda, a Da Guedes deu um toque direto a quem, tendo ou não opção, prefere fazer sua escolha seguindo por "caminhos errados": "Você é acomodado/É teu direito/Andar chapado/Só reflete um pouco/Se é só você que está indignado".
Banda Da Guedes no Museu da Cultura Hip Hop RS
THAYNÁ WEISSBACH/JCPor sua vez, a crítica decantada em Chega mais enquadrou a sensação de insegurança ocasionada justamente por quem deveria oferecer segurança. Ou seja, a polícia: "Como não fosse verdade/Todo tipo de notícia/O que a gente mais teme/É a ignorância da polícia".
Em POA, a Da Guedes engatou um rolê noite adentro pela Capital: "Mais uma noite em Porto Alegre/E tá tudo bem/O relógio tic-tac/A hora eu não sei/O cigarro na bagana/Nem um marreco tem/Mas a cabeça na boa/E o hip hop in the brain". Os versos da canção percorrem, além de bairros de Porto Alegre, localidades da Região Metropolitana onde vicejam as cenas do rap e do hip hop, citando "quebradas" como Partenon, Restinga, Vila Jardim, Glória, Conceição, Morro da Cruz, Viamão e Gravataí.
Principal hit de Cinco Elementos, a canção Minha cultura (Hip hop) contou nos vocais com participação especial da cantora Paula Lima (naqueles dias ainda integrando a banda paulistana Funk Como Le Gusta). Nas rimas da música a Da Guedes professou sua "declaração de princípios" para com o hip hop e a cultura de rua: "Hip hop na cabeça/Uma ideia nacional/O grafite/O break/Um estilo cultural/ Vem na paz/Meu irmão/Prega a união/Uma rima/Um beat/Um papo de irmão/Hip hop criado na rua/Essa é a minha cultura".
Com lançamento em 2002 pela gravadora Orbeat Music, Morro Seco Mas Não Me Entrego, por sua vez, ajudou a Da Guedes a consolidar-se ainda mais no cenário do hip hop brasileiro. O segundo álbum do grupo contém músicas marcantes como Passe livre, Qualquer quebrada, Dr. Destino (hit na Rádio Ipanema FM) e Bem nessa (com atuação do rapper paulistano Thaíde). Morro Seco Mas Não Me Entrego também reúne participações de expoentes do hip hop gaúcho, como Ataque Frontal, Conexão Black, Revolução RS e Hackers Crew. Dois anos depois, em 2004, a banda ganhou o prêmio Hutúz de Melhor Grupo de Rap do Brasil. Nessa mesma época, a Da Guedes saiu-se com seu terceiro título, o álbum DG vs a Luz Falsa que Hipnotiza o Bobo.
Em POA, a Da Guedes engatou um rolê noite adentro pela Capital: "Mais uma noite em Porto Alegre/E tá tudo bem/O relógio tic-tac/A hora eu não sei/O cigarro na bagana/Nem um marreco tem/Mas a cabeça na boa/E o hip hop in the brain". Os versos da canção percorrem, além de bairros de Porto Alegre, localidades da Região Metropolitana onde vicejam as cenas do rap e do hip hop, citando "quebradas" como Partenon, Restinga, Vila Jardim, Glória, Conceição, Morro da Cruz, Viamão e Gravataí.
Principal hit de Cinco Elementos, a canção Minha cultura (Hip hop) contou nos vocais com participação especial da cantora Paula Lima (naqueles dias ainda integrando a banda paulistana Funk Como Le Gusta). Nas rimas da música a Da Guedes professou sua "declaração de princípios" para com o hip hop e a cultura de rua: "Hip hop na cabeça/Uma ideia nacional/O grafite/O break/Um estilo cultural/ Vem na paz/Meu irmão/Prega a união/Uma rima/Um beat/Um papo de irmão/Hip hop criado na rua/Essa é a minha cultura".
Com lançamento em 2002 pela gravadora Orbeat Music, Morro Seco Mas Não Me Entrego, por sua vez, ajudou a Da Guedes a consolidar-se ainda mais no cenário do hip hop brasileiro. O segundo álbum do grupo contém músicas marcantes como Passe livre, Qualquer quebrada, Dr. Destino (hit na Rádio Ipanema FM) e Bem nessa (com atuação do rapper paulistano Thaíde). Morro Seco Mas Não Me Entrego também reúne participações de expoentes do hip hop gaúcho, como Ataque Frontal, Conexão Black, Revolução RS e Hackers Crew. Dois anos depois, em 2004, a banda ganhou o prêmio Hutúz de Melhor Grupo de Rap do Brasil. Nessa mesma época, a Da Guedes saiu-se com seu terceiro título, o álbum DG vs a Luz Falsa que Hipnotiza o Bobo.
Hits no formato acústico
Show no Planeta Atlântida 2024: Da Guedes segue com agenda lotada
JOHNNY MARCO FILMES/DIVULGAÇÃO/JCEm 2008, a Da Guedes lançou o primeiro DVD ao vivo de sua carreira, Acústico. Também lançado em CD, o título, que comemorou os 15 anos do grupo do Partenon, compila os principais sucessos da banda contidos nos três CDs anteriores da discografia. Além de regravar as principais músicas da carreira em versão acústica, o DVD ainda apresentou faixas inéditas como Batmacumba (tendo como base o clássico dos Mutantes), O que q vai ser?, É desse jeito que eu vou, Vim pra lhe dizer e Não vamos se abalar (com vocais e letra de coautoria de Lica Tito, cantora da Groove James). Em sua parte da canção, Lica solta a voz para cantar os versos: "Verdade vai prevalecer / E pra quem duvida fica de pé pra vê que não/ Tô de bobeira não, subestimou então / O meu limite é o céu e não a confusão, não/Não vamos se abalar / A solução da minha vida foi poder cantar / Correr atrás cada dia mais e mais / No caminho da paz".
Seguindo a linha consagrada como unplugged, o lançamento permitiu que tanto as bases quanto a sonoridade da Da Guedes ganhassem, respectivamente, novos pesos e um diferente encorpamento na sua musicalidade. Isso possibilitou, ainda, que pudessem apostar na diversidade sonora, assim abrindo espaço para instrumentos como piano elétrico e até mesmo flauta, passando também pela cuíca. Da Guedes Acústico contou com participações especiais de artistas como Thaíde, Nitro Di (na época fora da banda), Spawn e os africanos do Seven Lox.
Após encerrar a turnê, que passou por diversos estados do Brasil e também por países como França e Alemanha, o grupo optou por dar uma pausa em nome de outros projetos. Cenas de bastidores e uma visita à Alemanha, em 2006, são mostradas entre uma música e outra ao longo do DVD. A apresentação é simples; não há menu interativo e o espaço nos extras serve para um único som. Ainda assim, o registro agradou aos muitos fãs dos Da Guedes espalhados pelo País.
Nitroglicerina solo
Nitro Di desenvolveu carreira solo após deixar a Da Guedes; hoje, rapper está reintegrado ao grupo
MARCOS FUCKS/DIVULGAÇÃO/JCCom o álbum Fortes Corações, o MC Nitro G fez a estreia de sua carreira solo com o nome mudado para "Nitro Di". O disco lançado, em 2015, pelo selo Antídoto traz canções de sua autoria como Meu cantar e Respeito mútuo e outras em parceria com Zé Natálio e Tonho Crocco. Entre as participações, em Fortes Corações marcam presença DJ Anderson, Guga Munhoz e Yrmandade Catraia. A cantora Andréia Cavalheiro pôs sua voz em Mais um guerreiro. Na faixa-título, Nitro Di apresentou-se: "Eu vulgo Nitro/Glicerina pura/Sou de rua/Qual a sua?/Cada qual com sua postura/Vim na pura".
Da Guedes para as novas gerações
Baltazar MC (esquerda) com DJ Deeley e Jay-Gueto: "Da Guedes foi uma explosão na minha mente"
GAU BEATS/ACERVO PESSOAL BALTAZAR MC/REPRODUÇÃO/JCApós o lançamento, em julho, do single Booyaka, ao lado da compositora catarinense MC Versa, o rapper viamonense Baltazar MC saiu-se recentemente com um novo disparo rítmico para somar-se à sua já prodigiosa produção musical. Trata-se de O Sentido da Vida, canção cuja sonoridade chega embebida em rap, jazz e gêneros como rock e pop. Desta vez, Baltazar buscou inspiração, entre outras fontes, no grupo de hip hop norte-americano A Tribe Called Quest. Com produção de Jay-Gueto, a música O sentido da vida conta com participações de duas verdadeiras lendas do cenário riograndense. Uma delas é o saxofonista King Jim (com seus 40 anos de carreira e um dos fundadores dos Garotos da Rua).
Antes disso tudo, porém, Baltazar, um dos expoentes da nova geração do rap gaúcho, conta que a Da Guedes foi uma das primeiras e ainda hoje maiores influências recebidas por sua música desde que contava 15 anos de idade. "Lembro que a música com o qual tive contato primeiramente, ouvindo na rádio, foi o emblemático hit Bem nessa. Essa canção acabou por ocasionar uma explosão na minha mente, pois a Da Guedes estava fazendo músicas críticas e que, ao mesmo tempo, falavam sobre os rolês daqui, com o nosso sotaque, nossas gírias. Vide o Thaíde brincando em Bem nessa com as expressões 'bah, tchê, tri e sem chinelagem'". Isso também colaborou para que Baltazar se interessasse ainda mais pela Da Guedes.
Nas suas próprias palavras, Baltazar MC diz que é "muito louco", levando em conta "as voltas que o mundo dá", que um dia viria a ter uma música sua ao lado de DJ Deeley. Baltazar conta que estava no processo criativo de seu álbum Raízes quando, então, sentiu que a música My Wu Tang Style precisava de uns scratchs/colagens, ainda mais que se tratava de um som em homenagem à Wu Tang Clan. "Então pensei em chamar o Deeley, o qual eu conhecia, até então, somente pela internet. Fiquei muito feliz, na época, ouvindo as histórias dele sobre a Da Guedes e que daquele mesmo toca-discos em que ele havia feito os 'riscos' em My Wu Tang Style também tinham saído alguns dos maiores hinos feitos por eles", congratula-se o viamonense.
Um sonho realizado
Da Guedes recebeu ovação do público no festival Rap in Cena de 2023
LUCAS MOTA/DIVULGAÇÃO/JCAntonio Padeiro, um dos cinco elementos da primeira formação da Da Guedes, dá seu relato sobre os dias em que integrou o grupo. Percussionista, documentarista e escritor, Padeiro é autor do livro Barros 386 - Crônicas de Garagem, no qual traça em suas páginas um registro histórico sobre o underground porto-alegrense pela visão de um jovem da periferia.
Cresci diante de uma caixa mágica, era ali que todos os dias ficava olhando artistas brilharem naquela velha televisão de tubo. Meus sonhos de criança e adolescente sempre estiveram relacionados à arte.
Não sabia muito bem o que queria ser da vida, não me enquadrava naquelas ideias que nossos pais tinham sobre ser médico, engenheiro, advogado ou militar, como a maioria dos meus amigos.
Por ser oriundo de um bairro periférico, passava os dias ouvindo samba, funk e um som novo que pouca gente conhecia, o rap. Biz Markie foi o primeiro rapper que ouvi na vida, com a clássica: Just A Friend.
Porém, logo surgiram os brasucas Thaide e DJ Hum, Os Metralhas, Naldinho e Racionais MCs. As reuniões dançantes na casa dos amigos aos finais de semana eram a nossa única diversão.
Sabia que o mundo era muito maior que o quarto que dividia com meus irmãos e assim comecei a frequentar a avenida Osvaldo Aranha e foi lá que minha vida mudou.
Televisão, cinema, música, teatro e literatura. Isso me chamava atenção. Alguns amigos diziam que eu era engraçado, me sentia meio que o palhaço da turma, mas, ao mesmo tempo, tinha ritmo por ser filho de uma batuqueira.
Foi nos terreiros da Vila Cerne que me tornei um ritmista, rodas de pagode e escolas de samba como a Juventude Independente foram a minha base musical, mas eu queria mais.
No início dos anos 1990, a maioria das bandas de fundo de quintal era formada apenas por baixo, bateria e guitarra. Então, logo virei percussionista das bandas que tocavam no bar chamado de Garagem Hermética.
No Garagem, conheci o Fabio Maffioletti, conhecido no mundo do rap gaúcho como Nitro Di. Ele me viu tocar e me convidou para participar do grupo de rap S of G, que mais tarde se chamaria Da Guedes.
No Da Guedes vivi o meu maior sonho, virei um artista. Claro, não tinha o glamour, nem a grana que imaginei que teria, até faço uma citação sobre isso na introdução do meu primeiro livro, Barros 386 - Crônicas de Garagem
A Da Guedes abriu portas para mim ao longo da minha história, foi com a banda que viajei por todo o Estado e muitas cidades pelo Brasil. Conheci outros artistas que admirava e respeitava.
Fiz grandes amigos dentro do hip hop, pessoas especiais que hoje nem estão mais neste plano, Amarelo (Revolução RS), Only Jay (Dj do Nitro Di) e o Endrigo (Irmandade Catraia) foram cedo demais.
Minha experiência no rap abriu portas em outras áreas da comunicação. Hoje sou mais um a somar com meus amigos, abracei o quinto elemento, o conhecimento e me tornei um professor.
É impossível falar de mim sem citar o Da Guedes, o grupo faz parte da minha história e isso nada pode mudar. Quando saí da banda, trabalhei com cinema e televisão, mas, por sorte, foi na literatura que encontrei a minha verdadeira arte.
Parabéns a Da Guedes pelos seus 31 anos e viva o rap gaúcho!
* Cristiano Bastos é jornalista e autor de Julio Reny – Histórias de amor e morte, Júpiter Maçã: A efervescente vida e obra, Nelson Gonçalves: O rei da boemia, Nova carne para moer e Gauleses irredutíveis – Causos & Atitudes do Rock Gaúcho. Também dirigiu o documentário Nas paredes da pedra encantada.